Estamos sentados novamente embaixo da grande árvore no quintal da Sra. Hooper. Nossas aulas já acabaram e estamos novamente de férias. O dia está quente e Molly está sentada à minha frente usando uma blusa de mangas curtas. Eu deixo que meus dedos deslizem por sua pele para sentir a textura. Sua cabeça está encostada em meu peito e ela está de olhos fechados, sorrindo enquanto meus dedos descem por seus braços para encontrar suas mãos.

O perfume dela me deixa em um constante estado de fascínio, apesar que acho que sem perfume também é o mesmo sintoma. Lembro-me da nossa primeira noite e um suspiro escapa de mim, fazendo ela abrir os olhos e virar-se para meu rosto.

– O que você está pensando?

Tento manter uma expressão séria, mas o riso escapa de mim.

– Estou pensando... - Eu intercalo minha frase com beijos pelo rosto e pescoço dela. - Que... - Outra pausa. - Nós deveríamos... - Mais uma. - Estar no quarto... - O último beijo. - E não aqui.

Faço uma expressão chateada no fim da frase e uma gargalhada divertida sai de Molly. Eu tento resistir, mas acabo acompanhando-a.

– No que eu te transformei, Sherlock? - Ela finge estar indignada e eu só consigo achá-la ainda mais linda. Como ficamos bobos quando estamos apaixonados.

– Se você quiser eu te mostro de novo no que você me transformou. - Digo cheio de más, ou boas, intenções.

– Acho... - Agora é a vez dela me provocar, chegando perto o suficiente para me beijar e se afastando devagar. - Que... - Não faça isso, Molly. - Você vem me mostrando... - Droga, estou vidrado em seus lábios. - Com frequência, não acha?

– Não... - Minha voz praticamente some e eu balanço a cabeça pateticamente. - Não acho... - Então eu a puxo para mim, beijando-a de um modo nada decente. Quando nos afastamos, minha respiração está ofegante e ela se diverte com as reações do meu corpo que não posso disfarçar.

Nos últimos dias temos aproveitado cada momento a sós que temos, o que geralmente acontece a noite. Nossa curiosidade e descobertas andam a todo vapor. Tenho que me lembrar de comprar um enorme presente para a Sra. Hooper por nos dar liberdade. Não sei o que eu faria se não fosse ela. Em minha casa meus pais fazem Molly dormir no quarto de hóspedes e dá muito trabalho fugir para lá durante a noite, além de ter Mycroft para me importunar.

Molly mudou minha vida. Nunca esperava encontrar tudo o que encontrei nela. Nunca tive amigos e muito menos uma namorada que tivesse durado mais que dois dias. E nunca tinha me envolvido sentimentalmente com alguém. Agora me via perdido em emoções que nunca imaginei sentir.

Sem que Molly espere, a deito na grama e me coloco em cima dela. Começamos a trocar beijos em meio a risos e cócegas.

– Deus! Acho que chegamos em uma má hora, Mary.

Escuto a voz de John, que parece se divertir ao falar com Mary e me lembro que nós estávamos esperando-os. Droga. Não estou gostando desse negócio de receber amigos.

– Não posso negar que é uma má hora.

– Sherlock! - Molly me dá uma cotovelada e volta a se sentar na grama. - Nós estávamos esperando vocês.

– Uhum. Pudemos perceber que a espera estava entediante. - Mary diz e ri. Os dois se aproximam de onde estamos e sentam-se também. - Nós trouxemos um jogo.

Passamos a tarde jogando um tal de Jogo da Vida enquanto poderíamos (eu e Molly) estar fazendo outras coisas. Não entendi nada do porque eu tinha que ficar pagando imposto a toda hora, casar, ter filhos e comprar coisas que eu não queria. Claro que no fim eu perdi, o que era de se esperar.

Nós comemos pizza no jantar e a avó de Molly estava muito empolgada por conhecer dois amigos dela. Ainda havia momentos em que Molly ficava triste por pensar em Anne, mas a dor estava se acomodando em algum lugar dentro dela e na maioria das vezes ela já conseguia lembrar sem chorar. Era um processo lento, e eu participava de cada passo dele junto a ela.

Jantamos em meio a conversas e risadas, mesmo que eu ainda tivesse dificuldade em me expor em frente a outras pessoas que não fossem Molly. Talvez fosse ser sempre assim.

Quando eles foram embora, eu e Molly nos sentamos nos degraus da pequena varanda. Estávamos em silêncio, mas sorríamos. Ela segurou minha mão e deitou a cabeça em meu ombro enquanto brincava com meus dedos.

– Você podia imaginar que tudo isso ia acontecer?

– Não. – Eu balanço a cabeça. – Foram momentos assustadores. – Principalmente a parte em que você se apaixona por mim, penso em completar.

♫ ♪ ♫

Sinto-a assentir contra meu ombro, então se levanta e me leva para o gramado. Ela sorri, travessa. E então começa a cantar uma música, de um filme idiota (mas que Molly gostou) que tínhamos assistido na noite anterior. Deus, ela tinha me enchido o saco com essa letra e agora começava a cantar e dançar à minha frente, puxando-me pela mão para acompanhá-la.

I never thought that I could be so satisfied,

Everytime that I look in your angel eyes.

– Molls, essa música de novo não! – Eu faço uma careta enquanto ela interpreta a música.

I said I wasn't gonna lose my head, but then

POP! Goes my heart.

Não consigo resistir e dou risada.

– Ok, Molls, meu coração também fez POP. – Assumo resignado.

Ela ri e pula em meu colo, beijando-me e quase me derrubando. Nos olhamos por um momento que mais parece uma vida, e é perceptível o sentimento que carregamos dentro de nós.

Molly realmente mudou minha vida, mas acho que também fiz o mesmo por ela. Posso ver isso em seu sorriso e na forma que ela olha pra mim. Nossas vidas foram transformadas e totalmente ligadas.

– Sherlock, você vai estudar algumas matérias comigo no próximo período?

Não entendo muito bem aonde ela quer chegar com isso, mas confirmo.

– Sim, sempre que eu puder.

– Hmmm... E você vai me ajudar a estudar anatomia de novo? – Vejo um sorriso malicioso dançando em seus lábios. Ah, Molls...

– Talvez... Você ainda está com alguma dúvida? – Falo bem perto do ouvido dela, e ela segura em meus cabelos.

– Sim... Mas só posso te mostrar quando formos dormir. – O rosto dela está bem perto do meu agora e eu não resisto em beijá-la rapidamente, simulando um bocejo logo após.

– Estou morrendo de sono, podemos ir?

Ela ri e desce do meu colo, puxando-me rapidamente para dentro da casa.

Uma certeza eu tenho: dessa vez explicar a ela sobre músculo transverso abdominal e septo lingual fará com que eu me esqueça de quem sou, mas me dará ainda mais certeza que sou dela. Eu a amo, definitivamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.