Final Fantasy X-3 - Os Hinos

Capítulo 9 - Zanarkand e Bevelle


Depois de Paine gritar e todos os Ronso olharem para ela, Tidus decidiu esclarecer tudo, em vez de continuarem a esconder coisas tão simples.

Simples não seria a descrição que Yuna faria por isso, quando viu Tidus a dirigir-se para Paine. Tidus arrastou Paine para longe e olhou para ela intensamente.

– Porque é que estás tão obcecada por mim? – perguntou Tidus, surpreendendo Paine.

– Não estou obcecada. – negou Paine – Mas desapareceste e apareceste sem mais nem menos. A Yuna é uma amiga para mim, agora, e não quero que a deixes a sofrer, outra vez, a procurar por ti sem parar.

Tidus olhou para o chão.

– Eu desapareci. – murmurou Tidus – Ela disse-me que já se passaram dois anos, mas foi como se tivesse desaparecido ontem e voltado hoje. Por isso, não sei o quanto a magoei, mas não quero fazê-lo outra vez.

– Desapareceste…? – Paine inclinou a cabeça – Desaparecer do tipo “ir para longe”.

– Desaparecer do tipo “como um fantasma”. – esclareceu Tidus – Quando te disse que nasci em Zanarkand, é verdade. Nasci lá e o Aaron trouxe-me para aqui antes de o Sin ter tempo de destruir tudo.

– Mas Zanarkand foi destruída há muito tempo atrás. – disse Paine – Isso não quereria dizer que já devias estar morto, por esta altura.

Tidus anuiu.

– Descobri mais tarde que eu não era normal. – continuou Tidus – Yu Yevon preservou a antiga Zanarkand com todos os seus habitantes, quando criou as fés. Eu vivia nessa Zanarkand com que as fés eram obrigadas a sonhar. Quando eu vim para esta Spira, não passava de um “sonho”.

– Uma vez que fazias parte do sonho, quando vieste para o mundo real, TU eras um sonho. – percebeu Paine – Não eras real.

– Era tão real como as outras pessoas em Spira. – disse Tidus – Desde que as fés continuassem a sonhar, eu continuava a ser tão normal como tu ou a Yuna. No entanto, as fés estavam cansadas de sonhar e pediram-nos ajuda para acabar com o sonho. Em troca, deram-nos dicas para descobrirmos a verdade sobre a Ordem de Yu Yevon, a Yunalesca e o Sin.

– Então, quando destruíram o Sin…

– O Sin era apenas a carapaça. – interrompeu Tidus – Foi quando matamos Yu Yevon, que estava escondido lá dentro, que as fés puderam finalmente acordar. Quando elas acordaram, o sonho acabou.

– Se o sonho acabou, tu também… - Paine percebeu – Foi assim que desapareceste. Foi a Yuna. Ela “enviou” todos aeons e as fés com eles.

– Se disseres isso, ela vai continuar a culpar-se. – disse Tidus – A verdade e que ela trouxe a Calma Eterna. Não só a Calma. Ninguém terá de se preocupar que o Sin volte e continue a destruição. Para que isso fosse possível, o que aconteceu tinha de acontecer. Estava destinado.

– Foi a Yuna que te “enviou”? É por isso que ela está sempre preocupada contigo quando faz a dança? – perguntou Paine – E como é que estás aqui agora? E o Aaron?

Tidus sorriu.

– Tantas perguntas. – ele suspirou – As fés trouxeram-me de volta depois de a Yuna ter destruído o Vegnagun e acabado com o Shuyin. Foi o que ela me disse. Sobre o Aaron…não fales sobre ele.

– Porquê? – perguntou Paine.

– Porque a minha desaparição só magoou a Yuna. – explicou Tidus – Mas a morte do Aaron…a morte do Aaron deixou uma cicatriz no coração de todos nós.

Sem dizer mais nada, Tidus virou as costas e voltou para o grupo, com um sorriso dirigido a Yuna.

– Satisfeita, agora?

Paine virou-se e viu um rapazinho à sua frente.

– Tu… - Paine franziu as sobrancelhas – Tu és uma fé? O que é que uma fé está a fazer aqui? Pensava que tinham sido acordadas.

– Não há necessidade de fazer perguntas ao sonho. – disse a fé – Podes estar curiosa sobre a volta dele mas ele não sabe nada sobre o assunto e, a única que sabe, nunca te irá dizer uma palavra.

– Yuna? – perguntou Paine.

– Se sabes, então pára. – disse a fé – Não vais descobrir nada e, se tentares fazer mais experiências com o sonho, só vais trazer mais problemas à Yuna.

E, de um segundo para o outro, a fé desapareceu, deixando Paine com mais perguntas do que respostas, tal como fazia com Yuna. Paine olhou para o grupo, mas este parecia não ter notado que a fé tinha aparecido e desaparecido.

Depois de passarem pelos Ronso sem quaisquer informações uteis, o grupo continuou em frente. Paine já não fazia mais perguntas porque já sabia o que tinha acontecido no passado e não queria perguntar o que se estava a passar no presente se isso significava magoar Yuna.

O casamento!, lembrou-se Paine. Tinha-se esquecido de perguntar sobre o casamento de que tinha ouvido falar há dois anos entre o…Seymour e a filha do anterior Invocador Supremo, Yuna. Porque é que tinha sido cancelado? O que é que tinha acontecido?

Enquanto Paine pensava numa forma de perguntar a Tidus o que tinha acontecido, este andava coordenadamente, ao lado de Yuna.

– Então, onde queres casar-te? – perguntou Tidus, chocando Yuna, que não estava à espera daquela pergunta.

– Acho que…Besaid? – sugeriu Yuna – Não quero nada grande. Pelo menos, até isto acabar.

– Eu queria que fosse em Bevelle. – disse Tidus, chocando Yuna novamente.

– Porquê Bevelle? – perguntou Yuna – Sabes que eles andam atrás de nós e eu…foi lá que…da última vez…

– Tu casaste-te com o Seymour lá. Sim, eu lembro-me. – completou Tidus – Também pensei em fazer uma pequena cerimónia em Macalania. Mas os teus pais casaram-se em Bevelle e foi onde tu nasceste.

Yuna sorriu.

– Pode ser onde nasci, mas eu cresci em Besaid. – disse ela.

– Disseste que a nossa última paragem é Bevelle. – lembrou Tidus – Vamos casar-nos lá. Podemos dizer aos outros quando chegarmos a Zanarkand. Por essa altura, o Brother também já deve ter dado algumas notícias.

Quando começaram a subir a montanha que ia dar a Zanarkand, Tidus teve de parar um bocado para ver a sua cidade natal de longe. Suspirou e continuou. No entanto, quando entraram em Zanarkand, ele parou e flashbacks do estádio de blitzball a desmoronar-se graças aos ataques do Sin vieram-lhe à memória. Como se tivesse quebrado uma barreira, quando Tidus pôs um pé na cidade morta, esta voltou a ter a mesma aparência que tinha antes.

Já que Paine nunca tinha visto, assustou-se quando viu dezenas de fyreflies a encherem a cidade. As pessoas que visitavam a antiga cidade sagrada também ficaram surpreendidas e assustadas, já que só os invocadores e os guardiões tinham permissão para entrar em Zanarkand, antes da Calma Eterna.

– Yuna, foste tu que fizeste isto? – perguntou Wakka, ao ver que Yuna estava a inspeccionar Tidus – Yuna?

– Eu não fiz nada. – respondeu Yuna, depois de se certificar que Tidus não estava a desaparecer – Deve ser só uma coincidência.

– Como em Macalania? – perguntou Wakka – São demasiadas coincidências.

– Bem, eu não sei o que está a acontecer. – mentiu Yuna – Porque é que não vamos encontrar um sítio para acamparmos. Um sítio onde os guardas não nos possam encontrar.

– Yuna.

Yuna virou-se e viu Isaaru, acompanhado por dois guardas de Bevelle.

– Yuna, eles disseram que andam à tua procura. – disse Isaaru – O que é que se passa?

– Isaaru…

– Invocadora Suprema, importa-se de vir connosco até Bevelle? – pediu um dos guardas – Nós precisamos de lhe fazer algumas perguntas.

– Que tipo de perguntas? – perguntou Rikku, tentando proteger a prima.

– Isso não lhe diz respeito. – disse o outro guarda – Pelo que sei, você é Al Bhed.

– Vocês chamaram-na “Invocadora Suprema”. – disse Tidus, imediatamente – Se ela é a Invocadora Suprema, nós somos os Guardiões dela. Como tal, não podemos deixá-la ir sozinha.

– Ela não iria sozinha. – resmungou um dos guardas.

– Vocês perceberam o que ele quis dizer. – disse Wakka – Levam-nos a todos ou não levam ninguém.

– Muito bem. – concordou um dos guardas – Venham connosco.

Os guardas viraram costas e entraram numa nave da Nova Ordem de Yu Yevon, acompanhados pelo grupo. Mal saiu de Zanarkand, os fyreflies desapareceram novamente e entraram no corpo de Tidus, ao contrário de Macalania.

Como o grupo estava todo de costas, ninguém viu a não ser Isaaru, que abriu imediatamente a boca mas, antes de poder dizer ou fazer alguma coisa, a porta da nave fechou-se e a nave levantou voo.

Estavam a aterrar em Bevelle em poucos minutos e, como se estivessem presos com algemas, Yuna e o resto do grupo, seguiram os guardas. Era a primeira vez que Paine se sentia assim.

– Se te sentires em perigo, basta dizeres. – murmurou Tidus a Yuna, enquanto apontava para a espada – Assobia.

Yuna sorriu, mas parou imediatamente quando chegaram à porta da Ordem.

– Tenho de pedir-vos que deixem as armas aqui. – disse um dos guardas – Nenhuma arma é permitida lá dentro desde o desastre do Vegnagun.

Com suspiros, o grupo começou a desarmar-se. No entanto, Yuna pôs as duas pistolas no chão e endireitou-se, mantendo-se quieta mesmo quando os guardas começaram a olhar para o bastão tapado, preso atrás das costas dela.

– Espadas também não são permitidas. – disse um guarda, enquanto o outro tossia – Peço desculpa, Invocadora Suprema.

Yuna levou uma mão às costas e revelou o bastão. À excepção de Rikku e Paine, que já sabiam que ela tinha levado o bastão, os restantes ficaram surpreendidos.

– Este é o bastão que o meu Mestre me deu quando eu acabei os meus estudos. – disse Yuna – Já não existem fés e, consequentemente, aeons, por isso, o meu bastão não é uma arma.

Os dois guardas fizeram uma vénia e abriram as portas para que eles entrassem. Enquanto caminhavam pelo corredor, os guardas observavam-nos com cautela.

Quando finalmente chegaram ao destino, o grupo ia-se ajoelhar, mas Yuna impediu-os. Estavam ali como convidados. Não estavam presos e tinham uma reputação a manter. Eram os guardiões que a tinham ajudado a trazer a Calma Eterna. Eles não se iam ajoelhar em frente à autoridade suprema da Nova Ordem de Yu Yevon.

– Yuna. – Baralai apareceu, sorriu e fez uma vénia em frente a Yuna – Vejo que estás vestida com as tuas roupas de Invocadora e trouxeste o teu bastão. Reconsideraste juntar-te à Nova Ordem de Yu Yevon?

– Considerei e já te dei a minha resposta. – disse Yuna, sem sequer se mexer – Os teus guardas disseram que tinhas algumas perguntas para nós? Quais são?

– Já devem saber que aconteceram algumas coisas estranhas no Templo de Kilika, de Dsoje e na floresta de Macalania. – começou Baralai – Uma vez que vocês começaram uma viajem nesse período de tempo, perguntamo-nos se a Invocadora Suprema tem alguma coisa a ver com o assunto.

– De maneira nenhuma. Nós só estamos a festejar o regresso do meu guardião…a casa. – improvisou Yuna – Não estivemos em nenhum desses lugares quando as “coisas estranhas” aconteceram.

– Mas as pessoas dizem ter-vos visto. – reforçou Baralai.

– Viram mal. – disse Yuna, simplesmente – Agora, gostava de celebrar o meu casamento aqui. – disse ela, chocando os presentes – Será que podias ajudar-nos.

– Claro! – disse Baralai, esquecendo imediatamente o assunto anterior, tal como Yuna tinha previsto – A Nova Ordem de Yu Yevon tem todo o prazer de ajudar a preparar e a conduzir o casamento da Invocadora Suprema. Quem é o rapaz sortudo?

Yuna limitou-se a apontar para Tidus, que sorriu imediatamente.

– Ele fez o pedido em Macalania, DEPOIS das “coisas estranhas” terem acontecido. – disse Yuna – Aprecio a sua ajuda.

– Espero que não se importe que lhe peça que fique nas redondezas, enquanto preparamos a celebração e investigamos os acontecimentos. – pediu Baralai.

– De todo. – disse Yuna, pousando o bastão no chão – Espero que as noticias do meu casamento não se espalhem.

– Farei os possíveis. – prometeu Baralai – Mas sabe como são os guardas.

Era mentira, pensou Yuna. Seria Baralai a pedir aos guardas para espalharem a notícia. Felizmente, ela pediria a Baralai para fazer a celebração no mesmo sítio onde tinha casado com Seymour. Não havia espaço para convidados inesperados lá.

Só queria que aquilo acabasse para poder voltar para Besaid.