Acordou de um sono sem sonhos, sentiu sua cabeça girar quando se sentiu no sofá de veludo negro, e sentia como se sua mente gritasse que ela precisava lembrar de algo, como se sua vida dependesse disso... Mas o que era? Sempre que se aproximava da informação, ela lhe escorria pelos dedos, na ponta de sua língua, mas não se lembrava de nada depois que Alexis a beijou...

ELE A BEIJOU?!

De repente o ar parecia não passar, sua pulsação subiu a níveis tão insanos que ela sentia que seu peito ia explodir.

Ele pode ouvi-la do andar de cima, a pulsação acelerando como um animal perseguido, um sorriso de diversão cruza seus lábios, sentia-se ridículo por se divertir com as reações que provocava em sua presa imaculada.

Caminhou pela escuridão do andar de cima sem nenhuma hesitação, seus passos eram leves, inaudíveis na madeira da escada.

- Alexis...?

Ele parou no caminho, ouvia algo chegando... Mas de um, talvez... Sete, numa estimativa negativa, doze.

Será que realmente seria possível que se atrevessem a isso?

Com um estrondo da porta da frente sem arrombada, simultaneamente, as janelas se abriam e lançavam vento frio daquela noite nublada dentro da casa.

- Filho da noite. – um sorrisinho vazio.

Vincent.

- Não se atreva a colocar os pés dentro da propriedade da minha linhagem, seu traidor maldito... – sua voz não podia ser mais gélida.

- A-Alexis, o que está havendo...?

Absinthe se encolheu diante os dois homens que trocavam olhares hostis.

Vincent dirige seus olhos a Absinthe, depois a Alexis, com um sorriso de humor renovado no rosto.

- Ora, ora... Mas o que temos aqui? – uma risadinha frívola. – Uma humana? Mas o que é isso Alexis, não acha que está muito velho pra brincar de casinha?

- Olha que fala. – Alexis desdenha. – Aliás, já se recuperou da surpresinha que mandei lhe entregarem? Espero que não vá sentir falta. – ele sorri, mostrando os caninos.

Alexis não se incomodava nem um pouco com o fato de haverem mestiços com ele.

O sorriso no rosto de Vincent morreu. – Você pagará por aquela insolência.

- Oh, quer dizer que ficou magoadinho por eu ter quebrado o seu brinquedo? Foi uma grande perda? Eu acho que não.

Os olhos de Vincent se enchem de ódio, ele da um pequeno passo a frente.

Alexis fala, numa língua que Absinthe não entende.

- [Dê mais um passo e arrancarei sua cabeça aqui mesmo...]

- [Está blefando. Não faria isso na frente da sua humana preciosa.] – Vincent sorri cético.

- [Ah é...? Já estraçalhei o seu pescoço uma vez, com prazer o faria de novo.] – o sorriso de Alexis continua estático. – [Dessa vez não serei piedoso, você não tem o seu irmão pra se esconder atrás.] – ele dá dois passos pra frente. – [Preserve o resto de vida patética que lhe resta, ou eu a termino aqui mesmo.] – o sorriso morre, e sua expressão se torna mortalmente séria. – [Me dê um motivo, só um... E eu acato. Quer morrer hoje?]

Vincent coloca uma das mãos sobre a cicatriz mais clara que tem no pescoço, atitude involuntária, mas que revelava muito.

Absinthe se sente extremamente oprimida, não sabia o que se passava desde que começaram a falar nessa língua estranha, mas pela expressão de Alexis, não é algo nem um pouco bonito.

- [Você não se atreveria.] – o olhar de Vincent se estreita.

- [Um motivo.] – ele se recosta no sofá.

Um rosnado frio. – [Vou destruir tudo o que você mais presa Alexis, a começar por essa humana.]

Alexis se abaixa na direção de Absinthe, sussurrando em seu ouvido.

- Durma...

Ela cai inconsciente no sofá. Uma das vantagens de o veneno ainda estar correndo em suas veias, enquanto estiver, ela acatará suas influencias como ordens, como a que fez agora.

Depois de a única testemunha realmente perigosa ter dormido, Alexis cruza o aposento, parando em frente a Vincent.

- Repita.

Vincent sente um arrepio gelado de medo correr sua espinha como um alerta de perigo.

Silêncio.

- Repita... agora. – seus olhos se estreitaram.

- Essa é minha intenção. Vou tirar tudo o que lhe importa, inclusive essa humana, ela será a primeira.

- Ouça com cuidado. – um tom de aviso, frio e cortante. – Se me ameaçar de novo, eu vou te torturar até que os seus seis irmãos chorem lágrimas de sangue... Consegue entender isso? Ou precisa que eu seja mais contundente? – o olhar de Alexis se volta a cicatriz. – Não me ofenda... Não é uma ideia sensata...

Ele engole seco.

- É só um aviso. – ele diz, tentando manter a voz firme.

- Isso também: Você é o meu próximo alvo. Então trate de se esconder muito bem... Por que quando eu te encontrar, não haverá ninguém capaz de me impedir de te matar pela traição que você cometeu... Seu bastardo pérfido...

- Nos veremos de novo Alexis. – ele estala os dedos e seus nove mestiços acompanhantes estão ao seu lado. – Mas quando esse dia chegar será pra que você presencie a morte da humana que escolheu.

Alexis permanece em silêncio.

***

Quando acordou no dia seguinte, tudo era um borrão, quer dizer, ela não sabia dizer que parte era verdade, que parte havia sonhado.

- Oh, bom dia filha. – Emma sorriu, ao ver o resto de mulher que um dia foi sua filha.

- Hum... – ela resmungou, jogando-se no sofá.

- Eu sabia que gostaria dele.

- Quem? – ela voltou seu rosto emoldurado de cabelo espalhado em todas as direções para sua mãe sorridente.

- O rapaz costureiro.

O rosto de Absinthe adquire uma cor entre carmim e bordô.

- O-O-O-Oi?!

- Ele o trouxe de volta pra casa ontem, disse que não queria acordá-la. Muito simpático ele, eu aprovo filha.

Ah não! Como se não fosse o bastante a cara abobada de sua mãe de “a minha menina está crescendo” ainda tinha dormido no meio do encontro com Alexis?!

Deus! Porque?!

- Filha...?

- Hm?

- Por que está batendo a sua cara na almofada do sofá...?

- Tentando ver se consigo ficar em coma.

- ... Eu duvido...

- Droga...

***

Alexis estava jogado em sua cama, com uma dor de cabeça que lhe consumia o juízo, não tinha conseguido sequer uma hora de sono, e a luz que entrava embaixo da porta e pelos vãos da janela, o estava deixando com raiva, raiva pois seus olhos ardiam de olhar pra eles...

- Claridade...

Jogou os braços por cima dos olhos, sentindo-se extremamente incomodado, com os olhos ardendo, e uma sensação fria de vazio... E sabia exatamente que vazio era aquele...

De tempos em tempos, o corpo de Alexis precisava renovar a fonte de energia, que fazia seu corpo permanecer quente, e seu coração, pulsando.

Para a questão de seu coração, somente o sangue o ajudaria, já a questão do calor... Haviam duas formas. A que Alexis mais s dispunha a recorrer era ao consumo normal de sangue, o outro era... Sexo.

E tinha de admitir, tinha um fraco por artistas.

Sempre o teve, desde... Sempre.

Artistas são quentes e apaixonados, que sentem seus amores e desejos a flor da pele, pois frequentemente tem de entrar em contato com eles para fazer a sua arte.

E... Bem... Você já deve ter adivinhado...

- Decadente... – disse pra si mesmo no escuro.

E ainda havia o problema com Vincent... Mais cedo já havia ligado para Luka pra que ele entrasse em contato com a irmandade, e tinha mais esse empecilho pra impedir sua concentração.

Tinha de se controlar, ou acabaria fazendo algo que iria fazê-lo se arrepender...