Falso amor

Capítulo 70


45 dias depois.

Faziam-se quase 2 meses que Maria podia lembrar como se tivesse sido no dia anterior, o dia que saiu de casa e conheceu o lado mais sombrio da empresa do homem que era pai de seus filhos. Aquele lado que forçavam mulheres sob ameaças, trabalharem para enriquecer homens poderosos e seu sistema corrupto e aterrorizante.

Os dias passavam e parecia que com ele um pouco mais era revelado, mais gente eram presos e outros esquemas descoberto. Sim, com a linha de investigações que seguiam nas empresas San Roman, outras operações eram espelhadas nela e faziam um serviço mais rápido e menos sujo. Como Maria poderia lembrar ao sair do hospital sete dias depois, e descobrir que cinco das pobres mulheres obrigadas a fabricarem dinheiros falsos, haviam morrido naquele terrível tiroteio que enquanto acontecia, ela era levada para o teto daquele lugar sob a mira de uma arma.

Ela ainda podia fechar os olhos e reviver todo aquele momento assombroso. Era capaz de reviver cada segundo, e até sentir a quentura daquele dia em sua pele.

No meio da noite, em um quarto, ela estava sentada em uma poltrona. Tinha uma caderneta na mão e uma caneta. A caneta não lhe pertencia, muito menos aquela caderneta de capa dura e na cor preta. Ela mirou a cama grande na sua frente e visualizou Estevão repousado nela. Afinal estava no quarto dele. O mesmo que um dia ocupou sendo esposa dele.

Ela mirou ao redor mais uma vez desde que começou a ocupar aquele espaço há exatos 30 dias. Tudo estava novo. Começando pela cama e indo até o detalhe do papel de parede do quarto. Acabou que ela decidiu como acabaria aquela reforma que não houve tempo para Estevão vistoriar seu término.

Ele seguia preso e sob duas recusas de habeas corpus pago com uma fiança prevista a ser milionária. Geraldo trabalhava, ela ficava sempre pendente aos passos dele junto com sua equipe, mas tudo que pensavam parecia ser impossível demais para ser realizado.

Os bens de Estevão seguiam bloqueado. Viviam naquele um mês com o que ela tinha em seu nome e pagava todos os gastos que começou a ter com a empresa seguindo em ruinas, com a fortuna que Evandro á deixou.

Maria sorriu de lado e escreveu na caderneta seus pensamentos. Aquele dinheiro que ela tinha certeza que muito dele veio daquela lavagem de dinheiro, veio no momento certo. Ele estava sendo o suporte da empresa. Evandro por fim fazia algo.

Ela suspirou desejando que Evandro estivesse vivo e evidentemente saudável, para conhecer as privações de uma prisão. Mas em troca disso, era Estevão que passava por ela, mas não só ele. Demétrio seguia preso, os homens que foram surpreendidos no interior daquela maldita fábrica também. Mas faltava um. Bruno seguia no hospital, em coma e respirando por aparelhos.

O maldito parecia ter escolhido o próprio corpo como sua prisão. O que não deixava Maria feliz. Tinha certeza que a confissão de Bruno livraria de uma vez Estevão da prisão e daquela investigação, tendo apenas ele como o mentor de tudo.

Se Bruno acordasse teriam outro alvo a quem mirar.

Maria fechou a caderneta no colo e cruzou as pernas. Ela vestia um pijama branco, tinha o cabelo todo solto sobre os ombros e seu olhar, olhava com fixação a longa cortina da janela do quarto.

Desejava que passasse logo o tempo para que aquela tormenta terminasse. E não era que ali naquela grande casa, ela não tinha um aconchego que seu corpo necessitava para se recuperar de tudo que tinha passado, porque tinha, entretanto, não era apenas ele que precisava de atenção e cuidados desde que havia deixado o hospital. Sua alma e mente, necessitavam também de descanso. Seu coração estava angustiado e sua alma perturbada, por saber que Estevão seguia padecendo em uma prisão.

Ela se levantou e cruzou os braços. Estava ciente que se mais um pedido para que Estevão estivesse livre e esperasse o final das investigações em casa, fosse negado, partiram para o lado sujo. O menos honesto no qual os advogados eram capazes de fazer para livrar seus clientes e manipular assim a decisão de qualquer juiz.

Ser estrategistas fazia parte daquela profissão. E ás vezes eram necessário mover peças que pessoas boas demais não aprovariam elas.

E ela tinha duas peças na qual mover. Geraldo a alertou e pensaram juntos em quais. Mas nenhuma a agradou.

Se o juiz não se convencesse que Estevão por bem tinha condição de aguardar o final daquelas investigações em liberdade, ele se convenceria por mal. E essa segunda opção seria pôr a segurança de Estevão na prisão a prova. Já que essa parte ela pagava muito bem alguns oficiais e agente carcerários dentro da prisão, para bancarem a babá dele. Algo que só com dinheiro ela garantia esse feito.

Se era justo ela fazer isso por ele, sabendo que outros presos não tinham os mesmos privilégios que ela garantia para ele? Ela sabia que não era. Mas mais injusto seria se em uma noite ela soubesse que ele foi atacado por algum preso ou ferido em alguma maldita rebelião.

Estevão só estava preso por não ter feito questão em abrir seus olhos. Ele não era um criminoso e nem um risco para uma sociedade já muito doente desde do início dos tempos. Portanto Maria sentia que fazia bem protege-lo. Proteger o pai dos filhos dela, proteger o homem que ela ainda amava.

Ela andou no quarto de peito apertado. Ainda o amava profundamente, mesmo que sentisse que tudo que passaram e agora passavam, poderia ser a gota que faltava para que o balde que ela havia buscado depois de chuta-lo, voltar a transbordar.

Estevão não aceitava que ela o visitasse. Assim, tampouco ela deixava ele saber que ela fazia com que ele se mantivesse intacto em sua estadia na prisão, ainda mais na forma que ela garantia isso.

Lembrava em como ele relutou aceitar Geraldo como advogado e por isso, era só com ela que ele falava tudo que ia fazer como advogado. Com Estevão nunca, ele só aceitava falar com Heitor que passava as informações precisas que ele necessitava saber sobre os progressos do seu caso.

Quanto Estrela, tampouco Estevão deixava ela ir vê-lo. E Maria aceitava sua decisão, em ele não querer a menina deles naquele lugar, contando com processo que seria sua entrada em uma vistoria intima demais para a idade dela.

Mas então, Maria só o compreendia sobre ele não querer visitas de Estrela, não as dela como mulher dele. Tal decisão dele, a fazia se corroer por dentro.

E ainda assim, havia tentado falar por uma carta com ele e que ela, enviou-o por Heitor e até então estava sem resposta alguma dele.

Ela alisou as têmporas, pensando quando tudo aquilo terminasse necessitária de uma escapatória. Necessitaria na verdade, nascer de novo para voltar a viver e a caminhar visando um futuro que parecia ainda distante, mas longe de tudo o que viviam.

Ela então olhou o relógio digital ao lado da cama de Estevão, ele apontava em vermelho 1:00h da manhã.

Maria sabia que necessitava dormir, ainda mais que no dia de seguinte faria uma viagem. Ela sozinha pegaria a estrada para encerrar um assunto pendente que se referia ainda ao passado do qual ela foi vitima e ainda colhia os frutos desse mal.

Assim então ela puxou a coberta da cama e momentos depois se deitou no meio dela. Apagou a luz do abajur ao lado, se virou e se aconchegou no meio dos travesseiros macios para tentar dormir.

Longe dali, em um presídio.

Estevão estava deitado na parte de baixo de um beliche. A cama de solteiro mal cabia ele, mas seu colchão se tornara macio depois de sua segunda noite dormindo ali, resolverem trocar o colchão dele, apenas o dele tendo mais cama na cela junto de mais um beliche ao seu lado esquerdo, como ele poderia lembrar.

Ele lia com uma iluminaria portátil que ficava presa na capa do livro, quando acima da sua cabeça ele ouviu um ronco. E não era nada do que ele não podia lidar comparado com os insetos que pela noite apareciam para visitar a cela que ele dividia com seu companheiro, e que por sorte era apenas eles dois dividindo aquela cela. Diferente de muitas outras que ele pôde observar que passavam de 4 prisioneiros em uma só, o que era o número limite para estarem nelas.

Estevão assim virou a página do livro e quando fez, um papel caiu em seu peito. Ele sabia do que se tratava, o que o fez suspirar com pesar. Era a carta de Maria. O único contato que teve com ela com ele já preso.

Ele deixou o livro de lado e abriu a carta. A letra bonita de Maria só descrevia o quanto ela sentia muito pelo que estava acontecendo e mencionava o bebê que haviam perdido, além de conter promessas de tirá-lo dali. O que essa parte ele não se importava.

Ele odiava muitas coisas de sua nova vida. Odiava não ter sua privacidade, odiava ter que dividir espaços com muitos homens, odiava ter que se manter o durão todo o momento para não fazerem dele um empregado de outro preso, ou algo pior que aquilo. Odiava ainda mais ter horas contadas para sentir o sol em sua pele, algo que em sua liberdade não tinha valorizado por sempre ter apreciado mais passar o dia trancado em um escritório com ar-condicionado do que meia hora sob a luz do sol.

Assim, ele odiava tudo que o cercava ali dentro, mas ao mesmo tempo no seu mais profundo sentia que merecia cada motivo ali que o fazia odiar.

Por isso queria Maria longe dele, Estrela também que não merecia depois de tantos anos sem ele, ter agora um pai com a honra suja para todo um país e um conhecedor de um sistema carcerário por ter sido um detento. E não era que por estar prestes a completar apenas dois meses ali dentro, que eram poucos dias para ele se arrepender até de ter nascido. Aqueles dias nos quais vivia, para Estevão valiam como 365 de um ano completo preso.

Para ele, era uma eternidade sem fim. Com os dias todos desgraçados e vigiados.

Depois de passar os olhos em algumas palavras naquela carta, ele voltou a dobrá-la e guardá-la ao meio do livro, depois o guardou embaixo de seu travesseiro, se virou e tentou dormir ao som dos roncos que seguiam.

Ás 8:00h naquela nova manhã, Maria pegava a estrada. Sozinha, mas avisando aos filhos que teria algo importante que fazer naquela manhã, dirigia cheia de ansiedade e com o coração ansioso.

Sua direção? Ia até a cidade na qual vivia o homem que foi mais um personagem que compactou para sua desgraça, e mudança tão dura de vida e visão de como poderia ser o amor.

Com os dias abaixo do teto de Estevão e com poucas coisas ao que fazer, enquanto se recuperava de sua triste cesariana, ela teve tempo de pensar demais e vasculhar assim, cada canto daquela casa como que se voltasse a ser dela. E o escritório de Estevão não havia sido diferente, o que a fez achou uma chave na mesa dele fazendo ela ir direto em uma gaveta fechada, encontrando primeiro seu casaco, o mesmo que ela deixou no hotel que estiveram e ela o deixou para trás e depois o que ele havia revelado ter mãos: Os dados do homem que havia se passado em seu amante.

Que mesmo que Luciano tivesse dito que ele não havia tocado nela, Maria gostaria dela mesma ouvir sair aquela confissão da boca daquele infeliz homem, enquanto lhe gritava o que ele tinha feito. Ele tinha ajudado destruir tudo que ela amava, enquanto o que viu naqueles dados e fotos, ele vivia uma vida plena e feliz com a família que havia conquistado.

Quanto ela? Só tinha tido uma breve ilusão que voltaria a ter a dela. Mas havia sido apenas aquilo. Uma ilusão. Estevão e ela haviam sido marcados demais.

Assim, Martín Pérez também lhe devia muito e iria cobrá-lo da maneira que ela sabia que poderia cobrar além de mirar nos olhos dele como pensava que era de todo seu direito.

Ela dirigiu por quase 3:00h e quando finalmente parou em frente ao seu destino, levou ar ao peito, em uma respirada profunda.

Ela desceu então do carro e depois que fez, olhou uma grande casa com um muro alto e tomado por verdes de uma planta, e ao lado de um estreito portão, ela apertou a campainha na espera de ser recebida.

Não demorou muito para uma senhora atender, que pelo uniforme que usava, Maria julgou ser uma funcionária da casa.

—X: Pois não?

A senhora disse simpática, Maria sorriu tentando não evidenciar seu nervoso e a respondeu.

—Maria: Vim ver Martín Pérez, e não saio daqui sem poder falar com ele.

A senhora a olhou intrigada.

—X: E quem é a senhora?

Maria agora lhe ofereceu um sorriso menor antes de responde-la.

—Maria: Uma antiga conhecida. Diga a ele que assim que me ver, ele se lembrará de mim.

A senhora então acreditando nas palavras seguras de Maria, disse.

—X: Bom ele não está, mas a esposa dele sim.

Maria suspirou pensando na mulher que tinha visto nas fotos e então julgou que estar antes com ela do que com Martin, não seria de todo ruim. Assim então ela disse, mais segura ainda do que queria.

—Maria: Perfeito. Posso falar com ela primeiro.

A senhora sorriu antes de dizer.

—X: Só um momento.

Maria assentiu e viu a senhora fechar a porta novamente. Levou alguns minutos para ela ver a senhora refazer o caminho e voltar até ela, a informando que seu passe para entrar dentro da casa estava livre.

No primeiro momento, Maria se vislumbrou com a casa de aspecto moderno. E ficou muito óbvio que ali vivia um arquiteto como ela tinha lido nos dados que Estevão conseguiu sobre o homem.

Quando passou por um porta elegante e grande, ela então viu uma mulher de cabelos cacheados e ruivos (Diana Quijano) indo em sua direção.

—X: Olá. Posso ajuda-la?

Maria suspirou preparada para ser expulsa daquela casa, mas não antes de revelar para aquela mulher o que agora seu marido, tinha sido capaz de fazer contra ela. E não valia nada para Maria que o tempo tivesse passado. Para ela, o que Martin Pérez havia sido capaz de fazer nem o tempo poderia inocentá-lo arrancando de si toda a culpa que ele também tinha.

Ela então abriu a bolsa que ela tinha debaixo do braço, arrancou dela a pasta que trazia fotos dela no passado na mesma cama que Martín. E quando fez, ela disse de voz firme e sem deixar de mirar a mulher nos olhos.

—Maria: O que eu vou dizer e mostrar, pode não causar impacto algum em você como esposa do homem que vim procurar aqui, mas não saio daqui antes de ter uma longa conversa com ele.

Quando a ouviu, a mulher em frente de Maria ficou tensa, precisando assim de alguns minutos para pensar em sua próxima ação. E quando fez, se dirigiram até a arejada sala atrás delas.

Passou-se então quase duas horas com Maria ali, que descobriu que o nome da esposa de Martín era Alejandra.

Assim Maria guardava o que tinha mostrado para a mulher. Por questão de pudor e de pensar que depois de evidenciar as provas que tinha nas mãos, era hora de argumenta-las. Então depois que recolheu tudo, contou toda sua história e qual lugar era do homem ao qual tinha ido atrás.

No meio da conversa, necessitou enxugar um lado de seu rosto, enquanto sentia Alejandra lhe apertar uma mão. Um gesto solidário, mas mais que aquilo. Como mulher, Maria entendia que poderia ter ali uma aliada.

Assim então ambas sentadas uma de frente para outra, ouviram passos que vinham até elas.

Era Martín chegando até a casa enquanto dizia.

—Martín: Me avisaram na empresa que precisava de mim urgente e...

Ele parou de falar assim que viu sua esposa da companhia de outra mulher.

Maria levantou e o mirou. Primeiro achou que pela tremedeira que tinha tomado seu corpo, desmaiaria, mas depois que sentiu que se sustentou bem em pé, achou que vomitaria quando viu aquele homem de frente (Arturo Carmona)

Ele tinha mais anos sobre si. Expressões do tempo no rosto, um corpo mãos forte e maduro, e Maria podia ver muito bem que apesar do tempo passado e ele estar diferente, que estava na casa certa e na frente do homem certo e tudo porque conseguia ver um lado do seu pescoço sua tatuagem se sobressair da camisa. Aquelas tatuagens sem dúvidas eram suas maiores identificações nas fotos que ele pousou ao lado dela desacordada.

Martín ali não piscava. Apenas olhava a feição da mulher que fazia companhia a sua esposa, e pensava que ela era visivelmente atraente em sua total beleza e elegante demais em suas vestes, e que também não lhe era desconhecida, porém tampouco uma conhecida que ele sabia dizer quem era.

Assim então nenhum dos dois foram capazes de falar, fazendo assim, Alejandra falar em tom sério.

—Alejandra: Como foi capaz de fazer o que fez a essa mulher, Martín? Como foi capaz de me esconder seu sujo passado, quando eu te dei duas lindas filhas?

Maria piscou e Martín fez o mesmo agora reconhecendo a mulher que via. Afinal, não precisava de mais alguma palavra ali, já que era aquele seu único pecado do passado que depois que virou pai de meninas que o consumia.

Sempre que olhava seus doces anjos, temia que elas fossem vítimas de homens como ele e os quais lembrava, que a drogassem e por uma desgraça fizessem o que quisessem com seus corpos.

Assim então ele tocou no sofá, meio zonzo e disse de voz fraca.

—Martín: Eu sinto muito. Sinto muito...

Ele quis falar o nome dela, mas não sabia. Nunca soube de nada dela nem naquele episódio que o consumia, tampouco depois dele. E que se se prestou aquele papel, havido sido porque ainda jovem, necessitava de dinheiro fácil.

Havia sido jovem rebelde, um modelo em um início de carreira e ainda viciado em drogas, assim não tendo muito do que viver e manter seu vício, aceitava qualquer trabalho sem ao menos fazer perguntas. E foi então que em uma maldita noite se viu sendo obrigado a tirar fotos ao lado de uma mulher nua e desacordada.

O som de um riso contendo sarcasmo, se ouviu. E havia sido Maria que riu enquanto seus olhos tinham lágrimas ameaçando descer.

Assim então a voz dela se ouviu tirando Martin de seus devaneios.

—Maria: Sente muito? Você acha que seu sente muito é suficiente para pagar todo o dano que você colaborou para que causassem na minha vida? E eu ainda nem tenho a certeza se você se aproveitou de mim e... se você...

Ela levou a mão na boca e depois nos cabelos, arrastando ele todo para trás, tremendo, nervosa por estar finalmente diante daquele homem.

Martin que entendeu o que ela não conseguiu terminar completou dizendo, enquanto seu rosto tomava uma expressão de horror.

—Martin: Eu não te toquei se é isso que está querendo dizer! Eu não fiz nada com seu corpo!

Maria o olhou rápido, e os dois ouviram um suspiro aparente de alívio e foi Alejandra que deu.

Maria então deu alguns passos próximos a ele, o respondeu nervosa enquanto se questionava. Questionava aquela honra toda que foi expressada nos olhos do homem que parecia ter se escandalizado com a hipótese de ele ter mantido relações sexuais com ela, enquanto ela era incapaz de se defender.

—Maria: Se teve a consciência de não me tocar. Por que não denunciou o que presenciou? Sei que não estava sozinho! Se denunciasse teria me livrado de grandes injustiças que passei, depois de usarem nossas fotos para parecer com que fôssemos amantes.

Depois que falou, ela o mirou com ódio, com seu rosto vermelho e sua carne tremendo. Martin apenas só lembrou de como teve medo de parar na cadeia ou de ter sido assassinado. O que o fez sumir depois daquele ocorrido.

Assim então ele apenas sussurrou sem saber o que mais dizer.

—Martín: Eu sinto muito.

Maria deu outro riso, sem vontade sem humor e o olhou com incredulidade, indignação e asco. E por fim, o respondeu.

—Maria: Já basta de sinto muito! Não preciso mais que sinta nada! Eu preciso que reconheça o que fez, mas se entregando para que pague!

Quando a ouviu, Martín olhou a esposa que desviou o olhar dele.

—Martín: Quer que eu me entregue?

Ele então disse agora ele, com ar de incredulidade na voz e na sua expressão.

Maria assentiu firme, e reafirmou suas vontades.

—Maria: Sim. O que tenho em mãos e com sua confissão, fará com que pague o que me fez. Porque o que me fez foi um crime!

Ela torceu os lábios depois de falar e ofegou. Martin então não contente com aquele veredito, disse depois de voltar a analisar com um olhar rápido Maria.

—Martin: Não parece que precisa de dinheiro. E com os anos passados, é só essa pena que posso pagar.

Ele agora a olhou em desafio e seguro do que falava.

Maria então decidida não mudar seu desejo de vê-lo pagar por tudo que ele foi cumplice, o respondeu, dando a ele suas futuras opções.

—Maria: Tem outras formas que poderia cumprir, como varrer as ruas, lavar banheiros públicos e pagar cestas básicas aos necessitados! No final, eu também poderia pedir uma indenização sim, mas não se preocupe que se eu chegar nessa hipótese, faria que você pagasse a alguma instituição carente, Martin Perez. Eu não preciso do seu dinheiro!

Martin então arregalou os olhos e disse entre os dentes.

—Martin: O que você é? E como se chama? Sabe tudo de mim! Chegou aqui! Quem é você para saber de tudo isso?

Maria ao ouvi-lo teve que segurar suas lágrimas e sua vontade de ir com as mãos no pescoço do homem que lhe falava e tudo depois de esbofeteá-lo até suas mãos doerem. Ele nem conhecia o nome dela. Ela havia sido apenas alguém no qual ele colaborou para lhe arruinarem a vida.

Assim então ela respirou fundo, ergueu mais a cabeça o mirando e mantendo uma distância segura dele, e o respondeu.

—Maria: Me chamo Maria e sou uma advogada. Me tornei uma, quando fui vítima de homens como você e eu não sabia me defender. Então que fique claro que usarei todas as armas que tenho hoje, para vê-lo também pagar pelo que me fez!

Houve um silêncio depois, com apenas os dois se olhando, quando a mulher entre eles testemunhando o que acontecia, disse.

—Alejandra: Faça o que ela disse, Martin, senão partirei essa tarde mesmo com nossas filhas e nunca mais as verá.

Martin olhou rápido para os olhos da esposa, Maria fez o mesmo e suspirou por ver ela seguindo com a postura que a recebeu ali.

—Martin: Não pode fazer isso!

Martin então disse, agora em desespero. Maria o olhou sorrindo e depois disse.

—Maria: Ela pode sim, se saio daqui e te denuncio ela conseguirá por qualquer juiz uma medida para que fique longe das crianças ou o que só as vejam na companhia de uma assistente social.

Ela então cruzou os braços depois de falar, enquanto Martin sentia que perdia o chão. E Alejandra disse ainda firme.

—Alejandra: A ouviu, Martín. Faça sua escolha agora mesmo.

Já era noite. Heitor batia a porta da casa quando, Estrela da escada correu achando que era mãe deles.

—Estrela: Ah, é você.

Ela disse desanimada e Heitor disse, imaginando quem ela queria ver.

—Heitor: Nossa mãe ainda não veio?

Estrela negou com a cabeça e se sentou nos primeiros degraus da escada.

—Estrela: Não. Mas ela respondeu uma mensagem falando que já estava vindo. Só que isso já faz quase 3 horas.

Heitor lhe sorriu paciente enquanto se aproximava mais.

—Heitor: Mande mais uma mensagem.

Ele então se sentou com ela depois, e ela então com ele ao seu lado, o olhou e disse.

—Estrela: De onde você vem? Da prisão?

Heitor assentiu.

Houve então um silêncio entre eles. Um silêncio suficiente para Estrela se remoer por dentro entre seus pensamentos e sentimentos, todos revoltos e melancólicos, durantes todos aqueles dias que se passavam. Assim então depois de olhar muito para suas unhas das mãos, ela resolveu dizer.

—Estrela: Eu queria ver ele sabe. Cada dia que passa sinto que desperdicei muito tempo. Quero dizer... É que ele estava aqui o tempo todo, e eu, eu... ah, você sabe.

Heitor não precisou que Estrela desse nome para o “ele”, para ele entender de quem Estrela falava. Assim então se virou um pouco de lado para mirá-la melhor e a respondeu.

—Heitor: Sim. Eu sei o que quer dizer. Eu não quis perder esse tempo em relação da nossa mãe quando no meio das brigas deles, decidi não tomar partido mais.

Estrela virou o corpo também para mirá-lo melhor, e já que se sentiu compreendida pelo irmão mais velho, ela seguiu.

—Estrela: Eu deveria ter feito isso, não é?

Heitor assentiu, mas também acrescentou.

—Heitor: Deveria, mas você ainda é muito jovem para ter pensado como eu, Estrela. Já que tenho certeza que se o regresso de nossa mãe fosse comigo na sua idade, eu agiria igual.

Heitor suspirou ao lembrar de sua adolescência, parte dela sentindo falta de uma mãe que nunca apareceu e outra parte tentando odiá-la por isso. E o que Estrela seguiu falando, o tirou de seus devaneios.

—Estrela: Queria vê-lo para pedir desculpas por algumas coisas que fiz e dizer que sinto falta dele aqui. Essa casa é diferente sem ele. Tudo é, na verdade. Já que tudo aqui lembra ele.

Ela olhou ao redor de onde estava. Heitor fez o mesmo concordando mentalmente com ela. Até que ele disse, ao ter uma ideia.

—Heitor: Lá não é um lugar bonito, Estrela. Por isso é certo que ele não permite que você vá. Mas tenho uma ideia.

Estrela o olhou interessada e perguntou.

—Estrela: Qual ideia?

Heitor sorriu e disse.

—Heitor: Escreve o que sente para ele essa noite, que amanhã mesmo eu o entrego. Que tal?

Os olhos de Estrela brilharam em pensar que poderia usar um papel para dizer ao pai deles, o que ainda não podia e que também não tinha coragem.

E sem ela ter tempo de responde-lo, novamente a porta se abriu. Estrela saltou ficando de pé e então ouviu barulhos de saltos batendo no chão e depois Maria aparecer na reta da visão deles.

—Maria: Boa noite, filhos.

Ela então disse assim que os viu, não muito na animada, parecendo exausta, mas ainda assim tentando sorrir.

Heitor que ficou em pé junto da irmã, analisou a mãe deles de mãos no bolso de sua calça e perguntou.

—Heitor: Aonde esteve?

Estrela esperou a resposta também. E já que estava de volta, Maria disse a verdade.

—Maria: Fui até o homem que se passou por meu amante quando você ainda era criança Heitor.

Heitor quando a ouviu, ficou vermelho se aproximou mais da mãe apressado, dizendo.

—Heitor: Foi ver aquele homem sozinha? Mãe! Se colocou em perigo!

Ele pegou nos braços dela tocando-a, a varrendo com os olhos como se quisesse se certificar que ela estava bem.

Quanto Estrela também preocupada, disse ao lado do irmão.

—Estrela: Heitor tem razão, mamãe! Deveria ter contado onde iria!

Maria se afastou deles, colocou a bolsa dela na mesa ao centro a sala e os respondeu.

—Maria: Eu tinha que fazer isso e sozinha, filhos. Se eu contasse a vocês dois, não deixariam que eu fosse.

Heitor bufou da mesma maneira que Estevão fazia, e disse.

—Heitor: Claro que não, mãe! Esse homem poderia ser um psicopata ou coisa pior!

Maria deu um sorriso de lado, por ter encontrado seu agressor de uma maneira bem melhor que poderia julgar. Que assim então ela o respondeu.

—Maria: Ele é uma pessoa de bem. Tem uma família, uma casa linda e uma ótima profissão. Não é nenhum psicopata e mesmo que fosse se esconderia muito bem na fachada de bom homem que hoje ele é. Acredito que se dissessem que no passado ele fez parte de um plano tão sujo, ninguém acreditaria.

Estrela analisou aquelas palavras e disse com desgosto.

—Estrela: Não gosto de gente assim, que parecem ser uma coisa, mas são totalmente diferentes.

Ela cruzou os braços depois de falar, Maria suspirou e Heitor então quis saber mais.

—Heitor: Mas então o que aconteceu? Como foi?

Depois de outro suspiro, e meio de lembranças de ter passado uma tarde inteira em uma delegacia, Maria o respondeu.

—Maria: Terminamos o dia na delegacia. Ele vai pagar de um jeito ou de outro pelo que me fez.

Estrela arregalou os olhos ao ouvi-la e a questionou também.

—Estrela: Ele se entregou?

Maria assentiu cansada e acrescentou.

—Maria: Sim. Era isso ou ele perder a linda família que ele tem, como perdi a minha.

Ela então os olhou dando um leve sorriso. Tocou em um lado do rosto de Estrela e acariciou, fez o mesmo com a outra mão em Heitor e depois voltou a falar.

—Maria: Não estou disposta sentar na mesa de jantar hoje. Então vou subir e me manter no quarto o resto da noite. Boa noite, filhos.

Ela os deixou indo até a escada. Heitor no seu lugar, suspirou a olhando, imaginando que não era o momento de perguntar nada a ela, como por exemplo, como andava o pedido de fiança para tirarem o pai dele daquela prisão que toda vez que ele o ia visitar, voltava desesperado para tirá-lo daquele lugar.

Maria respirou aliviada quando entrou no quarto de Estevão. Fechou a porta se encostando nela, e quando viu seu corpo já estava ao chão. Agachada e com sua bolsa ao lado, ela levou as mãos aos olhos e chorou.

Chorou cansada, chorou ainda sob o efeito que foi estar diante de Martín, aquele homem que teve um rosto e um nome para ela e tudo depois de mais de uma década com ela querendo saber quem era ele.

Ela passou ali alguns minutos até seu choro cessar, se levantou e jogou a bolsa na larga cama. Depois tirou os sapatos dos pés e seu terninho, desabotoando cada botão devagar. Fez isso também com o resto da roupa que levava no corpo, até que ficasse apenas de peças intimas e depois entrou no closet de Estevão. Nele, pegou um roupão de banho preto, grande felpudo que era claramente dele e o colocou.

Ela então sorriu em um riso curto, quando deu mais de uma volta no cordão em volta da sua cintura e o amarrou. Depois quando saía do closet e tinha a intenção de ir até o banheiro e colocar a banheira para encher, ela ouviu seu celular dentro da bolsa tocar.

Ela se apressou para atende-lo, quando fez cheia de ansiedade ao ver quem era, ela ouviu Geraldo falar.

—Geraldo: Foi negado, Maria. Mais uma vez foi negado o pedido de fiança para deixar Estevão livre.

Maria fechou os olhos, sentou na cama devagar e deixou que um silêncio na linha se fizesse. Um silêncio que fazia Geraldo entender que ela tomava uma decisão. A que juntos tinham pensado. O plano B. O botão de emergência e uma medida extrema demais.

Maria olhou todo o conforto que tinha onde estava. Sua vida seguia um caos? Sim. Mas tinha sua liberdade, tinha uma cama quente, bons alimentos, os filhos ao seu lado e ainda uma banheira quente a esperaria logo depois daquela ligação, em troca, Estevão tinha nada daquilo. Estava privado de qualquer sinônimo que lhe daria prazer e conforto. E tudo porque o usaram e usaram sua empresa para executar um crime que ele nunca havia sido o mentor.

Então sua obrigação era tirar ele logo de tal infeliz e injusta condição. O que não podia nem sequer imaginar as coisas que ele já poderia ter presenciado e as sequelas que aqueles quase 2 meses com ele preso, poderia gerar em seu interior. Assim ela tomou a decisão que não gostaria que fosse preciso tomar, muito menos ela que precisasse tomar.

—Maria: Faça o que tiver que ser feito para tirá-lo de uma vez daquele lugar, Geraldo e faça logo.

Do outro lado da linha, Geraldo apenas disse firme e sério;

—Geraldo: Darei a ordem agora mesmo Maria. E tudo vai sair bem. Vamos confiar.

Maria fechou os olhos torcendo por aquilo e depois o alertou.

—Maria: Eu quero que faça nossa primeira opção. A outra não.

Geraldo sabendo qual era, a respondeu.

—Geraldo: Era nela mesmo que eu estava pensando. Boa noite, Maria.

Maria desligou a ligação sem responder Geraldo. Aquela noite, não seria uma boa noite para ela.

Assim então depois dela passar alguns segundos olhando para o celular de tela apagada, largou-o sobre a cama e se arrastou até o banheiro.

Enquanto colocava a banheira para encher, seu rosto era banhado por lágrimas.

Ela chorava sem ao menos se dar conta. Chorava pela decisão que acabava de tomar. Chorava por saber que seria culpada de lastimar um pouco mais Estevão. Chorava por ser ela a responsável de colocar em risco a integridade física do pai dos filhos dela. Chorava porque se via em um beco sem saída, desesperada demais para esperar que a justiça desse um voto de misericórdia a ele.

Chorava também porque pensava que mais uma coisa mancharia o amor que sentia por Estevão. E ainda lembrava que em um passado não muito distante, desejou com todas suas forças que ele sofresse tudo o que um dia a tinha feito sofrer. Por fim, chorou por lembrar que um dia desejou ter tanto poder para ser capaz de se vingar dele e lastimá-lo também. E olhe lá, ela agora tinha. Agora era ela no controle de tudo, até nas finanças quando ele não tinha nem poder sobre nada em relação de seu próprio dinheiro.

Já era bem tarde da noite. Todos os detentos já estavam em suas celas, quando Estevão ouviu passos no corredor que ficava a dele. Nada pareceria estar fora do comum por ser a ronda da noite dos agentes carcerários, até que ele ouviu que alguém abria sua cela.

Ele levantou então a cabeça para ver o que acontecia e quando percebeu que teria visitas ele se levantou. Seu colega de cela também despertou. O senhor de 65 anos preso por algo que ele não se interessou em saber, pareceu tão surpreso como ele ali.

O guarda uniformizado, deixou 3 homens grandes entrarem dentro na cela. Depois a fechou sem nada dizer, mas ficou ali na frente de vigia.

Estevão então com seus pelos todos eriçados e com o corpo rígido, disse.

—Estevão: O que querem?

Não houve respostas por parte dos homens, eles apenas avançaram em direção dele.