Femme Fatale

Capítulo 8: Guarda-costas parte 3


Mina e Nikita foram ao apartamento da primeira. Resolveram não se embebedar dessa vez. Mina serviu chá inglês. Colocaram música no CD player e sentaram-se no chão entre almofadas.

- Este é o meu preferido, Lou Reed. - Comentou Mina.

- É? Desde quando você curte dinossauros do rock? - Comentou Nikita distraída, procurando almofadas mais fofas.

- Ei, Lou Reed é eterno. Mais Respeito. - Mina brincou.

- Como é mesmo o nome daquela banda que tocava com ele? Veludo alguma coisa... - Nikita levantou-se e foi até a chaleira pôr mais chá na xícara. - Você quer mais chá Mina?

- Eu, não sou uma esponja, sabia? Mas, tudo bem, enche a minha xícara também.

Nikita recebeu a xícara quase cheia de Mina e lhe entregou a xícara que havia acabo de servir. A seguir terminou de encher a xícara de Mina e ficou com ela.

- Isso não me parece muito... seguro. Dizem que se você beber da xícara de outra pessoa, acaba descobrindo seus segredos. - Mina observou.

- Mesmo? E quais são seus segredos Mina?

- Bem, ah... O mesmo de todo mundo, vida particular, amores, sonhos... Quais sãos os seus Jane?

- Eu? Eu sou uma ex-presidiária.

- Realmente? E o que você fez?

- Matei um homem.

- Sério? Você não me parece do tipo que mata alguém.

- E acaso você já conheceu algum assassino?

- Não, mas... tem os filmes.

- É, os filmes.

- Me conta... o que ele fez pra... você matá-lo?

- Ah, ele tentou me assaltar com uma faca.

- Então... então foi... legítima defesa... Não foi?

- Foi. Mas o juiz não viu dessa forma. Mina, acho melhor você deitar um pouco. Não parece bem.

- É... eu tou um ... pouco zonza... - Mina desabou sobre as almofadas e passou a ressonar alto.

Nikita ficou de pé e aproximou-se da outra. Arrastou-a para a banheira de metal esmaltado no outro cômodo. Passou a despi-la. A seguir tirou as próprias roupas e as vestiu em Mina. Soltou os cabelos dela e ajeitou-os para cobrir-lhe o rosto. A seguir vestiu as roupas masculinas de Mina e prendeu os cabelos para ficar parecida com a outra. Voltou ao quarto da outra. Guardou suas coisas, inclusive o sonífero que usara para sedar Mina. Pegou um estojo de canetinhas coloridas e procurou um espelho. Passou a desenhar um pássaro na própria nuca.

...

- Besson, eu preciso de companhia feminina. Aquela garçonete do bar... Ela era uma coisinha linda. Poderia trazê-la para mim? - Trácio falou com uma inflexão suave na voz, como se fosse um menino pedindo doce.

Michael olhou-o com um aperto na garganta. Certos indivíduos que ele conhecia, lhe causavam asco. Mesmo assim, aprendera a lidar com eles. Isso era apenas trabalho, e ele tinha que fazê-lo bem feito.

- Eu preciso dar um telefonema. - Michael respondeu afastando-se de Trácio, já com o celular na mão.

...

Davenport e Payne eram dois agentes de campo da Section, que estavam na cidade para dar apoio a Michael e Nikita. Eles atenderam prontamente ao pedido de Michael, que exigiu a captura de uma nativa albina, que tinha uma tattoo na nuca. Deu-lhes o endereço da jovem e onde deveriam entregá-la. Assim eles fizeram. A moça em questão, não ofereceu-lhes nenhuma resistência, limitando-se a ficar encolhida com a cabeça baixa. Ela foi nocauteada e enrolada em um tapete. Eles entregaram a encomenda no porão da casa de Trácio. Depois saíram. Michael ficou coordenando toda a operação do seu carro, estacionado em frente à casa do cliente.

- Davenport, você não viu mais ninguém na casa da moça? - Michael perguntou pelo celular.

- Não, não havia mais ninguém.

- Ok, entrarei em contato mais tarde.

Michael achou estranho, Nikita desistir da moça tão facilmente. A jovem agente loira da Section tinha a inocência e a teimosia das crianças, que querem por todos os meios, salvar a vida do cachorrinho, do gatinho, do ratinho. O normal seria que ela enfrentasse Davenport e Payne de armas em punho, tentando salvaguardar a integridade de sua amiga. Talvez por isso Michael tenha chamado outros agentes, pois ele não conseguiria matar Nikita, mesmo no cumprimento do dever. Algo estava errado. Michael dirigiu até o apartamento de Mina e entrou pela porta arrombada. Vasculhou tudo, inclusive o outro cômodo. Percebeu Nikita deitada de bruços na banheira. Foi até ela, ficou de joelhos e acariciou-lhe os cabelos. Abaixou-se para beijá-la, quando viu o pássaro tatuado na nuca. Ele deu um pulo e saiu em desabalada correria.

...

Trácio olhou excitado para o tapete enrolado no chão de seu porão. Puxou alguns ganchos de abatedouro que tinha no teto. Abriu sua gaveta de instrumentos cortantes. Calçou luvas e avental de açougueiro. Esta seria uma longa noite. Foi até o tapete e passou a desenrolá-lo. O corpo da jovem do bar ficou ao seu dispor, imóvel, de bruços.

Ele foi até ela e acariciou suas curvas. Puxou seu rabo de cavalo e expôs sua linda tattoo. Beijou-a. Deslizou o dedo pelas linhas da bela tatuagem. Ficou apenas um pouco surpreso por que suas luvas ficaram manchadas de tinta. Ele então ficou intrigado. Achou melhor pegar seus apetrechos e começar a diversão. Ao se levantar para pegar a faca de açougueiro, a jovem se virou e o agarrou pelo pescoço. Ele se viu face a face com Nikita.

- Oi Trácio! Estou pronta para brincar.

...

Michael invadiu a casa do informante e arrombou a porta que dava para o porão. Desceu uma escada de pedra, em espiral. Sacou sua arma e apontou para a jovem que estava no meio do recinto.

- Largue a arma Nikita.

Ela jogou a faca de açougueiro no chão.

- O que você fez, Nikita? Operations não vai gostar dessa história. Você será cancelada.

- Por que não me executa agora mesmo, Michael?

- ... - Michael limitou-se a balançar a cabeça. - Onde está o cliente?

- Está ali no chão. Ele me atacou com uma faca e eu me defendi. Foi legítima defesa. - Nikita falou com uma inflexão infantil na voz, imitando o modo de falar de Trácio.

Michael o encontrou caído sobre o tapete no chão, os olhos abertos, fixos no nada, com uma grande ferimento no peito, por onde jorrava sangue aos borbotões.

- A Section 1 não acreditará nessa história.

- Eu sei. Eles preferem acreditar em mentiras. Tudo bem. Já recebi a pena de morte uma vez. Pelo menos dessa vez, eu sei onde será minha última morada. Na verdade eu tenho pena de você, Michael.

- Por quê?

- Você já recebeu a pena de morte. Sua alma já deixou seu corpo e está no limbo. Somente sua carcaça continua viva. Acho que não gostaria de ter o seu destino.

- Você ainda é uma iludida e inexperiente. Ainda preza a vida dos outros mais do que a sua.

- O nome disso é humanidade.

- Não, é ilusão.

- A Section é uma ilusão. A vida real... As pessoas reais são as que vivem fora do domínio de vocês. Eu estou certa disso.

Michael guardou sua arma e aproximou-se de Nikita.

- As pessoas do mundo real criaram a Section 1. Pessoas em quem se acreditava e confiava. É só uma questão de tempo Nikita , para você mesma descobrir isso.

Michael a fitou enigmaticamente, a seguir lhe deu as costas e saiu do porão.

Nikita o olhou afastar-se dela e imaginou como, algum dia, ela poderia deixar de amá-lo. Agora seu futuro era sombrio, e com certeza seria executada com um tiro na nuca, no melhor estilo da máfia. Pelo menos ela se livraria do inferno conhecido como Section 1.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.