Fairy tales

Seis Porquinhos.


POV – Lipe.

A raiva me atingiu ao pensar que Melody estaria indo encontrar o namoradinho peixe. Forçando-me ao máximo para ignorar a afobação que ela tinha de sair da carruagem, foquei órbitas em Estrela. Que, retribuindo meu olhar, sorriu.

– Lipizinho, porque está com esta cara?- Interrogou-me curiosa, quando Melody bateu a porta do veículo.

– Que cara?

– Parece que está com raiva e meio triste. Sem aquele olhar debochado, ou o sorriso maroto de sempre. O que está acontecendo? Estou preocupada. - Era estranho pensar que a garota que quase me castrou se preocupava comigo.

– Ei, não é nada. Relaxe está bem? Estou contente por tudo que ocorreu na noite passada.

– Foram apenas beijos, não se sinta tão especial por isso. - Ela colocou a mão em meu joelho, reconfortando-me. Seu tom dava a entender que era apenas uma brincadeira, mas sentia que no fundo havia alguma verdade em suas palavras. – Temos que ir Felipe! Daqui a pouco o cocheiro vai nos puxar pelos cabelos por tamanha demora.

– Ai dele se tocar um dedo em você. - Então nossos olhares se cruzaram e pude sentir meu coração acelerar. Por algum motivo, senti que deveria me aproximar dela.

Lentamente me aproximei, porém já não olhava em seus olhos e sim em seus lábios. Aqueles lábios que na noite anterior pertenceram a mim. Numa dose quase absurda de paixão, nossas bocas se uniram e pude sentir seu arfar abafado se render ao meu beijo.

A força do desejo era mais forte do que eu. Sentia como se o céu azulado daquela manhã estivesse desabado sobre nossas cabeças e por consequência, feito-me perder o juízo. Não me negaria beijar aquela garota que me fazia esquecer dos meus problemas e do real motivo da minha tristeza. Não me importava com mais nada naquele instante, eu apenas a queria.

Nossos corpos se encaixaram sutilmente, como duas peças de um quebra-cabeça. Tive a sensação que fossemos feitos um para o outro. Quando ela deitou sobre o assento da carruagem, puxando-me pela gola da camiseta, vi em seu olhar o suficiente para sacar que ela me desejava exatamente da mesma forma que eu a desejava.

Percorri com a boca o contorno de suas bochechas, descendo por seu maxilar e indo até seu pescoço. Encaixei sua pele em meus lábios e a massageei com minha língua calmamente. Pude ouvir um gemido ser emitido por sua garganta, enquanto continuava a descer.

– Não, não! - Me interrompendo, empurrou meu peito para trás, cautelosa. - Eu não quero Felipe! Precisamos sair desse cubículo.– Ao erguer-se, pôs-me ainda mais para trás, se ajeitando ao assento. O que me fez pensar que estaria nervosa.

– Tem certeza? - A fitei incrédulo. Era notável o desejo em seus olhos, mas parecia que ela queria negar-se a ele. - Não estamos cometendo nenhum crime.

– Os súditos nos esperam Felipe, vamos! - Direcionando três toques à porta da carruagem, Estrela fez com que o cocheiro a abrisse. - Eu lhe espero lá fora, me perdoe mas, não sei o que sinto. - Ela apanhou a palmatória do “cara” de farda, se apoiando para descer. Assim fez, pondo os pés na terra do vilarejo e partiu a andar para o interior deste.

Sinto como se ela não confiasse em mim, mas, ao mesmo tempo, desejasse poder ter confiança! Não quero a enganar, não sinto nada por Estrela, apenas desejo. Por Melody sinto algo ainda mais forte. Como se eu estivesse enfeitiçado.

Meus pensamentos estavam embaralhados, tentando ignorá-los, a acompanhei na descida do “cubículo” e a segui para o interior da Vila.

***

Fazia uma hora que estávamos andando pelo vilarejo, trocando sorrisos e acenos para os súditos, que encantados, nos davam presentes. Estes eram encaminhados para o bagageiro da carruagem pelo cocheiro que nos acompanhava.

Ao passarmos em frente a um açougue, um homem de barba longa e grisalha nos parou. Seus olhos eram fundos e possuíam rugas e pés de galinha por sua volta. Suas vestimentas pareciam ser feitas de trapos, que sujos de sangue animal, davam-lhe a aparência de pobre. Ele fedia a carne morta, o que me incomodou.

– Majestades! - Curvando sua estrutura velha, realizou uma reverência rápida. - Estou contente em vê-los aqui. É sempre um prazer receber nossos tão amados governantes.

– Muito obrigada senhor! É um prazer visitar esta magnífica Vila. - Pronunciou Estrela, sorridente.

Mantive apenas um sorriso em minha boca, enquanto “a loira” fazia o trabalho de “agradá-lo”, eu não estava com cabeça para isso. Saco! O cheiro de carne era estupidamente forte.

– Eu tenho um presente para vocês! Nasceu a poucos dias, mas logo estará maduro e pronto para lhes proporcionar uma bela refeição. - Ele adentrou a sua loja, voltando em poucos segundos com uma trouxinha em mãos. Parecia que carregava um bebê, e na realidade, era um.

Um bebê porco, ou um porquinho. Era rosado e mantinha-se dormindo nas mãos velhas do idoso. Era um tanto bonitinho, mas meus pensamentos me levaram ao meu petisco favorito: Bacon!

– Oba, Bacon! - Exclamei, animado.

– Não, não! Nem pensar em comer esta pobre criatura. Eu cuidarei dela! - Estrela resmungou, assumindo o papel de mãe de um porco que poderia ser meu bacon, meu bacon! Ela o recebeu aos braços, acariciando suas pequeninas orelhas rosadas. - Só preciso decidir o nome!

– Bacon, meu bacon! - Enunciei, notando o quão ridículo soava.

– Felipe, não comece! Não acredito que você comeria esta pobre criatura. - Mostrando-me o porco, apenas me fez ter fome.

– Não briguem majestades. - Aquilo nem de longe parecia uma briga! - Eu tenho uns cinco no galpão logo ali atrás.

Estrela me olhou furiosa, e eu já sabia o que ela faria. Estava certo. Quando percebi, andávamos pela vila carregando seis filhotes de porco em mãos. SIM! SEIS! Ela resolveu " adotar " os seis.

" Estarão seguros em minhas próprias mãos. " Ela só pode ter fumado algo forte demais para seus neurônios agirem daquela forma.

– Não acredito que você adotou essas coisas. - Bufei, carregando dois pedaços de Bacon. Estrela carregava outros quatro. - Elas nascem para virar Bacon, Pernil e…

– ELES SÃO MEUS FILHOS AGORA FELIPE! - Gritou, furiosa. - Ai de você se um deles virar o " seu bacon "! Ups, a mamãe gritou… Nana neném, que o Felipe não vai pegar, mamãe foi fazer compras e papai foi trabalhar…– Cantou, pondo os animais para " ninar ".

– Consegue se ouvir? Isso é ridículo! São porcos, nada mais. PORCOS!

– E o que tem? As pessoas adotam cães, gatos, pássaros… Eu não posso adotar porquinhos fofos e meigos?

– Estrela, vou tentar ser o mais claro possível: Você notou o tamanho da mãe deles? - Me olhando magoada, interrompi-me. - A MÃE BIOLÓGICA, NÃO VOCÊ! Ela é imensa. Eles estarão com mais de doze quilos em poucos meses!

– E o que tem? - Repetiu, me irritando. - Uma mãe de verdade aceita seus filhos como são!

– Você só pode estar brincando!

– Não, não estou. E espero que aceite meus filhos assim como eu aceito a sua personalidade bipolar. Deu por hoje Felipe! Agora vamos. Quero visitar algumas lojinhas de coisas para bebês, vou comprar um carrinho fofo para os meus filhotes.

– PORCOS!

– Chega, me dê eles! Não confio os meus filhos em suas mãos! - Tirando os animais de minhas palmatórias, senti-me livre para fugir da maluca o mais rápido possível. Porém, algo me prendia a ela. E por algum motivo, eu queria o meu nome na musiquinha para os porcos. Mas em vez de " Felipe não vai pegar ", queria ser o “papai” que ela citava. EU SEI! Estou pirando.

– Espero que encontre uma creche acessível para os seus filhotes.

– Não seja ridículo, irei criá-los com as minhas próprias mãos.

– Eu posso ajudar. - As palavras saiam de minha boca muito rápido, não tive tempo de filtrá-las.

– Ata! Você quer comê-los, isso sim.

– Não! Estou falando sério! Eu posso ser o “papai porco”?

– Ã? Você não me achava ridícula por querer cuidar de porquinhos? - Cessando seu caminhar, ela fitou-me surpresa.

– Eles são uma boa desculpa para eu passar algum tempo com você.

– Hahaha! Você é tão bobinho Lipizinho. Precisa ter uma desculpa? - Antes que eu pudesse respondê-la, Estrela se virou na direção de uma pequena lojinha de maternidade. Eu fiquei ali, parado, observando minha " nova família " adentrar ao estabelecimento.

Agora éramos oito, eu, Estrela e os seis porquinhos.