Ferrugem e Facas

Capítulo Único


Izumi lhe dá uma faca.

Qualquer outro ficaria confuso em receber algo assim da filha, mas ele não. Para ele aquela faca é mais significativa do que se ela lhe desse todos os segredos do universo.

Ele se lembra de quando encontrava várias daquela espalhadas pelo quarto; às vezes até cortava as mãos ou os braços, porque elas estavam sempre debaixo de um lençol ou um travesseiro. De como ela sempre brincava com uma quando estava entediada, girando-a nos dedos, fazendo desenhos no chão ou nas árvores, uma vez até tentou ensiná-lo a mirar e atirar, mas então desistiu porque a irritava mais do que um pôr do sol laranja.

Ele não estava por perto quando ela ficou versada com suas armas, mas apesar da antiga imagem dela que ele guarda na mente – uma garota tímida com fitas cor-de-rosa – aquelas facas sempre seriam uma parte de Mai.

Agora, depois de uma onda de nostalgia, ele segura a faca em suas mãos. Aquelas outras, brilhantes e afiadas, de sua memória substituídas pela opaca e cega que ele carrega. A ferrugem e os sinais de abandono apenas fazem a melancolia ficar mais forte dentro dele.

— As crianças acharam enquanto brincavam no jardim, — Izumi explica com uma voz suave, — Acho que ela perdeu durante o treino e nunca percebeu.

Zuko acena lentamente. Era o que mais fazia sentido, já que ninguém mais usava aquelas facas pelos arredores do palácio.

— Ela sempre as esquecia nos lugares mais inconvenientes.

Ele envolve sua mão em volta dela, um sorriso saudoso segurando qualquer lágrima que ele ainda possa ter. Diferente das outras, essa ele não vai presentear, nem colocar num vidro para ser exposto às gerações futuras.

Essa, velha e enferrujada que nem ele, ele vai carregar consigo. Ele vai carregar essa pequena parte dela, mesmo que não sirva para mais nada.

Ele vai guardar um pedaço dela, até que eles possam se ver de novo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.