Absinthe circulava pelo andar de baixo, vendo o dia se perder, conseguia sentir que todos estavam muito ocupados com os mestiços naquele momento, mas ela também estava.

- Andrew ABAIXA!

O grande cão negro que Absinthe presumia ser Andrew abaixou, um mestiço passou uma espada na altura de seu pescoço. Fazendo sua fera de marionete, ela gesticulou o grande animal na direção do mestiço, dando-lhe uma patada, ele bateu na parede e caiu, parando de se mexer.

Andrew acenou com a cabeça, pulando por cima dela, atravessando a sala para ajudar o irmão, ela sente um corte nas costas, agudo, mas isso não a colocaria no chão agora, ela tinha contas a acertar com Alexis e o irmão petulante dele depois, virou sua fera se tornou uma pantera verde vivo, esmigalhando pescoço com aos dentes fortes, saindo pela sala.

Estava cansada, doía manter aquilo para fora, doía fazê-lo mudar de forma, mas estava cansada de ser o estorvo, ia aplicar toda aquela raiva em algo construtivo.

O sangue quente escorria pelas costas, manchando suas roupas.

Um dos irmãos de Valsher se aproximou dela, colocando a mão em seu ombro.

Ela ofega, olhando para ele com os olhos bem abertos.

- Esse salão está limpo. Agora vamos parar esse sangramento.

Ele arregaça as mangas, pegando um vidro com uma pasta amarelada e passando pelo corte de Absinthe, que queima como o inferno, e então se amortece numa sensação morna.

Engolindo um interjeição, ela pergunta entre os dentes:

- O que é isso?

- Hashkar. – ele diz. – Foi feito há pouco tempo, então ainda deixa um desconforto quando é aplicado, ainda está muito duro.

Um líquido azulado que cura ferimentos internos, como hemorragias, tumores, câncer...”

- Certo... – ela diz, tomando fôlego. – Onde estão os demônios?

O anjo torce o nariz.

- Devem voltar em poucos segundos, vamos na frente.

- Certo, aviso que vocês subiram.

- Obrigado.

Em pouco tempo os a matilha dos cães das sombras se esgueira de volta para aquele pátio.

Valerius se sustenta sobre duas patas, voltando a forma humana.

- Para onde foram as harpias?

- Subiram na frente.

- Melhor.

Os cães disparam para o andar de cima, ela sobe nas costas de sua fera, subindo também.

De repente todos param... diminuindo a velocidade.

Um dos anjos olha para cima.

- Luka está cego...

***

Alexis pega o traidor pelo pescoço, ele observa enquanto Cain o deixa com Alexis sem olhar para trás, indo até onde Luka está.

- VOCÊ PREFERE AJUDAR ESSES SANGUESSUGAS QUE MATARAM SEUS PARENTES A FICAR DO LADO DE SUA PROPRIA CARNE E SANGUE?!

- Depois de tudo o que você fez... Você nem sequer é mais minha carne e sangue. Você só é um louco patético...

Os irmãos de Vincent se posicionam, solenes, ao redor, próximos as paredes.

- Você cega o meu irmão... Eu cego você. – Alexis diz, deixando pequenas gotas ácidas do próprio veneno, pingarem nos olhos de Vincent, que se recusa a fazer qualquer ruído.

Alexis puxa-o pelo colarinho arrastando-o para o andar do estacionamento, não considerava que o que iria fazer devesse ser assistido... Por ninguém...

Enquanto isso, Giovanni e Dylan tratavam do outro irmão. Dando-lhe pequenas injeções de sangue humano pelo corpo, nas áreas mais queimadas pelo contato com as correntes.

- Fratello, você está bem? – Giovanni pergunta, olhando as feridas nas mãos e no rosto de Dylan, feridas feitas com aquela estranha liga de ouro e prata, deixaria algumas cicatrizes, com certeza.

- Nada que não vá passar, Giovanni.

Aos poucos a respiração de Evan tomou uma nota cadenciada, e as feridas foram se fechando enquanto Giovanni espalhava o liquido branco em algodões umedecidos.

O cheiro da carne queimada incomodava Dylan e trazia algumas lembranças recentes e amargas para Giovanni.

Os dois apoiaram o irmão, indo encontrar Ivan e Lud, Lud tinha Luka nos braços, e Ivan limpava o sangue fervente e as lágrimas dos braços de Luka.

- Vou deixa-los filhos da noite. – Cain diz parecendo cansado, ele toma fôlego pra dizer algo, mas se refreia, simplesmente indo em direção à porta, os irmãos o seguem, saindo.

Luka se abraça, Valsher pousa uma compressa gelada em seus olhos, ela chia com o contato subindo uma pequena onda de vapor.

Eles saem também, e Valsher e Cartier vão ajudar a terminar a limpeza.

***

O céu já começava a escurecer novamente quando Alexis saiu do estacionamento, impregnado de sangue e cheiro de morto, os olhos prateados ainda faiscavam, ainda achava que o que tinha feito era pouco, queria tê-lo finalizado, mas deixaria ele lá, para morrer devagar.

- Alexis?

Alexis volta os olhos para encontrar a figura de Absinthe fedendo a sangue mestiço.

- Humana... – ele diz, cansado, consegue ouvir seu peito chiando.

- Eu fiquei sabendo... Sobre Luka... E... Meus pêsames.

Ele simplesmente olha pra janela.

- Somos escravos afinal... Meu irmão é um homem honrado, Absinthe... Mesmo tendo pecados como todos nós.

- Escravos? – perguntou confusa.

- O sol, Absinthe, o sol. – ele suspira. – E me dói saber que ele nunca mais poderá ver de novo... Mas vivemos em guerra... Pelo menos nenhum de nós morreu.

- Não é possível se ser Deus, Devareaux.

Ele volta os olhos para ela.

- Agora pare de ficar se culpando como um idiota, e saia logo daqui, tenho que colocar isso aqui abaixo. – ela arregaça as mangas. - E fique vivo, temos contas a acertar.

Ele ri uma vez, saindo pela porta, voltando para casa, para encarar no rosto do irmão, uma coisa pela qual ele havia sido responsável também.

Absinthe respira fundo, abrindo completamente a porta que mantinha a fera num controle parcial, levantando uma labareda de fogo verde no chão nas paredes, a fera se enrola no prédio como uma cobra gigante, um dragão, Absinthe se dirige a janela, só haveria uma chance de dar certo, ela acena com as mãos, e a fera esmigalha o prédio entre suas varias voltas, incinerando-o.

Absinthe pula pela janela, sendo agarrada pela fera, e levada em suas costas para longe dali, para o telhado de um prédio, onde ela manda o sinal para Dilian.

“Acordem”.