A neve caindo de um céu escuro, colando-se ao chão e misturando-se com os outros pontos bracos de neve, era, em si, algo incrivel, porém imaginável. Agora, Nezumi em sua frente, com aqueles olhos cinzas, era algo que nunca poderia ter imaginado. Três longos anos e havia tanta coisa que poderia dizer... Mas, o que iria fazer era totalmente fora do esperado. Poderia ter se jogado no braços de Nezumi e chorado como a criança que era antigamente. Poderia ter-lhe selado os lábios em um beijo angustiado de saudades... Poderia apenas abraço-lo e esmaga-lo entre os braços... Mas a única coisa que se permitiu fazer fora deixar que o punho direito voasse para o rosto de Nezumi, desferindo-lhe um soco, marcando-o de vermelho.

- Mas que merda, Shion!

- Que merda? - Pela primeira vez, se permitia gritar com alguém. - Que merda fora esperar que você voltasse durante três anos. TRÊS LONGOS ANOS, NEZUMI!

Nezumi se calava, com aquela expressão impassivel.

- Por que voltou? Para me fazer me acostumar com a ideia de você ficar e depois ir embora?

Direcionava o olhar pela rua onde ele havia vindo, com um sorriso no canto dos lábios, onde qualquer pessoa pensaria que fosse alguém arrogante. Mas, longe disso... Era sempre o tipico sorriso dele. Aquele tipico sorriso que o faria tremer dos pés a cabeça... Antigamente. Agora, as coisas eram mais complicadas e tudo era mais complicado com ele ali, em sua frente.

- Você esta bem? - Estava sendo um tolo novamente. Um tolo que se preocupava com ele.

Observava Nezumi apenas assentir e os olhos cinzas a lhe observar o rosto.

- Você amadureceu, Shion. - Embora ele dissesse aquilo, era como se estivesse dizendo algo a mais. Este algo que não soube entender o que era.

- Se não tivesse amadurecido, não seria tão normal assim... - Ria da própria resposta, dando-se conta que estava nervoso e desejando poder pedir desculpas pelo soco.

- O desculpo.

Surpreso. Estava realmente surpreso por aquela pessoa, em particular, sempre descobrir o que estava pensando. Sua expressão era tão reveladora assim?

- Shion...

O olhava, de modo a tentar entender alguma coisa do mais alto... Porém, como sempre, dava de cara com um muro que jamais iria conseguir passar.

- Não quero que você se gripe. Esta nevando demais e estamos parados nos olhando a talvez meia hora.

Aquele tom humorístico que ele raramente mostrava estava de volta, com um pingo de preocupação.

Ambos jogavam conversa fora, fugindo do assunto da vida particular de cada um, era como se fosse doloroso demais saber o que houve no tempo quando não estiveram juntos. Nesses longos três anos. A impressão de que Shion tinha era que Nezumi estava mais alto do que era. E Nezumi tinha a vaga impressão de que Shion estava mais maduro do que sempre fora e também mais responsável. As respostas de ambos eram animadas, porém um tanto vagas.

Chegavam a casa de Shion, onde Nezumi estacava na porta e olhava de modo estranho.

- Nezumi?

- Me convide para entrar...

Ficou chocado ao se deparar que Nezumi estava envergonhado, com o rosto baixo e as bochechas tingidas em uma coloração carmesim.

- Por quê? - Não se continha. - Você não fora convidado da primeira vez e mesmo assim adentrou.

Notava que Nezumi não iria responder e então o convidou.

- Entre, Nezumi.

Soltava uma sonora gargalhada quando Nezumi o empurrava para o batente na porta e entrava, trocando os calçados e pegando os de Shion.

- EI! - Gritava.

- Isso foi vingança, Shion. - Nezumi o olhava por sobre o ombro, com um sorriso brincalhão no rosto. - O mundo é muito vingativo, sabe?

Ambos começavam a rir da piada em particular, esquecendo-se que era Natal e que logo a mãe de Shion estaria em casa. Era estranho como nem se parecia que havia se passado três anos. Três longos anos sem se falarem. Mas também era interessante presumir que a amizade dos dois havia prevalecido dentre tudo.

Estava ficando frio e Shion fora até o quarto pegar um conchoado vermelho, jogando por cima de Nezumi e indo em direção a lareira e a acendendo. O calor logo imundou o recinto enquanto Shion subia novamente para seu quarto para trocar as vestes umidas pela neve. Quando fora para a sala novamente, com o tipico pijama azulado, corava milhares de tons de vermelho até chegar no mais forte de todos, ao notar o olhar de Nezumi sobre si.

- Quer alguma coisa para... Er... Beber? - Perguntava, cutucando um polegar no outro.

Com o olhar escondido sobre a franja, conseguiu visualizar Nezumi bater a mão ao seu lado, onde Shion prontamente se sentou.

- Logo terei que ir embora, Shion.

Não esperava por aquela... Realmente não esperava também lacrimejar e esconder o rosto sobre as mãos, tentando abafar a vergonha e as lágrimas que desciam facilmente.

- Não chore, Shion.

Sentia Nezumi o puxar para mais perto, passando o conchoado vermelho sobre si e o fazendo se esquentar rapidamente. Mas as lágrimas ainda teimavam em vir, junto com os soluços.

- Eu vou voltar a te ver...

- Quando, Nezumi? Apenas... Quando? - Respondia em tom baixo. Não querendo ser meloso e grudendo, mas já sendo. Era sua essência e não poderia mudar.

- Quando quiser...

Erguia a cabeça e o olhava no fundo dos olhos, embora fosse difícil devido as lágrimas que ainda se acumulavam.

- Então fique...

- Shion... Sua mãe logo vai chegar e é Natal... E não é legal me infiltrar na casa alheia.

- Eu o convidei. - Choramingava.

- Pedi que me convidasse a entrar, não a ficar.

- Nezumi...

E novamente, voltava a chorar, levando as mãos em frente ao rosto e chorando mais alto. Embora parte daquele drama todo fosse para fazer Nezumi mudar de ideia do que choro mesmo. O primeiro havia sido verdadeiro, agora o segundo não.

- Quero que Nezumi fique...

- Shion, eu não te dei teu presente.

Quando Shion olhava para cima, Nezumi depositava um gorro de Natal sobre a cabeça dele e o selava nos lábios, demorado, porém doce e firme. Calmo e ao mesmo tempo urgente. Shion deixava que os braços passassem ao redor do corpo de Nezumi e o puxasse para mais perto, enquanto a boca do maior reivindicava a de Shion. As mãos de Nezumi o apertavam levemente, tomando o cuidado de não exagerar nos toques. E quando se afastavam, era como se fossem forçados a tal coisa.

- Seu presente...

- O gorro ou o beijo?

- O gorro é apenas para deixá-lo fofo. - Nezumi ria.

E deixava que sua risada acompanhasse a dele.

- Nos vemos depois...

- Quando? - Sentia o selo sobre a testa, querendo um pouco mais de Nezumi.

- Mais tarde.

A promessa do "mais tarde" fazia Shion se sentir envergonhado, corado e com outros sentimentos e lhe invadir o peito, que mal notou quando Nezumi se afastou e fora embora. Não deixando qualquer rastro de sua passagem por ali, exceto o inchaço nos lábios, o rosto corado e o gorro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.