Filhos

Capítulo 14 - O começo do novo


Rebekka

-Não. Eu não estou indo vê-lo. Não, Lexi, não vou deixá-lo me possuir sobre a mesa. – Senti o olhar do taxista pelo retrovisor e fechei a janela entre nós para bloquear o som. – Estou indo buscar o meu carro, só isso. Será que dá para você relaxar agora? Provavelmente vou ter que pagar mais para o taxista depois de fazer o coitado aturar essa conversa.

Balancei a cabeça, apoiando as costas no banco.

-Está bem, está bem. Faça o que quiser. Mas se você se apaixonar de novo.

-Credo, até parece que eu sou uma maluca que se apaixona por qualquer um... Vai se ferrar, Lexi.

-Também amo você, Mikaelson. Não demore.

-Sou uma mulher adulta e demoro o tempo que eu quiser. Até mais tarde.

Desliguei o celular, guardando-o no bolso do casaco e chutando o banco do motorista que ainda me encarava pelo espelho retrovisor no centro.

-Ei, estou procurando pelo meu mecânico favorito.

Seth pareceu se assustar com a minha voz, levantando-se tão rápido de onde estava curvado sobre o carro que bateu a cabeça no capô, fazendo-o se soltar do suporte, cair com tudo e com um barulho, acionando o alarme. Ele olhou para mim, assustado como se eu fosse o próprio bicho papão

-Rebekka! O alarme!

Cobrindo a boca, comecei a rir.

-É, eu estou ouvindo. É irritante, dá para desligar?

Desajeitado, ele se enfiou dentro do carro, pressionando o botão da chave até que o carro se calasse. Então saiu e limpou a mão em um pano imundo antes de fechar a porta e se aproximar.

-Ei. Oi. E aí?

-A sua cabeça. Bateu com força?

Ele levou a mão à cabeça, como se tivesse acabado de lembrar que tinha uma.

-Ah é. Não. Não. Estou legal. É preciso mais do que isso. – Ele deu um soquinho na cabeça – Cabeça dura, é o que a minha irmã sempre diz. Caiu uma TV nela quando eu era pequeno. Nem um arranhão, é o que conta a lenda.

Voltei a rir, balançando a cabeça.

-Isso é ótimo, Sir Cabeça-de-elmo. E o meu carro, cadê?

Ele sorriu e se curvou, apontando para o fundo da garagem.

-Por aqui, milady.

Segui a direção que ele apontou com um pulinho. Sempre era ainda mais engraçado quando os homens faziam isso para mim porque eu havia vivido naquela época. E era exatamente assim que as coisas eram. Homens fracos se curvando sob o peso de grandes mulheres. É por isso que ela nunca se curvava de volta.

Algo estava estranho com o Pegeout. Ele estava...

-Está limpinho. É de praxe.

-Você lavou o meu carro? Eu não faço isso há uns 2 anos...

-Não lavava o seu carro há dois anos?

-Eu não uso muito.

-Sei... – Ele me olhou de lado por um segundo, mas então deu de ombros e voltou à sorrir – Bem, está novinho em folha, limpinho e pronto para rodar.

Assenti, agradecida.

-E quanto eu te devo?

Ele levantou as mãos, como se se rendesse.

-Você me paga um café, e vai estar ótimo.

-Um café? Você deve estar brincando.

Ele deu de ombros.

-Sou um cara simples, de necessidades simples.

Estreitei os olhos.

-Não vai dar problemas com o seu chefe?

Ele deu de ombros novamente afastando minha preocupação com um gesto da mão.

-Nah. Ele vai entender. Porque não é um café qualquer.

Ergui as sobrancelhas e cruzei os braços.

-Ah, é? E o que faz dele tão especial?

-Porque você vai tomar comigo.

Balancei a cabeça. Então Lexi estava certa, afinal.

-Seth, eu realmente não posso aceitar. Eu prefiro te pagar como qualquer outro cliente.

Ele murchou, como um balão furado.

-Você não gosta de mim?

Perguntou, como uma criança no parquinho do jardim-de-infância. Senti o coração apertar, reprimindo o impulso de passar o braço ao redor do seu ombro. Não era nada romântico. Decepcioná-lo era como decepcionar uma criança.

-Não é isso, é só que.. Eu acabei de sair de um relacionamento muito difícil. E eu realmente não quero um relacionamento tão cedo.

Uma faísca estranha surgiu em seus olhos escuros.

-Eu não estou pedindo relacionamento algum. Só um café inocente.

Soltei o ar, sentindo cócegas no estômago. E lá vamos nós de novo.

-Está bem, está bem. Posso comprar um par de botas com o dinheiro que vou economizar.

-Esse é o espírito.

Ele disse, jogando a chave do carro na minha direção.

Calley

R moveu-se dentro de mim, fazendo a pele se esticar à um nível excruciante. Pousei as mãos sobre a barriga, tentando empurrá-lo delicadamente à sua posição inicial.

-Eu sei, meu amor, está ficando apertado. Mas você não está pronto ainda. Espere só mais umas duas semanas, ok?

Como sempre, ele se acalmou ao som da minha voz, enrolando-se apertadinho, deixando a pele relaxar. Respirei fundo, agradecendo-o baixinho. Lá fora, um trovão estourou, logo depois que o raio brilhou sobre a floresta. Envolvi R com os braços, para que não ficasse com medo.

Levante-me para fechar a cortina com o cobertor sobre os ombros como uma longa capa. Toda aquela chuva estava me deixando nervosa e isso não era nada bom para o bebê inquieto que eu carregava. Parei perto ao vidro gelado, encarando a mancha cinzenta tentando secar-se sob as árvores. Um dos lobos gigantes estava sentado, com os ombros caídos, visivelmente enfastiado com aquela água toda. Uni as sobrancelhas, indo até a porta.

-Ei! EI! – Gritei para chamar sua atenção. O lobo olhou na minha direção, se aproximando. – Entra, essa chuva está muito fria!

Ele me olhou longamente e por fim se sacudiu da água na área coberta, subindo as escadas. Ele cutucou o cobertor com o focinho e, unindo as sobrancelhas, pousei sobre ele, sem imaginar porque ele pediria isso com todos aqueles pelos.

Eu e R quase caímos para trás quando o animal diminuiu e se levantou, virando um dos irmãos de alguns dias atrás de cabelos molhados e totalmente nua sob o cobertor.

-Obrigada. Eu não queria pedir, mas está congelando lá fora! Está caindo granizo e tudo o mais – Ela entrou, ajeitando o cobertor meio molhado sobre o corpo. Fechei a porta, encarando-a com curiosidade – Neve? Tudo bem. Consigo me manter quente. Mas pelos molhados são extremamente pesados! – Ela olhou para mim, sem expressão – Obrigada de novo. Eu já volto. Ô LOIRA!

Gritou, subindo a escada e desaparecendo no andar de cima. Sentei-me no sofá com cuidado, sentindo-me confusa. R me cutucou, sempre presente.

-Eu sei, por essa também não esperava.

Algum tempo depois Leah desceu as escadas, vestida e com uma toalha na cabeça. Eu estava esparramada no sofá de sempre, coberta com o cobertor que Rose havia trazido, resmungando sobre o mal cheio que a lobisomem havia trazido para dentro de casa. Eu apenas rira baixinho. Agora estava atrás de uma posição confortável para ler, mas R tornava isso impossível.

-Olá.

Ela disse, sentando na ponta do sofá.

-Oi.

Respondi, fechando o livro. Deixei-o de lado, sentando-me e puxando o cobertor mais para perto. Ela me encarou, parecendo genuinamente curiosa.

-Tem certeza que nunca esteve aqui antes? Tenho certeza que te conheço de algum lugar.

Dei de ombros, balançando a cabeça. Ela pareceu decepcionada.

-Ah, está bem então.

Olhei para ela, curiosa.

-Porque estava sozinha na chuva? Onde estão os outros?

Ela deu de ombros.

-Jake está mandando os filhos embora, para algum lugar longe, então estamos dando um tempo para ele. O inútil do meu irmão está atrás de um rabo de saia. E o resto deve estar dormindo, ou comendo, ou namorando. De qualquer forma, não importa.

Soltei o ar.

-É, acho que entendo o que quer dizer...

Ela me olhou de lado, curiosa também, menos hostil que na sua primeira visita.

-E como foi que você veio parar aqui? Com isso aí e tudo o mais.

Ela disse, acenando com a cabeça para R. Senti minhas mãos envolverem-no, desconfortáveis com o olhar dela.

-Isso aí é meu filho, por favor tenha mais respeito – Estremeci ao me lembrar de Scott, da mansão com barras nas janelas, dos corpos de mulheres nas outras salas escuras e dos híbridos cruéis. R se retorceu de medo. – Não quero falar nisso.

-Mas também não quer voltar para casa. Nem dar... Sei lá, notícias?

-Não, não quero. É por isso que ele me escolheu. Ninguém vai sentir minha falta.

Ela calou-se por um tempo, olhando para mim.

-Você realmente acredita nisso?

-Eu sei.

Disse, sentindo a garganta arder com a verdade dolorosa que eu desejava que fosse mentira.