Final Fantasy X-3 - Os Hinos

Capítulo 3 - A outra Metade


- Eu acho que devemos voltar para Besaid. – propôs Yuna, chocando toda a gente no barco.

- O que é que estás a dizer, Yuna? – perguntou Rikku – Foste tu que concordaste em fazer esta digressão sem a nave.

- Sim, e eu tenho de ir até Luca para o jogo. – adicionou Tidus – O que é que aconteceu tão de repente para mudares de ideias?

Yuna olhou para a aldeia e viu algumas pessoas a murmurarem ao longe. Pareciam preocupadas e confusas. De repente, olharam para ela com um olhar chocado e começaram a dirigir-se para o barco.

Era a ela que eles queriam, pensou Yuna, mas não podia dar-se ao longe de deixar Tidus sozinho.

- Porque é que não vamos fazer aquela visita à Dona então? – sugeriu Yuna, pegando na mão de Tidus – Já que ainda não podemos partir agora.

Com um olhar, pediu à prima que a seguisse e saíram os três do barco, deixando os restantes com as sobrancelhas franzidas. Não só os do barco, mas também Tidus.

- Não disseste que ias deixar-me descansar quando chegássemos-mos ao barco? – perguntou Tidus – Porque é que agora vamos a casa da Dona?

- Não há tempo para explicar. – disse Yuna, ao mesmo tempo que Rikku.

Sem puder protestar, Tidus foi arrastado por ruas estreitas onde havia apenas algumas pessoas a caminhar até entrarem na casa de Dona, por uma entrada secreta que ela tinha criado para fugir em caso de se encontrar numa situação perigosa. Por isso, quando os três entraram subitamente, Dona pôs-se imediatamente em posição de combate.

- Então é a Invocadora suprema. – suspirou Dona, sentando-se novamente – Parece que há alguma agitação lá fora e, já que tu estás aqui, presumo que seja por tua causa…outra vez.

- Ouve… - Yuna ia contar a história, mas olhou para Tidus e decidiu que não podia dizê-lo à sua frente – Porque é que não vais cumprimentar o Barthelo? Ele deve gostar de te ver, depois de tanto tempo. Eu preciso de falar com a Dona a sós.

- Então, porque é que a Rikku veio também? – perguntou Tidus.

- Porque é que não te limitas a ir? – perguntou Rikku, empurrando-o para fora da sala, já que Barthelo estava à porta, para ter a certeza de que nenhum cidadão entrava – Pronto, podem falar.

E, assim, Yuna fez um breve resumo de o que tinha acontecido já que algum cidadão podia reconhecer Tidus como seu guardião e descobrir que ela estava ali.

- Então estás a dizer que há uma hipótese de que as fés tenham-se fundido todas para trazer o corpo dele de volta? – perguntou Dona, quando Yuna acabou de falar – E agora estás com medo que o Sin reapareça se as fés foram repostas?

- E elas disseram que estavam cansadas de sonhar. – disse Yuna – Se elas voltarem aos Templos, não será um acto cruel?

- Para não falar que a paz actual entre as Ordens pode ser destruída se as fés reaparecerem. Mas acho que esse e o facto de o rapaz poder desaparecer são as tuas preocupações. – disse Dona, levando uma mão à testa – Tenho quase a certeza de que o Sin não vai reaparecer já que, como me disseste, ele era apenas uma carcaça que Yu Yevon usava para se proteger e para evitar que as cidades crescessem demais. Em todo o caso, devias sair de Kilika o mais rapidamente possível.

- E o que é que vou fazer!? – perguntou Yuna, assustada – Não sei o que é que hei de fazer!

- E vieste pedir-me conselhos? Estás no lugar errado. Eu não sei nada sobre aquele rapaz. Tu é que o conheces melhor. – disse Dona – Devias meditar no que te ensinaram enquanto aprendiz de Invocadora. Se não te ocorrer nada, porque é que não vais perguntar à Nova Ordem de Yu Yevon. Eles têm registos de tudo, lá.

Mas tudo o que o seu mestre em Besaid lhe tinha ensinado eram mentiras e tinha a certeza que os membros da Nova Ordem de Yu Yevon não deixariam que ela pesquisasse livremente. Afinal, eles tinham segredos. Ela bem o sabia.

Yuna levantou-se, com a cabeça num turbilhão.

Tidus já não era um sonho porque o seu corpo era composto pelas fés, mas, se se aproximasse de um Templo, as fés que o constituíam deixá-lo-iam. Não. As fés não voltariam aos Templos de livre vontade. Elas próprias tinham dito que estavam cansadas de estar lá. O que queria dizer que era Tidus que estava a conjura-las…tal como tinha sido feito originalmente por Yu Yevon.

Mas Tidus e toda a cidade de Zanarkand tinham sido criadas por Yu Yevon, tal como as fés e Sin.

Yuna levou uma mão à testa.

Agora Tidus já não era um sonho, repetiu Yuna na sua cabeça. Portanto, já não era uma criação de Yu Yevon. A cidade de Zanarkand aonde Tidus tinha vivido também não existia e as fés tinham sido libertadas de Yu Yevon há três anos atrás.

Agora, Tidus conseguia trazer de volta as fés, mesmo que fosse involuntariamente, como Yu Yevon? Não, ele não estava a CRIAR as fés, estava apenas a trazê-las de volta. Yuna podia pensar que tudo aquilo tinha sido um plano de Yu Yevon para trazer Sin de volta, mas tinha a certeza que estavam ambos mortos.

Com uma dor de cabeça, Yuna saiu para o telhado, para apanhar ar.

- Yuna?

Ela virou-se e viu o rapazinho que lhe tinha prometido que ia fazer de tudo para trazer Tidus de volta.

- Tu! – exclamou Yuna – Como é que consegues estar aqui?

- Yuna. – repetiu o rapazinho – Como já percebeste, nós juntamo-nos para trazê-lo de volta. O sonho que nos ajudou a acordar.

- Mas ele não consegue evitar. – justificou Yuna – Ele não tem culpa por estar a repor as fés…

- Há alguma coisa. Não…alguém que está a fazer com que ele nos conjure. – disse ele – Se não descobrires a tempo, ele vai desaparecer outra vez, quando todos nós voltarmos aos Templos.

- O que é que eu devo fazer? – perguntou Yuna.

- Pergunta à tua outra metade. – respondeu o rapaz, antes de desaparecer

- A minha outra metade… - murmurou Yuna, que não conseguia pensar em mais ninguém a não ser Tidus, ou as suas amigas, ou a sua família. Mas tinha a certeza de que não era nenhum deles. Aquela fé tinha a particulada de nunca ser especifica e, pensar em Tidus ou nos outros, era demasiado especifico.

Quem era a sua outra metade? Podia estar algures em Spira. E se ela a perdesse?

- Ah, por falar nisso! – exclamou Dona, ainda dentro de casa – A tua outra amiga veio fazer perguntas sobre o ti e o teu namorado!

Com as sobrancelhas franzidas, Yuna entrou e olhou para Dona. – Que amiga?

Quando receberam noticias de que o barco estava prestes a partir graças a Barthelo, Tidus, Rikku e Yuna despediram-se e foram pelas mesmas ruas estreitas por onde tinham vindo e entraram no barco sorrateiramente.

- Agora podes ir descansar. – disse Yuna a Tidus, obrigando-o até a entrar no quarto – Rikku.

- O que é que se passa? – perguntou Rikku, com as mãos atrás da cabeça – Descobriste alguma coisa com a Dona?

- A Paine anda a fazer perguntas. – disse Yuna, espreitando pela porta, aonde alguns habitantes de Kilika tentavam entrar no barco enquanto os guardas diziam que eles só podiam entrar se tivessem bilhetes ou permissão do capitão – Se ela descobrir mais, não sabemos de que lado é que ela vai ficar. Ela pode entregar o Tidus a qualquer das Ordens para nos “proteger”.

- Achas mesmo que ela faria isso? – perguntou Rikku, pensando um bocado – É verdade que ela não simpatiza com o rapaz e já fez perguntas antes…

- Uma das fés veio falar comigo. – disse Yuna, surpreendendo a prima – Ela disse que eu tenho de encontrar a minha outra metade para salvar o Tidus.

- A tua outra metade? – perguntou Rikku – A tua outra metade não é o Tidus?

- Foi o que eu pensei mas, se fosse tão fácil, ele não teria vindo até mim. – disse Yuna, com um ar preocupado.

- Não devias esconder-lhe. – disse Rikku, mudando de assunto – Não devias esconder-lhe isto tudo como escondeste que irias morrer quando chegasses a Zanarkand, há três anos atrás. Talvez ele saiba alguma coisa sobre isso da “outra metade”.

- Não posso dizer-lhe! – exclamou Yuna – Ele sacrificar-se-ia outra vez para me salvar!

Rikku baixou os olhos. – Vamos pensar nalguma até chagarmos até Djose. Quanto ao aparecimento da fé neste Templo, acho que as noticias não viajam assim tão depressa e Luca não tem Templo, em todo o caso.

...

Depois de ouvir o que Yuna e Rikku tinham dito, Paine apressou-se para o quarto da equipa quando o barco começou a mover-se e chamou Tidus quando este estava prestes a deitar-se.

Rapidamente, disse-lhe que queria perguntar-lhe uma coisa e levou-o para uma sala vazia.

- Queres saber o que é que se passou antes de a Calma Eterna ter-se instalado? – perguntou Tidus, um pouco surpreendido – A Yuna não te contou.

- Bem, ela mencionou algumas coisas. – mentiu Paine – Mas nada sobre ti.

- Eu? – Tidus sorriu desanimadamente – É porque não importa. Afinal, a Yuna de agora não é a mesma Yuna que eu conheci. Provavelmente não acha que seja importante para não te contar.

“Ah” percebeu Paine. Antes de sair do barco, Yuna tinha dito “As pessoas querem que a Invocadora Suprema visite os Templos. Não querem que a Yuna visite os Templos.” Na mente dele, provavelmente estaria a pensar que a Yuna por quem se tinha apaixonado era só a “Invocadora” criada para matar o Sin e agora ela era a Yuna “verdadeira”. Isso também queria dizer que ele devia pensar de só a “Invocadora” se tinha apaixonado por ele e não a Yuna verdadeira.

Talvez se devesse aproveitar dessa confusão.

- Mas tu eras um dos Guardiões dela, certo? – perguntou Paine – Porque é que ela não falaria sobre ti?

- Diz-me, ela falou-te de alguém chamado Aron? – perguntou Tidus, vendo-a abanar a cabeça – Então não há nada a contar sobre mim, também. Porque é que não finges que só me conheceste há alguns dias atrás e que não fui um Guardião da Yuna?

Com uma expressão vazia, Tidus saiu da sala e voltou para o dormitório da equipa.

Dona tinha dito que ela tinha andado com uma cambada de Guardiões mas, no fim, só tinham sobrado quatro.

Já tinha ouvido falar sobre Aron, apesar de nunca ter dado muita importância às acções dos Invocadores. Se bem se lembrava, Aaron tinha sido o Guardião do Invocador Supremo antecedente a Yuna, que por acaso era pai dela. Também só se lembrava disso porque diziam ter altas expectativas da Invocadora Yuna por causa do seu pai.

Aron tinha sido o Guardião do pai de Yuna, era isso que ela esquecera-se de mencionar?

Paine sabia muito bem qual era a sensação de querer guardar um passado doloroso. Mas tinha de falar directamente com Yuna, já que agora Tidus parecia demasiado deprimido para falar.

Quando saiu, o sol já se tinha posto e, convenientemente, Yuna estava sozinha, a olhar para o mar, como se estivesse à espera de ver Luca. Era verdade. Sabia que iria haver bastante multidão à espera do barco porque duas equipas de blitzball iam a bordo e queriam cumprimenta-la. Mas, se já tinham descoberto o incidente no Templo de Kilika, Yuna queria ser a primeira a saber pela reacção das pessoas, ao longe.

Também estava a pensar quem era a sua outra metade e porque é que a fé tinha-lhe dito aquilo como se ela já a conhecesse.

- Estou a ver que já mudaste de roupa. – mencionou Paine, sentando-se ao lado de Yuna.

- Eu disse que só ia vestir o kimono quando fosse visitar um Templo e não há nenhum Templo em Luca. – disse Yuna, continuando a olhar em frente.

- Não achas que as pessoas que estão à espera para te cumprimentar vão ficar um bocado desiludidas. – Yuna não respondeu, por isso Paine continuou – Sabes que, mesmo Spira sendo pequena, só vamos chegar a Luca daqui a algumas horas.

- Não tenho sono. – foi a única resposta de Yuna, baixando os olhos.

- Quem era o Aron? – perguntou Paine, vendo Yuna a levantar a cabeça imediatamente e a olhar para ela.

- O Aron foi o Guardião do meu pai e a pessoa que me levou para Besaid. – respondeu Yuna, contendo as lágrimas quando se lembrou que tinha sido a matá-lo. Sim. Tinha sido ela a matar toda a gente – Eu sei que andas a fazer perguntas.

Yuna levantou-se subitamente e algumas lágrimas começaram a correr. – Porque é que não deixas o passado aonde ele deve estar!?

Chocada, Paine ficou a ver Yuna a entrar para o seu quarto.