Fases

único


O bar da Makino estava cheio, era um lugar que reunia sobretudo jovens de diversas universidades e eu era um desses. Estava numa mesa sentado com meus amigos Luffy e Usopp, nós discutíamos sobre a mudança constante na sonoridade da banda Arctic Monkeys.

— Depois que Josh Homme se meteu, a banda ficou ruim. — Disse Luffy, com os braços cruzados e meneando a cabeça.

— Que nada! Foi justamente Josh Homme que deixou a banda audível. — Refutou, Usopp. — Tipo, eles sempre me foram ruins, mas agora tá um ruim melhor.

— Sério? Você não dorme ouvindo os discos atuais? — Eu me meti no papo, enquanto comia amendoim.

— Alex Turner tem uma ótima referência musical, ele gosta de Scott Walker!! — Usopp disse muito empolgado, era incrível como adorava ser pedante.

— Quem é esse doido? E você sabe muito sobre uma banda que nem gosta. — Rebati e vi Usopp apertar os olhos de raiva.

— Por que estou discutindo com uma pessoa que não conhece Scott Walker, Jesus?!!

Eu grunhi para Usopp, mas Luffy mudou o clima da mesa com uma risada. — Usopp, só você sabe quem é esse doido.

Não pensei duas vezes e propus um brinde com Luffy, colidimos os nossos copos de cerveja vendo Usopp revirar olhos.

— Do que estão falando? — Sanji apareceu de repente, ele tirava o seu cachecol e se ajeitava na cadeira reservada a ele.

— De Arctic Monkeys. — Respondeu Luffy. — Estou frustrado que minha banda favorita virou aquela que a música Fake Tales of San Francisco fala.

— Está me dizendo que está chata? — Sanji tinha um tom de voz gostoso de ouvir quando conversava com Luffy. — Mas eu acho bom, sabe?

Usopp, que se distraía com as pessoas passando na rua pela vitrine, voltou a prestar atenção na conversa. — Como assim “bom”?

— Alex Turner parece querer fazer arte e seria horrível se ele continuasse a seguir o caminho dos dois primeiros álbuns, porque eles só fazem sentido pelo fato de serem feito por adolescentes e eles cresceram. Também seria uma droga se ele quisesse continuar o caminho mais comercial do AM, porque a banda seria comparada a sei lá... The Neighbourhood.

— Vixi, ninguém merece essa banda de tumblr. — Me manifestei pela primeira vez na presença de Sanji e todos riram com o que eu disse.

— Parece que achamos um ponto em comum. — Constatou Sanji, depois de se recuperar das risadas. Ele pegou o cardápio da mesa e chamou pelo garçom

— Gente, muito bom falar com vocês, mas eu e Luffy teremos que vazar. — Usopp tomou o resto que tinha no seu copo e se levantou, depois deu um toque no ombro de Luffy aborrecido por ele ainda estar comendo.

— Vocês têm que respeitar o toque de recolher do alojamento, né?

— Sim, até outro dia!

Eu e Sanji acenamos para os dois, depois o garçom veio e eu pedi mais saquê, Sanji disse que não comera nada pelo dia e que podia trazer um dos sanduíches.

— Não comeu o dia todo? — Perguntei, encucado.

— Ter meu pai como patrão me deixa sem tempo...

O pai de Sanji era dono de um dojô muito famoso na cidade por conta de seus alunos ganharem todos os torneios. Eu também frequentava um dojô de um pai de uma amiga, era humilde e seria natural que eu sentisse inveja de Sanji por ele fazer parte de um bem sucedido, caso eu não achasse o lugar esquisito. Sanji me levou para assistir algumas aulas e eu sempre estranhava o quanto tudo era artificial... parecia que todos eram robôs ou que eu havia me alistado ao exército.

Não havia a sabedoria que meu sensei com o sorriso mais gentil me ensinava.

— Você nem ao menos quer isso. — Falei, deixando Sanji sem graça. Ele nunca gostava de tocar nesse assunto. — Deixa esse dojô, você é péssimo em artes marciais e vai ficar sempre ouvindo que não consegue ser tão bom quanto seus irmãos.

— Marimo, você fala como se fosse fácil! Eu não frequento alguma faculdade, não sou especializado em nada e meu pai não vai querer gastar comigo como os pais de Usopp e Luffy gastam pra que eles tenham um lugar como um alojamento.

Eu já diria algo, mas o garçom chegou para nos servir. Seguiu um silêncio constrangedor. Sanji levou uma mão até a testa, parecia-me exausto. — Eu só queria espairecer um pouco... — Levantou o olhar pra mim. — Por que dificulta tanto, Zoro?

Soltei um suspiro. — Sinto muito, eu só quero que você viva a vida que deseja... Que você se torne uma grande cozinheira.

Sanji socou a mesa e seu rosto ficou vermelho. — Aquilo... aquele dia, foi uma viagem o que eu disse a você...

— Você está dizendo sobre se tornar mulher? — Provoquei.

— Fale mais baixo, desgraçado! — Ele olhava em volta, mas aparentemente ninguém ouviu. — É impossível, marimo...

Novamente abaixou a cabeça como sinal de derrota, eu peguei na sua mão e ele voltou a levantar o olhar lentamente. — Enquanto eu estiver aqui, tudo é possível.

— Ham?! Como assim?

— Você pode vir morar comigo.

Ele riu e coçou o olho por trás da franja, minha mão ainda estava sobre a dele. — Ok, vou pensar nessa loucura... aliás, por que você não se liberta de uma vez das suas correntes também?

Eu pisquei os olhos, confuso. — O que está dizendo?

Sanji tirou a mão sob a minha e se inclinou bastante na mesa, seu rosto ficou muito próximo do meu. — O que te prende pra não se confessar pra mim logo?

Eu ri com a sua cara de pau, aposto que fiquei corado, mas ele não estava errado. — Talvez você precise virar mulher antes...

Sanji revirou os olhos com minha resposta. Começou a ser preenchido nos vãos do bar uma música do Arctic Monkeys, uma da primeira fase da banda. Nós dois não dizíamos nada, apenas ficávamos ouvindo a música, até que Sanji pegou na minha mão, mas continuava a olhar em qualquer lugar que não fosse minha cara. As pontas da sua orelha estavam rubras.

— Cristo, Luffy tem razão, a banda era muito melhor antes. — Ele disse assim que a música acabou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.