Fading Away

There's something wrong


Então sabe quando você se vê numa situação que você chega a pensar “puta merda” ? Foi exatamente o que eu pensei ao olhar pro cara com o qual eu estava ali.

- Ah, não – resmunguei. O fato, meus caros, era que eu estava num momento crítico de um assalto, no qual não se podia fazer o mínimo de barulho, preso numa sala com ninguém mais ninguém menos que um cara que eu não falava há muito tempo e que estava com a mulher que eu amo. Imaginem-se na minha situação.

- De nada, Joshua – ele disse, bufando.

- Olha aqui Taylor, eu não vou te agradecer por nada, você me chamou porque quis, certo?

- Se eu soubesse que era você, não teria chamado porra nenhuma.

- Não interessa, isso é pra deixar de ser otário. Você chamou e pronto, não era pra ter chamado e...

- Vem cá, você quer calar a boca? A gente tá escondido e tá cheio de ladrão com arma aí fora.

- Eu só vou calar a porra da boca quando eu tiver afim, beleza?

- Não, você vai calar agora, porque eu tô dizendo pra calar e fim de papo.

- Ah, tá. Então vem tentar aqui.

- Como se já não bastasse eu estar preso aqui contigo, eu ainda tenho que ficar te ouvindo reclamar? Só me agradece logo e pronto, já é um bom começo.

- Olha, eu já te falei, não vou agradecer por nada e não vou calar a boca enquanto eu não tiver afim.

- Ai, Senhor, o que foi que eu fiz? – ele disse, levantando as mãos pro alto. – Para com essa criancice de uma vez, que droga.

- Criancice? Sou eu que sou infantil dizendo pra alguém calar a boca porque “eu estou mandando e fim de papo” ? – eu disse, tentando imitar sua voz.

- Qual é, cara. Admite logo que eu salvei a tua vida. Você estaria no mínimo desmaiado lá fora, pela sua expressão logo que você olhou pra mim quando entramos aqui.

- Na boa, eu fiz aquela expressão quando vi que era você que estava aqui comigo – bufei. Não era óbvio?

- Cara, me agradece logo, tô mandando. Agora.

- Ah, e você pensa que é melhor que eu pra mandar em mim, por acaso?

- Bom, quem sabe eu seja, já que ela me preferiu.

Ao ouvi-lo falar isso, uma súbita raiva subiu pelo meu corpo, junto com uma pequena dor de cotovelo. É, ele tinha tocado no meu ponto fraco. Mas como é que esse filho duma égua tinha a audácia de jogar isso na minha cara desse jeito?

- Olha só, não me provoca. Você pode não gostar de me ver irritado – falei respirando fundo, com o máximo de controle que eu possuía no momento.

- Você acha mesmo que eu tenho medo de você? Bom, com você irritado ou não, eu vou continuar com ela do mesmo jeito – ele coçou o queixo, como se pensasse em algo lógico. – Ela é a única coisa que me machuca e que realmente me importa. Então pode vir, me dá um soco na cara – ele disse num tom bastante debochado, me desafiando.

- Ok, seu otário, só não reclama depois. Foi você quem pediu – eu disse sem perceber que já falava bastante alto (aliás, nós dois falávamos alto o bastante pra nos notarem ali). Eu já estava indo pra cima dele, quando de repente alguém força a porta da salinha em que nós estávamos.

- SAIAM DAÍ AGORA OU EU MESMO DOU UM JEITO DE TIRAR VOCÊS – gritou uma pessoa do outro lado da porta, provavelmente um dos ladrões (provavelmente, Joshua? Sério mesmo?) Eu e ele nos entreolhamos, ambos com os olhares assustados. O ladrão começou a forçar a porta, e não conseguindo abri-la, deu um tiro na maçaneta, quebrando-a. Ele entrou e apontou a arma pro Taylor, que estava bem na frente da porta, e então disparou. A bala atingiu sua perna, e ele deu um grito alto de dor.

Eu, por minha vez, peguei um desinfetante qualquer que tateei por aí. Então, num movimento rápido, levantei num pulo e espirrei uma quantidade generosa num dos olhos do ladrão. Ele soltou um gemido forte, deixando a arma cair no chão. Então, resolvi usar um truque que meu irmão mais velho, Nate, usou comigo uma vez. Apertei em um lugar estratégico atrás dos olhos do bandido, fazendo-o desmaiar instantaneamente. Aquele truque nunca fora tão útil.

Me virei pra Taylor e ele amarrava um pano que havia encontrado por lá em sua perna, enquanto gemia de dor. Sua calça jeans estava completamente manchada de sangue e havia uma pequena poça no chão.

- Aguenta aí – eu disse, pegando o revólver do chão e indo em direção a loja. A polícia havia acabado de adentrar o local e estava rendendo os bandidos. Uma sirene de ambulância soava do lado de fora, e alguns paramédicos já adentravam o local e socorriam pessoas que haviam desmaiado ou se machucado.

- Por favor – gritei pra um dos paramédicos – Um... amigo meu foi baleado na perna, ele imobilizou o local mas está perdendo muito sangue.

- Leve-me até ele – ordenou o paramédico, que trazia uma daquelas macas de ambulância consigo. Guiei-o até a salinha e encontramos Taylor, tentando levantar do chão e já um pouco pálido devido a quantidade de sangue que havia perdido. O homem colocou-o na maca, então o levou até a ambulância.

- Você vai ter que ir com ele – disse o médico, mais como uma ordem do que como um pedido.

- Vou, é... ?

- Ele está descapacitado, precisa de alguém para ajuda-lo quando receber alta. Não vejo problema em você ir, ele é seu amigo, não? – disse ele, me empurrando pra dentro da ambulância. Não o respondi. Um enfermeiro fechou as duas portas, e a ambulância seguiu pro hospital mais próximo dali.

Ao chegar lá, levaram Taylor pra uma sala de prontos socorros do local. Eu me sentei na sala de espera, impaciente após se passarem meia hora, uma hora, uma hora e meia. E pensar que tudo aquilo havia começado com um pensamento inocente de sair de casa simplesmente pra arejar a cabeça.