O grande dia era hoje, a concentração era necessária. Com um ressalto para Tidus, considerado a grande estrela do time de Blitzball.

O Blitzball era um esporte bastante competitivo, reunindo pessoas todo fim de semana em Luca, cidade onde aconteciam os maiores campeonatos do esporte no mundo. Na cidade de Tidus, Zanarkand, também havia um estádio. Naquela noite haveria um jogo nele, mas não um jogo qualquer, e sim a final do 10º Campeonato em Dedicatória a Jetch, o melhor jogador de Blitzball do mundo assim era considerado, e também Pai de Tidus, que morreu numa praia há 10 anos. Todos esperavam muito de Tidus neste jogo, e o mesmo atendia as expectativas impostas a ele. Era um prodígio como o Pai.

Mesmo todos pensando que isto era uma habilidade hereditária, todos estavam enganados. Tidus treinara duro desde cedo para ser como seu pai, que ele particularmente odiava. Sua relação com o pai nunca fora das boas, e ele se sentira aliviado quando soube da noticia do desaparecimento de seu pai, cujo corpo nunca fora encontrado. Sua mãe ficara tão triste, mas Tidus não entendia o porque. Seria aceitável chorar por qualquer outra pessoa. Em sua opinião, ele era um homem desprezível, que não cuidava da mulher nem do filho. Era um péssimo pai para Tidus e traia a mulher sempre que podia, mas para o mundo era o melhor jogador de Blitzball. Mesmo assim, de tristeza, sua mãe adoeceu e rapidamente morreu, passando a guarda para Aaron, tutor de Tidus desde então.

Aaron era uma boa pessoa, um samurai desprendido de seu clã que Tidus nunca ouvira falar porem lhe disse que era um amigo de longa data de seus pais. Cabelos castanhos e rasos sempre arrepiados e sempre com um óculos escuros antiquado. Andava sempre com uma garrafa com alguma quantidade de bebida alcoólica. Não é de falar muito, e sempre ajudou Tidus no que dava, então era considerado uma pessoa boa. Aaron sempre o encorajou a seguir a carreira do Blitzball, mesmo sendo um esporte que seu pai era estrela, Tidus nunca se interessou muito. Mesmo assim os pedidos surtiram efeito e logo começou a se destacar dos demais nos treinos de respiração.

O Blitzball é um esporte curioso, poucos eram os que conseguiam ficar por mais de 3 minutos debaixo d’água. Os jogadores treinavam todos os dias os pulmões, pois a duração de um tempo no Blitzball era de 3 minutos, e uma partida consistia em 4 tempos. O jogo consiste em pegar uma bola especial e arremessa-la até a rede do time adversário. A rede era mantida aberta por uma trave de cada lado enroscada numa terceira em cima, a rede era de cor alaranjada para a fácil visualização do jogador. A bola era branca e azul com aderências semelhante a guelras de um peixe, que facilitavam o desempenho dela. Tidus treinava diariamente numa grande piscina, nada parecido com o verdadeiro estádio, mas bastante viável. O esporte tornou-se bastante famoso em Zanarkand pelo design da cidade, totalmente cercada por agua. Não igual a uma ilha, mas totalmente coberta por agua. Os prédios foram erguidos dentro d’água, mesmo sendo relativamente raso. As ruas eram criadas pouco acima das aguas, presas nos prédios por uma coluna horizontal forte de concreto, seguiam infindáveis caminhos à frente. A cidade esteve sempre crescente desde os últimos 10 anos, tornando-se uma das maiores cidades do continente de Spira, junto de Bevelle e Luca.

Tidus acordou com o barulho dos fãs em seu barco. Originalmente, o barco de sua família, mas este pegou para si quando seus pais morreram.

Lavou o rosto em seu banheiro, já estava vestido com a roupa de seu time. Na manha daquele dia, treinara a manha inteira, e depois fora descansar, mal teve tempo de trocar de roupa, então se deitou com o uniforme de seu time. Uma camiseta amarela de gola polo aberta até perto do umbigo, mostrando sua pele morena e seus músculos, um macacão preto com um cinto de couro preto em sua cintura que cobria da metade pra cima de seu abdômen, Sapa tênis amarelos e o seu inseparável colar com um pingente desconhecido que sua mãe dera para ele quando criança, pouco antes de morrer.

Correu para fora, para que pudesse falar com seu fã clube. Estavam reunidos na pequena doca onde o barco flutuava. Seu publico, de maioria adolescente, gritava por ele. Tidus foi de encontro a eles.

– Pode autografar minha bola? – um garoto ruivo e sardento estendeu uma bola de Blitzball a Tidus, com uma expressão alegre.

– Sem problema – Tidus autografou com uma pequena caneta que tinha no bolso seu nome na bola.

No mesmo instante, outra criança estendeu outra copia de plástico da verdadeira bola de Blitzball.

– Assine, por favor! – ele virou-se para ela e assinou em seguida.

O mesmo aconteceu com uma terceira criança.

Do lado delas, uma dupla de garotas adolescentes pareciam extremamente empolgada também.

– Posso ter seu autografo também? – disse uma delas com um grande sorriso no rosto. Ele autografou retribuindo a simpatia. – Boa sorte no jogo de hoje à noite.

– Não se preocupe – ele girou a bola em seu dedo demonstrando habilidade. – Ah... Se eu marcar um gol, eu irei fazer isto – ele levantou a mão esquerda erguendo o dedo indicador. – Isso vai mostrar que dediquei aquele gol a vocês. – elas se entreolharam e pularam de alegria, ele sorriu timidamente.

Tidus virou-se para os outros, que o olhavam com brilho nos olhos.

– Bem, preciso ir, torçam por mim! – ele exclamou.

– Um... Dois... Três – O ruivo contou, e de repente, as outras crianças se juntaram a ele – Ensine para a gente como se joga – elas disseram em coro.

– Bem, claro, logo após o jogo.

– Você não pode hoje – uma criança encapuzada que vestia uma roupa totalmente roxa e com detalhes em dourado disse, sem nenhuma emoção. Parecia ser imperceptível para os outros ali presentes.

– Talvez não possa hoje, então amanha certo? – as crianças agradeceram se curvando de uma maneira estranha para ele. Ele passou a mão nos cabelos loiros que tinha e foi embora, sendo seguido pelos fãs.

A cidade estava sendo iluminado pelo por do sol, seguida pelas luzes artificiais dos prédios e casas “flutuantes”. Tidus viu num telão em um prédio, uma grande imagem de seu pai, seguida por um narrador que falava pelos alto-falantes espalhados por toda a cidade.

“Eu estava em um restaurante quando ouvi a noticia” Tidus olhou em volta e encarou a imagem de seu pai no telão, só então percebeu que o narrador estava contando sua historia.

“’Nosso herói, Jetch, se foi; Desapareceu no ar’ Meu pai deve ter sido seu maior fã, eu sabia o quão triste ele estava, todos nós ficamos naquele dia; Eu corri direto para casa, ficamos falando sobre a noticia a noite inteira, meu pai e eu nunca conversamos tanto quanto aquela noite... Isso me traz boas lembranças... De todo jeito, Dez anos depois, estamos aqui, a copa em Dedicatória a Jetch é hoje; Os dois times são grandes adversários e terão um jogo ótimo esta noite.”

Tidus achava aquilo uma grande palhaçada, se segurava para não falar poucas e boas para aquelas pessoas que adoravam fielmente o seu pai.

“Eu sei que há muita gente aqui que está aqui para ver a grande estrela do time de Zanarkand, em menos de um ano, ele se tornou o melhor do time! Ele é sangue de Jetch e a nova esperança para o Blitzball, que tipo de jogo ele nos mostrará hoje?”

Tidus não quis mais ficar lá ouvindo aquilo, correu direto para o estádio onde havia uma grande multidão o esperando. Culpava seu pai por tanta pressão em suas costas, alias, culpava seu pai de todas as desgraças em sua vida.

As pessoas vinham em sua direção não o deixando passar. Tidus pedia por calma e passava com dificuldade entre eles, até o portão de seu vestiário fora assim.

– Entrem no estádio, o jogo esta para começar – Ele disse assim que entrou no estádio, gritando de longe para seus fãs que logo se dirigiram para seus lugares.

O jogo iria começar.

Tidus estava sentado numa pequena poça d’agua perto do campo, respirando calmamente, se preparando para o que viria. Uma claridade de lugar nenhum iluminou seu rosto, era o estádio sendo cheio. Uma grande onda elétrica passou por toda a esfera do estádio, a torcida se reunia no grande estádio redondo que abrigava uma grande esfera de vidro. Ela se enchia rapidamente com a junção de vários canhões d’agua que jorrava milhares de litros dentro dela, tão rápido que se confundia com ondas de choque.

Tidus estava em pé em um dos suportes da esfera esperando o seu campo estar pronto, ouvindo o vibrar de toda a plateia que sempre se maravilhava com tal tecnologia. Logo após a esfera estar completamente cheia, sua parte solida se desfez, criando uma grande bola de agua independente. Tidus então saltou para dentro dela, junto com os outros jogadores e o time adversário, dando inicio ao jogo.

Longe dali, Aaron estava no terraço de um grande prédio, observando algo que parecia ser um Tsunami vindo em direção à cidade. Uma onda gigantesca e avassaladora.

O jogo corria sem nenhum problema, a habilidade de Tidus era realmente algo incomparável, somente seu pai tinha tanto jeito para o Blitzball. Ele jogava na área ofensiva do campo, seus chutes eram impecáveis. O povo vibrava com cada jogada em que Tidus estava presente. A cada drible. Cada chute. Cada passe.

Aaron continuava a andar contra o vento, pisando nas inúmeras poças d’agua existentes na cidade. As gotas eram sugadas para a grande onda, e cada vez mais as pessoas percebiam o que estava acontecendo. O pânico estava começando a se estabelecer.

Tidus marcou seu primeiro gol, chutando a bola tão forte que fez o goleiro ser empurrado ate a ponta da esfera. Ele cumpriu com sua promessa levantando a mão esquerda. A plateia gritava por seu nome.

A grande onda se revelou uma grande esfera de água flutuante, sua gravidade estava tamanha que os prédios se dissolviam quando ela passava por eles. Aaron continuou a andar em direção ao estádio, parecendo não se importar com a sua volta. Incrivelmente despreocupado.

A bola fora lançada para cima, estava na hora da grande jogada da qual seu pai nunca conseguira antes fazer, o chute da estrela cadente. Tidus nadou em alta velocidade para cima em busca da bola, que estava tão rápida que saíra da esfera. Ele também saiu, virando-se em um pulo, preparava-se para chutar a bola com toda a força. E então viu algo estranho.

Uma grande esfera de agua igual ao estádio, mas esta tinha um visual sinistro. A grande esfera começou a lançar pequenos ovos e tentáculos, tão rápido que se assemelhavam a tiros de uma pistola. Esses “tiros” ultrapassaram prédios com tanta facilidade que assustou Tidus, eles estavam vindo diretamente para o estádio. O destruiu facilmente o lugar.

Tidus, pela altura que estava, segurou em uma das vigas que sustentavam o lugar. Olhou pra baixo e viu tudo virar fumaça, pessoas correndo por todos os lados em pânico. Sua luva estava molhada para seu azar, o que o fez não ter muita aderência para segurar naquele lugar, e então, ele caiu.

Ele acordou com uma grande dor muscular, num chão empoeirado e vendo uma multidão correndo em sua volta. Naquela hora não importava se ele era a grande estrela, ninguém olhou para ele. Tidus se levantou olhando em volta ainda desorientado, andou em frente uns segundos e avistou Aaron, e então, correu até ele.

– O que está fazendo aqui? – ele perguntou preocupado – Mais importante, onde você esteve o dia inteiro?

– Estava esperando você – Aaron encarou Tidus com um olhar frio através de seus óculos.

– Mas que historia é essa? – Tidus ficou ainda mais confuso do que já estava. Aaron não perdeu tempo com pequenas questões e seguiu em frente, deixando Tidus para trás.

Tidus correu para frente, mas não achava Aaron, só então percebeu que estava caminhando contra o fluxo de pessoas.

Estava indo na direção errada?

Ele olhou para todos os lados procurando Aaron, mas não o achou, continuou olhando ate encontrar alguém que lhe era familiar.

A mesma criança encapuzada com roupa arroxeada que vira mais cedo naquele mesmo dia, o estava encarando com tamanha inexpressão que assustou Tidus no começo, mas este tentou ser simpático.

Caminhou até a criança para falar com ela, mas deu uma rápida olhada ao seu entorno, e todos estavam congelados. Como se o tempo estivesse parado naquele momento.

– Começou. – a criança misteriosa disse com calma e inexpressiva – Não chore.

Tidus estranhou aquilo, aproximou-se da criança para que pudesse questionar, mas então, ela desapareceu, e o tempo a sua volta voltou a fluir como se nada tivesse acontecido.

– Mas o que...? – Toda a situação estava fora do normal para ele, queria sair daquilo tudo, acordar de um breve pesadelo – Espere Aaron! – Tidus avistou Aaron de longe, e então correu para encontra-lo.

– Espere, não é este o caminho – Tidus se referia a estarem correndo contra o fluxo. Aaron não o respondeu.

Ele estava encarando algo, Tidus olhou para ver o que era também.

O que viu foi algo que o deixou perplexo, fazendo-o caminhar para trás, assustado.

Uma gigante bola de agua estava flutuando no céu, e lá dentro se via um monstro gigante. Ameaçador.

– Nós o chamamos de Sin – explicou Aaron.

– Sin? – Tidus o encarou, Aaron somente acenou que sim com a cabeça.

Subitamente, eles ouviram um estrondo vindo de um prédio distante. Um grande tentáculo independente, com a aparência de um polvo bio-luminescente, “brotou” do lugar. Atirando o que parecia ser ovos para todos os lados. Esses “ovos” eram pontiagudos e caiam como flechas nas estradas e ruas da cidade. Inclusive na frente de Tidus e Aaron.

Eles se abriram formando grandes insetos azuis-escuros que tinham uma aparência intimidadora. Todos estavam virados para Tidus, como se estivessem desde o começo atrás dele. Um deles avançou, e Tidus começou a repeli-los com socos no ar. Estava um pouco afobado com a situação, então este caiu sentado e de olhos fechados esperando o pior.

– pegue isto. – Aaron o entregou uma espada inconvencional, com a lamina parecida com o pingente de Tidus. Vermelha e branca nas pontas pela a afiação.

Tidus a pegou um pouco sem jeito, deixando-a cair pelo peso da lamina, mas logo se acostumou por seus braços fortes de nadador.

– Um presente vindo de Jetch – Aaron complementou.

– Meu Pai?– Tidus encarou Aaron com seus olhos azuis perplexos. Tudo estava caindo rápido em sua cabeça, estava com dificuldades de processar tanta informação. Aaron não o respondeu.

Ele tentou manejar sua nova espada contra os insetos que estavam a sua frente, mas ainda estava com dificuldades com seu uso. Aaron puxou outra espada, bem grande e de aço comum, típica de espadachins, provavelmente era dele de sua época de samurai. Ele usou esta espada para golpear o inseto, que evaporou no ar.

– Espero que saiba como usar uma espada. – Aaron disse sarcástico. Tidus acenou que sim com a cabeça, e finalmente se concentrou na luta que aconteceria ali agora. – Vamos apenas atacar a nossa frente, precisamos prosseguir até sua casa. – ele especificou com veemência aquilo, parecia bastante importante.

Aaron atacou outro inseto que evaporou no ar logo em seguida, Tidus fez o mesmo. Logo depois de acabarem com os que estavam em sua frente, eles seguiram em frente.

Para o azar deles, tiveram cada vez mais insetos caindo no caminho. O que fez eles gastarem certo tempo em ataca-los. Tidus finalmente pegara o jeito de sua arma, e atacava com habilidade. Curvava seu corpo a cada golpe e atacava com mais força os insetos cada vez mais. Aaron só o observava.

– Saiam de minha cidade – disse Tidus atacando um dos insetos, que rosnava um som bastante agudo.

Andaram neste ritmo até pararem numa interseção das estradas, um tentáculo idêntico ao outro do prédio havia caído ali, e de alguma maneira, estava “invocando” insetos a sua volta, mas precisariam passar por ali para chegar à casa de Tidus.

– Alguns insistem em morrer – ele armou sua espada e correu de encontro ao grande tentáculo.

Tidus observou aquilo com fascínio, Aaron saltou perto do tentáculo fincou sua espada no chão, causando uma incrível onda de explosões que pulverizaram todos os insetos, juntamente com o tentáculo. Tidus ficou boquiaberto com tal habilidade de seu tutor, que assim que acabou com o feito, redirecionou o olhar diretamente à Tidus, que o encarava com olhos arregalados.

Aaron seguiu em frente sem deixar que Tidus perguntasse algo.

– Me espere seu velho! – ele exclamou para Aaron que não o ouviu e continuou seguindo em frente.

Ele correu até alcançar Aaron que estava parado de frente para o prédio onde estava uma grande imagem de Jetch, que na imagem estava de braços cruzados e rindo com seu jeito arrogante usual.

– Do que esta rindo, pai? – Tidus pensou com desdém – Vamos logo Aaron, o meu barco está logo ali.

Tidus caminhou devagar, de algum jeito estava culpando seu pai por tudo aquilo, queria que seu pai fosse o culpado de tudo aquilo. Somente por essa copa idiota.

De repente, sentiu o chão a sua volta tremer, a grande ponte ligada aos prédios onde ele estava cairia rapidamente, tudo por um dano em uma das vigas. Percebeu este detalhe.

Pôs-se a correr seguido por Aaron, que mesmo naquela idade corria ainda mais depressa que Tidus. Os dois ficaram tão ocupados que não perceberam que o grande monstro culpado por tudo aquilo estava bem acima deles, sugando como um buraco negro toda a estrada desde a casa de Tidus até onde ele estava. Aaron parou de frente para ele, o olhando com um olhar calmo, como se estivesse preparado para aquilo.

– Acalme-se Tidus – Aaron olhou para os olhos lacrimejantes de Tidus, do qual estava muito assustado – Essa é a sua história, não chore.

Tidus gritou em desespero quando viu o rosto de Aaron sendo “deformado” pela sucção, logo depois, foi à vez dele.