O novo dia chegou no chalé de Jim Beckett e a alegria se espalhou, pois, os momentos de angústia já estavam no passado e a família já olhava para frente.

Como era esperado e como se houvessem combinado, Lily, Emilly, Reece, Jake e Thomas invadiram a cama de Rick e Kate Castle a partir das seis horas da manhã seguinte. Eles chegavam um por vez. Só que o casal estava tão cansado que quase não percebeu a chegada das crianças que, ainda assonorentadas, se enfiaram sob o edredom e logo voltaram a dormir na imensa cama, cada um de um jeito.

Nada era ensaiado. Tudo era muito natural. Naquele dia, Reece e Jake se enfiaram entre os pais, separando-os. Lily se encaixou no braço do pai. A garota ficou de lado, tipo conchinha, passando a perna sobre o tronco dele que dormia de barriga para cima. A pequena Emilly conseguiu se enroscar no braço da avó que, mesmo sonolenta, a acolheu de forma carinhosa. Tom, mais pequenininho, se ajeitou sobre o corpo do avô.

Tanto Kate quanto Rick entreabriam os olhos no momento da “invasão”, mas ambos estavam com muito sono, então apenas colaboraram secretamente com a acomodação das crianças e, rapidamente todos voltaram a dormir.

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Mais tarde, enquanto preparavam o café da manhã, Alexis e Kate conversaram sobre o sequestro da véspera e combinaram com seus respectivos maridos que teriam que orientar melhor seus filhos acerca do perigo de crianças abrirem a porta da rua sem a presença de um adulto da família.

— Por mais que eu tente não pensar sobre o sequestro, Kate, ainda estou aflita pelo que ocorreu ontem. Temos mesmo que explicar aos nossos filhos e um dos pontos que devemos ticar é que somente os adultos devem abrir portas da rua, etc, etc, etc.

— Isso, Lexis. Lembraremos a eles também que nunca devem aceitar docinhos, salgadinhos ou qualquer outra coisa de estranhos, mesmo que seja chocolate que eles adoram.

— Mas será que falando assim, eles não ficarão assustados, Kate?

— Não, querida. Falaremos com cuidado. Mas... Pense bem... Mesmo que esta explicação significasse lançar sustos e medos, nós, como pais, temos que fazer o alerta, de forma direta, sobre o perigo das crianças terem aberto a porta para o tal “moço bonzinho”, que, na verdade, sabemos que era o terrível Jerry Tyson.

— Entendi. Cabe a nós mesmos darmos esta orientação. Vamos abrir os olhos dos nossos filhos. Não devemos deixar nas mãos dos professores e da escola este esclarecimento. A educação doméstica é obrigação dos pais. A escola deve ser apenas um complemento ao que as crianças recebem em casa.

— Como adultos, temos conhecimento de que o "medo" faz parte da vida e competem a nós, pais, descobrir a melhor forma de ensinar aos nossos filhos a lidar com esse sentimento. – Kate lembrou.

- Verdade, Kate, sabendo, inclusive, que o "medo" é importante para o desenvolvimento de todas crianças. Tudo na medida certa. – Alexis salientou.

— O importante é ensinar que tem que haver o “respeito” ao medo e ao perigo. Se não houver “respeito” ao medo e ao perigo, Alexis, qualquer criança poderá ser alvo fácil para todo tipo de perigo. – Kate concluiu coerentemente.

Após as cinco crianças terem se alimentado no café da manhã na ampla mesa da sala de refeições, Kate e Alexis as levaram para a salão de jogos. As sete pessoas se sentaram no chão fazendo um grande círculo.

— Vamos brincar de que, mamãe? – Reece perguntou, curioso?

— De bola, é? – Thomas quis saber girando a cabeça de um lado para o outro procurando a bola e logo encarou a avó com semblante de dúvida. – Cadê a bola, vovó?

— Na verdade, meus amores, vamos conversar. – Kate admitiu com um tom de voz suave.

— Conversar? – Jake demonstrou não gostar muito desta ideia.

— Sério, mãe? Jura que vamos conversar? – Igual ao seu irmão gêmeo, Reece não apreciou também esta ideia.

— Conversar, sim, meus amores. – Kate esclareceu com um sorriso no rosto e piscou para as crianças e elas riram.

— Conversar sobre o que, vovó? – Emilly ficou curiosa.

— Antes de mais nada, quero que saibam que vocês cinco são a alegria da nossa família. Nós todos amamos vocês e estamos sempre zelando pela saúde e o bem-estar de vocês.

— “Zelando”? – Jack ficou curioso e fez um bico com uma pequena careta indicando que aquela palavra era novidade para ele — O que é isso, mamãe?

— Zelar é a mesma coisa de cuidar, meu amor.

— E o que é “bem-estar”, vovó? – Thomas indagou.

— Quando digo que zelamos pela saúde e com o bem-estar de vocês, eu estou querendo dizer que estamos sempre preocupados com vocês e por isso, cuidamos da saúde e da segurança de vocês, entenderam, crianças? – Kate esmiuçou para seus filhos e netos.

— Agora, sim, vovó... – Tom assentiu, muito lindo, com a expressão compenetrada.

— Agora eu também entendi, mamãe. – Reece confessou, e deu um sorriso safadinho igual ao do pai e isso fez o coração de Kate encher de amor.

— Eu também, mãe. – Jake também admitiu com a expressão igualzinha ao do irmão gêmeo.

— Então, crianças, como eu estava dizendo, todos nós nos preocupamos com vocês e não queremos que nada de ruim lhes aconteça.

As crianças estavam atentas ao que Kate dizia.

— Bem... Vamos fazer algumas perguntas para vocês entenderem com mais facilidade o que eu e a Alexis queremos dizer, ok?

— Ok! – As cinco crianças responderam em coro.

— É como se fosse uma brincadeira, não é, vovó? – Emilly indagou.

— Mais ou menos isso, querida. Tudo muito simples. – Kate afirmou e sorriu para todos.

— Lá em Nova York, nós moramos em prédios de apartamentos. Os apartamentos são altos. Então, eu pergunto... Vocês podem chegar à janela sozinhos ou subir na cadeira e ficar em pé para ver o que se passa na rua?

— Não! – Foi a resposta conjunta das crianças.

— Se a gente fizer isso, a gente pode cair lá em baixo e morre, né, mamãe? – Reece explicou.

— E se morrer não pode mais brincar de carrinho e de pega-pega, né, mamãe? – Jack foi taxativo, todo dramático e Kate se segurou para não dar risada, pois o caso era sério.

— Muito bem, filhos! – Kate os parabenizou pelas respostas certas.

— Bem, vamos voltar para as perguntas e respondam com atenção. Quando termina a aula, vocês podem sair sozinhos da escola? – Alexis perguntou.

— Não! – mais uma vez, responderam em coro.

— Nós temos que esperar a senhora ou o papai. – Reece complementou a pergunta mirando a mãe.

— A gente também espera a mamãe ou papai para sair da escola e as vezes quem nos pega é o vovô Rick. – Emilly também complementou, toda fofa, cheia de certeza.

— Muito bem, meus amores! – Alexis se dirigiu de forma amorosa aos filhos e aos irmãos.

— Outra pergunta: Mesmo sabendo nadar, vocês podem ficar sozinhos na piscina ou mesmo na área próxima à piscina? – Kate questionou.

— Não! – Responderam em uníssono.

— Porque? – Alexis quis saber.

— Tem que ter um professor ou um adulto da família para nos socorrer, caso haja algum problema com a gente. - Lily respondeu parecendo uma mocinha.

— Isso mesmo, querida! – Alexis parabenizou a irmã.

— Outra pergunta – Kate continuou— Vocês podem acender a lareira sozinhos ou mesmo brincar com os gravetos da lareira?

— Não! – Responderam em coro.

— Porque a gente pode se queimar, né, mãe? – Reece indagou.

— Isso mesmo, Reece. – Kate o felicitou mas foi logo interrompida pela netinha.

— O papai disse que só quem pode acender a lareira é gente grande. – Emilly declarou, e Alexis encheu o peito de felicidade.

— Isso mesmo querida! – Alexis declarou.

— Muito bem, Emy! Só quem acende a lareira é adulto. Crianças nem podem se encostar na lareira. – Kate complementou de modo cauteloso — Outra pergunta, mas agora prestem bastante atenção e fiquem espertos com a resposta que vocês darão.

— Reflitam... – Alexis alertou os pequeninos— Pensem bastante... Vocês podem aceitar doces, chocolates, salgadinhos ou qualquer outro tipo de alimento de pessoas estranhas?

— Não! – mais uma vez, a resposta foi harmônica, contudo Kate e Alexis perceberam que as crianças ficaram encabuladas e olhavam umas para as outras, porém, tanto Kate quanto Alexis preferiram que, no momento, não cobrariam nada. Esperariam para ver se alguma das crianças falaria algo sobre aquele assunto específico.

— Outra pergunta: Vocês podem atravessar a rua sozinhos? – Kate perguntou.

— Não! – Todos responderam.

— Mas porque não podem atravessar a rua sozinhos, meus amores? – Alexis os provocou.

— Porque o carro pode passar por cima da gente e matar. – Jake foi taxativo e, mais uma vez, dramático, igual ao pai.

— Ontem mesmo, mamãe... – Thomas confessou à mãe, fazendo beicinho de quem estava assustado. —, eu fiquei com medo do carro passar por cima de mim quando o moço me deixou sozinho no meio da rua. O moço disse que era para eu procurar um policial, igual a vovó Kate, para entregar aquele pedaço de corda. Eu falei com ele que criança não pode andar sozinha na rua, mas ele disse que eu era esperto...

— Muito bem, Tom. Você estava certíssimo, meu amorzinho! Você é muito esperto mesmo por saber que criança não pode andar sozinho no meio da rua. E você agiu certo em repreender aquele moço. Ele errou em te deixar sozinho no meio da rua. – Alexis elogiou o filho e o menino sorriu.

— Vou perguntar duas coisas muito importante novamente... Vocês podem abrir porta de casa sem a presença de um adulto ou alguém da família? Vocês podem aceitar doces, chocolates, salgadinhos ou qualquer outro tipo de alimento de pessoas estranhas?

Houve um silêncio total no recinto e as cinco crianças que antes olhavam umas para as outras, tensas, abaixaram as vistas.

Usando de muita cautela e o tom de voz macio, pois o objetivo era ensinar e não amedrontar, Kate os estimulou a responder – E aí, meus amores, vocês podem abrir porta de casa sem a presença de alguém da família?

O silêncio das crianças continuou.

Kate e Alexis se entreolharam e a morena tomou a dianteira— Bem, meus amores, percebo que vocês estão meditando sobre algo errado que fizeram, estou certa?

As cinco crianças fizeram um sinal afirmativo com a cabeça e continuaram em silêncio.

— Crianças, eu e a Alexis amamos vocês e não queremos que nada de ruim aconteça lhes aconteça. Portanto, meus amores, vocês têm que continuar confiando na gente e a gente tem que continuar confiando em vocês. Dentro da família, um tem que confiar no outro. Nós já tínhamos avisado a vocês para nunca abrirem porta sozinhos.

— Mas mamãe, tinha um cheiro de chocolate que entrou aqui na sala de jogos e logo depois a voz do moço avisou que ele era amigo da senhora e do papai e que ele iria nos ajudar a preparar uma surpresa para todos os adultos da família e para isso teríamos que abrir a porta. – Lily tomou à frente e explicou o que ocorrera.

— Lily, meu amor, mas não havia nenhum adulto da família presente quando vocês abriram a porta para o estranho. – Kate explicou com carinho.

— Mas, vovó, ele falou que era amigo da senhora e do vovô... – Emilly torceu a boca, visivelmente triste e preocupada— Então... Era mentira dele, não era?

— Sim, querida. Aquele moço mentiu para vocês. Além de estranho, ele era um homem malvado. – Kate concluiu de forma mansa. — Bem, eu já soube que depois que vocês abriram a porta para o estranho, ele deu uma grande quantidade de chocolate para vocês e que foram andando até a casa do moço e lá ele deu mais chocolate e os colocou para assistir filmes infantis. Estou certa?

— Sim, mamãe. – Lily confirmou. — Cometemos mais erros, né... Além de sairmos de casa sozinhos, sem a presença de um adulto da família, também acreditamos em promessas e aceitamos chocolate de pessoa estranha... E ainda entramos na casa dele...

— Vejam quantos erros vocês cometeram e quanto perigo vocês passaram, meus queridos. Primeiro, vocês abriram a porta; Depois, acreditaram em promessas de um estranho e aceitaram chocolates; Em seguida, seguiram o homem, sem a companhia de algum adulto da nossa família. E por fim, entraram na casa do estranho e aceitaram mais chocolates...

— E eu fiquei sozinho na rua e quase morri atropelado. – Thomas acrescentou. — Tudo porque abrimos a porta sem a presença de um adulto da família, não foi, vovó?

— Mas o moço era tão bonzinho, mamãe! Ele disse que era muito amigo da vovó Kate e do vovô Rick! – Emilly garantiu e olhava para Alexis fazendo beicinho.

— Meus amores, esse moço não era amigo da vovó e do vovô – Kate assegurou — E esse moço não era bonzinho. Muito pelo contrário, esse moço era malvado e era inimigo do vovô e da vovó e ele queria o mal de vocês e o mal do vovô e da vovó.

As crianças ficaram de olhos arregalados ao ouvir aquela informação tão terrível.

— Então, ele era das trevas! – Reece afirmou e fez uma careta horrível.

— É mesmo, ele era muito malvado! – Jake confirmou o que o irmão disse e fez uma careta ainda mais feia, indicando que ser malvado é muito ruim.

— Sim, mas para vocês entenderem melhor, eu vou dar um exemplo que vocês conhecem bem... Vou usar personagens de filmes e histórias infantis e desenhos animados de criança.

As crianças estavam atentas esperando o exemplo.

— O “Coringa” é amigo do “Batman”?

— Não! Eles são inimigos. O “Coringa” é malvado e o “Batman” é do bem.— Jake respondeu e as outras crianças assentiram.

— Muito bem! Outro exemplo: “Lex Luthor” é amigo do “Super Homem”?

— Não! Eles também são inimigos. O “Lex Luthor” é malvado e o “Super Homem” é do bem.— Reece respondeu e as outras crianças assentiram.

— Pois é, crianças, da mesma forma, esse moço que vocês conheceram ontem, ele também é malvado...

— E a senhora, vovó Kate... – Thomas interrompeu, dando a interpretação ao modo dele—, a senhora é boa porque é Capitã da Polícia e é linda e o vovô Rick é um Escritor Bonitão.

Kate e Alexis não se aguentaram e riram da interpretação infantil do garotinho.

— Thomas, eu e o seu avô não somos heróis de histórias em quadrinhos, meu amorzinho... Fazemos parte da vida real, mas percebo que você entendeu muito bem a comparação de quem é bom e de quem é malvado. E vocês, Lily, Emilly, Reece e Jake... Vocês também entenderam?

— Sim! – responderam em coro.

— Depois de tudo o que aconteceu ontem, nada de pior aconteceu com vocês, comigo e com o Castle... – Kate afirmou— Mas, mesmo assim, vocês vão abrir novamente a porta, sem a presença de algum adulto da família?

— NÃO! – Eles gritaram a resposta.

— De jeito nenhum, vovó. – Thomas afirmou.

— Nunca mais! – Lily ratificou.

— Muito bem, crianças! – Alexis aplaudiu, seguida por Kate e, animadas, as crianças também aplaudiram e deram gritinhos de comemoração.

— Mas onde está o moço inimigo, eihm, vovó Kate? – Emilly quis saber?

— Ah, não vamos mais falar sobre este inimigo. – Alexis respondeu rapidamente, pois informar acerca da morte do Jerry Tyson não seria nada instrutivo para as crianças.

Percebendo que Alexis deu a melhor resposta sobre o inimigo, Kate mudou logo de assunto — Meus queridos, o Agente Ryan do FBI, que é o dindo da Lily, e o Capitão Esposito, que é o dindo do Reece, prenderam o moço inimigo e ele nunca mais vai fazer maldade com ninguém. – Kate concluiu.

As crianças aplaudiram quando souberam da prisão do “inimigo”.

— Mamãe, o dindo da Lily é Agente do FBI e o dindo do Reece é Capitão da Polícia igual a senhora, ou seja, são heróis... E o meu dindo, eihm? – Jake indagou

— Ah, o seu dindo também é herói, Jake. Seu dindo Benício é Médico Cirurgião e ele salva as vidas das pessoas doentes, ou seja, quem salva as vidas é o que?

— Herói! – Jake falou todo orgulhoso do seu dindo Benício. — Meu dindo Benício também é herói.

— E o meu dindo e o dindo do Thomas, eihm, mamãe, eles também são heróis? – Emilly indagou à Alexis e ela achou melhor mudar o assunto.

— Todos os dindos e dindas de vocês cinco são heróis. E que tal nós chamarmos os papais de vocês para brincaramos lá fora, eihm? Já começou a nevar, então, que tal vestirmos nossos agasalhos, botas, luvas e gorros a fim de fazer bola de neve e brincarmos de jogar no outro e depois fazer um lindo boneco de neve para tirar fotografias?

As crianças levantaram de um pulo só e comemoraram a ideia dando gritinhos e gargalhavam de felicidade.

Esse, com certeza, era o melhor som de todos para Alexis e Kate. Era nítido que a conversa surtiu o efeito desejado sem ser necessário deixá-los assustados.

Apesar de um dia difícil logo no início da estadia no chalé, os dias que se seguiram foram maravilhosos, cheios de brincadeiras, amor, festividades, sorrisos e nem se falava ou mesmo se pensava mais sobre o sequestro.

Continua...