Sentada na cadeira que agora era obrigada a ocupar seis horas por dias, cinco dias por semana, se aproximava perigosamente do sono. Não entendeu por que teve de mudar de escola nos últimos três meses do ultimo ano de escola, depois iria pra faculdade, e não teria nem sequer uma única boa lembrança de sua formatura no colégio, pois estaria cercada de riquinhos esnobes e professores de fala pomposa.

Sinal. Oh, doce liberdade. Queria sair o mais rápido possível e ir trabalhar, se enfurnar em trabalho e mais trabalho até que a expulsassem de lá no fim do dia.

Mas não podia.

Tinha de acompanhar sua mãe na primeira prova do vestido. Lamentável... Mas pelo menos poderia ver o adorável rapaz de cabelos escuros e desordenados novamente.

Hoje Emma estava de verde, e quanto digo “de verde”, quero dizer “parecendo uma samambaia”.

As duas novamente adentraram o edifício, o rapaz na porta abriu a mesma reprimindo uma risada ao ver a roupa escandalosa de Emma, voltando os olhos para o chão pra se impedir de rir alto demais.

Absinthe suspirou.

Emma foi rapidamente chamada, e, em sua sequencia, foi sua filha-a-reboque, Absinthe.

Ela entrou no ambiente familiar e atulhado com uma expressão serena, observando calmamente a desordem com uma identificação quase instantânea.

- Olá. – Alexis sorriu, um pequeno sorriso discreto.

- Olá.

- Você me pediu pra fazer uma camisa, e bem, eu fiz, mas...

- Mas?

- Você não me disse que cor queria. Então eu escolhi um azul royal que achei que fosse gostar.

Ele então pegou um tira do tecido que se referia anteriormente e entendeu a ela.

- Hm. – esse “Hm” queria na verdade dizer: “Desculpe, eu estava ocupada demais babando em você pra pensar em uma cor para a camisa, mas achei o tom de azul muito bonito.”.

- Espero que não tenha problema. Se não gostar posso fazer de novo.

- Não! – alto demais. – Quero dizer, não. Gostei do tom de azul.

- Sério? Se não tiver gostado eu faço de novo.

- Aham. É bonito.

Ele pareceu respirar mais aliviado.

Ela sorriu e ficou lá parada.

- Pode tirar a camisa, por favor?

Ela sentiu que haviam puxado o pequeno tapete de debaixo dos seus pés, e que ela tinha caído e batido a cabeça no banquinho que havia ao seu lado.

- Perdão? – ela pareceu corar um pouco.

- Pra experimentar a camisa. – ele riu, levantando o tecido que ainda não se parecia muito com uma camisa.

Ela limpou a garganta. – Claro...

Abriu a camisa, com a vaga sensação de ser observada, mesmo que os olhos dele estivesse voltados pra outra direção, mais especificamente para a caixa com alfinetes de onde ele tirava um punhado deles e colocava na almofadinha em seu pulso.

Ela colocou o tecido preso à base de alfinetes com cuidado para não se espetar e se virou para o espelho, respirando fundo e mantendo-se calma, não era como se ele estivesse fazendo alguma coisa afinal... Não é?

- Pronto. – ela disse.

- Hm. – ele respondeu, prendendo mais uns três alfinetes e virando-se pra ela. - E então?

- Então o que?

- A camisa. Quer algo mais apertado, mais cinturado, mais fechado, mais aberto?

- Er... Eu não sei dizer. Isso não se parece com uma camisa pra mim.

- Eu fiz folgado, por isso estou perguntando.

- Acho que algo mais justo seria melhor, está muito largo.

Ele se aproximou por trás dela, para não impedir sua visão e puxou parte do tecido pra trás, desestabilizando momentaneamente o equilíbrio de Absinthe.

- Assim? – ele perguntou parado em seu pescoço, enquanto pegava um alfinete.

- É-é... Acho que sim. – disse, novamente com dificuldade em se concentrar.

Apenas uma fina camada de tecido não muito bem preso separavam as mãos dele e o seu ser não muito bem vestido.

- Hm. – ele ia prendendo enquanto esperava que ela falasse o que mais, mas não disse, ele voltou o olhar pra ela então. – Algo mais?

- Erm...

- Decote? Mangas? Gola?

Ela foi processando as informações na ordem em que ele as disse.

- Acho que o decote está bom, prefiro mangas 7/8 e a gola normal de uma camisa.

- Botões?

- Sim, na frente.

- Dê um passo pra trás.

Então ele a soltou e se afastou, ela pode dizer isso simplesmente pelo fato que o calor do corpo dele de repente não estava mais lá.

Ela deu um passo pra trás, ele voltou com uma tesoura e parou na frente dela, reclinando-se e segurando a ponta inferior do tecido com três dedos.

A tesoura subiu cortando a frente da camisa em dois, e os dedos dele ia seguindo a ponta fria da tesoura, traçando uma linha reta perfeita por sua pele. Ela estremeceu, e um pensamento improprio rapidamente lhe correu a mente, e tão rapidamente quanto surgiu, ela o descartou, chacoalhando a cabeça de leve.

- O que foi? – ele parou, estava na metade. Olhou pra ela e esperou que respondesse.

- N-Nada, ignore.

Ele voltou a se concentrar no que fazia e subiu até em cima, terminando por encontrar perfeitamente o meio do decote.

E então desceu mais duas vezes, prendendo alfinetes nas extremidades dos cortes, com cuidado milimétrico e esmerado.

- Algo mais? – ele perguntou, depois de um longo tempo de silêncio.

- N-Nada... – agora ela queria ir embora, sair e se jogar na piscina de sua casa. Aquela imensa poça de água gelada nunca lhe pareceu tão atraente em sua vida toda.

- Hm. – ele disse, se afastando devagar e voltando a devolver o resto dos alfinetes para a caixinha onde estavam antes.

De repente ela sentiu necessidade de enrolar mais alguns minutos ali, virou-se pra ele e disse:

- Pode cinturar um pouco?

Ele parou de devolver os alfinetes para a caixinha, olhou na direção dela e sorriu.

- Claro que posso. Onde quer a dobra? Na cintura mesmo?

- Pode ser.

- Preciso de algo mais preciso que “pode ser”. – em poucos instantes já tinha cruzado a sala e estava atrás dela. – Aqui? – colocou as mãos na altura da cintura dela e circulou com as mãos, fazendo o tecido se esticar e cinturar.

- Er... É.

- Está bom assim?

- Aham...

Ele pegou três alfinetes com a boca e foi prendendo até que tudo estivesse imóvel no lugar.

- Pronto. – disse. – Mais alguma coisa?

Uma pergunta que parecia um convite pra algo mais, mas não ousou interpretar assim, simplesmente dizendo:

- Não... S-Só isso mesmo...

- Certo.

Quando se afastou, foi jogar o resto dos alfinetes na caixa e disse:

- Pode tirar.

Tirou a camisa com as palmas das mãos suando frio, segurou um segundo a camisa no ar, e perguntou a ele.

- Onde eu deixo?

Ele voltou o olhar pra ela, que agora não usava camisa alguma e disse:

- Pode deixar sobre a cadeira. – correu os olhos indiscriminadamente por ela, mas só por alguns instantes, então voltou a fechar a caixinha.

Ela engoliu seco e deixou a camisa sobre a cadeira, deixando também as marcas das palmas das mãos úmidas. Recolocou a camisa sentindo as mãos tremerem e não ajudarem a enfiar os botões naqueles malditos buraquinhos minúsculos. Não foi difícil pra ele notar o quanto ela sofria pra colocar os botões e disse:

- Está colocando errado. Vai faltar um botão.

Ela suspirou e deixou as mãos caírem ao lado do corpo, ele tomou isso como uma desistência, e se aproximou, estendendo as mãos pra abrir a camisa de novo e recomeçar a fechar.

Mesmo não tendo percebido, ela parou de respirar quando ele começou a abrir sua camisa, e alguns muitos pensamentos muito, muito errados lhe passaram pela cabeça a respeito dessa situação. Em poucos minutos ele havia terminado de fechar tudo e estava arrumando a gola.

- Tem problema de pressão alta? – ele perguntou.

- Hãn? Por quê?

- Suas mãos estão tremendo, você está suando frio e seu coração está disparado. Achei que tivesse algum problema de pressão.

A mentira parecia tentadora agora.

- Algo assim.

- Entendo.

Se afastando ele se recostou na mesa e pareceu pensar por alguns instantes.

- Posso lhe fazer uma pergunta? – ele voltou o seu olhar na direção dela.

- Pode...

- Você poderia ser minha modelo?

- Modelo?

- Isso. Modelos em geral são magras demais, você tem curvas o suficiente. Gostaria de ser minha modelo?

O impulso inicial era dizer sim, sim, sim, sim, sim. Mas se conteve.

- Er... Talvez.

- Por favor. Faz tanto tempo que quero uma modelo, mas nenhuma serve aos meus moldes.

O suficiente.

- Hm... Bem, se você precisa... Eu sei que é difícil querer um modelo e não encontrar o que você procura.

- Excelente. – sorriu, um leve sorriso que não mostrava todos os dentes.

-Eu... Acho que preciso ir.

- Claro. Aqui. – lhe entregou um papelzinho e continuou a falar. – Meu celular, me ligue quando tiver tempo.

Deus! Ela tinha telefone dele! Limpou o suor das mãos na calça e pegou o papel.

- Certo, eu ligo.

Ele sorriu, ela saiu porta a fora, finalmente conseguindo respirar. Maldição! Por que raios ele tinha que ser tão intrigante?!