Seis Horas Antes

A escuridão engolia a luz no horizonte, Lancer serrava os olhos para ver aqueles que passavam na rua. O movimento havia aumentado gradativamente nas últimas horas – agora que os estudantes começavam a sair, os carros lotavam as passagens ao redor do local e facilitavam o trabalho de um possível agente das sombras. A posição do sol representava as exatas 18 horas que marcavam o relógio e as badaladas no além confirmavam.

Preciso me aproximar mais da massa de pessoas, senão serei incapaz de proteger Felipe com tudo isso de gente, pensou Lancer. O indígena saltou para o muro do colégio a cerca de 6 metros do prédio onde ele estava, o lugar garantia visão plena da saída/entrada das pessoas, qualquer coisa suspeita estava ao alcance de seus olhos treinados no mato. Ele se mantinha escondido graças a forma espiritual, embora ela não fosse de muita utilidade contra algum outro magus ou Servo, capazes de identificar a presença e natureza da energia mágica.

O Mestre apareceu alguns minutos depois do horário certeiro, claramente com pressa para se encontrar com o Servo depois de um dia de incerteza. Eles certamente saberiam caso um dos dois se metesse em uma luta séria, mas o pensamento não era capaz de segurar a apreensão. Lancer saltou novamente, desta vez desceu o muro e foi rapidamente cobrir o ponto cego de Felipe.

“Alguma ameaça, Lancer?” o rapaz perguntou.

“Nada que eu tenha percebido. Talvez ainda não foram invocados todos os Servos e os que já o fizeram estão esperando isso acontecer para tomar uma posição ofensiva.”

“É possível que eu tenha encontrado um problema mais perto do que eu imaginava. Um dos meus colegas de classe é um--”

Interrompendo o diálogo novamente, Lana atacou Felipe pelas costas.

“Ei, por que a pressa, seu chato? Não falou com ninguém o dia inteiro e agora que ir pra casa correndo? Pode falar se tem alguma coisa errada, sou sua amiga faz tempo o suficiente, né?”

“Não é nada… Sério. Só preciso ajudar em um negócio em casa hoje. Meu pai me pediu pra ir rápido pra casa, então não acho que eu tenha tempo pra ficar por aqui depois da aula.”

“Entendo…” Lana falou enquanto olhava para o chão e franzia as sobrancelhas. “Bem, não posso forçar você a nada.”

A garota disparou a frente e deixou Felipe olhando paralisado em direção ao horizonte, vendo a amiga ir embora com passos pesados – ela certamente não estava feliz com ele. Lancer pensou em falar algo, mas sua visão sobre mulheres era talvez datada demais para ser falada no século XXI. O silêncio dos dois foi quebrado pelo guerreiro nativo, curioso sobre o problema citado por seu Mestre.

“Ah, sim, ela me interrompeu…” Felipe coçou a cabeça “Err, como eu posso dizer… Tenho 99% de certeza que um certo colega meu é um Mestre ativo na Guerra.”

Os dois começaram a andar de volta à casa.

“Isso é muito sério. Ter um inimigo tão próximo de você é certamente perigoso e talvez até interesse caso observado por outro ângulo.”

“Do que você está falando?”

“Se ele é de fato seu colega, como você diz, é possível que a relação de vocês tenha algum efeito na chance de formar uma aliança. Acho que não preciso dizer o quão vantajoso seria ter uma dessas.”

“É, eu sei que uma aliança poderia aumentar substancialmente nossas chances de vitória. Pra falar a verdade, eu não tinha pensado nisso, mas agora que você falou realmente me parece uma ideia muito sensata. Infelizmente, acho que é difícil ele aceitar uma aliança com alguém tão inexperiente quanto eu – ele não só é um magus muito superior, ele foi treinado a vida toda pra ganhar esse conflito e sua família provavelmente participou de todas as Guerras. Eu realmente não vejo ele aceitando.”

“Entendo seu ponto, Felipe. O que você levanta é sim preocupante, mas não acredito que ele tenha uma aliança. É mais fácil uma família tradicional dessas ter os outros participantes comuns como rivais em vez de aliados e duvido que ele tenha ido atrás de gente estranha para se aliar. De qualquer modo, é algo que vale a pena tentar.”

Felipe assentiu e logo em seguida entrou em reflexão profunda, medindo as chances e possíveis vantagens e desvantagens. Lancer, ao perceber que não haveria mais diálogo por um tempo, pulou para o muro que acompanhava a calçada em que andavam. A combinação de árvores altas e da luz crepuscular faziam uma emboscada ser fácil demais de executar, logo, o guerreiro precisava utilizar do melhor de seus sentidos para tentar impedir qualquer ameaça de avançar contra o Mestre teoricamente indefeso.

As sombras de pássaros cortavam o céu, escurecendo em um ritmo cada vez mais rápido. Mesmo que a Guerra não houvesse de fato se iniciado, os dois caminhantes sentiam-se em um campo de batalha no meio de uma guerra em seu auge. Cada passo próximo era um motivo para acelerar a batida do coração e a próxima sombra dobrando a esquina poderia ser um inimigo em busca do sangue de outros Mestres. A casa dos Jonaso estava a apenas dois quarteirões de distância, já estavam dentro da área de visão de Lancer, que fechava os olhos e observava a movimentação ao redor – torcia para não haver nenhum ponto cego comprometedor.

“Que estranho essa rua vazia, normalmente ela está bastante movimentada nesse horário, mas não vejo ninguém por aqui.” Felipe comentou.

“Então você afirma que tem algo fora do comum, melhor eu…”

No momento em que Lancer declarava suas próximas ações, uma atmosfera aterradora impôs-se sobre a dupla. O céu parecia ficar completamente escuro em uma questão de segundos, os dois homens jaziam paralisados, em choque com o que parecia ser um ataque surpresa.

Um mero sopro do vento do outro lado da rua ativou os reflexos do Servo, o qual, em um único salto e estocada, destruiu a lixeira que o vento afetou com seu movimento.

“Que tipo de magia é essa… Será que estamos dentro de uma prisão conjurada?” O conhecimento mágico de Felipe limitava-se ao que estava nos livros da família, ou seja, não era dos maiores especialmente se comparado com o tipo comum de magus presente na Guerra do Caminho Dourado.

“Tente me acompanhar enquanto não temos visão do inimigo. Dependendo de sua classe, nosso oponente pode preferir um ataque rápido, ou talvez até capturar você antes que eu tenha qualquer reação.”

“C-concordo, deixe-me cobrir seus pontos cegos.”

“Eu não tenho pontos cegos, Felipe.”

De súbito, o que parecia ser a sombra de um objeto projetado de um beco começou a ser mover em uma velocidade inacreditável na rota de colisão com Lancer. O ataque do vulto parecia rápido demais para se ter uma reação rápida o suficiente.

Em um movimento rápido e leve, o lanceiro virou seu tronco acompanhado de um golpe de sua lança na lateral do inimigo. O corpo foi jogado para longe em uma velocidade tão incrível quanto a que tinha chegado.

“Seu erro, caro oponente, foi achar que um ataque covarde tem algum efeito contra homens de verdadeira honra.”

“Ah, cala a boca, ninguém perguntou nada para você.” disse o inimigo desconhecido, em pé depois de poucos instantes deitado.

Felipe pensou que sentiria alguma variação de medo ou horror ao ver a pessoa que havia o atacado, mas o que dominou seu corpo foi certamente inesperado: uma intensa vontade de cair em gargalhada, motivada pela aparência também inesperada da ameaça.

A alguns metros de Felipe e seu Servo, estava uma garota que não parecia ter mais de doze anos. Sua expressão de raiva absurdamente adulta destoava completamente da própria pessoa, gerando um aspecto completamente ridículo. Seus cabelos eram brancos como os de uma idosa e suas roupas não passavam de farrapos, ela não parecia portar nenhum tipo de objeto perigoso com a exceção de um saco marrom com o dobro de seu tamanho.

“Ei, que cara é essa, seu otário? Você não vai rir depois que meu irmão acabar com você! Ou melhor, depois que EU acabar com você!”

Novamente a garota avançou na velocidade de um raio, Felipe não teve tempo de reação o suficiente para desviar e apenas cobriu-se com os próprios braços. Lancer o puxou para trás bruscamente e interceptou a investida da desconhecida, entretanto, ela não pararia ali daquela vez – a menina, ao se chocar com o guerreiro, apoiou-se em seu braço desarmado e levantou o próprio peso para passar para as costas dele. Com o saco aberto, ela tentou colocar o indígena dentro dele a partir da cabeça.

“Você ainda é muito inocente para a batalha, criança. Saia daqui enquanto ainda posso lhe perdoar.”

“Como você é chato… Vou te botar no saco ainda mais rápido por causa disso!”

Antes que sua oponente utiliza-se todo o poder daquela estranha ferramenta, Lancer utilizou-se da força bruta para tirá-la de suas costas. Para evitar ser jogada de costas no chão e possivelmente perder o confronto naquele momento, a garota deslizou para fora dos braços de Lancer e saltou para trás utilizando as costas de seu interceptador como plataforma de lançamento. Em resposta, o guerreio acompanhou sua movimentação e atacou-a com sua lança, errando o alvo por pouco.

Os dois estavam cara a cara, poucos metros os separavam.

“Para você nos atacar desta forma… A Guerra já começou, então? Ou algum Mestre covarde busca eliminar seus oponentes de surpresa antes que eles saibam que estão sendo caçados?”

“Grr… Como você sabe que eu sou um Servo, seu otário?”

“Acabei de descobrir.”

A fúria foi tamanha que nem mesmo palavras a recém-descoberta Serva conseguiu articular. Num súbito ataque, ela pulou em uma parábola que passaria por cima da cabeça de Lancer – seria fácil abatê-la com a lança.

“Ha, você caiu!”

Antes de chegar na alcance de Lancer, a garota abriu seu saco a ponto de deixar a abertura no tamanho perfeito para ela. A dupla sob ataque olhou mistificada, tentando entender o que ela pretendia e em uma rápida virada ela entrou em sua própria “arma”. O saco sumiu junto de seu corpo.

“Que diab--”

Logo em seguida, o saco reapareceu atrás de Felipe. Mal deu tempo dele e de seu Servo se virarem que a sombra daquela bizarra ferramenta o cobriu e o sorriso maligno da garota de cabelo branco apareceu bem no centro daquela escuridão. Em menos de um segundo, a inimiga estava do lado de fora e o Mestre de Lancer se debatia dentro do saco.

“Acho que você falhou, amiguinho”

A risada que se seguiu fora a única capaz de gelar a espinha do guerreiro indígena. Antes que ele sequer prestasse atenção, a situação havia se invertido completamente e agora era o outro lado quem ditaria o ritmo do embate. Ele precisava achar um caminho à vitória que não envolvesse o conflito direto que estaria por vir – sua oponente parecia querer utilizar o prisioneiro como arma de concussão.

“É melhor você morrer rápido, viu. Cada porrada que eu der em você vai piorar a situação do seu querido Mestre…”

A postura da Serva havia mudado completamente – a vantagem a transformara em uma criança dócil, quase que inocente. Lancer sabia que não podia distrair-se com a súbita mudança, era o objetivo dela.

“Não gosto de ter que matar uma criança, nem mesmo que ela seja completamente corrompida e de intenções suficientemente adultas. No entanto, parece que é a minha obrigação neste momento – prometo que irá ser rápido.”

Com a mesma técnica empregada pela menina, Lancer disparou em direção ao seu alvo com a lança firmemente apontada na direção do nariz.

~Ela provavelmente vai tentar se desviar e ao mesmo tempo realizar o golpe mais forte que conseguir – nesse caso, a melhor opção dela seria pular o suficiente para não ser estocada e desde a base do salto preparar um golpe com o saco para me acertar por cima. Caso ela de fato aja assim, a melhor opção para mim será fingir a força que estou aplicando no golpe e me reposicionar imediatamente após o pulo dela, a direção perfeita seria continuar em frente: é o jeito mais rápido de desviar e me dá o momento para atacar suas costas.~

Quando a ponta da arma do guerreiro chegou a uma questão de centímetros de seu nariz, a jovem fizera exatamente como ele previra e saltou apenas o suficiente para a esquiva. Lancer utilizou-se da força acumulada com o pé direito e ao mesmo tempo em que avançou à frente, girou seu corpo para realizar uma estocada pelas costas. O que o esperava era um poderoso golpe com a prisão de Felipe e uma expressão que dizia “eu sei o que você planeja” vinda do seu alvo, fazendo o Servo cair de peito ao chão.

“Ei… Você acha que sou burra só porque sou uma criança? Parece que uma luta contra outro Servo é bem mais fácil do que eu esperava, ainda mais quando meu oponente me subestima. Pelo menos vou poder ir embora mais cedo com minha captura!” Ela então sacudiu sua arma para mostrar o que tinha dentro – um jovem desesperado.

No entanto, ao contrário das expectativas da garota, Lancer encontrava-se apoiado em seu joelho esquerdo e com um sorriso no rosto – mesmo tomando aquele golpe, ele agia como se a vantagem fosse sua.

“Qual é a desse sorriso idiota? Aposto que você está fazendo isso só pra me tirar do sério! Não vou cair nessa, vou matar você o quanto antes.”

Mais uma vez a Serva tomou a atitude ofensiva: em sua velocidade usual, ela preparou outro golpe com o saco e pretendia acertar o crânio do lanceiro, que mantinha-se em sua posição de desdém.

“Eiiiii! Desvie, seu merda!”

Quando o golpe da garota começou seu arco em direção ao alvo, Lancer impulsionou o corpo para a direita. Sua inimiga tomou nota automaticamente e forçadamente alterou a trajetória de sua arma para acertar na nova posição do oponente.

Em um piscar de olhos, um vulto cruzou o céu e pousou no telhado da casa mais próxima.

“Você é boa no combate corpo a corpo – isso eu não posso negar – mas ainda lhe falta a noção de analisar a situação por inteiro e agir de acordo com as ações do inimigo focando nesse plano estratégico superior. Fiz você pensar que ganharia a luta ali, mas minha ideia era meramente distrair você para conseguir um passe livre ao meu outro possível alvo…”

Assim que Lancer terminou sua frase, a menina de olhos brancos virou os olhos para a direção de que havia vindo. Ela não havia pensado na possibilidade de seus inimigos serem capazes de detectar seu bem escondido Mestre, isso havia posto a possibilidade de uma reversão do ataque nos céus. O segundo que ela levou para refletir sobre a situação a que ela fora encurralada, Lancer saltou novamente, desta vez em direção ao céu para garantir a melhor visão possível de toda a área.

“Meus olhos demoraram muito para detectar essa pessoa, ele deve estar utilizando-se de uma forte magia de ocultação para conseguir isso. Mas agora que eu tenho uma ideia de onde ele está, tudo fica mais fácil.”

Parado no ar noturno, Lancer fechou os olhos e levou seus dedos a ele. No que parecia ser um processo extremamente doloroso, ele removeu duas esferas vermelhas e as segurou com firmeza na mão. Assim que a força vertical acabou e a gravidade começou a realizar seu efeito, o guerreiro, como se dobrasse as leis da física, obteve momento no ar e foi impulsionado à direção em que o Mestre inimigo fora detectado. Enquanto cruzava os céus em uma velocidade absurda, ele jogou as duas esferas de forma com que se distanciassem e formassem um círculo com as que já estavam no local.

A Serva observou as manobras estupefata, demorando para perceber que era sua função chegar o mais rápido possível no local a que seu inimigo rumava. Em velocidade máxima a garota atravessou os becos e quintais, torcendo para chegar pelo menos no tempo de interceptar o ataque. O susto de uma luz intensa começando a brilhar no céu a interrompeu por um instante: Lancer parecia carregar algum tipo de energia mística em sua arma para acabar com seu alvo logo na entrada – talvez não houvesse esperança para quem fosse encontrado.

“Espero que não tenha nenhum Mestre ou Servo espionando essa luta, existe a chance deles descobrirem minha identidade com esse ataque, mesmo que pequena.

CHAMADO DE TUPÃ!”

Em um céu limpo, sem ameaça de chuva, um raio se formou e desceu à Terra com um objeto em mente: a lança carregada por aquele guerreiro de tempos passados. A ponta da lança estava prestes a pousar e penetrar no chão, sem alvo específico – no exato momento de contato, a luz rasgou o céu acima de Lancer e engolfou a arma, gerando um impacto colossal e uma onda de choque em pequena escala. As pessoas começaram a sair de suas casas para ver se algum avião tinha caído, Lancer agradeceu aliviado pelo Mestre inimigo não ter escolhido uma parte populosa da área e sim algum beco entre depósitos abandonados.

“Ok, uma pessoa normal atingida pela onde de choque certamente morreria ou ficaria gravemente ferida. Como estou lutando contra um magus, acredito que ele está pelo menos desmaiado em seu esconderijo, seja lá qual ele for. Agora eu preciso achá-lo, tomar as providências corretas e resgatar Felipe se aquela garota continuar querendo confusão.

As esferas vermelhas do indígena sondavam ao redor com extrema atenção, qualquer mínimo movimento era notado por Lancer, que vasculhava as caçambas ao redor, encontrando apenas destroços e outras coisas indesejadas. Ele percebeu as diversas janelas quebradas dos depósitos e imaginou que o alvo havia pulado dentro de uma delas para se esconder. A Serva inimiga provavelmente estava chegando muito perto na condição em que ela estivesse usando sua velocidade máxima, logo, era dever do guerreiro agir o quanto antes.

Era difícil determinar em qual das construções ao redor poderia estar o Mestre. Lancer reuniu seus olhos (com exceção de alguns que ficaram em suas posições para detectar a chegada da garota de cabelos brancos) e os espalhou pelos depósitos, tentando identificar no mínimo a energia de um circuito mágico. As esferasrolavam pelo chão enquanto Lancer estava preparado tanto para atacar o inimigo oculto quanto para receber a menina em posse de Felipe. Caso não houvesse tempo para achar a pessoa antes dela chegar, o indígena necessitaria de velocidade para tomar seu Mestre de volta antes de acabar em um dois contra um.

No momento em que uma fagulha de magia foi detectada no segundo andar de um dos depósitos, uma sombra passou como um raio por uma das esferas. O guerreiro decidiu que finalizar rapidamente a pessoa descoberta e então virar para derrotar a garota era o caminho mais sensato e com a maior chance de dar certo, então, em um único salto, ele atravessou a janela que daria para o prédio e andar de seu alvo inconsciente.

Porém, enquanto ele atravessava o ar, os níveis de energia detectados pelas esferas aumentaram dezenas de vezes como um literal passe de mágica. Lancer foi recebido por uma repulsão que o jogou para trás com tamanha força que seu corpo foi capaz de quebrar a parede. No chão, o que o esperava era um golpe de saco e seria ali o fim dele. Para evitar o recebimento em força total da batida, Lancer pôs sua arma em frente ao local alvo e viu-a se partir a poucos centímetros de seus olhos, o impacto ainda fora forte o suficiente para lhe jogar no chão e o imobilizá-lo por alguns segundos.

“Me parece que o plano de alguém saiu pelo lado errado… como é a expressão mesmo? Pela cordada? Colbrada? Ah, esquece… Só quero matar você rápido e ir embora daqui, meu Mestre me prometeu jantar naquela casa com um grande M! Falando nisso, ei, meu querido Mestre, você está bem?”

Na borda do buraco causado pela saída brusca de Lancer apareceu um rosto de feições asiáticas e aspecto cansado, parecia um homem de meia-idade sem muito prazer pelo que estava acontecendo ali.

“Assassin, termine logo com isso. Mate o Servo, não quero ficar mais um segundo neste lugar.”

“Seu desejo é uma ordem, Mestre!”

A garota então se virou para o guerreiro caído, impossibilitado de reagir com o peso da menina e de seu próprio Mestre em cima dele.

“Acho que não vamos poder aproveitar a companhia um do outro um pouco mais, que tristeza. Morra pensando que você perdeu para uma garotinha, hahaha!”

O golpe final começou a ser executado. Lancer pensou sobre ser derrotado antes mesmo da Guerra começar oficialmente. Será que teria no mínimo ido mais longe com um Mestre qualificado? Não… aquela não era a razão dele ter perdido – ele não foi forte, ele não honrou a força foi dada de presente a ele, sua tribo continuava a ser apenas uma memória perdida nos tempos antigos. Ele precisava ter sido um herói, não um guerreiro.

Naqueles que pareciam ser os últimos momentos de sua vida, Lancer viu uma flecha voando tão naturalmente quanto o vento. Ele pensou ver memórias de sua infância esquecida, misturadas com a triste realidade. O pensamento foi quebrado quando o guerreiro percebeu que sua executora gritara e ele continuava vivo.

A flecha acertara a mão de Assassin, fazendo-a jogar o saco com Felipe para longe, consequência da força aplicada no golpe que ela estava dando em Lancer. A própria garota caiu sentada devido ao susto e olhava atônita o semblante de uma mulher no alto de um dos depósitos, colocando uma nova flecha em seu arco.

“Assassin, não!”

A menina de cabelos brancos fechou os olhos, a interrupção matara seus reflexos – foi como se o choque tivesse completamente desligado sua capacidade de lutar. No entanto, a flecha tinha outro destino: a prisão de Felipe rasgou-se com o disparo e o magus finalmente estava livre, embora desacordado. Lancer já havia entendido a situação e levantara pronto para a batalha – sua salvadora poderia muito bem ser outra inimiga, procurando matar dois coelhos em uma cajadada só.

“Sua lança destruída não vai servir de muita coisa contra minha Archer, caro lanceiro, você morrerá antes de chegar perto. Recomendo que se acalme e deixe que nós acabemos com essa garotinha e seu Mestre, estamos aqui para ajudar.”

De trás da arqueira misteriosa, surgiu outra figura: um rapaz de óculos, cabelos negros e expressão firme. Matheus Antereuzer havia chegado para salvar seu colega de classe e inimigo na Guerra do Caminho Dourado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.