Final Fantasy X-3 - Os Hinos

Capítulo 12 - Os Sinos


Nervosa, Yuna arranjou o vestido, olhou para Paine e Rikku que estavam encarregues de a escoltar e suspirou fundo.

–A noiva não vai fugir, pois não? - perguntou Rikku, genuinamente preocupada.

–Não. - respondeu Yuna, um pouco ofendida - A noiva só está um bocado nervosa.

–Bem, não há tempo para nervos agora. - disse Paine - O coro vai começar a cantar a qualquer momento.

Yuna olhou lá para fora. Tal como previra, Baralai tinha convidado as pessoas mais importantes da Nova Ordem de Yu Yevon mas ninguém das Ordens, como se fosse um estalo na cara deles. Não serem convidados para o casamento da Invocadora Suprema.

Yuna não esperava mais nada quando tinha pedido para que eles a ajudassem a preparar o casamento. Para eles, aquela era uma cerimónia politica.

Não que lhe importasse quem Baralai convidava ou não, mas não queria ser uma vítima no meio daquela confusão toda. Quer dizer, Lulu só tinha sabido do casamento porque Wakka lhe contara a bordo da nave do Brother. Era uma pena que ela não estivesse ali. Provávelmente diria alguma coisa para a acalmar.

Quando o coro começou a cantar o hino das fés, Yuna teve um arrepio, mas começou a andar automaticamente, atrás das duas amigas. Olhou ligeiramente para o lado e viu Tidus a sair com Wakka ao seu lado. Inspirou, olhou em frente e concentrou-se. Aquela era uma cerimónia formal com dezenas de anos. Se não fosse bem feita, não seria considerada oficial. Esperava que Wakka tivesse dito isso a Tidus e como se comportar.

Quando chegaram às escadas que iam dar ao altar, em vez de olharem um para o outro, endireitaram as cabeças e começara a subir degrau a degrau, o que significava que Wakka tinha explicado tudo a Tidus.

Ao chegarem ao altar, viraram-se e ficaram a olhar um para o outro em silêncio, enquanto Wakka, Rikku e Paine posicionavam nos lugares da frente.

Yuna tentou não sorrir para Tidus quando Baralai começou a falar porque, afinal aquela era uma cerimónia séria. Não houve problemas em controlar-se, quando viu Isaaru com os irmãos na terceira fila da frente, com o bastão na sua mão.

Desviou os olhos para a prima e quase suspirou quando viu a Rikku com o bastão dela na mão. Estava tudo controlado, pensou Yuna para si mesma. Nada ia correr mal.

–Passa-se alguma coisa, Yuna? - perguntou Baralai, "acordando" Yuna dos seus pensamentos - Podemos parar.

Yuna voltou-se rapidamente para Tidus e tentou ignorar tudo o resto.

–Está tudo bem. - garantiu Yuna - Pode continuar.

Sim, estava tudo bem. Porque, mesmo que Isaaru tentasse alguma coisa, ela podia contra-atacar.

...

Há cerca de dez anos atrás

Yuna, de nove anos, que já vivia em Besaid, tinha prometido ser uma Invocadora como o pai tinha sido e sacrificar-se para trazer a paz à população.

Por isso, estudava todos os dias com o Sacerdote Mestre do Templo de Besaid. Este dizia-lhe constantemente que, lá por ser filha de um Invocador Supremo, não queria dizer que ela própria tivesse algum talento especial para se transformar numa, por isso tinha de se esforçar mais do que os outros para chegar às expectativas da população.

Yuna achava que isso era um pouco errado, mas treinava quase vinte e quatro horas por dia para chegar às expectativas do Sacerdote Mestre.

Claro que as primeiras aulas eram teóricas. O Sacerdote não ia simplesmente dar-lhe um bastão no primeiro dia e esperar que ela soubesse "enviar" perfeitamente uma alma para a Farplaine.

No entanto, quando o professor lhe estava a explicar que era preciso fazer um tipo de dança para mandar as almas para a Farplane e que cada Invocador tinha de "inventar" a sua, Yuna levantou uma questão que, segundo o Sacerdote Mestre, nunca nenhum aprendiz antes dela tinha perguntado.

"E se eu quiser parar outro Invocador de enviar uma alma para a Farplane?" "E porque é que haverias de querer fazer isso?", perguntara o Sacerdote, curioso com a pergunta da menina de nove anos.

Yuna explicara que a pessoa podia ser um amigo ou amiga dela e que, por isso, não queria ver essa pessoa partir. O Sacerdote repreendeu-a seriamente, explicando que os deveres de uma Invocadora vinham em primeiro lugar e que um Invocador nunca devia ir contra outro Invocador.

Ela chorara nessa noite, nem sabia bem porquê.

No dia seguinte, como que para castigá-la, o Sacerdote Mestre entregara-lhe um bastão e ordenara-lhe que tivesse a sua própria dança pronta em três dias. Em adição, teria de pensar que estava a enviar o seu ente mais querido e manter uma cara séria, enquanto o fazia.

Infelizmente, o Sacerdote morrera dois dias depois e o chefe da vila tivera que chamar o Invocador mais próximo para o "enviar" para a Farplane. Com isso, Yuna já não era obrigada a continuar a treinar para ser uma Invocadora, tal como não tinha ninguém que a ensinasse a fazê-lo.

No entanto, quando viu o Invocador a entrar na aldeia, o seu peito encheu-se de respeito por ele e, ainda mais do que antes, quis ser uma Invocadora. No entanto, quando o viu a "enviar" a alma do seu Mestre, Yuna queria pará-lo.

Como o Sacerdote lhe pedira, ela tinha criado a sua própria dança em três dias e tinha imaginado que estava a enviar o Mestre enquanto a fazia. No entanto, quando acabou, começou a soluçar incontrolavelmente.

O Invocador que enviara o Sacerdote Mestre ainda estava lá naquela altura e assistiu à dança de Yuna com interesse. Mas, quando ela acabou e começou a chorar, suspirou, aproximou-se e afagou-lhe o cabelo.

–Porque é que não deixas o treino para quando fores mais velha? - sugeriu ele, enquanto lhe limpava as lágrimas da cara.

E Yuna respondeu -Os aprendizes não têm de estar livres de sentimentos para se tornarem Invocadores e "enviarem" almas.

O Invocador partira no dia seguinte e Yuna continuara a treinar sozinha, determinada a encontrar uma maneira para impedir que uma alma fosse "enviada".

...

Há alguns meses atrás

Yuna tinha-se esquecido completamente do seu golo quando se tornara uma Invocadora mas, depois de "enviar" Aron, todas as fés, o pai de Tidus e este ter sido enviado automaticamente, tinha voltado a essa questão. Seria mesmo possível impedir outro Invocador de "enviar" uma alma ou um "não-enviado".

Quando ficara a saber da história de Shuiyn que se recusava a aceitar que estava morto ou a ser "enviado", Yuna voltara a pegar no seu poeirento bastão e a trabalhar em segredo sempre que tinha tempo livre. Arranjara um caderno aonde punha todas as suas tentativas falhas e, finalmente lembrou-se. "Tenho três dias para criar esta dança."

Era uma dança única. Cada Invocador tinha uma dança diferente para enviar as almas, por isso era só natural que aquela dança também fosse única.

Tentara e tenra até se lembrar de outra coisa. Se a dança que tinha criado servia para "enviar" almas, talvez se revertesse...

E foi o que fez, numa noite sem lua.

Impressionantemente, no fim da dança, uma estrela invertida vermelha apareceu no chão à sua volta. Com as mãos a tremer, apontara o bastão para a frente e fyreflies vermelhos começaram a envolvê-la, enquanto a estrela desaparecia lentamente.

Soube instantaneamente que tinha descoberto a forma de impedir outros Invocadores de "enviar" almas ou "não-enviados. Bastava fazer a dança e apontar para o Invocador que queria bloquear. E tinha sido assim que tinha impedido Isaaru de enviar Tidus na outra noite.

Sabia que devia ser proibido e sabia que provavelmente seria presa pela Nova Ordem de Yu Yevon se alguém a visse a fazer a dança ou soubesse o que ela conseguia fazer, mas convencera-se que, se fosse por Tidus, não fazia mal. Não era proibido.

O único problema, é que tinha de fazer a dança antes de o outro Invocador começar a fazer a dele.

Tivera sorte na outra noite, mas não sabia se teria sorte por muito mais tempo.

Atualmente

Yuna acordou novamente dos seus pensamentos quando ouviu Baralai dizer que a cerimónia tinha acabado e que, oficialmente, só faltava beijar a noiva para que os sinos no Templo tocassem e toda Bevelle soubesse que a Invocadora Suprema estava casada.

Tidus levantou o véu e roçou os lábios levemente nos de Yuna.

Quando ouviram os sinos a tocar, afastaram-se, Yuna voltou a compor o véu e estavam a descer as escadas quando Rikku parou a prima, olhou de relance para Isaaru para que ela olhasse também e entregou-lhe o bastão.

Isaaru estava levantado, a olhar para Yuna. Ela sabia que ele queria que ela fizesse a dança para impedir que ele enviasse Tidus. Queria que toda a gente visse que ela estava a infringir as regras ao não enviar um "não-enviado".

O coração de Yuna começou a acelerar. Não sabia o que fazer.

–Para que é o bastão? - perguntou Tidus, fazendo Yuna saltar.

–Para nada. -respondeu Yuna, começando a empurrar Tidus pelas escadas a baixo, sempre de olho em Isaaru - Para nada.

Felizmente, Isaaru não fez a dança. Afinal, ele não gostava de dar nas vistas, apesar de querer mostrar a Baralai que Yuna estava a infringir as regras...outra vez.

Ele não queria a miséria dela. Mas achava extremamente errado que Tidus continuasse ali e não na Farplane.

Só ia continuar a fazer Yuna sofrer e não se sabia por quanto tempo é que aquilo ia durar. Para começar, nem sabia como é que ele se tinha tornado um "não-enviado".

Teria de falar com Baralai directamente.

E depois ajoelhar-se perante Yuna por o ter feito.