Com o plano já formado, os dias seguintes foram de preparação. Papai fez questão que eu treinasse com mais afinco que o normal, todos os marujos que iriam para o castelo também treinaram, porém comigo era diferente.

Regina não havia voltado para a floresta encantada, permanecendo na Jolly treinando minha habilidade em magia e ensinando feitiços novos e eu virava noites os treinando. Às vezes, Amélia nos observava treinar e se empolgava a cada feitiço que eu e Regina fazíamos. Amélia é uma garota adorável e todos logo se encantaram por ela, incluindo papai e tia Regina, que dormia com ela em meu quarto, transformando todas as noites antes de dormir em uma festa.

Meu relacionamento com o meu pai tinha dado uma balançada, a cada dia que o baile ficava próximo, papai ficava mais tenso. Eu nunca o havia visto daquele jeito e me preocupava… até que uma semana se passou e o dia do baile chegou…

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Fim de tarde, floresta do reino dos cisnes....

— O baile é daqui a algumas horas, já está tudo pronto? – Emma nervosa perguntou para Regina.

— Sim, já temos tudo esquematizado, Emma. Vai dar tudo certo, não se preocupe. – Regina respondeu tranquilizando-a.

— Me conte de novo como irão agir. – Emma pediu e Regina contou mais uma vez todo o plano que ela, Killian e Charlotte planejaram.

— E vocês tem certeza que Charlotte ficará fora de perigo, não é? – Emma questiona, preocupava-se que algo pudesse acontecer à sua filha. Regina a lançou um olhar a ela que a dizia tudo “você conhece sua filha, não podemos garantir nada”. Aquele olhar fez com que Emma soltasse um suspiro frustrado.

— Mas, não se preocupe com isso, Emma, qualquer coisa os marujos estarão lá, Killian estará lá e eu também estarei lá. – Regina tentou acalma-la e consegue tranquilizar Emma, apenas um pouco.

— Todos os disfarçados estarão lá? – Emma seguiu indagando.

— Sim, serão uma grande ajuda extra se precisarmos fugir. – Emma olhou alarmada para Regina. – E na hora em que formos embora também… Emma, fica tranquila, não é a primeira vez que fazemos isso e sua filha já está mais do que apta para tal missão.

— Fico preocupa com ela e com Henry…, pode acontecer alguma coisa com os dois. – Emma disse e Regina lançou um olhar sério para ela.

— Eu não vou deixar que nada aconteça com nenhum dos dois. – Regina garante. – Mesmo que eu tenha que revelar meu disfarce no meio de todos.

— Obrigada, Regina.

— Eles são meus filhos também, Emma, eu vou cuidar deles. – Regina promete.

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Poucas horas depois, na Jolly Roger…

Chegara enfim o dia em que ela tanto esperava, o dia do baile de casamento de seu irmão, o dia de sua primeira missão importante, seu primeiro baile.

Estava nervosa e ansiosa, não sabia o que esperar quando enfim entrasse no castelo onde deveria ter crescido, não sabia como reagiria ao ver seu irmão outra vez, agora que sabia que ele era a causa do reino da mãe deles estar tão deplorável. Somente pensando em tudo o que seu pai disse que ocorreu, Charlotte já ficava com raiva do irmão, “como ele pôde fazer isso com o reino de mamãe?”. Ela foi chamada a atenção por uma batida na porta de seu banheiro.

— Não demore, Charlotte, não podemos nos atrasar. – Charlotte ouviu a voz de Regina do lado de fora de seu lavabo.

— Já estou terminando, tia Regina. – Avisou Charlotte. Ela se levantou rapidamente da banheira e tirou toda a espuma de seu corpo, se enfiou em um roupão e saiu do banheiro secando os cabelos com magia. Ao levantar o olhar para o seu quarto viu Regina e Amélia ali, esperando por ela.

Charlotte focou seu olhar em Regina, já pronta para o baile, e seus lábios formaram um radiante sorriso, Regina estava magnifica. Seu vestido era típico para um baile, cor de vinho e nada discreto, apertado nos seios e um pouco justo na cintura, a saia volumosa descia delicadamente até os pés, os cabelos curtos de Regina estavam decorados com uma pequena trança na lateral esquerda de sua cabeça e, para finalizar, usava uma máscara da mesma cor do vestido com detalhes em preto.

— Uau, Regina você está maravilhosa! – Charlotte a elogiou com admiração. Regina sorriu para a menina e tirou a máscara.

— Agora é sua vez de ficar tão maravilhosa quanto. – Regina declarou e se aproximou de Charlotte, pegando em suas mãos delicadamente e apontou com a cabeça para a cama de Charlotte. – Tenho uma coisa para você.

Charlotte olhou para sua cama e seu queixo caiu, delicadamente depositado ali estava um belo vestido de baile. Charlotte nunca teve um vestido tão belo quanto aquele antes – não que ela não achasse seus vestidos bonitos, mas aquele com certeza ganhava de todos – era azul marinho e todo o vestido brilhava, não tinha mangas, mas suas alças eram um pouco grossas. Charlotte tocou na saia volumosa do vestido e sentiu o tecido leve e macio escorregar por entre seus dedos, em cima do vestido havia uma máscara também azul marinho, ela não brilhava, mas tinha desenhos de pequenos cisnes em branco.

— Regina, eles são… perfeitos. – Charlotte constatou pegando a máscara nas mãos, percebendo que em cada ponta dela tinha uma fita para prendê-la ao rosto. Regina sorriu com o comentário da garota.

— Sabia que iria gostar, azul é sua cor preferida. – Regina respondeu e o sorriso de Charlotte aumentou.

— Ele é perfeito, eu amei! …, mas, de onde ele surgiu?

— Eu comprei para você, é um presente, querida. – Regina respondeu carinhosamente.

— Sério? Não precisava Regina, não é meu aniversario nem nada. – Charlotte disse, sentindo-se agradecida.

— Mas, é seu primeiro baile e, mesmo que seja também uma missão, tenho certeza que a rainha e o rei não iriam querer que o primeiro baile da princesa deles fosse considerado qualquer coisa. – Regina replicou astuta.

— Não irei ao baile para me divertir, tia Regina. – Charlotte argumentou.

— Mas, tenho certeza que que irá fazê-lo mesmo assim. – Regina contra-argumentou. As duas riram e Regina voltou a pegar na mão de Charlotte.

— Venha, vamos começar a arruma-la. – Regina falou levando-a até a penteadeira da menina e sentando-a ali. – Iremos fazer uma coisa bonita no seu cabelo.

— Não precisam se incomodar, eu posso resolver isso com magia.

— Nem tudo fica perfeito com magia e… ora, vamos! Eu e Amélia queremos fazer algo especial para você. – Regina pediu olhando Charlotte pelo espelho com um sorriso no rosto, Amélia se aproximou delas e também olhou para Charlotte pelo espelho.

— Por favor, Charlotte, será divertido! – Amélia pediu a menina quase implorando, Charlotte sorriu para a menina e concordou que lhe arrumassem o cabelo.

Então Regina, com o eficiente auxilio de Amélia, começaram a mexer nos cabelos loiros de Charlotte e entre risos e brincadeiras elas fizeram um coque frouxo e elegante em Lottie, deixando alguns fios caírem delicadamente por seu rosto e em seguida ajudaram-na a vestir o vestido e os sapatos.

— E agora um último toque. – Regina anunciou, pegando algo de dentro de uma caixinha preta e depositou no busto nu de Charlotte.

— Meu colar! Você consertou! Estive tão ocupada com os treinos que não tive tempo de consertá-lo. – Charlotte exclamou após Regina prender o colar em seu pescoço perfeitamente. O pingente de cisne brilhou ao tocar a sua pele, Charlotte se aproximou um pouco do espelho da penteadeira e abriu um sorriso para o trabalho que haviam feito nela. E com o seu sorriso, o colar brilhou mais forte.

— Oi, mãe.

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— Já estão todos prontos? – Killian indagou quando chegou ao deque e encontrando muitos dos seus marujos irreconhecíveis em seus trajes de gala.

Killian também estava a caráter, com um smoking que a muitos anos ele não vestia, mas, felizmente, ainda lhe servia. No lugar de seu gancho, ele colocara uma mão postiça – que também a muitos anos não usava – que chamava menos atenção que o seu gancho.

— Só está faltando Charlotte e Regina, capitão. – Smee avisa.

— Estamos aqui. – Ele ouviu a filha falar atrás dele e quando se virou, não conseguiu evitar, mesmo que tentasse, o sorriso que se abriu em seus lábios. Todos os marujos também olharam para Lottie e a menina já estava começando a ficar envergonhada com toda aquela atenção e fascínio em sua direção.

— Filha, você está… linda. – Killian balbuciou, estava emocionado, mais que das outras vezes, agora ele havia percebido de fato que sua filha já estava quase uma mulher, uma linda mulher.

— Obrigada, papai. – Charlotte agradeceu, ela olha para Killian e deu um sorrisinho. – Já te vi assim outras vezes, mas ainda assim é estranho vê-lo desse jeito… sem o gancho.

Gancho sorri amarelo para a sua mão postiça.

— Faz muitos anos que eu não a uso – Killian comentou em resposta.

— Está linda – Smee também elogia Charlotte, após se aproximar deles.

— Muito obrigada, Smee – Charlotte agradeceu com um enorme sorriso.

— Já está quase na hora, temos que ir. – Regina os apressou, olhando para o relógio de bolso de Killian que ela havia pego com magia e o devolvendo em seguida.

— Todos se lembram direitinho do plano? – Killian perguntou para todos ali, principalmente, Charlotte. Todos, assim como a menina, confirmaram que sabiam do plano. Nervoso, ele olhou para Regina. – Então vamos.

Sorrindo, Regina fez um floreio com a mão e todos no deque sumiram em uma nuvem roxa.

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No centro da aldeia do reino dos cisnes…

Regina havia os teletransportado à um beco no centro da aldeia, as ruas estavam escuras e sendo pouco iluminadas pela lua, o que facilitou – e muito – que eles deslizassem sorrateiramente pelas ruas sem serem vistos pelos poucos guardas que vigiavam as ruas no período da noite. Charlotte fez um pequeno aceno com a mão e capas escondendo suas roupas de bailes – principalmente o brilhoso vestido de Charlotte – apareceram em uma nuvem de cor azul claro.

Rapidamente eles chegaram onde queriam. Charlotte, durante o caminho, percebeu a diferença do visual da cidade à noite, ela notou que muitas poucas pessoas passavam pelas ruas àquela hora. Em certo momento, eles se aproximam de um monumento, que, no escuro, Charlotte não pôde decifrar o que era, entretanto, Killian sabia do que aquele monumento se tratava.

Eram Killian, Emma e o pequeno Henry de onze anos, retratados naquela estátua, há muito tempo atrás, no início do reino dos cisnes. Killian olhou por um momento para o seu eu vestido em roupas reais e usando uma coroa junto à Emma e Henry, e divagou que fazia muito tempo que ele não era mais aquele homem.

Ele se dirige para um ponto atrás da estátua, Charlotte ouve alguns batuques e em seguida o barulho de algo pesado se arrastando.

A estátua da família real se divide, Killian e Emma de pedra se afastam do pequeno Henry, dando lugar a uma abertura no chão no meio deles, Regina se aproxima com uma bola de fogo em mãos e ilumina a abertura, mostrando que dentro tinha uma escada.

— Charlotte e eu iremos iluminar o caminho para vocês. – Regina se fez ouvir. Charlotte se aproximou dela e abriu a palma da mão direita, fazendo surgir uma bola de fogo, iluminando mais o lugar onde estavam. – Eu entro primeiro e ilumino lá em baixo. Lottie, você ilumina a entrada.

Charlotte concorda com um aceno de cabeça e Regina entra na abertura e desce as escadas para o subsolo.

— Eu não me lembrava que isso aqui era tão fundo. – Regina gritou de lá de baixo, sua chama iluminando ao seu redor.

— Você está bem? – Charlotte perguntou.

— Sim, querida! Pode mandar os outros descerem.

Aos poucos os marujos foram descendo pela abertura. Killian e Regina tentavam orienta-los o caminho. Killian foi o último dos homens a descerem, ele permaneceu perto da escada esperando a filha, caso precisasse segura-la se ela escorregasse no vestido ele estaria por perto. Charlotte desceu sem problemas e junto a chama de Regina, as chamas em sua mão iluminaram completamente o local onde estavam, era um túnel grande o bastante para todos ali.

Regina e Killian foram na frente guiando o caminho, Charlotte ficou no meio dos marujos, ao lado de Miguel, iluminando onde os marujos pisavam. Pela luz em sua mão, Charlotte pôde observar um pouco do túnel onde estavam, as paredes de pedra tinham musgo e o cheiro de umidade era forte, Charlotte tinha certeza que aquele túnel não era usado havia muitos anos.

Eles andaram muito até chegarem à outra entrada do túnel. Charlotte ouviu os mesmos batuques de antes com um som diferente, o teto no alto de suas cabeças se abriu e uma escada igual a anterior surgiu. Regina foi a primeira a subir as escadas, deixando a tarefa de iluminar o caminho para os marujos para Charlotte. Killian permaneceu novamente ao lado da filha enquanto, no mesmo ritmo de antes, os marujos subiam as escadas para fora do túnel.

Quando todos subiram, chegou a vez de Charlotte, quando a menina chegou ao topo, imediatamente, seus olhos analisaram onde ela estava.

Seus olhos azuis fixaram no gancho e no cisne que se aproximavam fechando o buraco de onde ela havia saído, os monumentos apenas pararam de se mover quando estavam lado a lado e, juntos, formaram um coração. Charlotte sorriu para aquilo…, curiosa, ela deu alguns passos por onde estavam e analisou o lugar.

A estátua parecia estar em um jardim, pois tudo que Charlotte viu ao redor foi um belo gramado e várias flores de diferentes tipos como rosas, tulipas, gardênias, lírios, petúnias e várias outras. Charlotte ficou encantada pela beleza e cor do lugar, Killian observava a filha olhar a tudo, ele deu um sorriso triste, era para Charlotte ter crescido em meio àquele jardim.

— Pedi carruagens para nós. – Pronunciou-se Regina, olhando para um ponto atrás do grupo. uma carruagem se aproximava deles. Killian voltou seu olhar para Regina e levantou uma das sobrancelhas, ela revirou os olhos. – É claro que não virão todas de uma vez, gancho, não podemos sair do normal. Essa é a nossa.

Killian volta o olhar novamente para a carruagem que agora estava bem em frente a eles, era majestosa e inteiramente azul marinho, dois cavalos brancos puxavam a carruagem e obviamente, não havia nenhuma identificação de reino na carruagem. Killian olhou para o cocheiro e semicerrou os olhos, ele não demorou para reconhecer quem estava guiando os cavalos.

— Leroy? – Killian analisou o homem que estava vestindo roupas de um autêntico cocheiro, o chapéu em sua cabeça o deixava quase irreconhecível.

— Olá, majestade, quanto tempo. – Leroy o cumprimentou fazendo uma pequena reverencia com a cabeça.

— Muito tempo… e é capitão Gancho, não sou mais majestade. – Killian o corrigiu.

— Para muitos, e para seus súditos, você ainda é majestade. – Contrapôs Leroy.

Charlotte observava os dois quando decidiu se aproximar do pai, os olhos de Leroy rapidamente recaíram sobre a menina.

— E você deve ser a princesa! – Leroy constatou olhando para Charlotte espantado. – Diabos, você é a cara de Emma!

— Todos me dizem isso…, prazer, meu nome é Charlotte. – Lottie se apresentou com um sorriso, ela não via mal em contar seu verdadeiro nome já que ele conhecia seus pais e estava do lado deles. O homem deu um sorriso e tirou o enorme chapéu da cabeça e se curvou em um reverencia.

— O prazer é todo meu em conhecê-la, princesa Charlotte. Meu nome é Leroy, conheço todos de sua família há anos. – Leroy a respondeu.

— Chega de demora, nós temos que entrar. Nessa carruagem cabem seis pessoas. – Regina, começou a explicar. – Então iremos eu, Charlotte, Miguel, Killian, João e Smee… os demais, esperem as próximas carruagens.

Charlotte sentou-se entre seu pai e Miguel, de frente aos outros três. Ela e Miguel praticamente se espremeram na janela da carruagem para conseguirem verem tudo ao redor enquanto andavam até a entrada do castelo, e os dois viram todo o resto do jardim, de relance, Lottie chegou a avistar uma fonte. Ela e Miguel ficaram encantados com tudo. A carruagem deu a volta no castelo para chegar à entrada e Charlotte viu muitas carruagens e pessoas aos montes saindo delas e, por alguma razão, ela começou a ficar nervosa.

— Está tudo bem, querida? – Killian percebeu seu nervosismo e segurou em sua mão.

— Estou bem, papai. – Charlotte o respondeu sorrindo.

Eles finalmente pararam em frente aos grandes portões do castelo.

— Rápido, todos coloquem as máscaras. – Regina comandou e todos rapidamente o fizeram.

Seguindo o papel de cocheiro Leroy desceu da carruagem e abriu a porta da mesma, ajudando Regina e Charlotte a descerem as escadas da carruagem e fechou a porta quando todos desceram. Subiram as escadas que levam para dentro do castelo e, na porta, uma criada tirou-lhes as capas de viagem e as levou para um grande closet improvisado que tinha ali perto da entrada. Charlotte olhou boquiaberta para dentro do salão de entrada, que tinha um amplo e brilhoso piso em mármore branco, uma enorme escada de madeira levava para os andares de cima do castelo, muito impressionada, Charlotte olhou para cima e viu lustres de cristais pendendo do teto, que parecia feito de ouro, e vários delicados cisnes entalhados decoravam o teto, Lottie analisava o ambiente até que sentiu duas “mãos” pousarem em seus ombros.

— Está tudo igual. – Killian falou baixo, também olhando para o lugar. – Sua mãe e eu decoramos cada parte desse lugar.

— Isso é perfeito, papai. – Charlotte respondeu no mesmo tom do pai.

— Está pronta para o seu primeiro baile? – Killian sorriu e ofereceu o braço para a filha.

Charlotte mostrou o sorriso que Killian já conhecia a muito tempo, o de quando ela iria aprontar. Ela se aproximou mais do pai e aceitou o seu braço estendido.

— Claro, papai.

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O salão de festas estava cheio de pessoas em seus belos trajes de galas e máscaras, uma música suave tocava ao fundo, o lugar estava belamente decorado com flores ainda mais belas do que as que estavam no jardim. Charlotte observou que o salão de festas em si era enorme, caberiam no mínimo dois deques do navio ali dentro, ela analisou cada detalhe do lugar, o chão parecia vidro, refletindo todas aquelas pessoas no belo piso, as paredes eram das mesmas pedras brancas que compunham todo o castelo, enormes janelas com cortinas vermelhas vivo mostravam parte do belo céu que brilhava do lado de fora, algumas mesas cheias de aperitivos estavam estrategicamente postas por todo o salão, até que sentiu-se ser puxada pelo pai para uma daquelas mesas, os outros os seguiram.

— Está bem, finjam que são convidados, bebam, sorriam, socializem… só não exagerem. Nada pode dar errado. – instruiu Regina e eles concordaram com a cabeça – Quando todos começarem a dançar, Killian e eu sairemos do salão sem sermos percebidos, vocês todos irão nos acobertar, nós pegamos o livro e saímos sem sermos percebidos, mas todos vocês precisam estar em alerta caso algo dê errado.

— Regina, nós todos já sabíamos disso, faz parte do plano. – Killian replicou.

— Sempre vale a pena relembrar…, enfim, todos vocês se dispersem. – Regina seguiu instruindo o grupo

Charlotte puxou Miguel enquanto ria do tom de Regina. Killian seguiu os dois e os três pararam em outra mesa. Charlotte começou a comer alguns petiscos junto a Miguel, e Killian pegara uma taça de champanhe de um dos mordomos que passavam e bebia alguns goles. Charlotte não tinha ideia do que estava comendo, mas estava delicioso.

De repente, a música suave que ouviam parou de tocar e algumas luzes se apagaram, permanecendo acesas em um único ponto do salão. Charlotte estranhou aquilo e procurou a mão direita do pai a apertando quando a encontrou.

— Senhoras e senhores, a família real do reino dos cisnes! Rei Henry e Rainha Calípto! – Uma voz anunciava por todo o salão.

No ponto de luz, Charlotte viu seu irmão agora vestido em trajes reais e uma coroa de ouro e pedras azuis, portava um sorriso no rosto e acenava para o público, que aplaudia e reverenciava ao rei e a rainha. Ao olhar para o irmão, Charlotte não sentiu a mesma emoção que havia sentido ao encontrar com ele pela primeira vez. Olhando para a rainha, percebeu que era uma moça considerada bela, mas, para Charlotte lhe parecia muito superficial, tudo era exagerado naquela mulher, o cabelo era bonito demais o sorriso era bonito demais e o corpo bonito era demais.

— Como ele cresceu. – Killian comentou baixo. Charlotte olhou para o pai e o viu olhando impressionado e incrédulo para o rapaz. Nesse momento a luz voltara junto com a música, dessa vez uma mais animada, e o rei puxou a rainha para dançar e vários outros casais se juntaram a eles na pista de dança.

— Chegou a minha hora, querida. – Killian anunciou e colocou-se de frente para a filha, pegando mais uma taça para disfarçar. Lottie olhou bem nos olhos do pai, esperava instruções extras. – Eu tenho certeza que será um pouco complicado, mas Regina e eu conseguiremos e você e sua mãe estarão livres.

— Sim, papai, vai dar tudo certo. – Charlotte concorda sorrindo.

— Irei me encontrar com Regina. – Killian avisou e se aproximou, depositando um beijo na testa da filha. – Me deseje sorte, querida.

— Boa sorte, papai.

Com um último olhar, Killian some por entre as pessoas no salão.

— Me concede essa dança, alteza? – Miguel a convidou, fazendo uma mesura e oferecendo-lhe a mão.

— O que está fazendo, Miguel? – Charlotte sorriu.

— Regina disse para socializar, é o que eu estou fazendo, me concede essa dança?

— Sim, aceito. – Charlotte pegou a mão que lhe era estendida e Miguel a levou para a pista de dança e, aos risos, eles começaram a dançar.

— Está tudo tão lindo… – Charlotte constatou e, apesar de seus olhos brilharem, seu tom de voz era triste. Miguel percebe isso.

— Como se sente estando aqui? – Miguel perguntou ao perceber o tom na voz dela enquanto a fazia girar, o vestido da menina pareceu um céu estrelado.

— Me sinto estranha…, eu olho para papai e o vejo com um olhar de reconhecimento e saudade. – Charlotte respondeu, rodopiando pelo salão junto a Miguel. – É tudo tão lindo.

— Eu não consigo imagina-la como uma princesa. – Miguel comentou com divertimento.

— Não é você mesmo que me chama de alteza? – Charlotte soltou uma pequena risada. Miguel a segurou firme na cintura e rodou junto dela, fez que ia coloca-la no chão e quando levantou a jogou para o lado e a puxou de volta para os seus braços, fazendo ambos rirem, estavam se divertindo.

De repente Miguel lhe lançou um sorriso travesso e seu olhar se desviou dela para algum ponto atrás dela. Charlotte levantou uma das sobrancelhas, desconfiada, mesmo que ele não pudesse ver por conta da máscara.

— Para onde está olhando, Miguel? – Charlotte questionou confusa com a mudança no semblante do garoto.

— Parece que alguém não consegue tirar os olhos da minha bela parceira de dança. – Miguel explicou, Charlotte o olhou mais confusa dessa vez. Ele abriu mais o sorriso e deu mais um giro para que Lottie pudesse ver. – O cara de trajes verdes e máscara branca.

Charlotte era um pouco mais baixa que Miguel, mas ela rapidamente conseguiu encontrar o rapaz a quem Miguel se referia e, quando o viu, seus olhares se cruzaram, ele olhava fixamente para ela e Charlotte se sentiu corar pela intensidade daquela troca de olhares.

— Ora, vejam só quem está corada! – Miguel provoca e Charlotte volta o seu olhar para ele e dá um tapa em seu braço. Miguel ri da sua reação.

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Do outro lado do salão…

Ele tinha uma missão, ou melhor, duas. Tinha que proteger o rei e a rainha de qualquer inconveniência e tinha que ajudar Regina e os outros a passarem despercebidos o máximo que ele conseguisse. Os olhos castanhos inspecionavam cada pessoa daquele salão, observando qualquer movimento suspeito que fosse. Até que seus olhos recaíram em um casal na pista de dança, mais precisamente, na moça vestida em um belo vestido azul marinho, com os cabelos loiros presos em um coque frouxo, porém, o que mais lhe chamou a atenção foi o bonito sorriso. Ele não conseguia parar de olhar para aquele belo sorriso.

O acompanhante da moça percebeu o seu olhar e falara algo para a moça e, no momento seguinte, em um giro da dança, ela ficara de frente para ele. Ela olhava em seus olhos agora, ele deu um pequeno sorriso, não conseguindo se desprender daquele olhar. O acompanhante dela deve ter falado algo, pois ela voltou seu olhar para o mesmo e o deu um tapa no braço, o que ajudou ele voltar para a realidade e pegou mais uma taça de champanhe da bandeja de um dos mordomos que passavam e bebeu um gole.

— Uou! Mais devagar, irmãozinho, estamos aqui a trabalho. – Uma voz feminina se pronunciou atrás dele. Ele sorri ao reconhecer a voz da irmã mais nova.

— Na verdade, eu precisava de algo mais forte. Que ideia foi essa do Henry de servir champanhe? – Ele respondeu se virando e encontrando uma moça vestida em um elegante vestido amarelo de generoso decote, cabelos ruivos descendo em cascata pelas costas e uma máscara de um amarelo mais claro que o do vestido.

— Acho que a ideia foi da rainha. – A menina especula e o rapaz faz uma careta.

— Quanto tempo acha que tudo isso aqui vai durar? Já não estou aguentando mais essa festa.

— Acho que ela acabou de começar, irmãozinho. – Ela se aproximou mais e sussurra – Você chegou a ver Regina?

Ele nega com a cabeça.

— Chegou a identificar alguém que conhecemos? Regina falou que pessoas que conhecemos iriam ajuda-la nessa missão. – Novamente, ele negou com a cabeça. – Caramba, irmãozinho, você não viu nada?

Ele bufa.

— Eu não sou o único trabalhando aqui! Onde você estava que também não viu nada disso? – Ele pergunta e ela finge inocência. – Eu não acredito! Estamos aqui a trabalho, não para você ficar aos beijos com sua namorada!

— Faz muito tempo que não a vejo, irmãozinho! Ela estava em uma missão na floresta encantada por dois meses, você sabe disso. – Ela se defendeu.

— Se papai souber que você anda se distraindo no trabalho…

— Ele não vai saber, por que você não irá contar.

Ele revira os olhos e suspira exasperado, desviando o olhar da irmã e, novamente, seus olhos recaem na moça de sorriso bonito, que devolve o olhar e ele sorri, vendo que a moça ainda dançava com o mesmo rapaz.

— Ela parece realmente bonita. – Ele ouve sua irmã falar ao seu lado, agora olhando para a moça de sorriso bonito.

— O que? Do que está falando? – Ele questionou voltando a realidade, sua irmã ri.

— A moça na pista de dança, a que você está comendo com os olhos. – Responde ela, divertida. O rapaz cora e dá vários goles de seu champanhe.

— Eu realmente preciso de algo mais forte! – Ele exclama fazendo careta quando sentiu o gosto da bebida. Sua irmã soltou outra risada.

— Você não precisa de bebida para chama-la para dançar, irmãozinho. – Sua irmã comentou.

— Quem disse que irei chama-la para dançar?

— Ora, vamos! Você quer isso, quer estar no lugar daquele cara dançando com a moça. – Ela provoca.

— Eu não… estamos no meio de uma missão! – Ele tentou argumentar.

— Eu cubro você, irmãozinho. Agora vai lá, a música já está quase acabando, convide-a para a próxima dança.

— Eu realmente não…

A música acabou e alguns casais se dispersaram da pista de dança e logo outra música começou a tocar.

— Agora, irmãozinho! – Ela o empurrou levemente na direção da moça que ela estava observando. O rapaz revirou os olhos para a irmã, que o olhava divertida, ele mostrou um pequeno sorriso para ela e lhe deu as costas, caminhando em direção a moça de sorriso bonito. Iria se divertir um pouco naquele baile chato.

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Na pista de dança…

A dança com Miguel estava muito divertida, eles rodopiavam e riam pelo salão. Quando a música terminou e a próxima estava para começar, Miguel novamente mostrou um sorriso malicioso.

— Parece que alguém tomou coragem para se aproximar. – Miguel a avisou.

— O que!? Ele está vindo para cá!? – Charlotte arregalou os olhos.

— Calma, não entre em pânico. – Miguel replicou, tentava segurar o riso.

— Não entrar em pânico? O que raios ele está fazendo vindo para cá!?

— Acho que vamos descobrir agora. – Miguel falou baixo.

— Com licença…, eu gostaria de saber se a milady aceitaria me dar a honra da sua companhia e me conceber a próxima dança? – O rapaz a convidara lhe estendendo a mão e Charlotte ficou sem reação e começou a gaguejar.

— E-eu… eu…

— Ela aceita. – Miguel respondeu por ela, pegando na mão de Charlotte e a colocando na mão estendida do rapaz. Charlotte o repreendeu com o olhar e Miguel a olhou divertido como resposta. Charlotte voltou a olhar para o rapaz, o qual ainda sustentava sua mão, ele parecia ansioso por sua resposta e, diante daqueles olhos castanhos olhando fixamente para ela, Lottie não conseguiu conter um pequeno sorriso e então a resposta facilmente saiu da boca dela.

— Sim, eu aceito com o maior prazer. – Ela disse. O rapaz esboçou o mais belo sorriso com covinhas que ela já vira e então tomou o lugar de Miguel, que se afastou ainda com o maldito sorriso malicioso nos lábios.

Charlotte estranhava a situação em que se encontrava agora. Ela nunca havia dançado com outro alguém que não fosse da Jolly Roger – principalmente seu pai e Miguel – aquele rapaz era um completo estranho, “um completo lindo estranho” pensou ela ao olha-lo mais de perto, Charlotte não podia ver o seu rosto por completo por conta da máscara, mas seus olhos castanhos e o sorriso de covinha eram completamente estonteantes. Eles estavam muito perto, tanto que Charlotte conseguia sentir o cheiro amadeirado que emanava do rapaz. Ele soltou uma pequena risada, que chamou Charlotte de volta a realidade.

— Do que está rindo? – Ela questiona percebendo a garganta seca, o que diabos estava acontecendo com ela?

— Nada, apenas constatei que a milady não tem apenas o sorriso bonito, os olhos também são muito belos. – Ele a elogiou e Charlotte corou com aquilo.

— Por que me chama de milady? – Ela seguiu com a conversa.

— Por que a milady ainda não me disse seu nome.

— Nem você o seu. – Charlotte contrapôs e o rapaz abriu outro sorriso de covinhas.

— Touché. – Ele dá um giro com ela, a direciona para o lado e a traz de volta para seus braços. De costas para ele, Charlotte se arrepia quando os lábios do rapaz se aproximam de seu ouvido sussurrando. – Vamos fazer assim, você não me diz quem é, se assim preferir, e eu não digo quem sou. O que acha de apelidos?

Charlotte gira e fica de frente para ele, apesar de estranhar os efeitos que aquele rapaz estava causando sobre ela, o sorriso travesso, típico de Charlotte, surgiu em seus lábios rosados. Os olhos do rapaz brilharam com aquela nova descoberta.

— Que assim seja então. – Charlotte se aproxima mais dele, ficando um pouco na ponta dos pés. – Irei chama-lo de estranho.

— Estranho? – Ele franze o cenho ao ouvir o curioso e não muito criativo apelido que ela atribuiu a ele.

— Achei que “bonito estranho” seria muito longo. – Charlotte confessa sem vergonha alguma dando de ombros. O rapaz a sua frente soltou uma alta risada. – E afinal é o que você realmente é, não é?

— Está bem então, eu serei seu estranho, e você será meu bonito sorriso. – Charlotte sente o rosto corar e o sorriso aumentar com o comentário do estranho.

— Então que assim seja… estranho.

Aos risos e flertes eles deslizaram pelo salão.

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Nos corredores do castelo…

Tudo estava exatamente como ele se lembrava, cada vaso, cada quatro, escultura e cortinas… exatamente como ele se lembrava de ter deixado para trás na última vez em que esteve ali. Era impressionante que, mesmo depois de tantos anos, tudo ainda parecia igual. Ele se perguntou porque Henry não mexeu na decoração do castelo já que sabia que cada pedaço daquele lugar fora ele e Emma que haviam decorado.

A cada virada de corredor uma lembrança chegava à mente de Killian, lembranças boas, que criaram imagens em sua cabeça de como seria se Charlotte tivesse crescido correndo por aqueles corredores e seu maxilar se trincou de raiva. Aquele castelo fora feito para abrigar sua família e por conta daquele maldito crocodilo sua família foi separada.

Ele conteve a vontade de entrar nos cômodos de cada porta pelas quais passavam, não podia se distrair totalmente com suas lembranças, ele tinha que focar em sua missão. Seus pés ainda lembravam o caminho para a sala de treino de Emma, onde o livro deveria estar. A cada guarda que estava prestes a passar por eles no corredor, Killian puxava Regina para se esconder em uma das passagens secretas, então foi com grande facilidade que agora ele e Regina estavam de frente as tão conhecidas portas brancas. É Regina quem abre as portas enquanto ele apenas fica encarando sem conseguir fazer nada, apenas seguindo Regina para dentro do cômodo.

A antiga sala de treino de Emma estava igual, assim como todo o resto do castelo, com uma única diferença, parecia que ninguém mais havia entrado naquele lugar, estava empoeirado e com bastante sujeira. Killian teve a certeza que a última pessoa que entrou ali foi Emma, há muitos anos atrás.

— Vamos vasculhar, o livro deve estar aqui em algum lugar. – Regina se fez ouvir, o trazendo para a realidade. Killian concordou com a cabeça e logo eles começam a procurar. Uma nuvem de poeira subia com cada coisa que eles mudavam de lugar.

— Killian, eu achei! – Regina diz de repente, depois de vários minutos, dentro dos quais Killian estava se convencendo que Emma se equivocara.

Ele se aproximou rapidamente, Regina segurava um enorme livro que mesmo com uma camada enorme de poeira era possível ver uma capa de couro preta.

— Tem certeza que é este? – Killian perguntou, queria ser cauteloso.

— Sim, tenho. – Regina respondeu se aproximando de uma mesa cheia de papeis e fracos, colocou o livro ali e o abriu. – Veja, não é a letra de Emma?

— Sim, é este o livro. – Killian confirmou, olhando para a caprichosa letra de Emma. De acordo com as anotações dela, aquilo era uma instrução de um antigo feitiço. – Como iremos passar despercebidos se este livro não é nada discreto?

Regina fechou o livro e passou a mão por cima dele e uma fumaça roxa o encobriu e o livro de Emma encolheu. Ela pegou o minúsculo livro e o colocou no bolso do traje de Killian.

— Resolvido. – Regina o respondeu.

— Esperto, majestade.

— Obrigada…, e não me chame assim. – Regina replicou encaminhando-se para a porta. – Vamos, nós temos que entregar isso a Emma.

Rindo, ele seguiu Regina até a porta. Ao saírem da sala, o riso de Killian morreu pois encontrara guardas bem de frente a ele.

— Vocês! Parados aí! Vocês não têm autorização para entrar nesse quarto! – Se pronunciou um deles. Regina e Killian se entreolham, estava na hora do plano b.

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No salão de baile....

Charlotte estava encantada e inebriada com aquele momento que estava vivendo com o estranho. Eles conversavam sobre as vestimentas e narizes empinados das outras pessoas do salão, provocando riso entre eles. O rapaz parecia conhecer o seu irmão, pois comentava sobre seu péssimo gosto, como se fosse próximo dele de algum modo, Charlotte não sabia se gostava ou não daquela descoberta. No momento, ela não queria pensar naquilo, só queria aproveitar o doce momento nos braços do estranho.

Ainda dançando, ele a levou para a varanda mais próxima, saindo do olhar de todos no salão. Lá, ele se afastou um pouco dela, segurando sua mão, ele encostou no parapeito, ficando de frente para ela.

— Eu gostei do seu colar. – Ele comentou e Charlotte sorriu, olhando para o seu colar com pingente de cisne.

— Minha mãe quem me deu.

— Você é daqui do reino dos cisnes? – O Estranho perguntou ao observar que o pingente era um cisne.

— Por estar me fazendo essa pergunta você, com certeza, não é daqui. – Charlotte evitou ser muito direta na sua resposta. Ele ri e concorda com a cabeça. – De onde você é?

— Floresta encantada. – Responde ele, ignorando que ela não havia respondido apropriadamente.

o reino dos meus avós” pensou ela.

— Eu nunca fui para lá. – Charlotte comentou. “tirando as vezes que fomos nos encontrar com Regina e papai não me deixou sair do navio”. Seu pensamento completou.

O rapaz olhou surpreso para ela, ele nunca havia conhecido alguém que não tenha ido pelo menos uma vez para a floresta encantada.

— Um dia eu a levo lá. – O estranho declarou. Parecia uma promessa e os olhos azuis de Charlotte brilharam.

Sem pensar muito, Lottie começou a se aproximar do rapaz, seus lábios estavam cada vez mais próximos um do outro, faltavam centímetros para se beijarem e então sinos começaram a ecoar por todo o castelo e a música no baile parara de tocar. O rapaz se afastou em um salto e Charlotte ficara sem entender.

— Estamos sendo invadidos. – Ele solta em um fio de voz.

Charlotte havia entendido agora. Eles haviam sido pegos, estavam em fuga. Ela se afastou ainda mais do rapaz e ele tentou a impedir de sair da varanda, mas Charlotte se desvencilhou e voltou para o salão de baile com o rapaz a tiracolo.

As pessoas gritavam e algumas corriam, Charlotte viu o seu pai e Regina correrem para dentro do salão enquanto lutavam com alguns guardas. Logo os marujos vieram ao auxilio deles e uma pequena batalha se iniciou.

— São piratas! – Ela escuta o rapaz vociferar e, de canto de olho, o vê tirar a espada da bainha. No meio da confusão ela avista Miguel lutando com uma espada em mãos e ele também a viu, pois corria em sua direção. Seu estranho pensa que é um ataque e avança em Miguel.

Pensando rápido, Charlotte fez uma espada surgir em suas mãos em meio a uma nuvem de fumaça azul, parando o rapaz com sua espada, bloqueando o caminho até Miguel. Os olhos castanhos à sua frente a olharam espantados.

— O que está fazendo!? Está com eles!?

— São a minha família. – Charlotte explicou, tentando desarmá-lo, sem sucesso. Ele era tão bom quanto Charlotte no manejo de espadas.

— Você… você é uma pirata!?

— E uma bruxa! – Charlotte declara e levanta a mão direita.

Todos no salão que não eram de sua família paralisaram, Lottie deu uma última olhada no seu estranho e toda a magia do olhar dele havia ido embora. Ela sentiu Miguel puxa-la pela mão para fora dali junto com os outros, ainda tinham que enfrentar os guardas nos corredores e eles lutavam para tira-los do caminho, Charlotte e Regina usavam magia para isso.

— Lottie nos tire daqui! – Ela ouviu seu pai gritar atrás dela. Charlotte faz um floreio com as mãos, mas nada aconteceu. Ela tenta outra vez e novamente nada aconteceu.

— Eu não consigo nos tele transportar. – Charlotte gritou de volta enquanto lançava para longe alguns guardas com magia e atacava outros com a espada que ainda segurava.

— Eu também não consigo! – Regina se fez ouvir depois que também tentou. – Tem feitiços de anti-teletransporte no castelo!?

— Eu não faço a mínima ideia! – Killian respondeu. – Mudança de planos! Marujos, corram todos de volta para o navio! Ataquem qualquer coisa que avançar para cima de vocês!

— Quer que corramos feito loucos até o navio? – Smee questionou a sanidade daquele plano

— Charlotte os tele transportará quando todos estiverem fora dos terrenos do castelo. – Killian informou. Lutando, ele alcançou a filha e a segurou pelos ombros para que prestasse atenção.

— Querida, Regina e eu iremos levar o livro para sua mãe, você tem que levar todos para a Jolly em segurança e me espere lá. Eles dependem de você, Charlotte. – Killian ordenou e Lottie balançou a cabeça em concordância, ele a beijou na testa e correu até Regina.

Foi difícil, mas eles conseguiram chegar até a porta de saída. O feitiço de paralisação de Charlotte devia ter perdido o efeito, pois pessoas em trajes de gala, algumas com espadas na mão, corriam atrás deles tentando impedi-los de fugir, Charlotte lutou com alguns deles e se surpreendeu em como aquelas pessoas tão bem vestidas lutavam bem.

Lottie acabara por perder seu pai de vista, mas ela conseguia ver em meio a luta que os marujos estavam conseguindo fugir, e ela facilitava a fuga lançando para longe vários convidados da festa, sempre observando o que os marujos estavam fazendo. Ao saírem do castelo, viu eles correrem para a direita do castelo e ela, assim como outros convidados, seguiu os marujos. Charlotte logo descobriu que se tratava de um estábulo e soltou uma risada em contentamento, em seguida paralisou a esmo algumas pessoas que ainda a seguiam e correu para dentro, ela parou quando avistou um cavalo de pelugem branca, uma placa em sua baia dizia o seu nome.

— Lua… pode me dá uma ajudinha, Lua? – ela abre a porta, soltando a égua e em um estalar de dedos uma nuvem de fumaça azul claro encobre a égua e no momento seguinte, ela já estava selada. Com um grande impulso, Lottie subiu no cavalo, saindo em disparada.

Voltando para a entrada do castelo, ela observou que alguns poucos ainda lutavam, Miguel entre eles. Charlotte cavalgou até ali e lançou longe os oponentes de seus amigos e em um rápido movimento, puxou Miguel para cima de seu cavalo. Com o canto dos olhos, antes de sair em disparada, ela avistou seu bonito estranho a olhando e, ao lado dele, uma moça de vestido amarelo.

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Na entrada do castelo....

É claro que ele sabia que aquelas pessoas com quem lutava estavam com Regina, mas ele e sua irmã, que lutava ao seu lado, tinham que manter o papel de guarda costas do rei.

Ao longe, ele avistou a moça de sorriso bonito, correndo e lançando pessoas pelo ar, ela ia em direção aos estábulos. A perdeu de vista e quando a encontrou novamente ela estava em cima de um cavalo, resgatando o resto dos piratas, indo embora. Ele não podia deixa-la ir embora assim.

Sem pensar, correu até os estábulos e sua irmã seguiu em seu encalço.

— O que você pensa que está fazendo!? – ela questionou quando o alcançou.

— Eu vou atrás dela. – Ele respondeu enquanto equipava o primeiro cavalo que encontrou em sua frente.

— Você enlouqueceu!? Regina disse para deixá-los ir.

— Eu sei o que ela disse, mas não posso deixa-la ir assim. – Ele tentou explicar, já terminando de aprontar o cavalo.

— Vai comprometer toda a missão! Se papai souber disso ele te mata. – Sua irmã insistiu em impedi-lo.

— Ele não irá saber, porque você não irá contar. – Ele contra-argumenta, lançando uma piscadela ao subir no cavalo, ela bufa e revira os olhos.

— Está bem! Mas, tome cuidado, eles podem achar que não está do lado deles. – Ela recomendou e se aproximou da parede de madeira, dando um soco nela. A parede se abriu e ela puxou algo de dentro, um arco e flecha. – Tome isso, sabemos que é muito melhor que uma espada.

O jovem sorri e pega o arco e flecha da irmã, colocando-o nas costas.

— Como você...?

— Tenho que deixar arcos e flechas reservas por aí, sabe como é.

— Sim, sei. – Ele ri e sai em disparada, deixando a irmã e o castelo para trás.

E assim foi o meu primeiro baile e minha primeira missão importante… Aquele dia foi inesquecível e mágico. A noite não terminou como planejamos, mas tudo acabou dando certo, papai e Regina conseguiram o livro que ajudaria mamãe a nos livrar da maldição e nós duas finalmente estaríamos livres.

Mas não foi apenas por isso que aquele dia se tornou inesquecível e mágico para mim. Aquele dia, o dia do meu primeiro baile, foi o dia em que o conheci. Eu não fazia ideia, mas tinha acabado de conhecer o meu amor verdadeiro…