— Meu amor, eu também amo muito você e é por isso que você vai me dizer o que está acontecendo com você!! - acariciava o rosto dela como ela acariciava o dele.

Victória respirou fundo sentindo seu corpo todo tremer, sabia que se contasse ele iria sofrer e não era assim que ela queria vê-lo, não queria a pena dele, queria seu sorriso lindo que a preenchia sempre. Mas ao mesmo tempo ela queria dividir aquele fardo para que fossem mais fáceis os três dias que viriam dali em diante sem saber de fato o que tinha em seu cérebro.

—Victoriano, eu... - engoliu a saliva que rasgou sua garganta. - O médico encontrou uma massa em meu cérebro, eu estou doente...

"Doente" era o pior que ele poderia ouvir dela naquele momento, Victória tinha acabado de dizer que o amava e agora confessava que estava doente... tiro no peito, dor na alma e os olhos se encheram de lágrimas assim que a mão tocou seu rosto. O desespero tomou conta dele assim como já tinha tomado conta dela desde que ouvirá do médico.

Não podia ser verdade que o seu amor estivesse doente, não podia ser verdade que aquele destino estava reservado para ela, não podia ser verdade, não quis acreditar que ela estava mesmo dizendo aquilo e negou com a cabeça.

— Não pode ser... - foi o que disse. - Eu não posso aceitar o que está dizendo!!!

— O médico fez vários exames e os resultados saem em três dias!! - deixou que mais lágrimas rolassem por seu rosto. - Eu não sei o que vai ser de mim...

Victoriano a puxou para seus braços e a abraçou forte sendo retribuído por ela, estava quebrado e mesmo não querendo se desesperar para que pudesse ajudar o seu amor, já estava. Victória não queria contar, mas estava se sentindo sufocada e sabia que nele poderia se apoiar até que os resultados saíssem. Poderia ser um diagnostico precoce, um erro médico, mas tudo era tão desesperador para ela.

— Não quero que elas saibam... - se soltou dele. - Elas não podem saber... - falou depois de alguns minutos de silencio.

Ele a olhou nos olhos, como poderia esconder algo tão serio? Ela não podia fazer aquilo com as filhas, não era justo num momento em que ela mais precisava de apoio para conseguir aguentar o que viria dali em diante.

— Meu amor, elas têm o direito de saber pra estar a seu lado!!! - falou com a voz trêmula.

— Não, enquanto não sair os resultados eu não vou dizer nada a elas!!! - tocou o rosto dele. - Me promete que não vai contar!!!

Ele respirou fundo, não sabia se conseguiria guardar aquele "segredo" estava doendo e ele queria poder fazer alguma coisa para ajudá-la, pensou em tanta coisa ali perdido em seus olhos, mas somente a puxou e a beijou na boca selando aquele momento, mostrando a ela que independente de qualquer diagnostico estaria a seu lado. As meninas logo desceram com uma pequena mala e Fernanda comemorava as ferias adiantas.

Victória subiu para arrumar suas coisas, ficaria com ele na fazenda aqueles três dias e depois veria o que seria de seu destino com aquele maldito diagnóstico que tinha recebido de seu médico e assim eles seguiram para a fazenda.

(...)

Os dois dias que se passaram foram tranquilos para eles, ou melhor, para os jovens que estavam alheios ao real problema de Victória, ela tratou de se distrair, mas hora ou outra se pegava chorando pelos cantos da casa e Victoriano como tinha deixado o trabalho para estar junto a seu amor sempre chegava no momento e a abraçava fazendo com que ela se sentisse um pouco melhor. Ele era o seu apoio e a sua força naquele momento em que ela não queria preocupar as filhas sem saber ao certo a grandeza de sua doença.

No terceiro dia, Victória não acordou bem, vomitou a manhã inteira, teve dor de cabeça e Victoriano não aguentando mais vê-la sofrer, a levou para o hospital. Victória não queria, mas não tinha forças para impedir que ele a levasse e eles seguiram para o hospital. As meninas estavam desesperadas ali naquela sala de espera e Maria sem aguentar mais parou frente a Victoriano e o encarou.

— Diz que não é o que eu estou pensando... - o peito subia e descia com medo.

Ele a encarou por alguns segundos e logo abaixou o olhar, não podia contar, mas estava na cara que não era nada bom e ela encheu os olhos de lágrimas.

— A minha mãe está doente?! - falou com desespero e Fernanda veio na mesma hora parando ao lado da irmã.

— Como assim doente? - a voz saiu trêmula.

Maria olhou a irmã e sentiu desespero, não podia perder a mãe depois de ter perdido o pai, não podia e não queria acreditar que aquilo estava acontecendo de novo. Ela voltou seu olhar para Victoriano que continuava de cabeça abaixada e disse:

— Quando meu pai sofreu o acidente a mamãe fez a mesma coisa que está fazendo agora!!!

Victoriano as olhou e ficou de pé, não iria dizer nada.

— Quando sua mãe puder receber visitas, vocês conversam com ela!!! - foi tudo que disse.

— Então é verdade? - Fernanda começou a chorar. - A minha mãe não...

— Vocês precisam ficar calmas!!! - ele respirou fundo. - Ela precisa de nós e o médico nem veio ainda!!! - queria que aquilo tudo fosse somente um sonho ruim e que ele acordasse logo.

Maria tentava segurar seu desespero para que a irmã não surtasse, mas Fernanda já estava tão desesperada somente em pensar em perder a mãe que chorava nos braços de Maria, chorava de medo e tudo que passou na morte do pai veio em sua mente e ela se tremeu não querendo passar novamente por aquela dor. Os meninos se aproximaram e ficaram junto a elas que nada mais falaram apenas ficaram sentindo aquela dor de imaginar que a mãe pudesse partir.

Foram alguns minutos de tortura até que o médico veio e permitiu a entrada de todos no quarto, não iria dar nenhum diagnostico a eles ali já que as meninas estavam desesperadas para ver a mãe e saber ali junto a ela o que estava acontecendo, elas foram apressadas quase que na frente do médico, mas não sabiam o quarto e tiveram que esperar por ele. Quando entraram no quarto foram direto para a mãe e a agarraram com loucura, ela estava fraca mais segurou as filhas em um abraço apertado.

Os olhos dela foram de imediato para Victoriano que respirou fundo confirmando a ela apenas no olhar que elas já sabiam ou deduziam o que ela tinha, não queria que elas soubessem daquele modo, mas como tinha passado mal nem teve tempo de se preparar mentalmente para aquele momento. O medico entrou também no quarto e observou a todos. Fernanda se soltou da mãe e a olhou nos olhos tocando seu rosto.

— Você não pode nos deixar!!! - fungou. - A gente não tem mais ninguém!!! Diz que não está doente mãe...

— Minha filha calma!! - Victória tocou o rosto dela limpando suas lágrimas. - Vai ficar tudo bem!!! - os olhos ficaram cristalinos olhando sua menina.

— O que você tem? - Maria tinha a voz dura. - Diz que é mais um irmão e não... - nem conseguiu dizer.

— Não sei ao certo, iria pegar os exames hoje!!! - não podia mais mentir mesmo não querendo que elas sofressem. - O medico pode nos dizer o que esta acontecendo comigo!!! - o olhou.

Maria limpou o cantinho do olho e olhou para o médico.

— O que ela tem doutor? Diz que ela vai ficar bem...

Ele se aproximou mais ficando no pé da cama e olhou para cada um deles e depois Victória.

— Ainda falta dois exames para sair, mas o vomito e o mal estar é consequência de seu estado... - ele estava tão calmo que nem parecia que ela tinha contado a ele que tinha uma massa no cérebro. - Você está grávida!!!

O choque foi grande para todos eles, mas mais para Victória que arregalou os olhos e disse:

— Eu estou morrendo e você me diz que estou grávida?!

— Os seus exames estão todos alterados, mas enquanto não saírem os outros exames, essa massa no seu cérebro pode não ser nada!!! - foi firme. - Por enquanto, você pode assimilar a gravidez. Eu volto em alguns minutos com os outros resultados!!! - e sem mais ele saiu do quarto deixando a todos perdidos em seus sentimentos...