Se havia algo que Harry Potter, O-menino-que-sobreviveu, não sabia fazer de jeito algum era falar, mas falar sobre algo específico.

Ele não sabia falar sobre sentimentos.

Era algo impossível pra ele. Sua língua travava, embolava e as palavras saiam na ordem inversa.

Por isso, dessa vez, ele escrevera antes o que ia falar. Estava orgulhoso de si mesmo, obrigado. Havia feito o melhor pedido de desculpa do século, quiçá do milênio! Sorriu para si mesmo e entrou na chaminé, dizendo em alto o endereço da casa de Hermione.

Draco havia fugido para lá na noite em que brigaram; de alguma forma o sangue puro e a sangue ruim haviam se tornado mui amigos, vaia ironia.

Quando saiu da chaminé, tirando o pó da capa, ele olhou em volta e deu de cara com o rosto enfurecido de Hermione. Oh, Merlín, seja piedoso! Rogou mentalmente enquanto dava a amiga o seu melhor sorriso.

Cumprimentou-a, recebendo um bom dia irritado, e perguntou se Draco estava.

— É claro que está seu desalmado, insensível, trasgo! Ele não sai do quarto desde que chegou!

Harry, relutante, seguiu para o quarto da amiga. Bateu na porta e escutou algo que deveria ser um “entre”, mas não passou de um muxoxo audível. A escuridão tomava conta do lugar e uma respiração pesada, o ar.

O moreno aproximou-se, devagar, da cama e sussurrando lumus, viu a face de seu loiro. Tão abatido e frágil, com certeza havia chorado o tempo todo. Harry merecia a morte, por ter feito um ser tão lindo sofrer.

Então todo o discurso do milênio fora esquecido e no meio do breu um simples pedido de perdão, ouvido. Depois disso o silêncio. Draco encarou-o firmemente. Suspirou e disse:

— Estava tomando poções. — Pegou as mãos de Harry e colocou-as sobre sua barriga, com lágrimas nos olhos e um singelo sorriso, continuou: — Vamos ter um bebê, Harry.