- Gosta do Drácula?

Ela queria saber mais sobre os seus gostos, já que os olhos eram dois abismos que não permitiam que a emoção real passasse por eles, só restava confiar nos sorrisos e nas palavras.

- Acho no mínimo curioso. – sorriso.

- Curioso bom, ou curioso ruim?

- Curioso simplesmente.

- Nossa, que resposta fantástica.

Ela cruza os braços frustrada, o sorriso no rosto dele não se movimenta nem um centésimo.

- Sinto muito? – pede, aos risos.

Os dois caminham até a sala onde o filme seria exibido, sentam-se e encaram a grande tela branca.

Tirando eles, haviam mais dois casais e- Deus que me perdoe! Sua amigas!

- Erm... Pode me dar licença um segundo?

- À vontade. – ele sorri.

Ele inclina o corpo pro lado e apoia o cotovelo no braço da cadeira, apoiando a cabeça no punho e bocejando demoradamente, esperando que o filme de fato comece.

- Meninas?

- Sinth! – todas disseram em uníssono.

- Sente-se também! – Liz pede.

- Não posso...

- Que história é essa? – o sorriso de Jude diminui um pouco.

- Er... Estou aqui com alguém...

- Quem? – Lennie procura na sala quase vazia com os olhos.

Os três casais que nem estavam vendo o filme pra se pegarem no escuro foram automaticamente descartados, estão...

- Meu Deus! Não me diga que é o senhor-alto-e-moreno-de-olhos-sedutores sentado ali!

- Esse mesmo.

- De onde você tirou aquilo?!

- É o costureiro que eu comentei.

- Pai do céu! – Liz estava chocada, abaixou os óculos de leitura pra encarar.

Todas estavam com seus caderninhos de anotação, como sempre que iam ao cinema.

O senhor-alto-e-moreno-de-olhos-sedutores desceu de onde estava e se virou para Absinthe e as meninas.

- Boa-noite senhoritas. – sorriu.

- Agora é... – Lennie diz, Liz lhe deu uma cotovelada.

- Bem... Alexis, essas são... As minha amigas.

- Prazer em conhecer... – todas disseram.

- O prazer é todo meu. – ele sorriu, um dos sorrisos que acabava dando quando estava sendo cortês.

Um momento pesado de silêncio... Pesado para Absinthe, pois Alexis parecia perfeitamente habituado a ser encarado por garotas babando...

- Ainda quer ver o filme? – ele pergunta calmamente. – Por que se preferir ficar com elas eu vou entender. – um sorriso compreensivo.

- Oh, eu marquei com você. Não seria educado... Mas se quiser ir embora eu também entendo...

Ele ri.

- O fato de as suas amigas estarem aqui não muda muita coisa. Somente o fato que agora vamos apenas ver o filme. – ele volta a subir as escadas, deixando Absinthe com a garganta seca e três pares de olhos que ainda babavam.

- Enfim... Eu te ligo mais tarde Liz.

- Liga mesmo. – ela ri e volta a virar pra frente.

Durante o filme, em vários momentos, Alexis ria discretamente, coisa que Absinthe acreditou que fosse por conta do fato de que os efeitos de produção eram realmente muito antigos, o que tornava tudo um pouco mais cômico.

Uma bolinha de papel voou até o colo de Absinthe, e com a parca luz do aposento, ela forçou os olhos pra enxergar as letrinhas.

O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO? FAZ ALGUMA COISA MULHER!”

Ela rapidamente identificou a letra de Liz quando ela o fazia com pressa e apoiando no colo. Olhou pra ela e encontrou o olhar das três sentadas em baixo gesticulando pra que ela fizesse algo ou ele ficaria entediado e iria embora.

- Er... Alexis.

- Hum? – ele se virou pra ela. A luz do ambiente parecia deixar seus olhos mais brilhantes.

Perdendo o foco...

- Tem... Uma caneta?

E a coragem.

- Aham. – ele pega uma caneta no bolso e estende pra ela. – Aqui.

- Obrigada.

Ela rabisca de volta na folha do bloquinho.

NÃO POSSO! NÃO COM VOCÊS AQUI! EU SEI QUE VOCÊS ESTÃO ENCARANDO! ¬¬”

De repente, observar a pequena guerra entre ela e as amigas pareceu muito mais interessante que o filme, principalmente por que o assunto da guerra era ele mesmo.

Ele ri, ela olha pra ele, ele está com uma sobrancelha arqueada, elas já estavam na sexta vez atirando aquele papelzinho. Liz o atira de novo, Alexis pega o papel no ar e vai ler com calma.

Absinthe tenta tirá-lo das mãos dele, mas ele a segura sem problemas, lendo a conversa com cuidado.

“POR QUE NÃO?! ¬¬”

“PELO AMOR DE DEUS! EU MAL CONHEÇO ELE!”

“E DAÍ?! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ MORRENDO DE VONTADE!”

“ISSO NÃO VEM AO CASO!”

“HÁ! VOCÊ NÃO NEGOU!”

“NÃO DA PRA NEGAR...”

“ENTÃO FAZ ALGUMA COISA, CARAMBA!”

Ele ri, devolvendo o papel para Absinthe, que agora quer se enfiar num buraco e passar o resto da vida ali.

- Se queria que eu fizesse alguma coisa, era só pedir. – ele ainda ri.

- M-Mas-

- A gente conversa depois do filme. – um sorrisinho.

Um arrepio quente corre o corpo inteiro de Absinthe, de baixo pra cima, mentalmente ela pragueja a existência de seus hormônios.

Finalmente depois do filme, as amigas de Absinthe vão embora, e Liz faz um sinal pra que ela lhe telefone, Lennie a está rebocando para que ela não fique lá, pra sempre, quando claramente eles queriam ficar sozinhos.

Os dois assistem as meninas dobrarem a esquina e então o olhar de Alexis se volta a Absinthe, ela ainda quer se enfiar num buraco.

- Desculpe por tudo isso...

- Não se preocupe com isso. – ele sorri.

- Hm...

- O que quer fazer agora?

- Hm... Não sei... Tem alguma ideia...?

- Como você me ligou eu pensei que já tinha alguma ideia. – ele apoia na parede.

- Você me disse que queria que eu fosse sua modelo.

- E eu quero.

- Você tem um estúdio?

- Tenho.

- Podemos ir até lá então?

- Claro.

Ele desencosta na parede e caminha pela rua, ela sai atrás dele, ele abre o guarda-chuva e coloca um dos braços ao redor do ombro dela, trazendo-a mais para perto.

A respiração para por alguns instantes antes de voltar a circular dentro dos pulmões.

Na esquina uma Ferrari preta e de pintura fosca está estacionado. Ele aperta o botão da tranca e abre a porta.

- Entre. – ele instrui.

Ela entra no carro e escorrega no banco de couro perfumado. Ele entra e joga o guarda-chuva fechado no banco de trás.

Colocando a chave no contato o motor ruge como um dragão acorrentado, ele acelera e sai pela estrada mal iluminada até o estúdio.

Um trovão explode quando os dois pisam no interior do estúdio, ele vai atrás da caixa de luz, sabe que ela não enxerga nada no escuro.

A luz se acende.

Os olhos de Absinthe observam a extensão gigantesca da sala cheia de manequins vestidas de todas as roupas mais lindas que já tinha visto na vida.

- Nossa...

- Gostou?

- Muito...

Ele sorri.

- Fico feliz em saber.

Ela repara algo diferente.

- Seus dentes...

- O que tem eles? – ele inclina a cabeça pro lado.

- São caninos são tão... Longos e... pontiagudos...

- Já me disseram isso. – ele sorri. – Te incomoda?

- N-Não! – ela diz, se sentindo rude por reparar. – De forma alguma... Eu estou sendo rude.

- Oh, não. – ele sorri. – Eles têm mesmo um comprimento desnecessariamente longo.

Um breve momento de silêncio.

- Quer experimentar alguma coisa? – ele aponta a infinidade de peças atrás dele.

- Eu posso?

- Claro.

- Então eu quero!

Ela sai por entre a infinidade de manequins olhando e listando todas as coisas que iria experimentar.

Nesse meio tempo ele fecha a porta da frente, indo até a lareira lateral e acendendo, estava começando a ficar com frio, o que poderia ser um problema.

Se o corpo dele tem frio, queima o sangue que corre dentro dele mais rápido, pra manter a temperatura equilibrada, e por consequência, ele fica com fome, o que não é... Bem... Apropriado para esse momento.

Da mesma forma que o corpo humano produz o calor dentro de si através do alimento que ingere, o corpo de um filho da noite faz o mesmo, porém ao invés de alimento, é sangue.

Sentando-se próximo da lareira, ele deixa que sua presa brinque livremente de trocar de roupa, vai deixar que ela confie nele, e só então fara alguma coisa.

Quando a temperatura de seu corpo e do ambiente se tornam semelhantes, ele levanta e caminha até onde ela está, seguindo o pulsar constante de seu coração até o andar de cima, onde ela está terminando de fechar um vestido vermelho sangue com varias camadas, e um corset.

Isso foi feito por ele a muito, realmente muito tempo, e ainda permanece no mesmo estado que quando foi fabricado, ao que parece, somente imortais tem o poder de fazer peças imortais como eles próprios.

Ele se aproximou dela, fechando o alto da peça, coisa que ela não conseguia fazer sozinha, depois postou as mãos nos braços dela e disse:

- Gostou desse?

- É lindo... – ela olhava o seu reflexo no espelho, com vestido vermelho, e o artista que o havia feito logo atrás, com um sorriso cálido e plácido.

- Foi um dos primeiros vestidos que eu fiz. – foi se sentar numa cadeira no canto da sala.

- Como? É perfeito.

- Sempre fui bom com as mãos. – inclinou a cabeça pro lado.

Um arrepio lhe correu a espinha.

- A-Ah...

Um sorriso maldoso.

- Vou beijar você Absinthe.