Fire and Ice

Explicações


Levantei-me de súbito, atordoado após sonhar com algo assim, senti meu coração acelerado, enquanto as lembranças do dia anterior me invadiam como um grande soco no estômago.

– Você parece que viu um fantasma. - Albus adentrou o quarto, o que diabos esse garoto estava fazendo fora a essa hora?

– Não, só sonhei com um. - senti um arrepio na espinha, lembrando do corpo frio de Rose a minha frente, e então, o espirito dela atrás de meu corpo. - Que horas são? E onde você estava? - Albus deu um sorriso sarcástico.

– São três da manhã mamis. - deu de ombros - e realmente, não posso te contar. - suspirei ao observar o estado do meu amigo.

– Quem foi a pobre garota dessa vez? - os lábios dele estavam marcados de batom e em seu pescoço havia mais de um marca de chupão.

– Eu fui o pobre garoto, mas não vem ao caso. - ele revirou os olhos. - Depois, nós conversamos sobre isso, não estou muito bem agora, quero tomar um banho e dormir. - assenti, poucas pessoas deixavam Albus desanimado, retirando os parentes, somente Lanna fazia isso, e se eles fizeram sexo, por que ele estaria desanimado? Tentei ignorar esse pensamento, quando fosse possível, conversaríamos, não mais tarde, eu tinha outras coisas para fazer mais tarde.

...

Eram pouco mais de nove horas quando decido que é melhor procura-la nos jardins, pois estava a mais de duas horas esperando que Rose adentrasse o salão principal. Não demorou para que eu visse seus cabelos ruivos sob o sol, fazendo com que ele parecesse que estivesse em chamas.

– Rose. - chamei e ela se virou com o rosto pálido, meu estômago embrulhou, lembrando de meu sonho, e a voz de seu fantasma sussurrando em meu ouvido "O que você fez para me salvar amor?". Engoli em seco.

– Hey... - como era de se esperar, ela estava abatida. - Como você está? - e mais uma vez, Rose agia de forma altruísta, querendo saber sobre mim, quando ela estava doente.

– Como você está? - ignorei sua pergunta e sentei ao seu lado.

– Péssima. - deu de ombros. Será que ela estava sentindo alguma dor? Eu não sabia como funcionava a doença dela.

– Você esta sentindo alguma coisa? - minha voz soou preocupada, e ela negou.

– Não estou mal fisicamente. - suspirou. - Não queria ter escondido por tanto tempo, é só que, tinha o NIEMs e eu queria que desse tudo certo para ti, não queria preocupar. - ela começou a tagarelar e sentir seus ombros ficarem tensos. - Você é realmente impulsivo e fiquei com medo de você trocar seu futuro para "aproveitar" o resto de tempo que tem comigo. - e era exatamente isso que eu iria fazer, bufei.

– Eu não me importaria em fazer isso. - outro suspiro saiu de seus lábios.

– Scorpius, EU vou morrer, você tem a vida toda pela frente, você precisa de um futuro, eu não. - apesar de ser verdade, aquilo doeu, não queria que ela morresse, não queria viver sem ela.

– Entendo. - ela mordeu o lábio inferior.

– Desculpe-me... - sussurrou. - Não sou eu que tenho que tomar as suas decisões. Mas eu te amo e queria o melhor para ti. - eu assenti.

– Só se você me desculpar por ter agido daquela forma ontem. - encarei os seus olhos e ela sorriu, o sorriso não chegava a seus olhos, mas era algo.

– Tudo bem, eu já esperava por aquilo. - deu de ombros e eu passei meu braço pelos seus ombros. - Então, alguma pergunta? - sua voz era contida.

– Muitas. - respondi, e assentiu, como se pedisse para continuar. - O que você tem?

– Arritmia Cardiomuscular. - franzi o cenho, nunca ouvi falar. - Uma doença de aceleração cardíaca. Ela é dividida em cinco fases, os tempos de passagem de fase são incalculáveis, mas tem em média o mesmo tempo. - seus olhos perderam o foco. - A minha média é de 1 ano e meio. - assenti.

– Você está em que estágio? - seus olhos se mantinham sem foco.

– Quarto estágio. - ela pigarreou. - Desde fevereiro, eu faço exames semanais com Teddy.

– A quanto tempo? - perguntei e ela franziu o cenho .

– Em algum momento no segundo ano. - eu levantei as sobrancelhas, claramente confuso.

– Mas só sabe desde fevereiro? - negou.

– Desde de fevereiro eu sei a média de tempo de vida que eu tenho, sei desde o terceiro ano. - bufei.

– Foi por isso que você se afastou? - ela assentiu.

– Eu não podia ter emoções fortes, pois poderia acelerar o processo da doença. - suspirou. - Na época, eu tinha uma quedinha por você e toda vida que você se aproximava, meu coração acelerava. - arregalei os olhos e seus olhos se voltaram para mim com um sorriso fraco.

– Agora eu entendo, de verdade. - ela assentiu. - Mas e o Albus? - ela bufou.

– Eu chorei muito por ter que ficar sem vocês, acredite. - ela passou a encarar as pernas. - Mas, Albus sabia do meu amor por quadribol, e iria fazer de tudo para que eu entrasse para o time. - agora eu estava confuso.

– Era só falar que não podia, que estava doente. - ela mordeu o lábio com força.

– Eu não queria aqueles olhares de pena para mim. - sua voz saiu entredentes, arregalei os olhos. - e se eu contasse a qualquer um que fosse, ele iria me obrigar a fazer o tratamento e eu não queria fazer. - isso me irritou.

– Ah claro, porque escolher morrer é a melhor opção. - minha voz saiu por impulso.

– Você não sabe como é a porra do tratamento. - virei-me de súbito, Rose nunca falava palavrões. Seus olhos possuíam lágrimas presas, seus ombros tensos e o maxilar duro.

– E como era? - ela assumiu uma postura ainda mais tensa.

– Digamos que eu possuía 20% de chance de responder bem, 50% de chance de não fazer diferença, 18% de chance de responder negativamente e 12% de chance de acelerar o processo da doença. - assenti. - E mesmo que eu respondesse bem, eu ficaria sempre cansada e frágil de mais. - seus olhos ficaram cheios de culpa.

– Eu entendo pequena. - era verdade, eu entendia mesmo.- Lanna sabe? - ela negou com a cabeça.

– Ela me conhece como eu realmente sou, apesar de algumas mentiras. - ela deu de ombros. - Além de você, só Teddy sabe. - franzi o cenho.

– Por que não contou para seus pais e seu irmão? Além da questão do tratamento. - um sorriso triste se abriu em seus doces lábios.

– Meus pais são duas pessoas maravilhosas e cheias de energia, eu simplesmente não queria deixar que minha doença acabasse com a felicidade deles, não queria estragar o que eles tem. - seus olhos brilhavam, aquilo chamava-se admiração. - Já meu irmão, se eu contasse e não contasse para os meus pais, ele realmente não iria contar, só que, eu não poderia deixa-lo com tal peso na consciência quando eu morresse, é por isso que contei para ninguém. - fazia sentido, Rose sempre fora mais altruísta que o normal.

– E por que contou ao Teddy? - ela negou com a cabeça.

– Não contei. - franzi o cenho. - Teddy estava comigo quando eu descobri. - inspirou fundo. - Quando eu fui para hogsmeade com Teddy, nós apostamos uma corrida, meu coração acelerou até que eu desmaiar, quando eu apaguei, meu coração voltou ao normal, mas Teddy aparatou comigo para St. Muggus, fizeram vários exames e eu fui diagnosticada. - ela mordia o lábio com mais força que o normal. - Fiz ele prometer que não contaria a ninguém, conversamos bastante e ele fez outra promessa, que faria de todo o possível para descobrir como curar a minha

doença, por isso que entrou na área das crianças, para pesquisar e estudar. - outra pessoa que ela admirava, Teddy e eu podia ver o quanto.

– Como funciona a doença? - eu não queria comentar muito sobre suas respostas, não estava pronto para isso ainda.

– Como já disse, é uma aceleração cardíaca de cinco estágios. Os dois primeiros não são letais, o primeiro é o mais leve e eu levei cerca de um ano para descobrir. No primeiro estágio, quando meu coração acelera por algum esforço físico ou reação do meu corpo, alguma vezes, ele vai acelerar até que eu desmaie, e quando isso acontece, ele volta a bater normalmente. No segundo estágio é basicamente a mesma coisa, só que, não são algumas vezes, toda a vez que meu coração acelera, independente do motivo, ele só volta ao normal quando ocorre o desmaio. O terceiro já é letal, algumas acelerações ocorre como no primeiro e segundo estágio. Mas algumas, quando eu desmaio, meu coração para. - arregalei os olhos, será que foi por isso? - A quarta, que é a que eu me encontro, toda e qualquer aceleração, quando eu desmaiar, meu coração para de bater. - passei a encarar o chão. - A quinta, se eu conseguir chegar até ela, coisa que eu acho difícil, meu coração pode acelerar do nada, eu posso estar dormindo e ter uma taquicardia, morrendo sem aviso prévio. - senti meu corpo ficar tenso, saber que ela vivia com esse peso, durante todo esse tempo, fazia mais sentido do que qualquer coisa.

– No natal, quando a gente quase se beijou... - respirei fundo. - Seu coração acelerou e parou, não foi?

– Se você não tivesse corrido até o Teddy, eu provavelmente estaria morta agora. - quando a encarei, ela me olhava com um leve sorriso.

– O que era aquele negocio que ele colocou em você? E para que servia aquela coisa? - ela sorriu docemente e encostou sua cabeça em meu peito.

– Sabe a adrenalina que você sente ao voar? - assenti. - É exatamente aquilo, só que como uma substancia química e a injeção, serviu para que ela fosse direto em meu coração, fazendo-o voltar a bater. - isso era bem interessante.

– E aquilo azul, que você toma? - ela se enrijeceu, e deu um tapa no meu braço, fiquei confuso.

– Aquilo é uma calmante... - dei de ombros. - Não pude dar de ombros, não é um calmante qualquer, ele desacelera o coração, e vai depender da quantidade tomada. - ela bufei. - Eu aprendi a nunca mais colocar no suco de abóbora, quando você quase se matou. - arregalei os olhos, e lembrei. - Eu coloquei um pouco no meu suco, porque estava nervosa e depois que me acalmei, joguei um suco fora, tomei um normal. - senti seu corpo relaxar.

– Agora as coisas estão começando a fazer sentido... - segurei sua mão, com minha mão livre. - Se era por isso que você sempre se afastava de mim, por que decidiu me deixar perto? - percebi que ela mordia o lábio.

– Eu sempre quis você por perto, e eu estava vulnerável, Teddy havia ameaçado contar para a família sobre minha doença, e achei que era sobre ela que você iria falar. - suspirou. - E eu fui egoísta, eu já deveria estar no estágio quatro, mas estava no estágio três, então pensei, que talvez eu merecesse ser feliz antes de morrer, eu morria de vontade de voltar a ser sua amiga e eu simplesmente não poderia recusar, por isso coloquei as regras, achei que você iria quebrar, e se as coisas começassem a ficar preocupantes, eu pulava fora, mas, deu tudo errado. - sorri.

– Ainda bem. - beijei o topo de sua cabeça e apertei seu corpo contra o meu.

– Obrigada. - ela me encarou, e eu levantei uma sobrancelha. - por não me abandonar nessa situação. - soltei sua mão e toquei seu rosto.

– Não seja boba. - toquei seus lábios com os meus. - Eu não vou a lugar algum, eu te amo pequena. - ela me abraçou forte e eu sorri, certo, ela talvez ela morra cedo, mas ela esta aqui agora, e eu farei de tudo para que ela fique bem, fique viva e ao meu lado, para sempre.

– Eu te amo muito. - percebi que ela chorava, e a apertei mais contra mim.