Aquele comentário do Castle só fez confirmar as suspeitas da Kate de que o silêncio dele, realmente, significava que ele estava pensando mesmo em algo terrível, talvez catastrófico e isso causou um aperto no coração dela. Ela sentiu como se uma flecha de gelo atravessasse seu coração, causando um rasgo profundo e uma dor forte e fina. — Não, Castle, pode falar... Meu Deus!!! Nós temos que pensar em tudo, mesmo que seja algo improvável... E você bem sabe que quanto antes agirmos, melhor, pois o que nós queremos é encontrar nossos filhos e nossos netos.

Ele a escutou com atenção, mas continuou calado e pensativo e a olhava com a mesma angústia que havia nos olhos dela.

O que Castle iria falar, soaria como uma bomba, então, sentados lado a lado em um dos confortáveis sofás da ampla sala do chalé, Rick pegou as mãos da esposa e colocou entre as suas, apertando-as forte, para confortá-la.

— Kate, preciso que você escute cada palavra que eu vou falar... Inicialmente, amor, quem foi que me disse uma vez que sentia prazer em nos bisbilhotar pelas janelas do loft, eihm? – sem esperar resposta da esposa, Castle continuou— Quem foi que disse que adorava ver eu e Alexis brincando... E conversando... Eu e você tomando vinho na sala à noite... Eu e você fazendo amor...

Kate se levantou muito rapidamente, impactada ao ouvir aquelas últimas indagações do marido— Realmente, Castle, tenho que dizer você está maluco! – Kate esbravejou— Ah, não!!! Você realmente está louco, Castle! No mesmo dia em que eu matei a Dra. Kelly Newman, o Esposito atirou no Jerry Tyson. Ele morreu, Castle! MORREU!! E nós o vimos morto! E isso tem nove anos... NOVE ANOS, CASTLE!

Castle respirou fundo ao ouvir as palavras exasperadas da esposa. Mordeu os lábios, não reagiu ao que Kate lhe dissera e ficou pensativo, pois precisava ser forte e estar o mais calmo possível para encarar aquela situação calamitosa — Meu amor, eu bem que te avisei que você ia me chamar de maluco. – Ele informou de modo amável — Kate, do mesmo jeito que a Dra. Kelly Newman fez uma cópia fiel da Lanie e do Esposito, ela, à pedido do próprio Tyson, pode ter feito uma cópia fiel dele e foi esta cópia que o Esposito matou à tiros.

Kate ficou ainda mais nervosa — Só que você se esqueceu do exame necroscópico que a Lanie fez no corpo dele, Castle. Você não pensou...

— Eu nunca entendi como foi que a Lanie conseguiu provar que o corpo era mesmo do Jerry Tyson, se ele, muito astuto, providenciou que o sósia do Esposito e da Lanie retirassem da delegacia e do Necrotério todos os arquivos e todos os exames ligados a ele?

Kate ficou sem saber o que falar, mas logo reagiu.

— Castle, o Jerry Tyson está morto! Ele está enterrado. – Kate estava convicta da morte do Jerry Tyson, só que, contraditoriamente, falava como se quisesse convencer a si própria daquela informação— Isso é demais para mim, Castle! Minha cabeça está doendo... Parece que vai explodir! – Ela voltou a se sentar ao lado do marido no sofá da sala e pôs as mãos na cabeça.

Castle se levantou e se afastou, apreensivo, retornando em seguida com um comprimido e um copo com água e ofereceu à esposa.

— O que é isso? Eu não quero dormir! – Ela reclamou ao recusar o comprimido.

— Eu também não quero que você durma, Kate, pois precisamos de você acordada. Este comprimido é um analgésico para aliviar sua dor de cabeça. – Ele esclareceu com carinho.

— Não sei o que pensar... Desculpa, amor... Estou nervosa... Só você mesmo para me aturar... – Kate falou baixinho, tomou o comprimido com alguns goles de água e, angustiada com a situação, ficou recostada no ombro do marido que a abraçou forte.

Precisando estar calma para raciocinar, Kate pondera — Querido, eu confesso que eu também não sei como foi que a Lanie afirmou que aquele corpo era do Jerry Tyson se não tínhamos material genético para comparar e comprovar. Eu vou telefonar para ela e fazer a pergunta que você me fez...

Naquele momento todos no chalé ouvem barulho de helicóptero, ficam alertas e vão até o lado de fora. A aeronave estava sobrevoando o jardim do chalé e todos percebem que o Ryan joga um grande saco e este cai exatamente no jardim da casa.

Castle vai pegar o saco e constata que era de um material macio, tipo uma grande almofada, e logo o som de um toque de celular é ouvido. Castle rompe o lacre e descobre no meio da grande almofada, um celular e vai para dentro do chalé.

Ele atende o põe o aparelho no modo viva-voz. Era Ryan — Castle! Beckett! Antes de mais nada, preciso avisar que vocês não devem fazer chamada dos seus aparelhos celulares nem para mim, nem para o Espo nem para a Lanie. Usem somente este aparelho. Ele é protegido pelo FBI e não poderá ser clonado. Além disso, todas as ligações dos celulares de vocês estão sendo rastreadas e copiadas por nós, caso o sequestrador faça contato.

— Entendi, Ryan, estou aqui com a Kate e vamos avisar para o resto da família.

— Amigos, precisamos agir com rapidez. Vou ser breve. O FBI já está fazendo ronda em toda a cidade, nas cidades vizinhas e o helicóptero vai fazer uma varredura completa, milímetro por milímetro, utilizando aparelhos de última geração. Qualquer novidade eu volto a me conectar com vocês.

— Eu quero ir... – Kate tentou falar, mas Ryan a interrompeu.

— Não, Kate! Você, o Castle, a Alexis, o Benício, a Martha ou o Jim não devem sair do chalé sem autorização minha ou do Esposito. Você e o Castle são muito desobedientes, que eu sei... O histórico de vocês é tenso e longo... Mas, pelo amor de Deus, sejam sensatos desta vez e obedeçam. A vida de seus filhos e seus netos dependem em parte de vocês. Não sabemos quem está por trás disso. Quero todos aí no chalé. Kate, você é muito experiente e sabe que a família tem que ficar em casa. Deixe a Polícia e o FBI fazer o trabalho, ok? Os telefones de vocês seis já foram clonados pelo FBI e qualquer ligação será rastreada e peço apenas que, caso recebam ligação dos sequestradores, vocês alimentem ao máximo possível a conversa. Quanto mais demorar, melhor o resultado das buscas.

— Ryan, o Castle acha que é o Jerry Tyson... – Kate confessou, pois precisava dividir suas dúvidas.

— Castle, ele está morto! – Ryan retrucou.

Em poucas palavras, Kate explicou ao amigo acerca das dúvidas do marido e faz as mesmas indagações, deixando o Agente Ryan pensativo e ao final, Kate implora — Ryan, pelo amor de Deus, temos que pensar em todas as possibilidades, inclusive aquelas que julgamos improváveis, ou seja, o Tyson pode estar vivo.

— Ok, Kate, você está certa. Não aceito esta teoria do Castle... Desculpa aí, amigo, mas eu o vi morto... Contudo, não se preocupe, não vou descartar esta hipótese... Um pouco louca... Mas tudo é possível.

— E o Esposito, Ryan, ele já chegou aqui na cidade?

— Já. Nós viemos em vários helicópteros. A equipe do solo está utilizando as viaturas da polícia local. Lanie também veio e está na sala do Necrotério da Polícia local, pronta para fazer a necropsia deste criminoso ou criminosos ou periciar algum tecido ou algo que for encontrado. Trouxemos cães farejadores e daqui a pouco os treinadores os levarão aí no chalé para que vocês possam mostrar roupas das crianças para os cães sentirem o cheiro. Preparem as roupas das crianças.

A ligação foi desfeita, mas a tensão emocional do casal Kate, de Castle e da família continuava pior a cada segundo que passavam sem seus filhos e seus netos. A sorte é que eles se amavam e um sempre estava amparando o outro.

— Vamos pegar as roupinhas das crianças. Todos eles tomaram banho e trocaram de roupa quando chegaram aqui no chalé... – Kate avisou— Vou pegar as roupas que as cinco crianças tiraram e vamos entrega-las ao pessoal com os cães farejadores.

No momento em que Kate retornou à sala com as roupinhas das cinco crianças, chegou a equipe dos treinadores com seus cães farejadores. Kate entregou todas as roupinhas usadas das crianças e os procedimentos foram adotados, seguindo as normas da polícia e foram embora para cumprir a diligência.

Jim, Benício e os demais adultos da família Castle estavam na sala, aguardando notícias. Benício, muito tenso, estava sentado no sofá da sala e mantinha Alexis apertada em um abraço de modo a consolá-la.

Da mesma forma, Castle abrigava Kate no sofá em frente.

Martha se instalou em uma poltrona ao lado do conjunto do sofá e Jim, estava na poltrona idêntica.

Todos os adultos estavam apreensivos. Pensamentos positivos.

Passados menos de dez minutos ouvem o som do toque de celular e todos na sala reagem quase da mesma forma...

“Medo” e “alerta” eram os sentimentos.

Kate verificou que o som não era do celular da família e sim do novo aparelho que o FBI enviara, ou seja, era o Ryan. Ela atendeu a ligação e pôs o aparelho no modo viva-voz — Alguma novidade, Ryan? Diga que encontrou as crianças, por favor! –

— Kate, encontramos o Thomas...

— AONDE? – Alexis gritou, se levantou e se ajoelhou em frente ao aparelho de celular. — COMO ESTÁ O MEU FILHO? E ONDE ESTÃO AS OUTRAS CRIANÇAS?

— Ryan, onde vocês encontraram o Tom? – Castle perguntou.

— Antes de mais nada, quero avisar que eu estou muito contente porque o Tom está com saúde perfeita, sem nenhum corte, machucados ou arranhões. – Todos no chalé ficaram aliviados com aquela informação — Ele estava andando sozinho em uma rua. Ele está tranquilo e não faz a mínima ideia que estão sendo procurados... Castle... Estou enviando uma mensagem para vocês.

Naquele momento chegou uma mensagem no celular. Era uma mensagem do Ryan.

— Castle, eu enviei uma fotografia do Tom para vocês verem com os próprios olhos que ele está bem e também para vocês verem o que ele estava segurando quando o encontramos.

Castle acessou a mensagem, abriu o arquivo da fotografia e, pálido e transtornado, mostrou a Kate. Ela sentiu seu peito congelar e percebeu que seu marido estava igual a ela.

— NÃO! – Kate recomeçou a chorar.

— Meu Deus! Era tudo o que eu não queria! Isso é um pesadelo! EU VOU MATAR ESTE DESGRAÇADO! – Castle desabafou e levantou furioso e deu um murro na parede.

— O que foi, filha? – Jim, indagou à Kate.

— Kate, o que foi? – Benício estava aflito.

— Kahterine... Richard, o que foi? – Martha perguntou a mesma coisa ao mesmo tempo.

— Pai, diga alguma coisa. – Alexis estava desesperada.

— Você tinha razão, Castle... – ouviu-se a voz de Ryan concordando com o amigo — Infelizmente, o Jerry Tyson é o único que poderia usar isso. Ele está vivo. Ao que tudo indica, o homem que morreu era uma cópia fiel dele, pois seria impossível um sósia fazer com vocês o que o Tyson está fazendo agora.

A fotografia que o Ryan encaminhou era do Tom, sorridente e inocente, segurando um pedaço de aproximadamente quarenta centímetros de uma corda com as mesmas cores e o mesmo trançado utilizadas pelo Jerry Tyson nos crimes cometidos por ele ao longo da sua carreira de serial killer.

Continua...