Sans abriu seus olhos, um pouco atordoado, e se deparou com várias árvores e arbustos, ele ficou bastante confuso, pois não sabia onde estava e nem como havia chegado ali. Sans se levantou do chão e bateu a terra de suas roupas, colocou a mão em seus bolsos, na tentativa de procurar seu celular, mas eles estavam vazios. Ele deu um suspirou e como não havia outra opção, começou a caminhar mata adentro.

Olá? Tem alguém ai? ─ Gritou para o nada, mas o único som que teve como resposta foi o do vento batendo nas folhas das árvores. Sans andou, andou e andou pelo que pareceram horas, até que resolveu dar uma parada, para recuperar suas energias. Ele se sentou com as costas em uma árvore, fechou seus olhos e ficou ali sentado por algum tempo, até que o som de um galho sendo quebrado o fez abrir os olhos rapidamente. Sans levantou-se e foi na direção de onde havia escutado o som.

Quem ta ai? ─ Uma risada foi ouvida e logo em seguida passos que estavam se afastando. ─ Ei, espera! ─ Quando se deu conta, Sans estava correndo atrás da pessoa misteriosa, porém a pessoa era bem rápida, tão rápida que ele não conseguia vê-la, sendo guiado apenas pela sua risada. Depois de um tempo correndo, Sans acabou se rendendo ao cansaço e caiu de joelhos, com a respiração ofegante.

A pessoa parecia ter mudado de ideia e começou a caminhar em sua direção, até ficar frente a frente com ele, como Sans estava com sua cabeça abaixada, ele conseguiu apenas vislumbrar os pés descalços e sujos da pessoa. Ela segurou a cabeça de Sans com suas mãos e a virou para cima, fazendo com que ele a encarasse.

Você devia olhar nos olhos das pessoas enquanto fala. ─ Ao reconhecer a pessoa, Sans arregalou seus olhos e ficou completamente pálido. ─ O que foi? O gato comeu sua língua?

─ Fri-Frisk? Deuses! É você mesmo? ─ Ele não conseguia crer no que seus olhos viam, Frisk estava morta, ele a tinha matado, então como ela poderia estar bem ali? Quando a ficha finalmente caiu, Sans se recompôs e começou a suar frio devido ao nervosismo, pois ele tinha certeza de que Frisk não iria ficar calada, então ele estava ferrado. ─ Olha, Frisk, esqueça tudo o que eu disse antes, ok? Eu estava nervoso, aquilo foi tudo coisa do momento... E aquilo foi um acidente, eu juro! Você está bem e é isso o que importa, então vamos apenas voltar e esquecer tudo isso.

─ Voltar? Eu não posso voltar...

─ Como assim? Bem, não tenho tempo pras suas crises de adolescente. Como eu vim parar aqui e onde é a saída daqui? Estou procurando há horas e nada. ─ Frisk riu como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo, Sans apenas a encarou confuso.

─ Saída? Não há saída. Você vai ficar aqui comigo, pra sempre. ─ Disse dando um sorriso inocente, que chegava a ser assustador.

─ Acha mesmo que pode me prender aqui? Sabe, acho que seria melhor você ter continuado se fingindo de morta. ─ Ele tentou se virar para ir embora, mas suas pernas pareciam estar presas em algo, ao olhar para baixo, Sans arregalou seus olhos e gritou. Duas mãos tinham brotado do chão e estavam segurando suas pernas com força. ─ Que...QUE MERDA É ESSA?

─ Ah, é o nosso filho, ele deve estar querendo brincar com você. ─ Ela falou calmamente, enquanto assistia Sans afundar na terra. ─ Bem, não irei atrapalhar, divirtam-se.

─ E-ESPERA! ─ Frisk o ignorou e começou a caminhar para longe do local. Sans fincou suas unhas no chão, na tentativa inútil de se libertar, mas as mãos as seguravam firmemente, a única coisa que ele conseguiu fazer foi gritar, enquanto era arrastado para dentro da terra.

Sans acordou em meio aos seus próprios gritos, ele estava completamente suado e com sua respiração ofegante. Seus olhos vagaram por todo o local, ao reconhecer seu quarto, Sans finalmente se acalmou e sua respiração voltou ao normal.

─ Nem mesmo morta você me deixa em paz... ─ Sussurrou para o nada e jogou um travesseiro contra a parede, em seguida se jogou de costas na cama e fechou seus olhos, mas o som do despertador o fez abri-los novamente.

[...]

O dia correu normalmente, Sans foi para seu trabalho e deu aula até as 11h00min. Quando a sirene soou, anunciando o fim de seu expediente, ele arrumou suas coisas e foi até o estacionamento da escola, ao chegar a seu destino, acabou por se deparar com algo deverás estranho. Um papel estava preso no pára-brisa de seu carro, nele estavam rabiscadas as palavras:

“Eu sei o que você fez.”

Sans olhou ao redor do estacionamento, mas não avistou nenhuma pista de quem poderia ter colocado aquele bilhete ali, então ele apenas o amassou e o jogou fora, em seguida adentrou o veículo e deu partida. Durante a viagem, as palavras que estavam escritas no papel começaram a ecoar em sua mente, ao parar em um semáforo, Sans começou a balançar sua cabeça, na tentativa de afastá-las de sua mente. O semáforo deu sinal verde e ele continuou seu caminho, chegando a sua casa cerca de 20 minutos depois.

Ao chegar a sua casa, Sans guardou o carro na garagem e ao adentrar a sala, percebeu que um papel estava jogado no chão, na porta de entrada, ele se agachou e recolheu o papel, nele estava escrito:

“Você não pode escapar dos seus pecados.”

─ O que diabos... ─ Sans encarou o papel um tanto confuso, ele não fazia ideia do que estava acontecendo, então um flash do pesadelo que havia tido passou pela sua mente. ─ Será que.... Não, isso é tolice. ─ Sans amassou o papel e o jogou em um lugar qualquer, em seguida foi até o sofá e se jogou sobre ele soltando um suspiro, aquele estava sendo um péssimo dia.

[...]

Já fazia cerca de uma semana que Sans tinha encontrado os bilhetes, no decorrer desse tempo, ele se deparou com mais e mais bilhetes. No início, Sans apenas os ignorou, achando se tratar apenas de uma brincadeira idiota, mas com o passar dos dias, as mensagens iam ficando cada vez mais estranhas, chegando ao ponto de realmente incomodar ele.

─ Ei professor. Ta me ouvindo? ─ A voz o despertou de seus pensamentos, ele levantou seu olhar até onde tinha ouvido a voz, avistando Chara, que o estava encarando com uma expressão neutra.

─ Ah, precisa de alguma coisa?

─ Eu terminei minha prova. ─ Disse enquanto colocava um papel sobre a mesa. ─ Já posso sair?

─ Claro, pode sim. ─ Chara se virou e foi até a porta. Sans pegou a prova e deu uma rápida olhada, ele arregalou seus olhos e soltou o papel imediatamente, depois de alguns segundos se recuperando do susto, Sans recolheu a prova do chão e a encarou confuso, ele podia jurar que tinha visto no papel as palavras “assassino covarde”. Ele estava ficando louco?

─ Eu volto em um minuto, comportem-se. ─ Disse ao se levantar, em seguida saiu da sala e caminhou pelos corredores, até chegar ao banheiro. Ao adentrar o banheiro, Sans teve mais um susto, pois no espelho estava escrito com, o que parecia ser um batom vermelho, as palavras:

“Você irá pagar por ter matado ela.”

Sans rapidamente pegou alguns lenços de papel e começou a limpar o espelho, se antes ele não estava acreditando, agora não restava mais nenhuma dúvida, alguém sabia o que ele havia feito e a pessoa não iria parar até vê-lo enlouquecer.

[...]

O telefone de Sans começou a tocar, anunciando uma chamada, mas ele apenas ignorou o aparelho e o deixou tocar, tinha sido assim fazia semanas, Sans acabou se isolando em sua casa e cortou totalmente o contato com o mundo exterior. O motivo para tal decisão? Simples, a pessoa que havia lhe mandado bilhetes estava fazendo de sua vida um inferno, ele não conseguia mais sair na rua sem se sentir observado, não se sentia seguro em lugar algum, nem mesmo em sua própria casa.

Ele estava prestes a dormir, quando o barulho da janela batendo lhe despertou, Sans se levantou e caminhou em direção de onde havia ouvido o barulho, se amaldiçoando mentalmente, já era a terceira vez só naquela semana, que havia esquecido a janela aberta. Ao chegar no local de origem do som, Sans se deparou com a seguinte cena, Chara estava sentada em seu sofá.

─ Ops, parece que fiz muito barulho. ─ Chara se levantou, ficando de frente para Sans. ─ Uou cara, você está péssimo. A consciência ta pesando? ─ Disse dando um sorriso irônico.

─ O que diabos você....

─ Nossa você é mais lerdo do que eu pensei, bem, vou falar de uma forma que até você entenda. Como se sente ao saber que eu sei de tudo o que você fez?

─ Você... Era você esse tempo todo?! ─ Falou, com a raiva nítida em sua voz.

─ Bingo! Finalmente você entendeu. ─ Chara disse enquanto batia palmas. ─ Bom, agora chega de papo. ─ A expressão dela mudou, para uma totalmente seria.

─ Você não vai se safar dessa. ─ Sans caminhou em passos rápidos em direção a Chara, que permaneceu imóvel no lugar.

─ E o que você vai fazer? Me matar? Vá em frente. Mas saiba que se algo acontecer comigo, é questão de tempo para que você seja preso. ─ Ele parou quando estava apenas a alguns centímetros de distância dela.

─ Você está blefando.

─ Quer arriscar? ─ Disse dando um sorriso vitorioso.

─ O que caralhos você quer de mim? ─ Gritou enquanto cerrava os punhos.

─ Quero que você confesse.

─ Confessar? Eu não fiz nada de errado! É tudo culpa daquela-

─ NÃO OUSE! ─ Chara perdeu totalmente a calma. ─ Não ouse falar assim da Frisk. Você é um monstro! Como pode fazer aquilo com ela? Como pode assassiná-la a sangue frio? ─ Lágrimas começaram a rolar de seus olhos. ─ Ao menos me diga onde ela está. Ela merece pelo menos um enterro digno.

─ A CULPA FOI DELA! Eu não fiz nada de errado. Ela veio aqui e me tirou do sério, então ela bateu a cabeça e... Eu não queria ter matado ela... ─ Sans disse, caindo de joelhos no chão, sua mente estava no limite.

─ Bem, isso foi mais fácil do que eu pensei. ─ Chara soltou uma gargalhada, Sans levantou sua cabeça para encará-la e viu que a mesma segurava um gravador em sua mão. ─ Se eu fosse você, ia começar a pensar na desculpa que você vai dar pros policiais lá fora. ─ Ela mal terminou sua fala e batidas na porta foram ouvidas.

─ Aqui é a polícia, abram a porta.

─ Bem, acho que você tem visitas, então vou te deixar sozinho. Até nunca mais. ─ Chara foi até a janela por qual tinha entrado e pulou, ela colocou o gravador no chão e fez barulho, atraindo a atenção de um dos policiais. Chara se escondeu atrás de uma árvore e observou o policial pegador o gravador e ouvir seu conteúdo. Quando terminou de ouvir toda a gravação, o policial voltou até a porta da frente e a arrombou, Chara aproveitou esse momento para correr até o outro lado da rua, onde uma pessoa observava tudo nas sombras.

─ Você conseguiu?

─ E eu já te desapontei antes? ─ As duas assistiram enquanto os policiais saíram da casa com Sans algemado e o colocaram em uma das viaturas. ─ Agora ele vai pagar por tudo o que te fez Frisk. ─ Ela se aproximou da amiga e lhe deu um abraço. ─ Me desculpe, eu devia ter te protegido.

─ Não, a culpa foi a minha. Eu fui idiota, mas não adianta ficar se culpando agora. ─ Disse enquanto esfregava as costas de Chara.

─ Sim, você tem razão, o importante é que você está viva. ─ Ela rompeu o abraço e sorriu para Frisk. ─ Foi muita sorte terem te encontrado.

─ Sim... Muita sorte... ─ Uma enchente de memórias do que aconteceu naquele dia, começou a invadir a mente de Frisk.

Frisk acordou totalmente desorientada e confusa, ela se sentou no chão e tentou se limpar, pois estava coberta de sujeira e folhas. Depois de alguns minutos processando a situação, ela se levantou e se pôs a caminhar por entre a floresta. Frisk estava bastante assustada, não fazia ideia de onde estava e nem como havia ido parar ali, e o fato de que estava perto de anoitecer, apenas aumentava seu desespero.

Depois do que se pareceram horas caminhando, Frisk finalmente conseguiu chegar á estrada e acabou caindo de joelhos, devido ao cansaço. Ela ficou por algum tempo assim, até que um carro parou perto de onde ela estava. De dentro do veículo, saiu um garoto loiro, que correu em direção a Frisk.

─ Moça, o que aconteceu? Você está bem? ─ Disse o garoto enquanto se agachava. Frisk o encarou e de repente, começou a chorar. ─ Ei, calma, ta tudo bem. ─ O garoto colocou a mão sobre a cabeça de Frisk e afagou seus cabelos, na tentativa de consolá-la. ─ Meu nome é Josh, e o seu?

─ É Frisk... ─ Falou enquanto enxugava suas lágrimas. Josh ficou de pé e estendeu sua mão, ajudando Frisk a se levantar.

─ O que aconteceu? Você foi assaltada ou algo do tipo?

─ Eu só acordei aqui.... Não sei nem que lugar é esse. ─ As lágrimas ameaçavam cair novamente.

─ Ei, fica calma. Eu vou te ajudar, vem. ─ Ele segurou sua mão e a conduziu até o carro, Josh foi até o banco do motorista e Frisk ficou no detrás. ─ Onde você mora? ─ A única resposta que obteve foi o silêncio esmagador. ─ Então... Eu vou te levar até a minha casa, tudo bem? ─ Ela balançou a cabeça positivamente, Josh deu um suspiro e ligou o carro.

[...]

Frisk estava deitada na cama encarando o teto, fazia quase três dias que ela estava na casa de Josh, ele a havia tratado muito bem e tinha sido muito legal com ela, mas estava na hora de Frisk parar de se esconder e enfrentar seus problemas. Ela se levantou da cama e saiu do quarto, indo em direção a sala, onde encontrou Josh, sentado no sofá.

─ Oi Frisk, precisa de algo?

─ Na verdade sim. Preciso que você me empreste seu telefone.

─ Ah, claro. Sem problemas. ─ Josh colocou a mão em seu bolso, retirando dele o celular, ele se levantou e entregou o aparelho a Frisk, que agradeceu. ─ Bem, vou te dar um pouco de privacidade. Mas saiba que, seja lá qual for o seu problema, estou disposto a te ajudar. ─ Josh se retirou do cômodo, deixando Frisk sozinha.

─ Por que eu não te conheci antes...

─ Frisk, Frisk? Alô, terra para Frisk. ─ Disse Chara, despertando-a de seus pensamentos.

─ Ah, desculpa, eu me distraí. Bem, acho que é hora de ir.

─ Você sabe que não precisa ir embora por causa disso.

─ E você sabe que não vai me fazer mudar de ideia, já conversamos sobre isso.

─ Mas e a sua mãe?

─ Acredite, vai ser melhor ela pensar que eu estou morta. ─ Disse desviando o olhar para o chão. ─ Não se preocupe. O Josh disse que posso morar com ele e que vai me ajudar com a criança. Eu vou ficar bem.

─ Mesmo assim, eu vou sentir sua falta.... ─ Chara puxou Frisk para um abraço apertado.

─ Chara, você ta me esmagando.

─ Ah, desculpa, desculpa. ─ Disse enquanto soltava Frisk que riu em resposta.

─ Bem, até mais. ─ Frisk acenou e deu as costas, começando a caminhar para longe dali, Chara ficou a observando até que ela não pudesse mais ser vista.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.