Filha de um pirata... e uma princesa?!

O dia em que tudo começou a dar errado


Foi aqui que tudo realmente começou.

A chegada ao reino desconhecido…

Charlotte levantou-se devagar, estava atordoada com o movimento violento que a Jolly passara, usando a beira do navio como apoio, ela deu a primeira olhada no lugar onde estavam.

De longe, aquele lugar a passou a ideia de que algum dia chegou a ser bonito, mas agora… as casas estavam velhas e acabadas, o porto onde estavam parecia abandonado a muito tempo, a miséria era imensa e evidente no movimento de pessoas que circulavam por entre as ruas perto do porto. Tudo era pobre e muito debilitado. Charlotte foi tirada de sua análise por Miguel que chamou sua atenção.

— Acho que aqui existe um rei tirano. – Miguel apontou diretamente para o topo de uma colina onde um castelo esbanjava riqueza e beleza, totalmente desproporcional ao reino que o cercava.

— Onde estamos? Não estou reconhecendo esse lugar. – Charlotte questionou ao analisar o castelo. Ela concordava com Miguel, mas não podia deixar de admirar o castelo, ele era lindo.

Miguel olhou mais atentamente.

— Eu não faço a menor ideia. – Ele respondeu olhando a tudo, tentando reconhecer o local.

Killian se levantou atordoado e um pouco irritado com o rumo que tudo tomou, não tinha ideia de onde estavam e não pretendia sair da terra do nunca nem tão cedo, as circunstâncias, porém, fizeram com que tomasse aquela rápida decisão. Ele simplesmente não podia deixar que Pan chegasse perto de sua filha novamente e agora eles estavam… Killian arregalou os olhos. Não! Não! Não podia ser! Não! Não! Não!

— Capitão, porque tenho a sensação de que já estive aqui antes? – Smee indagou já de pé ao seu lado. Olhava para o reino onde estavam. Killian demorou para lhe responder.

— Porque deveria, Smee. – Killian dirigiu seu olhar para o enorme castelo branco no alto da colina. – Estamos em casa.

— Em casa? Mas, o que aconteceu? Não estava assim quando formos embora… Henry não é o novo rei? Ele nunca deixaria uma coisa dessas acontecer com o reino da mãe dele. – Smee falou quase abobado, olhando do castelo para a miséria do povo e para o abandono do porto.

Killian não lhe deu atenção. Ele olhou ao redor, para seus marujos e viu que todos, aos poucos, reconheciam onde estavam. Seus olhos se prenderam em Charlotte, que olhava curiosa para o reino em ruinas. Killian desesperou-se.

— Tire Charlotte daqui e não deixe-a sair do quarto até que eu lhe dê permissão. – Killian ordenou a Smee, que ficou muito sério. – Não deixe-a sair, Smee.

— Você sabe que não irá durar muito tempo. – Smee replicou.

— Tem que durar o tempo de sairmos daqui. – Killian declarou.

Smee não falou mais nada, apenas saiu praticamente correndo até Charlotte. Killian viu de longe a menina estranhar o comando de Smee para depois deixar-se ser levada pelo homem até o quarto. Killian respirou mais calmamente depois disso.

— Killian, você sabe onde estamos? – João questionou se aproximando dele. João percebeu a inquietude de Killian e franziu o cenho – Está bem? Killian? Sabe onde estamos?

— Estamos no reino dos cisnes. – Killian ainda não estava conseguindo acreditar. João arregalou os olhos.

— O seu reino? Estamos no seu reino? – João quis uma segunda confirmação. Killian assentiu com a cabeça.

— Nós temos que sair daqui, João. – Killian o avisou.

— Quanto a isso, capitão, creio que não seja possível. – João disse cauteloso, temendo a reação de Killian.

— O que você quer dizer com isso? – Killian perguntou encarando João nos olhos. O homem deu um passo para trás diante do olhar do capitão.

— Estamos sem feijão mágico. – João explicou.

— O que?!

— Aquele era o último. – João disse com pesar. – Como viemos parar aqui? Você que jogou o feijão?

— Não, não foi eu… – Killian o respondeu pensando como pararam ali.

— Então alguém pensou em voltar para casa. – João concluiu. Killian ficou irritado, todos ali sabiam que eles não poderiam voltar.

— Atenção, marujos! Qual de vocês jogou o feijão no mar? – Killian falou alto para que todos o ouvissem. Todos os marujos começaram a falar ao mesmo tempo, Killian irritou-se ainda mais.

— Silêncio! Todos aqui sabiam que não poderíamos voltar para o reino dos cisnes, não pelo menos até Charlotte passar de seus quinze anos! Todos aqui sabiam! Quem jogou o feijão? Porque estamos aqui? – Killian se fez ouvir com autoridade.

— Capitão… eu joguei o feijão, mas eu não pensei em voltarmos para casa. – Armando, um homem alto e de cabelos compridos se manifestou, não encarando Killian direito, sentia vergonha do que tinha feito, o capitão o analisou de perto.

— E o que pensou? – Killian perguntou mais calmo.

— Em minha mulher e filhos, capitão… recebi uma carta de minha esposa dizendo-me que viajaria com as crianças para OZ para visitar um parente…, imagino que não conseguiram viajar, ou estaríamos em OZ agora e não em casa. – Explicou Armando.

Killian suspirou, ele viu verdade no que o homem estava lhe dizendo, ele conhecia cada um de seus marujos a anos e sabia quando estavam mentindo e Armando não estava.

— Eu sinto muito, capitão, eu sei que era o nosso último feijão e que Lottie não pode... – Armando falava começando a se desculpar.

— Tudo bem, Armando. Sei que não está mentindo, não fez por mal. – Killian o interrompeu.

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Estava voltando da sua procura por comida para o seu esconderijo quando o colar em seu pescoço começou a brilhar fortemente.

— Lottie… – Emma murmurou tocando no colar em formato de cisne. Ela acelerou o passo para dentro. A cada passo, o seu colar brilhava ainda mais. Ela se aproximou da imagem de sua filha.

— Não entendo, parece tudo normal. – Emma disse analisando o lugar onde a filha estava, seu quarto na Jolly.

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Na Jolly, quarto de Charlotte…

— Smee, o que está acontecendo? Porque papai pediu para que você me trouxesse até o quarto? – Charlotte questionou quando já estavam no quarto da menina.

— Está de castigo, Charlotte. – Smee deu a desculpa.

— Então porque meu pai não veio ele mesmo me aplicar o castigo? Ele deve estar furioso comigo…, já estava preparada para ouvir os gritos. – Charlotte continuar a questionar.

— Ele está ocupado e como eu também te criei, seu pai me deu o direito de lhe aplicar o castigo. – Smee respondeu. Charlotte aceitou aquela resposta, mesmo não acreditando que seu pai estava tão ocupado a ponto de não ir lhe aplicar o castigo, seu pai nunca estava ocupado demais para lhe aplicar um castigo. – Não irá sair desse quarto até segunda ordem, Charlotte, e quando eu digo nada de sair, é nada de sair.

— Mas, Smee…

— Nada de “mas, Smee”, Charlotte, e nada de usar magia. – Smee foi firme enquanto encaminhava-se para fora do quarto.

— Eu não posso usar magia. – Charlotte o lembrou mostrando a pulseira, ligeiramente indignada.

— É eu me esqueci disso, desculpe. – Smee respondeu e saiu.

Charlotte bufou e gritou, parando apenas quando sua atenção foi chamada para o brilho intenso vindo de seu colar. Ela parou em frente a sua penteadeira e franziu o cenho.

— Mas, o que diabos…?

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Emma fica um pouco surpresa ao perceber que a filha, na imagem, estava olhando diretamente para ela e que aquela era a primeira vez que a menina percebia que seu colar estava brilhando.

— Mas, o que diabos…? – Ela ouviu sua menina perguntando a si mesma, parecia assustada e cautelosa com sua descoberta.

— Não se preocupe, minha querida, não irá machuca-la, isto está a protegendo. – Emma murmurou outra vez e, como magica, viu a filha se acalmando e mudando seu semblante para apenas curiosa. – Isso…, essa é minha garota.

— O que raios está acontecendo? Não era para brilhar tanto assim, ao não ser que… – Emma arregalou os olhos ao pensamento que lhe surgiu. – Não, por favor, Killian, você não pode ter deixado isso acontecer! Não, não, não…

Ela observou sua filha desviar o olhar do espelho e o direcionar para a porta, vendo Killian entrar no quarto da filha, ele tinha uma expressão fechada no rosto.

— Papai? O que esta acontecendo? – Charlotte perguntou cautelosa ao perceber como o pai estava.

— Você ainda pergunta? Você sabe muito bem o que fez, mocinha.

— Papai…

— Saiu sem minha permissão… de novo! Quase foi morta… de novo! E agora você não tem magia, Charlotte, e porque diabos o seu colar está brilhando? – Killian disse de braços cruzados e com a voz dura.

Charlotte, porém, não conseguiu responder. Ela olhava boquiaberta para o pai, Killian nunca havia falado com ela daquele jeito.

— Pai… - Charlotte tentou uma resposta, chocada demais. Killian parecia furioso, Charlotte nunca o havia visto daquele jeito. Ele já havia ficado bravo com ela, mas não naquele nível. Ele continuou a falar sem se importar com o semblante da mesma:

— Smee já deve ter lhe falado que está proibida de sair do quarto até segunda ordem, eu reforço isso. Não irá sair desse quarto até que eu ordene e, olha, veja só! Até que você sem magia pode ser útil, talvez assim você me obedece e acaba sobrevivendo.

Foi ai que eu explodi…

— Então está feliz por eu estar sem magia? Acha que eu sou um problema e muito perigosa para mim mesma por isso, não é!? Talvez um incômodo o qual não vê a hora de se livrar!? Por isso me tranca aqui? Vai me dizer também que não vai procurar algo que tire esse bracelete estúpido de mim? – Charlotte esbravejou as perguntas.

— Não coloque palavras na minha boca, Charlotte Alice Jones! – Killian replicou com fúria. – E não se faça de desentendida, menina, eu te criei! Eu sei que é esperta e que você tem tendência a me desobedecer desde criança! Eu não posso mais permitir isso! Você quase morreu pela segunda vez, tente aprender a lição! Deixe de ser teimosa! Está fora de cogitação você sair desse quarto!

— Virei prisioneira agora!? Vai se igualar a Pan!? – Charlotte continuou o afrontando.

— Não fale desse diabo outra vez! E muito menos me compare a ele! Você não está sendo prisioneira, está de castigo, é totalmente diferente. Chega de discussão! Miguel virá mais tarde ele irá distraí-la, sei como odeia ficar no tédio. – Killian falou já se encaminhando para a saída.

— Obrigada? – Charlotte respondeu com sarcasmo.

— Para com a arrogância, menina. – Killian saiu e fechando a porta com certa força, a trancou ali.

Pela a segunda vez, Charlotte gritou e bufou.

E mamãe viu a tudo aquilo de boca aberta, chocada. Ela nunca havia visto papai e eu brigarmos e nos tratarmos daquele jeito, ela tinha certeza que alguma coisa estava muito errada e não conseguia… não queria acreditar que havíamos mesmo voltado para casa. Ela não podia imaginar que tudo só iria piorar.

Duas horas depois, na Jolly Roger, dentro do quarto de Charlotte…

Miguel entrou quando a menina lhe deu permissão para tal e encontrou muitos dos pertences dela jogados no chão.

— Lottie? O que…?

— Meu pai e eu brigamos. – Charlotte disse deitada na cama, olhando para o nada. Dinah se aproximou dela e se aconchegou na dona.

— E pelo que estou vendo foi grave. – Miguel comentou.

— Nós nunca brigamos desse jeito, Miguel… o que está acontecendo? – Charlotte se questionou. Miguel se aproximou e deitou-se ao lado dela na cama.

— Seu pai só quis te proteger, você já correu perigo demais, Lottie. – Miguel falou, pensando nas inúmeras cicatrizes que a amiga tinha pelo corpo.

— Ele não precisa se preocupar, eu sei me cuidar. – Charlotte replicou com convicção.

— Claro que sabe… mas, diz isso para todas as cicatrizes que tem pelo corpo, principalmente aquela na barriga… e aproveita e fala também para o bracelete que te deixa sem magia. – Miguel respondeu com certo deboche. Charlotte lhe lançou um olhar ameaçador.

— Desculpe. – Miguel disse, mesmo sabendo que o que ele tinha dito era verdade, ele não queria ser morto por ela. Charlotte apenas revirou os olhos. – Vai ficar tudo bem, Charlotte.

Ela apenas acenou com a cabeça.

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Na cabine de Killian…

Ele escutara o cômodo ao lado, Charlotte quebrando coisas em seu quarto, a parede fina não impossibilitou que ele deixasse de escutar a fúria da filha. Ao contrário da filha, ele tentou se acalmar e pensar direito no que fazer. Havia sido um erro olhar como estava Charlotte estando de cabeça cheia…

Killian levantou o olhar e se deparou com Smee o olhando, e Killian identificou o seu olhar repreensor.

— Deixe-a sozinha por enquanto, ela precisa se acalmar. – Killian o avisou.

— Você a trancou em um quarto, Killian, ela não vai se acalmar. – Smee replicou.

— Você sabe que foi preciso. Charlotte não me obedece! Quando vê algo novo ela sempre quer explorar, não importa o que eu diga, ela sempre quer se aventurar e por conta disso quase morreu duas vezes. Eu não vou arriscar de novo, principalmente no lugar onde estamos. – Killian tentou argumentar, ainda tentando pensar direito e se acalmar. – Quanto tempo para conseguirmos outro feijão?

— Alguns marujos já foram em busca de algum pelo reino. Não se preocupe, estão usando as roupas enfeitiçadas de Charlotte. – Smee o informou prestativo.

— Certo… – Killian se apoiou em sua mesa, abaixou a cabeça e respirou fundo, não estava nada bem.

— Killian…

— Estou preocupado, Smee… quanto tempo iremos ficar aqui? Se continuarmos aqui eu tenho certeza que o crocodilo irá nos achar rapidinho… ele irá achar Charlotte e tudo terá sido em vão. – Killian mostrou sua preocupação.

— Não, capitão. Dará tudo certo, Charlotte irá ficar bem, nada irá acontecer com ela… nós iremos sair daqui antes que algo possa acontecer… e você pode estar certo, Charlotte está segura no quarto e sem magia.

— Ouvir isso de outra pessoa faz parecer que estou fazendo algo cruel… – Killian falou, pensado se tinha feito o certo mesmo.

— Killian…

— Você está certo, ou melhor, estamos certos… Charlotte irá ficar bem, dará tudo certo. – Killian declarou.

O que papai não sabia era que tudo só iria piorar. Começando pela caça ao feijão mágico, a qual, ao menos no começo, papai achava que não iria precisar de minha ajuda, que eu iria ficar trancada e tudo daria certo…

Porém, o que ele queria não aconteceu...