Fix A Vice With A Vice

Fix a vice with a vice


Acordei sozinho no sofá. A porta do banheiro do Brendon estava fechada. Ouvi o barulho da água caindo e ele cantando alguma música qualquer docemente. Fui pra cozinha comer um biscoito ou alguma coisa do tipo. Achei umas torradas e comi junto com café.

Alguns minutos depois Brendon saiu do banheiro com uma camiseta simples e shorts. Ele pareceu envergonhado quando me viu.

''Oi.''

''Hey.''Sentamos um em cada banco, de frente pro outro.

''O que foi aquilo ontem?'' perguntei.

''Foi ruim?'' ele fez uma careta mais envergonhada ainda, que abriu um sorriso gigante em meu rosto.

''A melhor em muito tempo.'' disse, levantando as sombrancelhas, querendo mostrar que tinha me surpreendido com o desempenho dele.

Ele sorriu, as bochechas vermelhas.

''A gente pode só esquecer tudo isso? Sabe, eu nem sei por que fiz isso, acho que é porque eu acabei de terminar com o Dallon, então...''

Fiquei sem palavras. Então eu era só o cara de uma noite, usado pra esquecer o outro? Meu cérebro girou e meu coração parou de bater por um momento.

Depois daquela noite, eu não conseguiria olhar pra Brendon da mesma forma. Agora depois dessas palavras eu não sei se conseguiria olhar pra ele.

As torradas se embrulharam em meu estômago e eu corri pro banheiro. Vomitei o pouco que tinha ingerido antes. Brendon chegou atrás de mim, preocupado.

''Ryan, tá tudo bem?''

''SAI DAQUI, BRENDON, SAI!''

Bati a porta com tudo e tranquei. Ele batia do outro lado, gritando pra eu abrir, mas eu ignorava sua voz.

Sentei no chão e me encolhi, abraçando as pernas e escondendo meu rosto. As lágrimas desciam rápidas, e eu fiz questão de não fazer barulho. Passei a tarde inteira ali, esperando a noite cair.

Um pouco antes da lua aparecer, tomei banho e coloquei meu uniforme de qualquer jeito. Saí do quarto com a cara fechada. Brendon esperava na sala, assistindo TV.

''Tá tudo bem? O que foi aquilo?''

''Nada.''

Peguei as chaves, abri a porta e sai. Brendon saiu atrás de mim, fechando a porta. Z esperava o elevador abrir.

''Oi.'' ela disse com um sorriso amigável. ''Tá tudo bem?'' perguntou quando viu minha cara.

''Tá.'' tentei dar um sorriso mas acho que acabei fazendo uma careta.

A porta do elevador abriu. Entramos. Passamos praticamente todo o caminho em silêncio, exceto por quando quando Z perguntou por que ela ouviu gritos vindos do nosso apartamento.

''Não era nada. Absolutamente nada.''

Os dias se passaram e eu tentava ignorar Brendon ao máximo; olhar pra ele e saber que eu nunca mais o teria doía. Eu tentei esquecer, tentei achar o que eu achei nele em outros caras e em outras garotas, mas eu não conseguia. Eu fui ficando pior e pior, já não dormia nem comia direito.

Eu decaí ainda mais quando Brendon apareceu com uma nova namorada em casa. A garota se chamava Sarah, tinha olhos grandes e cabelo preto. Era bonitinha, mas o simples fato dela beijar/quase engolir Brendon todo dia no mesmo sofá que transamos há alguns dias atrás me enojava. Me enojava tanto que eu tive que sair de casa todas as vezes que ela aparecia por lá.

Sem ter o que fazer todas as noites, voltei para o mesmo beco que tinha estado há alguns dias atrás. Pedi pela droga que o efeito mais durasse, comprei um quilo (sim, um quilo. Eu estava pensando em entrar em overdose e acabar com tudo de uma vez) e fui para o terraço do prédio em que morava.

Ali era um lugar legal, tinha algumas flores, que estavam murchas e dois bancos de praça. As pessoas não iam muito ali por causa das antenas de tv e consequentemente, descoberto, mas eu não me importava.

Achei um espaço atrás das antenas. Me encolhi ali, preparei os cigarros e fumei quase metade do pacote. A partir daí eu fiquei totalmente dopado e sem consciência de nada; a droga era muito pesada.

Acordei no meio da noite com a água gelada caindo sobre mim. Estava chovendo, provavelmente há algum tempo, mas só agora a droga me permitira acordar. Ainda dopado, olhei pro céu e ele pareceu cair sobre mim. Minha cabeça pesou e deixei ela cair, batendo na parede atrás de mim com força.

Senti que murmurava alguma coisa, mas não sei o que. Provavelmente coisas que tentavam ser palavras, mas eu não posso confirmar nada.

Desmaiei mais uma vez. Acordei de novo com alguém me balançando e me chamando.

''Ryan? Ryan, acorda!''

Murmurei alguma coisa e abri os olhos devagar. O olhar preocupado de Brendon estava bem acima de mim e atrás dele, Sarah, parecendo frustada e nervosa.

''Pronto, ele já acordou. Agora chama uma ambulância pra esse drogado e vamos voltar pro quarto, Brendon!'' disse com sua voz enjoada. O efeito da droga ainda estava no meu cérebro e me impedia de sentir qualquer coisa, ainda nojo, por ela.

''Sarah, pelo amor de deus, tenha consciência pelo menos uma vez, ele não tá bem!'' tirou o celular do bolso e entregou pra ela. ''Chama a ambulância. VAI LOGO!'' gritou, assustando-a. ''Vai ficar tudo bem, Ryan. Vai ficar tudo bem.'' sussurrou pra mim e encostou sua testa na minha. Desmaiei mais uma vez.

Quando voltei a consciência percebi que o efeito da droga já tinha sumido e eu estava em um hospital. Os lencois brancos estavam por cima de mim até minha cintura e um tubo estava preso em meu braço, provavelmente me passando soro. Na poltrona branca ao lado da cama Brendon dormia com um livro no colo. Seu rosto parecia sereno mas ao mesmo tempo preocupado e ansioso. Pensei em acordá-lo mas ele parecia tão bem dormindo que não tive coragem.

Meia hora depois seus olhos se abriram devagar e pareciam querer pular quando me viu acordado.

''Ryan!'' se levantou e pegou minha mão carinhosamente. ''Por que não me acordou?''

''Você fica lindo quando dorme.'' disse devagar e sorri. Ele me acompanhou, tirando um pouco da preocupação do rosto.

''Seu idiota, nunca mais faça isso. Você não sabe o medo que eu tive de te perder.''

''Sei que não ia ficar sozinho, você está acompanhado agora.''

''Sarah? Por favor, o que eu faria sem meu melhor amigo?''

Sorri e ficamos em silêncio por um tempo. Ele não largou minha mão nem por um instante.

''Por que fez isso?''

Seus olhos marejaram e eu percebi a dor que seu coração sentia. Eu queria poder falar pra ele o que sentia, mas Sarah ficava em meu caminho.

Eu não aguentava mais ficar sem seu corpo, sem seus lábios e tudo que eu precisava era ele. Ele era um tipo de droga, mas muito mais viciante e forte que todas as que eu já fumei.

''Fix a vice with a vice.''

Olhou pra baixo e uma lágrima caiu. Doeu saber que eu era o motivo daquela lágrima.

''E qual era seu primeiro vício?''

Voltou a olhar em meus olhos e eu chorei também. Depois dele perceber que eu não falaria, saiu apressadamente do quarto, secando os olhos com a manga do casaco.

Ganhei alta três dias depois. Brendon me visitava todo dia e tentava me fazer falar mas eu não podia então ficava em silêncio a maior parte do tempo. Z e Spencer iam me visitar também, me faziam rir ás vezes.

Os médicos me disseram que eu quase, por muito pouco, não entrei em overdose e que eu tinha que ter mais cuidado agora. Me aconselharam a deixar as drogas e me entregaram um cartão de um grupo de narcóticos anônimos, que eu joguei fora assim que saí do hospital.

Quando voltei pro trabalho aquela noite, nosso chefe e gerente do club, Shane Valdes, me chamou para conversar em sua sala.

Sentei no sofá que ficava ao lado de um armário, encostado na parede e ele sentou em sua cadeira atrás da mesa.

''Ryan, vou direto ao ponto. Não posso ter um viciado trabalhando aqui no club, principalmente junto com as bebidas. Você está demitido.''

Paralisei. Primeiramente achei que tinha ouvido errado, depois levantei nervoso e bati a mão na mesa.

''Não pode me demitir! Tenho um monte de contas pra pagar e eu nem encosto a boca naquelas bebidas. Eu tive um pequeno problemas com drogas agora, mas já estou bem!''

''Sinto muito, Ryan. Não posso confiar em você.'' baixou a cabeça e começou a digitar qualquer bosta no notebook.

Sai da sala batendo a porta muito forte, acho que por pouco o vidro não quebrou. Corri pra fora do club e voltei pra casa. Senti alguém me seguindo mas não olhei pra trás.