Confiança

Dentro do quarto, Flynn estava virado de costas para a porta. Elsa, de mãos levantadas, tentava acalmar o namorado. No chão, perto dos pés de ambos, um abajur quebrado explicava a fonte do barulho. As mãos de Flynn estavam machucadas.

– Flynn, eu juro, eu não tenho idéia do que ele esta falando, eu nem falei com ele depois do festival!

O rosto do jovem estava transfigurado pelas emoções. Raiva, mágoa e incredulidade dançavam nos olhos dele sem parar. Merida tentou se recuperar e sair do quarto silenciosamente, mas o casal não parecia ter notado sua chegada.

– Ah não, e por que diabos ele ia mandar uma mensagem como essa? – Flynn chacoalhou o celular na mão e o atirou na cama sem nem mesmo piscar.

– E-eu não sei, por favor você precisa acreditar em mim amor... – Ela fez um movimento para se aproximar mas ele a olhou com tanta raiva que ela parou no meio do passo.

Uma voz na cabeça dele tentava convencê-lo de que talvez estivesse fazendo uma tempestade por algo muito pequeno. Que podia ser um engano. Poderia ser uma brincadeira de mau gosto. Mas suas emoções tomaram o melhor dele e ele saiu tempestuosamente do quarto, sem olhar para trás. Soluço viu marcas de batom no rosto dele quando passou.

Elsa estava ainda de costas para a parede, mão na cabeça e desespero em seu rosto. Merida percebeu que o cabelo de Elsa estava amassado e devagar as coisas começaram a fazer sentido.

Quando Elsa finalmente saiu do quarto e entrou no banheiro, os quatro jovens se aproximaram cautelosos da cama onde o celular estava. O aparelho ainda brilhava branco, uma mensagem piscando na tela.

Jack pegou o celular na mão como se fosse uma bomba prestes a explodir e leu.

A outra noite foi ótima Elsa. Espero que possamos sair logo para aquela bebida que você prometeu. Beijos, até sua próxima “escapada”. – H

Rapunzel levou uma das mãos a boca para abafar o suspiro surpreso. Ela chacoalhava levemente a cabeça. Jack tinha as sobrancelhas cerradas mas não disse nada. Soluço tirou o celular da mão do amigo e viu o numero.

Merida por sua vez foi atrás de Elsa. Ela queria explicações e as teria direto da fonte.

Socando a porta com força, ela começou a chamar Elsa. Tomou um susto quando a porta foi aberta quase imediatamente.

A silhueta de Elsa recortada contra a luz do banheiro lhe dava uma aparência surreal, quase assustadora de mais para ser verdade. Seu rosto estava serio e frio, como um iceberg silencioso.

Quando falou, sua voz mandou calafrios pelos braços de todos, fazendo Merida sacudir o corpo involuntariamente.

– Eu não quero falar com ninguém, ver ninguém ou ouvir ninguém. Fui clara?

Merida, que em circunstancias normais teria retrucado, deu um passo atrás, ainda em choque.

– Clara como gelo. – Jack deu uma risada sem graça e puxou Merida de perto da porta, enquanto Rapunzel, tentando manter a calma, colocava uma mão nas costas da amiga.

A porta bateu contra as dobradiças novamente, fazendo Soluço pular.

Do lado de fora, já dentro do carro, Flynn estava sentado, mãos agarrando o volante e cabeça pendendo de encontro à buzina. Seus pensamentos corriam em uma velocidade insana e ele simplesmente não conseguia concentrar-se em uma explicação lógica para o que acabara de acontecer.

Era verdade que, desde que descobrira a presença de Hans na cidade, ele estava usando o máximo de seu autocontrole para não se importar, para manter o ciúme sob controle.

Talvez tivesse sido o acumulo durante os últimos dias que o fizera explodir daquele jeito. Por um momento considerou subir e conversar de cabeça fria com Elsa. Ele devia a ela pelo menos uma chance de se explicar.

Dando um longo suspiro, ele saiu do carro e se encaminhou para a porta da casa. Ao chegar ao final da escadaria, fechou os olhos e foi de encontro a porta do banheiro. Bateu uma vez e chamou gentilmente o nome da namorada.

Levou um tempo, ate que Elsa finalmente respondeu, ainda sem abrir a porta.

– O que você quer Flynn?

– Eu queria... Pensei que poderíamos, quem sabe... Conversar? – Ele esperou incerto.

– Eu pensei que confiasse em mim Flynn. – E ele foi surpreendido pelo tom monótono e cruel da voz dela. – Parece que eu estava errada. Eu quero ficar só, esta bem?

E com isso, ele sentiu a raiva borbulhar de novo.

– Como você acha que eu deveria reagir? Você ainda tem sentimentos por aquele babaca Elsa, não tente negar. E você não é exatamente a pessoa mais aberta quando se trata dos seus segredos. Isso torna confiar em você complicado pra caramba!

Quando não recebeu nenhuma resposta, ele virou nos calcanhares de e desceu as escadas mais uma vez, bufando. Apenas quando ouviu o som de pneus na grama foi que Elsa deixou os soluços escaparem, um após o outro em um frenesi incontrolável.

No quarto dos garotos, os quatro adolescentes ouviam a tudo, os rostos constrangidos e nervosos. Jack brincava com um fio de cabelo de Rapunzel distraído e Merida descansava a cabeça no peito de Soluço que olhava para o teto preocupado.

– Você acha que eles vão ficar bem? – Rapunzel perguntou, insegura.

– Não sei. Eles já tiveram brigas antes? – Soluço perguntou.

– Uh varias. Mas elas geralmente terminavam com uma seção de amassos. – Merida disse, rindo sem humor.

– Hum. Vocês acham que ela saiu com Hans? – Jack perguntou, perdido em pensamentos.

Rapunzel virou a cabeça de uma vez e Merida se catapultou do peito de Soluço, dizendo em uníssono.

– Não!

– Só checando. – Jack disse, levantando as mãos para acalmar as garotas que estavam olhando zangadas.

– Eu so não entendo por que Elsa não quis conversar com Flynn quando ele bateu na porta. – Soluço disse, pensativo.

– Elsa é... Complicada. – Rapunzel disse, sorrindo minimamente.

– Ela tem problemas para confiar nas pessoas. Mais ainda acreditar que elas confiam nela. – Merida continuou, coçando o rosto. – Saber que Flynn não o faz meio que confirmou os medos dela.

Rapunzel tocou os dedos de Jack suavemente e ele os entrelaçou

– Bom, acho que são vamos saber o resultado desse problema amanha. Vamos dormir.

E dizendo isso, Soluço e Merida deitaram na cama no garoto, ele abraçando-a por trás e enterrando seu rosto nos cachos rubros da garota.

Jack passou um braço ao redor da cintura de Rapunzel e deitou de bruços, enquanto ela abraçava seu pescoço folgadamente.

Longe dali, no bar da cidade, Flynn estava sentado, bebida em mãos e cabeça baixa, uma careta de poucos amigos no rosto. Sentados um pouco afastados o ruivo e a morena trocaram um olhar e ela se levantou, caminhando inocentemente na direção de Rider.

– Ola. Você parece triste, qual o problema? – Heather questionou, um pequeno sorriso em seus lábios. Flynn mal levantou a cabeça.

Ele estava acostumado com flertes. Pelo amor de Cupido, ele era o rei dos flertes e cantadas. Mas seu raciocínio já não estava tão claro e ele estava carente.

Sorrindo de volta para a garota mais nova, ele disse que não se preocupasse.

Quando ela insistiu, ele então contou o que tinha acontecido, aceitando bebida atrás de outra, oferecidas docemente por Heather.

É, aquilo definitivamente não iria acabar bem

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