As férias passaram rápido demais, segundo Molly. Pareceu que foram apenas alguns dias em que passou enroscada com Sherlock na casa de sua avó, ou até mesmo na casa dele, tentando resistir às provocações e incitando outras. Aliás, ela estava adorando a ideia de levá-lo ao limite.

– Chega. Molly... Pare.

Sherlock segura a mão dela, que começava a descer por áreas inexploradas. Eles estavam deitados embaixo das cobertas no sofá da casa da Sra. Hooper enquanto assistiam um filme. Pelo menos "assistir um filme" fora a desculpa usada.

– Eu sei que você está fazendo de propósito e não quer que isso aconteça aqui, no sofá da casa da sua avó. Então pare.

Ela ri e beija o pescoço dele, observando as pequenas pintinhas das quais ela tanto gostava.

– Não estou fazendo nada.

A expressão de descrédito no rosto dele faz ela rir ainda mais. Por fim Molly desiste de torturá-lo e se aconchega ainda mais em seu corpo, fechando os olhos enquanto ele faz carinhos em seu cabelo.

Sem que eles percebessem os dias passaram voando e quando viram já estavam no trem para voltar ao campus. Fora bom reencontrar Mary, porque ela e John tinham viajado com a família da loira e elas não se encontraram durante toda as férias. Tinham muitas coisas a contar uma para a outra.

James Moriarty não voltou para a universidade. E ele não foi o único. As salas de aula agora estavam mais vazias e durante o almoço sobravam mesas.

Durante a primeira semana, Sherlock conseguiu através de Mycroft um acesso para as fotos do corpo de Kate. Molly o ajudou com as análises das imagens, mas nada conseguiram encontrar.

Após isso eles foram para o gramado e sentaram-se lado a lado em uma faixa onde o sol batia. Tinham faltado em uma das aulas.

– Precisamos ordenar o que sabemos até agora. - Ela diz a ele e começa a contar nos dedos. - Anne tinha marcas pelo corpo e havia sinais de uma luta. Nem ela, nem Kate tinham perfis suicidas. No corpo de Kate não havia sinal algum, ela não lutou. Precisamos saber o porquê disso. Continuando... Anne e Kate tinham o mesmo tipo físico. Não se conheciam, mas... Sherlock! O reitor divulgou as atividades extracurriculares naquele dia, naquela primeira reunião. Não lembro de Kate, mas ela deve ter se inscrito para o Jornal... Assim como Anne se inscreveu para o Teatro...

Ela se vira para Sherlock e percebe que os olhos dele estão vidrados e ele está perdido em seus próprios pensamentos. Molly aguarda até que ele vira os olhos para ela e parece empolgado, segurando seus ombros.

– O copo, Molly! O copo! Anne lutou porque o que usaram para drogá-la estava na água e o efeito foi lento. Ela tentou se salvar... Por isso a seguraram, apertando seu braço. Não correram riscos com Kate, provavelmente o que quer q tenha sido, foi injetado. Ela não teve o tempo de Anne.

Molly fica em choque. Era isso. Elas foram drogadas e mortas. Uma euforia toma conta dela com a possibilidade deles provarem que não foi suicídio. Ela encara Sherlock.

– Acho que eu sei como posso tentar descobrir que substância é essa que não foi detectada. Nós precisamos de acesso ao laboratório de Química...

– Sim, sei aonde você quer chegar... Falaremos sobre isso depois. O que você falou por último, sobre as atividades extracurriculares... Faz sentido... Muito sentido... Molly, até onde você está disposta a ir?

– Você acha que é mesmo necessário fazer essa pergunta?

– Não, me escuta. - Ele passa a mão pelo rosto e pelos cabelos, parecendo entusiasmado e preocupado ao mesmo tempo. - Você e Anne eram muito parecidas, assim como Kate. Todos sabem disso. Há uma vaga para a organização da formatura dos veteranos. Eu poderia falar com Mycroft, ele tem alguns contatos influentes... Você poderia ser escolhida pelo reitor, Molly, e isso te manteria próxima a muitas pessoas que podemos considerar suspeitas. Mas... É arriscado.

– Se for para ajudar nessa história toda você sabe que vou fazer, Sherlock. Não vou deixar a imagem de Anne manchada. Não vou.

Sherlock segura as mãos dela junto às dele.

– Molly, você confia em mim?

– Claro que sim.

– Então... Eu não vou deixar que nada aconteça com você, mas precisamos combinar algumas coisas.

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Como previsto, Molly foi escolhida pelo reitor como novo membro da organização das formaturas. Ela passava a maior parte do seu tempo na faculdade agora. Estudando, tentando descobrir, junto com Sherlock, qual substância poderia ter drogado as garotas e trabalhando na sua nova função. Estava sempre acompanhada de seus fones de ouvido agora. Precisava de música.

A morte de Emma, que fazia parte do grêmio esportivo, veio como uma bomba. Ela havia ingerido veneno em uma das quadras do poliesportivo. Dessa vez o pânico foi geral e os funcionários não conseguiram organizar os alunos, que se aglomeraram na porta do ginásio olhando curiosos para o trabalho da polícia.

Sherlock e Molly estavam lá e ela reconheceu o policial que havia acompanhado aquele investigador insuportável no quarto de hospital que ela ficou. Lestrade. Ela o indica para Sherlock e os dois se aproximam do local onde ele toma conta da fita que isola a área.

– Olá. - Molly vê reconhecimento passando nos olhos dele. - Eu avisei. Eu avisei que não era suicídio.

– Ainda é suicídio, Srta. Hooper. - A postura dele não condiz com as palavras e Sherlock percebe isso.

– Você sabe que não é. Não deixe que isso se repita. Quantas garotas vão precisar morrer para que vocês percebam que elas não são suicidas? Você - Sherlock aponta um dedo para ele agora - pode mudar isso. E nós podemos ajudar.

– Saiam daqui. Vocês vão acabar me prejudicando. Saiam.

– A culpa será sua se uma nova morte acontecer. Culpa da sua omissão.

Sherlock passa um braço pelo ombro de Molly e eles se viram, começando a caminhar. O estudante dá um último olhar ao policial que parece cada vez mais em dúvida e preocupado.

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– Molly, venha comigo!

Já faz duas semanas que Emma foi encontrada e as aulas voltaram com metade dos alunos somente. Sherlock a arrasta para um lugar deserto, onde não seriam ouvidos.

– Encontraram e-mails impressos no quarto de Emma, e só agora foi divulgado. Leia.

Ela lê o e-mail, que novamente contém vários erros de digitação. Nos mesmos tipos de palavras.

– A pessoa que armou isso parece ter certeza que essa palavra é com "ss" e não com "ç".

– Sim, agora olhe isso. - Ele abre um caderno com um desenho datado do ano anterior. - E esse... - Ele mostra o caderno que usa agora, com um desenho atual. - Você vê?

– Deus... Não pode ser...

– Mas é, Molly. Nós encontramos.