CAPÍTULO XIII. O FIM, PARTE 2

Harry Potter capturou a espada de Godric Gryffindor, que estava nas mãos do cadáver de Dumbledore. A rodou em seu punho e encravou-a no peito de Tom, que deu um leve suspiro e... morreu.

- NÃO! Por que?

Por que aquilo? Ele tinha voltado a ser Tom Riddle, afinal... O Tom por quem ela se apaixonara! Um ser humano, apesar de tudo! Um humano que merecia ter o seu último desejo atendido!

- Por que? POR QUE? – Harry se aproximou perigosamente dela, enquanto os aurores terminavam de capturar os comensais que ainda estavam vivos. – Talvez pelo fato dele ter matado os meus pais, meu padrinho, os Dursley, que eu não gostava muito, mas eram minha família, e agora Dumbledore, que foi o mais próximo de um pai que eu já tive! Esses são motivos suficientes?

Ela não podia ignorar tudo que Voldemort tinha feito, não só à Harry, mas à todos, inclusive à ela. De fato, ela também queria que Voldemort morresse... Voldemort. Não Tom Riddle. Ela chorou baixinho. Mas conformou-se quando finalmente percebeu: A luz havia vencido; ela estava livre.

Remo Lupin se aproximou. Abraçou Potter. Depois, estendeu a mão para Elizabeth.

- Agora você pode viver a sua vida. Dumbledore me contou do seu disfarce... E do motivo que a fez voltar para as trevas.

- Como?

- Que você voltou para proteger a sua família.

Então o velho sabia. Será que tinha contado para Severo?... Como se adivinhasse o seu pensamento, Lupin disse:

- Snape não sabe.

Ela aceitou a mão de Lupin, que ainda estava estendida. Ele explicou à Harry rapidamente a história de Elizabeth. O menino apenas fingiu escutar. Não conseguia tirar os olhos do cadáver de Dumbledore. De vez em quando, limpava uma lágrima. Agora todos os comensais estavam estuporados. Lupin olhou o relógio.

- Elas já devem estar chegando.

“Elas quem?” Não deu tempo nem de perguntar. Uma forte luz branca apareceu de repente na floresta, como se fosse uma fenda, no canto esquerdo da clareira. Essa fenda se abriu, formando um rasgão. No interior desse rasgão, podia-se ver ao fundo uma outra floresta, com muitas cachoeiras, muitos animais... Uma visão paradisíaca. Da luz, saiu um grupo de cinco mulheres, todas com cabelos imensos, soltos ao vento. Elas usavam vestidos levíssimos, esvoaçantes e tinham na testa um tipo de tatuagem que lembrava uma lua minguante.

A mulher que vinha na frente carregava uma caixa dourada toda incrustada de pedras preciosas. Quando ela se aproximou, Lupin fez uma reverencia e beijou-lhe a mão.

- Obrigado por vir, Grã-Sacerdotisa.

- Deu tudo certo, Remo?

- Sim. Só falta o ritual.

Grã-Sacerdotisa? Será que aquelas eram as tão conhecidas Sacerdotisas de Avalon? Elizabeth sempre ouviu falar delas, mas nunca imaginarias vê-las pessoalmente. As sacerdotisas mal deixavam a sua floresta... Principalmente em tempos de guerra. Eram contra matar, ou prender, ou torturar. Nunca foram a um campo de batalha.

Mas essas perguntas também não foram feitas.

As sacerdotisas isolaram o corpo de Voldemort – lamentando muito ao ver que Dumbledore havia “completado a transição para o mundo espiritual” –. Formaram um círculo em sua volta, certificando-se que Harry, “o garoto da profecia”, estivesse também no meio, junto a Voldemort. A Grã-Sacerdotisa entregou a caixa à Harry. Ele gesticulou, como se fosse abri-la.

- Não abra a caixa, Harry. A não ser que você queira que moléstias e guerras assolem a terra.

Elas começaram a cantar um mantra numa língua estranha. Na mesma língua, a Grã-Sacerdotisa começou a falar, enquanto rodeava o corpo de Voldemort. Seu troco, de repente, foi elevado. Ele arregalou os olhos e inspirou uma grande quantidade de ar pela boca. Dela começou a sair uma imagem espectral do grande Lorde das Trevas. A fechadura da caixa começou a emitir uma forte luz dourada. A caixa começou a ficar avermelhada.

- Não solte, Harry.

Foi Lupin quem disse. Aparentemente, a caixa tinha começado a queimar o garoto, que fazia um esforço sobre-humano para não deixá-la cair. A imagem espectral de Voldemort se tornou uma sombra negra. A luz dourada a atingiu. O “fantasma” começou a ser sugado pela luz, e acabou sendo puxado para a caixa.

Elizabeth sentiu, pela segunda vez na sua vida, uma dor incomum na marca negra. Ela estava sumindo rapidamente. As sacerdotisas nada disseram. Apenas pegaram de volta a caixa e começaram a se encaminhar para a luz branca, que tinha acabado de reaparecer. Então, sumiram. Harry estava confuso.

- O que foi aquilo?

Remo Lupin respondeu, ainda olhando para o lugar onde a fenda estava.

- A Caixa de Pandora. Ela está há tempos escondida pelas sacerdotisas. Esse ano – suspiro – Dumbledore visitou Avalon e descobriu que a alma de Voldemort poderia ser presa na caixa.

O suspiro ao mencionar Dumbledore... Parece que só agora tinha se dado conta de que o velho morrera. Harry voltou para junto do corpo. Lupin o acompanhou. Ela estava para dizer que estava sinceramente sentida com a morte de Dumbledore, mas não teve oportunidade. Um Auror chegou por trás dela e disse:

- Levante a sua manga esquerda, por favor.

Ela olhou suplicante para Lupin. Ele tentou argumentar, mas não adiantou. Logo vieram mais dois aurores e a seguraram. O terceiro rasgou rudemente a manga esquerda de Elizabeth, deixando revelada a quase sumida Marca Negra.

- Se não apresentar resistência, poderá ter a pena reduzida.

Lupin continuava a tentar argumentar, mas era simplesmente ignorado. Elizabeth achou melhor não resistir; se tivesse algo para falar, o faria no julgamento... Mas então se lembrou de algo.

- Severo!

Os aurores sequer a ouviram. Ela, em desespero, começou a se debater.

- Severo Snape! Ele está vivo!

- POR MERLIN, ESCUTEM A MULHER!

Só então eles param de tentar contê-la. Ela estava ofegante. Os aurores olharam para ela, exigindo uma explicação.

- Na batalha... Ele bateu a cabeça... Eu o levei para dentro da floresta... Apliquei nele o Feitiço da Desilusão. Vamos! Eu os levo onde ele está.

Os aurores pediram reforço. Ela, Lupin e mais sete penetraram na floresta. Ela chegou onde Snape estava. Desfez o feitiço. Uma auror correu em direção a ele e fez um rápido exame. Voltou-se preocupada.

- Coma. Risco de morte. Necessita ir ao Hospital St. Mungo\'s imediatamente.

E Elizabeth não escutou mais nada. Foi estuporada em seguida.

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Ela acordou se sentido fraca. A cabeça e corpo latejavam. Sentiu frio. O lugar era frio. E sujo. Uma cela. Sentiu-se enjoada. Sentou-se. Abraçou as pernas, ficando numa posição quase fetal. Duas pessoas entraram. Ela tentou se levantar, mas não encontrou forças nas pernas. Caiu ajoelhada.

- A Bela Adormecida finalmente acordou! Vamos ter mais um julgamento hoje!

- Quem?

- Esquece, Arnold! Coisa de trouxa.

Saíram. Quinze minutos depois, mais ou menos, voltaram. Nada disseram. Pegaram Elizabeth pelos braços e a arrastam para uma sala redonda. Não tinha janelas. Vários bruxos estavam nela, tensos. Os homens a jogaram numa cadeira. Correntes prenderam os seus braços. Arthur Weasley se aproximou.

- Estamos aqui para julgar Elizabeth Riverside. A ré é acusada por inúmeras mortes e casos de tortura. Por usar maldições imperdoáveis. Por usar magia, principalmente magia negra, contra trouxas. Por auxiliar Lorde Voldemort. E pelo crime de falsa identidade.

Agora estava tudo perdido. Tantos crimes... finalmente pagaria por eles. Passaria o resto da vida em Azkaban.

Remo Lupin se levantou e começou a falar.

- Nas reuniões da Ordem da Fênix, Dumbledore explicou que a falsa identidade havia sido uma idéia dele. Antes do fim da primeira guerra, a Senhorita Riverside se arrependeu dos seus crimes e passou a viver sob proteção de Alvo. Sendo assim, eu proponho que tenha seus crimes anulados.

- E agora, Lupin? – Um outro bruxo se levantou. Ela o reconheceu imediatamente: Era David Anderson, o pai de Luanna Anderson, uma jovem que ela havia matado em uma das batalhas. – E os crimes que ela cometeu agora? Eles não contam? Ela não parecia arrependida quando matou a minha filha!

- Ela foi uma vítima da fatalidade, David! O seu disfarce estava em perigo! Ela fez o que fez para poupar a vida dos filhos!

- A MINHA FILHA ESTÁ MORTA! – O homem respirou fundo e se recompôs. – E o que eu acho é não se pode justificar a morte de centenas pela vida de quantos? Dois? Três?

Os bruxos começaram a fazer comentários. Olhavam para ela com desprezo... Estavam questionando seus motivos. Ela se desesperou. Levantou-se. Atraiu a atenção e todos. As correntes a puxaram de volta.

- Tudo o que eu fiz foi por amor! Eu não tinha escolha! O meu disfarce estava por um fio! Eu não era apenas uma comensal fugida; eu era a esposa de Voldemort! Eu já tinha me encontrado acidentalmente com dois comensais! Se eles me reconhecessem, meus filhos e o meu... e Severo Snape, meu amante, estariam mortos...

“Eu acredito que a maioria de vocês sejam pais. – Ela começou a chorar. – Vocês não matariam, por seus filhos? Vocês não cometeriam qualquer atrocidade pelo bem deles? Eu não podia ficar sentada, assistindo a morte dos meus! Eu... – As correntes a apertavam mais. Ajeitou-se na cadeira. A voz dela estava frágil... Provavelmente ineloqüente. Respirou fundo. Tentou se controlar. – O meu grande pecado foi amar demais meus filhos... Prefiro passar, por esse erro, o resto da minha vida trancafiada, do que ser uma mulher livre que não tem mais os filhos porque foi covarde demais para assumir os riscos”.

“Se há alguém aqui, nessa sala, que não faria o mesmo pelos filhos, então podem me prender, pois eu não pertenço, e nem quero pertencer, a essa sociedade”.

Ela abaixou a cabeça, deixando as lágrimas cair em cascata. Nem pode ver a expressão de compadecimento dos jurados.

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