Felizes Para Sempre

Os donos do mundo


Tudo começou em 1986 quando eu tinha 6 anos de idade e do outro lado da minha rua se mudou um pai e um filho da mesma idade que a minha, numa tarde de muito calor ele estava brincando no quintal sozinho e eu me aproximei parada na ponta da calçada da casa dele, quando finalmente ele me viu parou de brincar e ficou me encarando.

— Oi! - Eu disse a ele, Carlos Daniel ficou parado me encarando ainda. - Do que está brincando? - Novamente eu tento me comunicar com ele, e então eu me aproximo pegando um graveto enquanto ele aos poucos ia quebrando a timidez. - Vamos brincar do quê? - Eu faço uma última pergunta e ele dá um sorriso se aproximando de mim.

— Guerreiros. - Ele me responde, me lembro que fiquei muito brava.

— Não... Isso é brincadeira de menino, não tem graça. - Eu replico a ele que vem todo bravo para mais perto de mim e toma o graveto de minha mão.

— Então você não brinca. - Ele me respondeu, meu Deus eu havia ficado tão triste porque era a primeira criança de meu bairro a se mudar para lá.

— Qual o seu nome? - Eu pergunto a ele que coloca o graveto preso ao chão e fazendo pose de super herói me responde. - Meu nome é Carlos Daniel, e o seu? - Eu havia dado risada "Que nome engraçado" eu havia dito e então respondi - Meu nome é Paulina.

— Você dá risada de meu nome, mas Paulina não é tão bonito assim. - Ele me disse e eu abaixei a minha cabeça triste. - Você ficou triste? - Carlos Daniel me pergunta e eu faço que sim com a cabeça. - Desculpe Paulina... Você ainda quer brincar comigo? - Ele volta a me perguntar.

— Não. Guerreiros é para meninos já disse. - Eu respondo.

— Bom, a gente pode brincar que... que... Você é a princesa e eu sou o guerreiro que devo lutar para te resgatar da torre. O que acha?

— Tudo bem!!! - Eu respondo e subo na árvore como se fosse um castelo, e logo Carlos Daniel com o graveto em sua mão corre por todo o quintal gritando que iria acabar com os monstros que tentasse me pegar, e eu do alto da árvore gritava "Socorro! Me salve, me salve" até que correndo pelo quintal jogando graveto para o alto Carlos Daniel subiu na árvore comigo e se sentou ao meu lado. - Pronto alteza, estou aqui para te resgatar. - Ele me diz e eu dou um sorriso e logo grito - Você salvou a minha vida. - Passamos algum tempo em cima daquela árvore que tinha a vista mais deslumbrante de todo o nosso bairro, ouvíamos melhor o som dos pássaros e nos sentíamos donos do mundo.

— Onde você estuda? - Ele me perguntou, e eu seguro em sua mão o levantando deixando seu dedo estendido apontando para o meu colégio que ficava não tão longe, já que não tinha dinheiro para pagar uma escola melhor. - Sério? Eu vou estudar lá amanhã. - Ele me responde.

— Ótimo. Seremos melhores amigos. - Eu replico e ele dá um sorriso conformado. "Sim... Sim... Seremos" nessa mesma hora ouvimos um grito vindo lá de baixo, era o pai de Carlos Daniel o ordenando a descer de lá. Quando nós dois descemos, o pai dele o puxou pelo braço olhando toda a sua roupa suja. Gritou para Carlos Daniel que não deveríamos ser amigos, logo minha mãe atravessa a rua me tomando pelo braço também, eu me viro e dou um abraço nela.

— Mas, o que houve aqui? - Minha mãe pergunta. - Minha filha aprontou alguma coisa na casa do senhor? - O pai de Carlos Daniel nervoso responde aos gritos para a minha mãe. - Sim, fez, olha bem para o meu filho todo sujo! Não quero essa garota perto dele, eu trabalho muito duro lá dentro de minha casa e ele sabe.

— Tá, tá, mas o que a minha filha tem a ver com o seu trabalho seu grosso? - Minha mãe replica a ele que dá um passo a frente e minha mãe também o encarando eu e Carlos Daniel ficamos atrás deles nos olhando. - Tire sua filha de perto do meu filho. Não quero alguém dessa... Laia, andando com ele. - Nessa hora que o pai de Carlos Daniel respondeu minha mãe levantou a voz para ele apontando seu dedo no rosto dele. - Se mais uma vez você se referir a minha filha desse jeito, eu vou meter a mão na sua cara. Ela só tem 6 anos e os dois estavam brincando, não parece que minha filha fez seu filho se sujar ou coisa do tipo. Repito, mais uma que o senhor gritar, tocar, ou olhar para minha filha eu vou acabar com você. - O pai de Carlos Daniel deu risada e olhou para mim por um tempo e depois olhou para minha mãe novamente "Não se preocupe" ele responde e entra em sua casa levando Carlos Daniel que andava a força olhando para trás triste e minha mãe também me leva para casa, finalmente quando ela fecha a porta e vai terminar de ver a panela que deixou ao fogo, ela se senta e me olha de lado e dá um sorriso. - O que houve por lá filha? - Ela me pergunta.

— Não sei mamãe, Carlos Daniel e eu estávamos brincando e o pai dele apareceu de repente e gritou. - Eu respondo e tomo o leite que minha mãe havia colocado em meu copo.

— Não se aproxime mais deles tudo bem filha? - Ela me pergunta e me pega ao colo me levando ao banheiro para tomar um banho.

— Mas mamãe, Carlos Daniel e eu somos melhores amigos. - Eu tento convence-la. Minha mamãe passou a tarde brincando comigo até meu pai Miguel chegar do trabalho, ele era carpinteiro e minha mãe ficava em casa comigo, por mais que meu pai trabalhasse tanto o dia inteiro toda a noite lia uma história para mim e me colocava na cama e dizia ao meu ouvido que me amava.

Naquela noite quando ele foi conversar com minha mãe depois de me colocar na cama eu ainda não havia pegado o sono e deitada sem sono algum e sabendo que acordaria bem cedo amanhã para o colégio, me levantei e na ponta dos pés fui até a sala onde meus pais conversavam e minha mãe contou o que havia ocorrido com o pai de Carlos Daniel, meu pai ficou muito bravo e disse para eu ficar longe dele, será que ninguém entende a minha amizade com ele?

No dia seguinte...

Me levantei como todos os dias ás 7 horas da manhã e minha mãe me deu um banho bem rápido e logo tomei um copo de leite e comi um biscoito não tinha muita comida em casa e eu não fazia questão de pedir nada, porque eu era feliz com o que tinha, minha mãe me levou ao colégio e se despediu de mim, a aula já havia começado e logo fomos interrompidos com a entrada do novo aluno... Carlos Daniel, eu tentei não fazer nenhum contato com ele, mas foi inevitavel já que ele se sentaria bem atrás de mim...

Mais tarde na aula de música cada um pegava o instrumento que gostava e tocava para sua diversão mesmo depois a professora iria tentar fazer um som conosco, eu havia pego um pandeiro mas odiava o som dele, peguei só para ter algo em mãos, me sentei ao chão perto de minha amiga Estephanie, mas fui interrompida quando ia conversar com ela quando Carlos Daniel se sentou a minha frente com o violão que ele havia pego, e por sinal era um violão bem pequeno e me olhando começou a tocar ele para mim (era um som horrível que saia dali) dei um sorriso e então começamos a conversar.

— Minha mãe não quer que eu fale com você. - Eu disse a ele.

— Meu pai não quer que eu fale com você. - Ele me responde. - Mas, você é a minha única amiga... Não vou contar para o meu pai, ele é muito bravo.

Então foi assim, todos os dias na escola Carlos Daniel e eu brincávamos e depois nos "odiávamos" durante a tarde, ele havia virado o meu melhor amigo, se algo acontecesse comigo eu esperava até o dia seguinte na escola para contar a ele, e nos sábados e domingos nos encontrávamos no parque e ficávamos em cima de uma árvore como donos do mundo.

Mas, foi em 1993 aos nossos 13 anos quando tudo iria mudar, depois da aula de filosofia fomos para a biblioteca e teria aula de literatura, o professor dessa época queria que ficássemos 1 hora lendo qualquer livro com conteúdo, mas como não queriamos participar daquela aula enquanto todos escolhiam o livro nós dois como ficamos por último saímos da sala e conversávamos atrás do colégio, naquela manhã ele pegou em minha mão.

— O que está fazendo? - Eu pergunto.

— Paulina... Você é a minha melhor amiga. - Ele me disse, eu ainda sem entender o porquê daquilo e nervosa replico.

— Sim, eu sei. E...?

— Eu e você... Bom, nunca beijamos ninguém... Você quer me beijar? - Ele me pergunta. Fico quieta um tempo olhando para meus sapatos sentada ainda com ele ao meu lado segurando minhas mãos.

— Só um beijo? - Eu pergunto.

— Só. - Ele responde. E então eu concordo fazendo um sim com a cabeça, e num milésimo de segundos muito nervosos nossas cabeças estavam muito próximas uma da outra eu sentia sua respiração, meu coração batia muito rápido e minhas borboletas no estômago estavam reviradas. O que eu tenho que fazer? Para o beijo há algum segredo? E então, fechei meus olhos curvando meus lábios e senti o dele encostar o meu e então nos afastamos bem rápido nos olhando. Aquilo foi um beijo?

Depois da aula de literatura fomos para a sala de aula novamente, e na aula de matemática recebi um bilhete, era de Carlos Daniel...

"Você quer namorar comigo?" estava escrito, olhei e pensei bem e logo cutuquei Estephanie, minha amiga para dar de volta a Carlos Daniel.

"Sim, Carlos Daniel eu quero namorar você" e ele olhou para mim com um sorriso em seu rosto, Mariano o menino da sala gritou sobre o bilhete e a professora se aproximou de Carlos Daniel e pegou o bilhete gritando a todos na sala o que estava escrito, e como todo adolescente, todos nos olharam "Paulina e Carlos Daniel estão namorando" fiquei totalmente corada.

— Estão com inveja porque namoramos e vocês não. - Carlos Daniel gritou na aula.