Fiquei parada por alguns segundos, mas logo me toquei que se ficasse por mais tempo ali, certamente alguém me chamaria atenção e eu realmente não queria problemas no meu primeiro dia como soldado, mesmo odiando aquele lugar e o que eu estava fazendo ou estava para fazer.

Voltei para a minha formação e observei enquanto outras fileiras de soldados híbridos paravam ao nosso lado, provavelmente os garotos e garotas que sobraram na sala de fusão de DNA, os que não foram escolhidos por Zephiros como os soldados mais perigosos. Mas além da minha rapidez eu não conseguia enxergar nenhuma qualidade especial que pudesse me tornar perigosa, então talvez tivesse sido o meu tom de voz ou a expressão que fiz ao responder suas perguntas. Mas, sobre os outros, eu tinha certeza de que eram realmente perigosos.

Só de olhar para o rosto de Lochsa dava para perceber que o cara tinha um grande problema para controlar a raiva, e que quando queria era bem insano. Huna era muito cautelosa e não parava de fazer deduções, dava para notar o quão agitada estava quando se olhava para os olhos dela, eles não paravam de se mexer observando tudo o que podiam. Felizmente ou infelizmente, eu não estava errada quando pensei sobre isso, já que tudo foi mostrado durante o primeiro treinamento, e eu prometi a mim mesma que pelo menos até ficar forte, não entraria em uma luta contra Lochsa ou Huna.

O treinamento era rígido, porém de alguma forma eu consegui achá-lo divertido. A arena por sinal, não era o que eu imaginava. Antes de sermos levados para lá, eu achava que seria um lugar triste e sem vida, cheio de armas e sujeira, mas era bem tranqüilo, com um chão brilhante como o de um simples pátio, grama em volta e sem nenhuma grade, deixando-nos ver os muros que guardavam o prédio que pareciam espelhos de tão limpos. Realmente um parque... Bem, apenas se você quiser desconsiderar o fato de que se não ficássemos atentos o tempo todo, perderíamos a cabeça.

Como de esperado havia equipamentos lá, e não só armas, como também máquinas que mais tarde eu viria a descobrir que eram muito importantes para o treinamento, pois eram responsáveis pelas simulações de batalha. Zephiros pediu-nos que ficássemos um ao lado do outro e logo depois se postou ao lado de Ryuho, que estava á nossa frente.

– Prestem atenção – disse Ryuho – como vocês já devem saber, apenas duas guerras ocorreram desde a descoberta da Chaos Matéria, mas somente os tenentes lembram-se perfeitamente dela, pois foram os únicos sobreviventes até que nos provem o contrário. Eu sou um deles – ele fez sinal para a arena e então prosseguiu – este é o local onde vocês irão treinar com o meu auxilio, e estas máquinas – disse apontando para elas, que descansavam perto dos armamentos encostados ao lado esquerdo da arena – fazem parte da nova tecnologia, e foram desenvolvidas especialmente para simulações de batalhas tão reais que podem ferir vocês mortalmente se por acaso se descuidarem. Temos apenas dois meses para nos preparar para a terceira guerra, por isso os treinamentos se darão todos os dias, começando ás 10:00 e terminando á 00:00. Entenderam?

“Sim, senhor!” respondemos em uníssono. Fiquei pensando sobre a tal terceira guerra e quanto tempo tínhamos para nos preparar... eles realmente acreditavam naquilo? Dessa forma, sendo a terceira e provavelmente a guerra definitiva, com certeza nos atacariam de surpresa. Não deveria haver arena especial para uma guerra justa, não haveria dia certo, apenas morte. Mas decidi não falar nada por ora.

– Provavelmente não tenham entendido muito bem para que precisam das armaduras – continuou Zephiros – elas são a junção de seu sangue com a Chaos Matéria, e por isso não se separação de vocês a menos que queiram, ou se forem destruídas em combate. Elas são uma conseqüência que pode ajudá-los, e só puderam recebê-la porque entraram em contato com parte do núcleo da Chaos que se concentrava naquela máquina que viram agora a pouco.

Sim! Eu não parava de pensar naquela máquina, queria saber mais sobre ela e a Chaos Matéria, mas se eu dissesse para alguém o que vi, sabe-se lá o que aconteceria comigo. Mesmo assim, eu sabia que aquela mulher que eu tinha visto na máquina com certeza não significava boa coisa e tinha que esclarecer aquela história.

– Agora que receberam todas as informações necessárias, podemos começar – concluiu Zephiros.

Logo Ryuho se dirigiu até uma das primeiras máquinas e começou a mexer nos botões cautelosamente, olhando de vez em quando para nós que ainda estávamos sob a guarda de Zephiros.

– Aquela máquina criará um cenário um pouco diferente deste aqui – disse Zephiros cruzando os braços – entraremos em uma arena mais rígida, que conforme vocês forem progredindo, começarão a treinar até mesmo em ruínas ou cidades inimigas. É claro, mesmo sendo perigoso, ainda é só uma simulação, então não entrem em pânico... ou entrem, nunca se sabe.

– Nós seremos atacados de surpresa – disse eu sem pensar duas vezes – provavelmente, quero dizer.

– Há uma grande chance – Zephiros concordou – eles obviamente tentarão destruir nosso país para que não aconteça uma futura guerra.

– E o que farão se isso acontecer? – perguntei.

Zephiros me examinou por um momento, depois desviou o olhar para Ryuho provavelmente pensando se ele não estaria ouvindo a conversa. Finalmente, voltou-se para mim e disse:

– Se por acaso acontecer, vocês saberão o que fazer.

– Está dizendo que devemos pensar nisso quando a guerra já estiver acontecendo? – dei alguns passos á frente - Eles não querem só a matéria, né? Tem algo mais...

– Algo mais? – interrompeu-me Lozu – o que mais eles poderiam querer?

Lozu era o tipo de cara que poderia fazer piadas de qualquer coisa, mas quando o assunto era muito pesado, ele se tornava sério. Seu moicano era de um verde escuro, seus olhos eram da mesma cor e sua armadura era negra com alguns detalhes brancos.

– E-eu não... – olhei para Ryuho, até mesmo ele me encarava de longe esperando uma resposta. Tive de me conter, ainda não sabia se era a hora certa de dizer o que tinha visto realmente – Eu não sei! Mas se nos atacarão de surpresa, não devem levar só a matéria.

– Você não sabe nada sobre guerras, criança – disse Ryuho saindo de trás das maquinas e andando até nós – mas, isso vai mudar com o tempo. Vocês serão preparados para tudo, mas não temos tempo de fazer plano algum. Treinamos primeiro, depois pensamos em como tudo irá funcionar.

– Nemesis, melhor voltarmos para a formação – disse Lozu, voltando para seu lugar.

Lancei um olhar confuso para Ryuho que agora estava á nossa frente e bem ao lado de Zephiros. Esperei que dissesse alguma coisa, mas quando notei que ele não discutiria, voltei para o meu lugar.

– Ao som de minha voz, a arena irá mudar completamente e Zephiros cuidará para que aprendam a lutar direito – Ryuho caminhou lentamente até o canto da arena – Não morram antes do segundo tempo. Se isso acontecer, ficarei muito decepcionado.

Entramos em alerta, não tínhamos idéia de como as coisas seriam quando a arena mudasse já que não tínhamos muita pratica em combate. Fiquei imaginando o que Laxus estaria fazendo agora se estivesse vivo, e se estivesse lutando...

– Vão! – disse Ryuho, e tudo escureceu.

Quando o ambiente clareou, podíamos ver um cenário DEFINITIVAMENTE diferente do lugar onde estávamos antes. Aquela arena esverdeada e ladrilhada sob a luz do sol havia se tornado um campo feito de pedras, ruínas para todos os lados, escombros e, é claro, tinha espaço suficiente para que pudéssemos lutar. Nós caminhamos lentamente pelo lugar, distanciando-nos pouco a pouco a procura de algum inimigo, mas o lugar estava quieto sob aquele céu escuro e cheio de nuvens acinzentadas. De repente, algo atingiu Lochsa fazendo-o cair no chão. Olhei bem em direção á coisa e foi quando vi que não era realmente algo, mas sim uma pessoa. O guerreiro usando uma armadura da cor cinza lutava para manter Lochsa no chão, mas ele o chutou e conseguiu levantar. O guerreiro de armadura cinza tentou acertar um soco em seu rosto, mas Lochsa segurou seu punho e chutou sua barriga, assim empurrando-o para trás.

– Mas que diabos é isso!? – gritou virando-se para Zephiros.

– São os seus oponentes – respondeu ele – sabem lutar, não é? Pode ser pouco, mas usem isso o quanto puderem até que eu interfira e corrija vocês.

– Mas são soldados também - disse Shimo.

Shimo era uma garota bem neutra. Possuía cabelos brancos na altura do ombro e olhos negros, Sua armadura completa era quase dourada com pequenas aberturas nos ombros, dando para ver sua blusa azul escura.

– Não tem problema – disse Zephiros – se a situação ficar critica, matem-nos – subiu em uma grande rocha ali perto e continuou – ah, e é melhor não subestimá-los.

Quando terminou, uma tropa de 11 soldados adentrou a arena, vindo de trás dos escombros mais distantes. O soldado que Lochsa havia surrado e que se recuperara agora se juntava a eles, que entraram rapidamente em modo de ataque.

– Espancar uma pessoa até a morte é cruel – disse Mitsumasa, o garoto de cabelos negros e armadura cinza escuro – digo, se essa pessoa não te fez nada de mais...

– Cruel nada, cara – disse Lochsa abrindo um grande e sinistro sorriso – isso é muito maneiro!

– Não se preocupe Mitsumasa – disse eu – se você ficar parado aí, logo ganhará um motivo para espancá-los até a morte!

A tropa inimiga avançou, e nós fizemos de tudo para segurá-la. Eu incentivei Mitsumasa para que ele não temesse matá-los se fosse preciso, mas eu realmente estava torcendo para não precisar fazê-lo. Um dos soldados correu até mim e aproveitando que eu estava meio distraída, tentou desferir-me um soco no estomago, mas eu consegui parar seu punho a tempo. Desviei-o de mau jeito e acertei-lhe um soco na cara fazendo-o cair no chão. Aquilo foi tão inesperado que só ao desviar seu soco quase caí por cima dele, pois realmente não sabia o que estava fazendo... É claro, se não tivéssemos o apoio da Chaos Matéria, com apenas nossa força normal, eu teria me machucado muito feio ali. Outro se aproximou de mim, dessa vez tentando chutar minha cintura, mas eu agarrei sua perna e desferi um soco em seu peito fazendo-o cair de cabeça no chão.

Lochsa parecia não enfrentar dificuldade alguma, desferia golpes com uma rapidez aceitável fazendo uso do que aprendeu lutando na rua, e ignorava completamente o fato de poder escolher matá-los ou não. No fundo eu sabia que Lochsa era um cara legal e não queria matar ninguém ali, mas preferi não duvidar muito do que ele poderia vir a fazer. Mitsumasa lutava com vontade, agora. De vez em quando ainda hesitava em machucar a face do inimigo, mas logo prosseguia quando notava estar quase a ponto de cair. Shimo começou a ter problemas quando os guerreiros perto dela começaram a se juntar, mas eles foram resolvidos quando Adrian chegou.

Adrian era um garoto tranqüilo, possuía cabelos loiros na altura do ombro, mas que agora estavam presos para trás. Sua armadura era da cor vermelha e possuía alguns detalhes acinzentados, parecia já conhecer Shimo de muito tempo. Shimo lutava muito bem, mas não aprendera o suficiente nas ruas para apagar quatro inimigos bem treinados de uma vez só. Adrian ajudou a dar conta deles, e logo decidiram agir juntos. Huna estava com Lozu, e devo dizer que aqueles trabalharam muito bem juntos. Huna protegia as costas de Lozu e ele as costas dela, não devem ter sofrido um arranhão, pelo menos não enquanto eu tinha tempo para olhar.

Haruha e Leon eram os irmãos do grupo. Leon possuía cabelos negros presos em um rabo-de-cavalo e Haruha tinha cabelos loiros, também presos por um rabo-de-cavalo. Suas armaduras eram das cores azuis marinho e prussiano, e tinham uma expressão preocupada no rosto. Já haviam acabado com 3 soldados, mas não baixaram a guarda. Karura parecia se divertir tanto quanto Lochsa enquanto lutava, apesar de ser a mais jovem entre nós, e logo a que eu não faria idéia de que lutasse tão bem. Devia ter dez anos, cabelos curtos cinzentos e armadura roxa, já havia impossibilitado alguns soldados de lutar, mas não precisou matá-los.

Eu os observei enquanto lutava, e sem me dar conta, coloquei em prática toda a habilidade que eu nem lembrava que tinha, e logo, vários soldados ao chão sem condições de continuar lutando. Enfim toda a tropa inimiga estava no chão, e nós nos reunimos á frente da grande rocha onde Zephiros estava de pé, ainda nos observando.

– Nós conseguimos – disse eu – e agora?

– Conseguiram o que, exatamente? – perguntou Zephiros.

– Ora, nós derrotamos todos os soldados inimigos! – respondeu Adrian.

– Nem todos – Zephiros ficou de lado e apontou para o horizonte.

Nesse momento mais 24 soldados apareceram na arena. Eles obviamente faziam parte do nosso exército que entravam na arena normal e logo na arena modificada para nos ajudar com o treino. Imaginei quanto tempo levaria até que nós tivéssemos realmente que matar alguém durante o treinamento, algo que eu realmente não queria fazer.

– Quanto mais inimigos vocês derrotarem, mais deles virão. Esqueçam o fato de que são soldados aliados, pois se forem para a guerra com medo de matar acabarão sendo mortos. Vocês acham que os inimigos terão pena de vocês? Agora, faremos isso até que suas habilidades sejam aprimoradas e isso afete a armadura. Ficarei ao lado de vocês a partir de agora e mostrarei outras maneiras de lutar.

Assim, Zephiros desceu da rocha e tomou a frente enquanto a tropa inimiga se aproximava.

– Vão! – disse ele, e nós corremos até o encontro do inimigo.