— Brenda Grigori, você é um arraso – dizia a moça para o próprio reflexo no espelho. Abriu um largo sorriso e percebeu que faltava um pouco mais de brilho em seus lábios. Procurou pelo gloss de cereja na penteadeira, e passou-o nos lábios carnudos, sentindo-se imensamente mais bonita. – Perfeita.

Brenda levantou-se e fitou, uma última vez, a própria imagem refletida. Estava exuberante. Os cabelos escuros presos em um lado da cabeça ondulavam por seu ombro com um brilho natural. Usava um vestido cor de goiaba, que, apesar de curto, não era vulgar. Com certeza Christian Jenoix ficaria maravilhado com sua beleza e bom gosto, e a indicaria para a grande agência de modelos em que trabalhava, na França.

— As passarelas vão ser apenas o começo de seu sucesso, Brenda – sussurrou ela para si mesma, enquanto pegava a bolsa de mão especialmente escolhida para aquele encontro. – O céu é o limite...

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Liu Wong decidiu deixar um recado, depois de ligar duas vezes para Patrick e o rapaz não atender.

— Patrick, é o Liu. Me liga assim que puder, pode ser? É urgente.

O rapaz asiático correu os olhos mais uma vez pela tela do computador, procurando por algum sinal que havia deixado passar despercebido. Podia ser qualquer coisa, agora. As cadeiras e mesas, ao fundo... A TV. A fumaça subindo da chapa em que Craig fazia os lanches. E, como já havia pensado antes, podia ser até mesmo o próprio Tyler.

Uma sensação de impotência esgueirou-se para dentro de si. O que podia fazer? Ir até o hospital àquela hora e dizer que Tyler causaria a morte de Patrick? E se ele não estivesse lá? Devia procurar por Patrick pela cidade, e dizer para ele ficar longe de mesas, cadeiras, coisas quentes e TVs?

Enquanto pensava, seus olhos pousaram nos sanduíches que sua mãe preparara. Sentiu o coração pulsar mais forte. O Craig’s Burgers! Era onde Patrick e Tyler estavam no vídeo! Talvez o sinal fosse este...

Sem tocar nos sanduíches, Liu vestiu uma jaqueta e pegou as chaves de seu velho carro cor de vinho. Estava prestes a sair do quarto, quando uma ideia lhe ocorreu. Jessica havia dito que, em sua visão, Brenda morria depois de Patrick. E então Liu... Talvez devesse ver também os vídeos em que ambos apareciam.

Hesitou um pouco, os olhos fixos na tela do computador.

— Foda-se – sibilou ele, saindo do quarto. Teria tempo para isso depois... Precisava alertar Patrick agora. E, pensando bem, não tinha certeza de que queria ver sinais de como morreria. Isso o deixaria maluco.

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— Mesa 18, o pedido está pronto – anunciou a voz meio robótica no alto falante.

Patrick, que assistia ao noticiário na TV da lanchonete, sentiu um alívio imenso ao ouvir aquilo. Estava com tanta fome que achou que, se demorasse mais um pouco, avançaria em um dos clientes e roubaria seu lanche. O rapaz foi até o balcão e pegou seu super sanduíche com batatas e Coca-Cola. Pedira o maior lanche que Craig’s Burgers oferecia e, agora que estava diante dele, sabia que seria o suficiente para matar sua fome.

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Brenda ouviu uma buzina soar lá fora. Achou estranho. Seus pretendentes geralmente desciam do carro, tocavam a campainha e queriam conhecer seus pais. Era meio grosseiro apenas buzinar e esperar que ela fosse ao seu encontro.

— Não é ele, bebê? – sugeriu sua mãe, Nicole Grigori.

— Pode ser – a moça suspirou, exasperada. – Porque ele não desce?

— Você é que precisa dele, maninha – disse Bianca Grigori, sua irmã mais velha, que assistia a uma série de TV adolescente na sala. – Então, é você que deve se rastejar até ele, e não o contrário. Acostume-se, se quer ser mesmo uma modelo. Até alcançar a glória, vai ser pisada por muitos.

— Que horror – Brenda franziu o cenho. No entanto, levantou-se e foi até a porta. A buzina soou de novo. A moça abriu a porta com delicadeza e espiou para o lado de fora. Um carro muito bonito, prateado e reluzente estava parado diante do bem-cuidado jardim de sua casa. Christian Jenoix acenou de dentro dele. Brenda acenou de volta, forçando um sorriso. Então, olhou para a mãe e a irmã por sobre o ombro, sentindo-se estranhamente insegura.

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— Desejam-me boa sorte – pediu ela.

— Boa sorte.

— Vai dar tudo certo...

Brenda assentiu, esforçando-se para acreditar que sim. Então, tomando fôlego, começou a avançar em direção ao carro de Jenoix.

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— Vamos – resmungava Liu, girando a chave mais uma vez. Mas o velho automóvel cor de vinho não respondia ao estímulo. Irritado, Liu socou o volante, fazendo a buzina soar, esganiçada. – Maldita lata velha!

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O grande letreiro azul do Craig’s Burgers chamava atenção de longe. Era luminoso, tinha quatro metros de altura e devia pesar muitos quilos, já que sua estrutura era quase toda de metal. Entre as palavras Craig’s e Burgers havia o desenho de um sanduíche feliz, de braços abertos.

Apesar de ser um letreiro bonito e chamativo, já estava há um bom tempo sem manutenção. Os parafusos que prendiam suas vigas estavam frouxos, e a ferrugem consumira algumas junções importantes da estrutura. Durante o período de tempestades que assolara McKinley, há menos de uma semana, algumas pessoas chegaram a ver o letreiro balançar precariamente, devido a força do vento. Comunicaram a Craig sobre o fato, mas ele sempre acabava se esquecendo de pedir a alguém para subir na marquise e consertar as possíveis falhas. E, por isso, naquela noite, o grande letreiro azul e feliz rangia ameaçadoramente a mais suave das brisas. Logo abaixo, jazia o carro de Patrick Jackson, que, no momento, saboreava seu sanduíche gorduroso dentro da lanchonete.

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Christian Jenoix era um homem na faixa dos vinte e seis anos. Moreno, de cabelos escuros mesclados por luzes douradas e com um sotaque francês que fazia Brenda se desmanchar. Não é tão bonito quanto Tyler, mas é rico e pode me lançar na carreira de modelo, pensou a moça, sentada no banco do carona. E, além do mais, não é um cadeirante. Dá pro gasto.

— Você é muito bonita, Brrenda – disse ele, olhando-a de soslaio.

— Obrigada.

— Aposto que o pessoal da Lumière vai amá-la – ele soltou um risinho contido. – Tem classe, beleza e um andar magnífico. É o que buscamos em nossas modelos, sabe?

— Então pretende mesmo me indicar? – sugeriu a moça, o coração acelerando.

— É clarro que sim. Mes, primeiro, quero conhecê-la melhorr. Seus objetivos, suas ambições, sua vida... Soube que passou porr uma experriência traumática na última semana.

— Ah, é – a moça deu de ombros, desviando os olhos para a janela do carro. As ruas estavam quase completamente desertas. Afinal, era segunda-feira e já passava das dez horas da noite. – Nem foi tão traumática assim...

— Então você lida bem com experriências desse tipe? – Christian olhou-a com interesse. Se Brenda não estivesse olhando pela janela, notaria que havia alguma coisa estranha naquele olhar.

— Acho que sim – ela sorriu, virando-se para ele. – As pessoas são muito supersticiosas. Você deve ter visto nos jornais o que estão dizendo sobre uma maldição e blá, blá, blá... Confesso que no início eu fiquei com medo, mas agora... Papai disse que é tudo uma questão de marketing. McKinley está ficando famosa, então, qualquer coisa que acontecer de agora em diante, vão dar um jeito de ligar ao que houve em O’Reoy ou com a garota que teve um pesadelo na montanha russa. Pra você ter uma ideia, a drogada da Jessica me disse hoje que a morte está nos perseguindo... – Brenda bufou, revirando os olhos. – Tudo bem que eu posso ser meio ingênua às vezes, mas não acredito nessa baboseira...

Christian Jenoix estava rindo – o que fez Brenda corar, ligeiramente sem graça pelas coisas que acabara de dizer.

— Se considerra ingênua? – instigou ele.

— Papai diz que eu sou – Brenda deu de ombros, com um ar de quem discorda.

— Você me parrece mesmo ingênua – Christian olhou-o com o mesmo olhar estranho de antes. Só que, dessa vez, Brenda percebeu. Parecia malicioso, quase predatório. E aquilo a assustou.

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Liu Wong girou a chave na ignição mais uma vez e suspirou de alívio ao ouvir o velho ronco rascante do motor. Verificou o celular, na esperança de ver alguma ligação de Patrick ou Jessica, mas não havia nada. Então, umedecendo os lábios com a língua e sentindo uma estranha adrenalina pulsando nas veias, mesclada de medo e nervosismo, o rapaz arrancou e começou a dirigir em direção ao Craig’s Burgers. Tinha uma sensação de que era lá que devia começar procurando por Patrick... Só esperava que estivesse certo.

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Um silêncio desagradável instalou-se entre Brenda e Jenoix. A moça olhava pela janela do carro, fingindo estar ligeiramente interessada nas ruas escuras pelas quais passavam. E, depois de algum tempo observando-as, Brenda ficou mesmo interessada. Estavam se afastando do centro da cidade. Christian Jenoix dirigia por lugares que ela não conhecia.

— Onde vamos jantar? – quis saber ela, tentando manter a voz cordial.

— É uma surprrresa – o homem sorriu, sem olhá-la.

Brenda engoliu em seco, voltando-se para a janela mais uma vez.

Não estrague tudo, pensou. Ele não é um assassino, é Christian Jenoix. Não vai lhe fazer mal...

— Tá tudo bem? – instigou o homem, olhando-a com um ar de diversão.

— Claro...

— Parrece tensa.

— É só que... – pense, pense... – estou meio ansiosa com isso tudo. Ser modelo da Lumière, e ir para a França...

— Non está com medo de mim, está?

— Não – Brenda engoliu em seco, e deu seu melhor sorriso. – Deveria?

— Talvez – Christian Jenoix desviou os olhos da direção, e fitou Brenda profundamente, esquadrinhando cada uma de suas feições. Então, tirando uma das mãos do volante, o homem tocou-lhe o rosto com suavidade. – Seu pai tem razão... Você é mesmo ingênua.

Patrick Jackson virou o último gole de Coca na boca e recostou-se na cadeira, satisfeito. O monstro voraz que vinha roncando em seu estômago estava, agora, saciado.

— A conta, por favor – pediu o rapaz para a garçonete que passava por perto. Era uma moça de cabelos tingidos e seios muito grandes, que sorriu de forma sugestiva para o rapaz antes de trazer a conta.

— Dezoito dólares, mesa dezoito – disse ela. – Coincidência...

Patrick sorriu, tirando vinte dólares da carteira.

— Pode ficar com o troco.

A garçonete deu aquele sorriso sugestivo mais uma vez, antes de se afastar, com um rebolado digno de ser comentado por Tyler Cassey, se ele estivesse ali.

Olha só como ela rebola, Patrick, ele diria. Está dizendo: Ei, você! Me leva pra cama!

Só que Patrick não estava com clima para cair em cantadas implícitas. Seu estômago estava cheio demais, e dormir na poltrona do hospital deixara seu corpo cansado. Queria ir para casa, tomar um banho e dormir em sua cama até a manhã seguinte, quando voltaria para o hospital, para ficar tomando conta de Tyler. E não podia dar-se ao luxo de pegar no sono mais uma vez...

Patrick levantou-se e caminhou em direção à porta principal da lanchonete. A garçonete peituda acenou para ele, quando seus olhos se encontraram. Patrick sorriu.

— Boa noite – disse ele, tentando ser, pelo menos, amigável.

Então, saiu do Craig’s Burgers, sendo envolvido pelo ar fresco e a brisa gelada da noite.

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Christian Jenoix estava dirigindo para fora da cidade. Brenda sabia disso porque cada vez menos postes iluminavam a rua, e as casas iam ficando mais distantes umas das outras. Seu coração estava palpitando de pavor, embora permanecesse paralisada no banco do carona. A mão quente e áspera de Jenoix resvalou pela sua perna, erguendo um pouco o vestido.

— Pare – pediu a moça, sentindo as lágrimas marejarem seus olhos. – Por favor...

— Brrenda, você devia saber – disse o homem, franzindo o cenho. – Eu não vou simplesmente indicar você para a agência, sem ter nada em trroca... E, além do mais, vai ser diverrtido, eu prrometo – o homem inclinou-se para beijá-la, mas a garota se afastou, as lágrimas começando a escorrer por seu rosto.

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Patrick Jackson entrou no carro e colocou a chave na ignição. Acima dele, o grande letreiro azul do Craig’s Burgers rangeu e inclinou-se um pouco para frente. Alguns parafusos se soltaram, e as junções comidas por ferrugem se desprenderam. O letreiro rangeu de novo, inclinando-se ainda mais. Um vento gelado e anormal começou a soprar lá fora...

Dentro do carro, Patrick pegou o celular, que havia esquecido ali dentro, e viu que havia algumas chamadas perdidas. Todas de Liu Wong. Franziu o cenho, enquanto retornava a ligação. Apoiou o celular no ombro, acendeu os faróis, e deu a partida.

Um carro com faróis altos apontou no fim da rua, a forte luz dourada refletindo nos retrovisores. Patrick estreitou os olhos e fez menção de reclamar. No entanto, o enorme letreiro da Craig’s Burgers finalmente cedeu, com um ruído estrondoso. Faíscas estalaram enquanto a enorme estrutura de metal caía pesadamente sobre o carro do rapaz.

A lataria do automóvel esmagou seu corpo com uma pressão destruidora. Ossos se partiram, rasgando sua carne e fazendo sangue esguichar pela estrutura de metal e pelo estofado dos bancos. O para brisas desmanchou-se em incontáveis cacos de vidro, expondo sua cabeça esmagada contra o volante, um dos olhos ligeiramente saltado para fora.

Só então, os clientes da lanchonete começaram a gritar.

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Liu Wong havia acabado de virar a esquina da rua do Craig’s Burger, quando o letreiro da lanchonete caiu sobre um dos carros estacionados diante do estabelecimento. Imediatamente, um arrepio eriçou os pelos de sua nuca.

— Merda, merda – sibilava ele, acelerando. Embora quisesse ter a esperança de que não havia ninguém no carro atingido, tinha certeza de que era Patrick que estava lá dentro. – Ah, não, cara...

Liu passou pelo carro de Patrick no instante em que várias pessoas saíam do Craig’s Burger para ver o acidente. Estavam gritando. Estavam em choque. E, como já sabia, lá estava Patrick – ou o que sobrara dele –, ensanguentado entre as ferragens.

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Brenda Grigori começou a abrir a bolsa sobre o colo, trêmula. Precisava dar um jeito de pedir ajuda, de sair daquela situação. Mas Christian Jenoix foi mais rápido e tomou a bolsa de suas mãos, antes que ela pudesse terminar de abri-la.

— É melhorr você cooperar – disse ele, num tom doentio. – Ou as coisas vão ficarr realmente ruins – dizendo isso, Jenoix abriu a janela do carro, e jogou a bolsa da garota por ela.

— Não, por favor...! – choramingou Brenda, entrando em desespero.

— Estamos chegando, querrida – o homem deu-lhe uma piscadela. – Vai serr uma noite muito especial...

— Não...!

Jessica Holden acordou assustada. Não por causa de um pesadelo. Achou que tivesse ouvido alguém gritar...

Apoiando-se nos cotovelos, a moça olhou ao seu redor. O quarto estava muito escuro, o que indicava que já devia ser tarde da noite. Dormira por tempo demais... Os calmantes que tomara foram bem eficientes, mas deixaram uma dorzinha de cabeça chata, de lembrança.

Suspirando, Jessica esfregou o rosto e procurou pelo celular no criado mudo ao lado de sua cama. Faltavam vinte minutos para onze horas. E, como era de se esperar, havia um número espantoso de chamadas perdidas... Chamadas que não iria retornar, porque já estava tarde e não queria incomodar ninguém. De manhã, ela retornaria...

Estava em meio gesto de deixar o celular sobre o criado mudo mais uma vez, quando ele começou a tocar. Era Liu.

— Alô? – atendeu ela, com uma voz grogue.

— Jessica, eu sei que é tarde, mas a gente precisa se encontrar o mais rápido possível. Já falei com o Phil, mas Brenda não me atende, então, se você pudesse ligar pra ela...

Jessica limpou a garganta, sonolenta demais para se sentir alarmada.

— Aconteceu alguma coisa?

— Patrick Jackson está morto.

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Christian Jenoix entrou em uma estrada de terra sinuosa e dirigia em direção a uma enorme casa de campo, que reluzia em meio à sombria paisagem escura. No banco do carona, Brenda Grigori estava enrijecida, as mãos suando frio e lágrimas escapulindo de seus olhos escuros durante curtos intervalos de tempo. Não sabia o que esperar... Não sabia mais o que fazer. Não podia saltar do carro em movimento, porque ele travara as portas. E, mesmo se estivessem destravadas, se esfolaria toda na estrada, e, depois, para onde fugiria?

Não entendia porque ele estava fazendo aquilo... Qual a necessidade disso? Será que ele achava que ela ia se vender, em troca de, possivelmente, trabalhar como modelo na Lumière? Não estava tão obcecada assim. E tinha medo de que ele a forçasse a fazer coisas que não queria... Aquele olhar doentio, de quem olha para a presa... Ele não ia se satisfazer apenas com uma conversa. Ele ia tentar algo mais...

Brenda fungou, apavorada. Ele era mais forte que ela, não havia duvida alguma quanto a isso. Não teria chances, se tentasse uma luta corporal. Até porque nunca brigara de verdade com ninguém, desde os treze anos, quando agarrou nos cabelos de uma colega de sala, por causa de Tyler.

Estava perdida...

— Chegamos, Brrenda – disse o homem, apertando uma de suas bochechas. A moça recuou ao toque, enojada.

— O que é que você quer? – choramingou ela.

— Querro você – Christian pegou um pequeno controle no porta luvas, e apertou um dos botões. O grande portão branco da garagem começou a erguer-se rapidamente. – Querro você na Lumière, mas primeiro querro você na minha cama...

Brenda fungou, o coração batendo descompassado.

Christian colocou o carro na garagem. Brenda aguardou, observando, de soslaio, cada movimento do homem. Seu coração martelava ruidosamente em seus ouvidos.

Aguardou...

Então, com um clique, Christian destravou as portas.

Agora.

Brenda puxou a maçaneta, alvoroçada, e empurrou a porta do carro, colocando as pernas para fora do veículo. Sentiu os dedos ásperos de Christian se fecharem em torno de seu braço, enquanto ele berrava alguma coisa em francês. Debatendo-se e gritando, a moça conseguiu acertar o cotovelo no nariz do homem, obrigando-o a soltá-la. Por causa dos saltos, Brenda caiu ao lado do automóvel e começou se arrastar pelo chão, tentando recuperar o equilíbrio para se levantar e correr.

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— Brrenda, salope putain! – berrou o homem, saindo do carro com uma das mãos no nariz.

Brenda, aos prantos e desesperada, conseguiu colocar-se de pé, e corria em direção ao portão aberto da garagem. Christian não teve dificuldades em alcançá-la. Agarrou-a pelos cabelos, e a fez cair de costas no chão.

— Não...! Socorro! – chorava a moça, sentindo uma dor lancinante na nuca.

— Eu disse para você cooperarr – ralhou o homem, que ainda tinha o controle do portão em mãos.

Brenda, por sua vez, avançou contra Christian antes que ele apertasse o botão para fechar sua única saída. O controle caiu no chão, quicando algumas vezes, enquanto ela estapeava e arranhava o homem. Christian grunhiu, furioso, e empurrou Brenda contra uma mesa de madeira, cheia de caixas e algumas ferramentas, que ficava num canto da garagem. A garota bateu as costas na quina do móvel e gritou com a dor, caindo de quatro no chão. Christian voltou a erguê-la, pelos cabelos e, com toda sua força, empurrou-a contra a parede. Brenda sentiu o mundo oscilar ao seu redor, enquanto caía no chão mais uma vez, a dor na cabeça cegando-a momentaneamente.

— Agora você irá se comportarr – sibilou o homem, afastando-se para procurar pelo controle do portão.

Brenda fungou e tossiu, engasgada com o próprio choro. Tateando ao seu redor, a moça apoiou-se na mesa para se levantar. Viu as ferramentas sobre ela. Sem pensar duas vezes, pegou a maior chave inglesa e cambaleou silenciosamente até Christian, que resmungava alguma coisa, enquanto procurava pelo controle, de costas para ela.

Faça, Brenda. Agora. É ele ou você.

Brenda tomou fôlego. Engoliu em seco. E, reunindo toda sua força, golpeou a cabeça de Christian Jenoix com a pesada chave inglesa, o crânio do homem afundando com aquele único golpe.

Christian não gritou, nem fez qualquer som que pudesse expressar a dor. Simplesmente caiu sobre o próprio rosto, um filete escuro de sangue escorrendo pelo ouvido.

Brenda deixou cair a chave inglesa, e, em estado de choque, recuou alguns passos, sem acreditar no que acabara de fazer... Não restavam dúvidas. A força do golpe, e o efeito que ele causara... Estava claro.

Brenda Grigori havia matado um homem.