Fairy tales
Úrsula?!
Aquela manhã parecia comum como todas as outras. De meu quarto podia ouvir o som das ondas que no oceano quebravam-se contra a areia clara da praia.
Minha atenção não estava pregada à janela, e sim ao meu delicioso sonho. Me imaginava nadando nas águas gélidas do mar de Ambrosia, possuindo na parte inferior de minha estrutura uma calda verde-escura tendo a si uma barbatana de um tom mais claro.
Era evidente que eu sentia falta de ser sereia, mas a saudade é um dos sentimentos mais comuns na maioria dos humanos e dos seres místicos também.
— Ariel! Ariel, acorde! - Senti as mãos gélidas de Eric em meus braços nus acordando-me dos devaneios.
— O que foi amor? - Ergui-me a metade, me mantendo sentada sobre o colchão macio e quente que, anteriormente, me embalava ao sono. Breve, elevei palmatórias às orbitas afagando-as enquanto ouvia Eric.
— Lin, acaba de chegar uma carta...
— Puxa Eric, me acordou por uma carta? Chegam cartas aos montes no palácio meu amor. Deixe-me dormir mais uns minutos, por favor!? Já leio a carta, deixe-a sobre a escrivaninha... - Puxei o edredom cor de mel ao peito, voltando-me a desabar.
— Querida, é sério. A carta é de Úrsula...
— ÚRSULA? - Assustada, ergui-me novamente, sentindo o sono escorregar pelos dedos de minhas mãos. - Eric, Úrsula está morta!
— Eu também pensava isso, até essa carta chegar…– Ele estendeu a palmatória, revelando por sobre esta um envelope amarelado, contendo um selo de ceira de vela. O papel cheirava a peixe.
— Não é possível! O que diz?
— Leia você mesma, ela escreveu especialmente para você! - Engoli em seco, e abri o envelope. Uma carta também de papel amarelado revelava uma escrita delicada, mas eu reconheceria aquela letra de qualquer pessoa, era mesmo de Úrsula.
" Querida Ingênua…
(…)
Aquele navio velho, ancorado no fundo do oceano, só voltou a superfície no intuito de mostrar-me o poder que tinha em mãos, porém o tão charmoso príncipe Eric o desviou até meu peito, transpassando sua madeira pontiaguda podre para dentro de meu corpo, causando-me nada, a não ser retirar apenas noventa por cento de minha mágica. Acha que estou arrasada? Não delire querida, os dez por cento que me restam são suficientes para retomar o que me fora tirado.
Enfim, amada Ariel, abra os olhos para a verdade. Um beijo em sua barbatana, de sua amada MADRINHA, Úrsula.
De: Úrsula, diva dos mares.
Para: Ariel, barbatana murcha.
— Minha… Madrinha?
— Acho que você, minha princesa, deve falar com seu pai o mais breve possível!
— Sim, mas vamos tomar café. Isto pode esperar, se Úrsula ainda não conquistou seu poder por completo, ainda temos tempo. E amor, não comente nada com Melody, ela não precisa saber!
— Tudo bem. Agora vou acordar Melody, vista-se e nos encontre no Salão Principal, está bem?
— Está bem, não vou demorar.
— E não fique nervosa! - Eric se aproximou de meus lábios e os tocou suavemente com os dele. Retribui o beijo estalado e o deixei levantar-se da cama e partir. Ele já estava com suas vestes casuais. - Eu te amo..
— Eu também te amo!
Esperei Eric bater a porta do quarto para me levantar. Ninguém poderia me ver daquele jeito: Cabelo todo bagunçado, pele oleosa e vestes de sono! Eu estava verdadeiramente feia, nem imaginava no que passava na cabeça de Eric para me dar um beijo.
Em poucos minutos, finalmente ergui-me, e me direcionei ao banheiro. O banho já estava pronto, como de costume as criadas já haviam preparado tudo antes que eu acordasse. A água, ainda quente, ainda era notável o vapor subindo. Retirei os trapos e me lancei a banheira.
Não quis demorar muito, fiquei apenas uns cinco minutos. Após, sai da mesma, ainda aos pingos, me enrolando em uma toalha rosa bebê.
Quando voltei ao quarto, a cama já se encontrava feita e um vestido casual estava sobre a mesma, bem esticado. Ele era de uma cor azul e branca, e media até a altura de meus joelhos, logo o vesti. Breve, prendi as madeixas ainda úmidas em um coque liso, e caminhei rapidamente para o Salão Principal.
— Bom dia!– Cumprimentei meu marido e minha filha que na mesa do café da manhã me esperavam famintos.
— Finalmente mamãe! Você demorou.
— Melody, sua mãe estava cansada! Ontem a noite ficou até tarde resolvendo os preparativos para a sua festa de dezesseis anos! - Eric dizia à Mel enquanto se servia de um pouco de pães.
— Sim, querida! Mas me diga, qual a cor quer em seu vestido de baile? - Indaguei-a, sentando-me.– Mamãe, eu não queria uma festa aqui no castelo! Queria lá em Atlântida.. Com meu avô e minhas tias.
— Mel, isto não é justo com seus amiguinhos! Eles não podem ficar tanto tempo em baixo d'água, meu amor.– Mas mãe, vovô pode dar barbatanas para todos! Provisoriamente, é claro.
— Melody, seu avô é um homem muito ocupado! - Dizia Eric, após morder um pedaço de seu sanduíche de atum. - Não se daria ao trabalho de dar duzentas barbatanas para os convidados.
— Eu diminuo a lista! Por favor!
— Mel, seu pai tem razão.. E mesmo que diminua, seu avô ainda terá trabalho.. Mas, o que podemos lhe dar é uma festa aqui no palácio, e outra em Atlântida, mas só com os seus amigos aquáticos. Tudo bem?
— Sim! Está ótimo… Então – Ela se balançou na cadeira, ansiosa. - Eu vou nadar um pouco. Beijos papai, beijos mamãe! - Melody levantou-se da mesa tão rapidamente que quase tropeçou na barra de seu vestido lilás. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo malfeito.
— Ela comeu alguma coisa, Eric?
— Não.. - Disse-me com a boca cheia, voltando a comer.
— Acho que nadarei também… Estou com saudades do mar. Mas vou comer antes, com você. - Elevei a palmatória destra à de Eric, afagando-a levemente. Ele assentiu, ainda com a boca cheia.
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