Fading Away

Everything would work out fine


...e eu até que me diverti bastante aquela tarde.

Aliás, como não se divertir com eles?

Aquela tarde eu estava sozinha em casa. Taylor havia passado de manhã aqui, mas marcou de sair á tarde com Jeremy. Afinal, fazia um tempinho que os dois não faziam alguma coisa, tipo passar a tarde fazendo “coisas de macho”, como Jeremy gostava de falar.

Eu estava completamente entediada, então achei que seria ótimo sair e dar uma volta na rua. O clima estava um tanto frio, tão agradável que acho que seria quase um pecado passar a tarde em casa.

Andando sem rumo, acabei chegando a um parque que tinha perto da minha casa. Era ótimo ir ali, sentar na grama, pensar na vida, ver as pessoas fazendo piqueniques, crianças brincando com seus cachorros e tudo mais.

Então um pingo sobre minha cabeça me fez submergir de mais um de meus pensamentos pervertidos sobre Taylor, e quando eu olhei pro céu, uma enorme nuvem de chuva estava formada. Mais pingos caíram, e agora estava chuviscando.

- Droga - eu disse, levantando do chão e saindo do parque. O chuvisco havia se transformado em uma chuva forte e grossa, que agora havia me deixado completamente ensopada. Andei mais rápido, procurando alguma cobertura em que eu pudesse me abrigar embaixo.

- Cadê os toldos dessas lojas? – resmunguei, gelada até os ossos.

- Você está bem? - me perguntou num tom preocupado uma voz familiar. Olhei pro lado e dei de cara com Josh. Era tão estranho o fato de ele estar ali, também fugindo da chuva, no mesmo momento que eu, e mais estranho o fato de vê-lo, depois de algum tempo longe. Eu já havia até esquecido como soava sua voz.

- Definitivamente você não está. Seus dentes estão rangendo - ele disse, e eu percebi que eu estava realmente com todo aquele frio. - Toma - ele tirou seu casaco e pôs sobre mim.

- Ah, que ótimo - resmunguei. - O que você quer, Josh?

- Na verdade, eu ainda quero te falar uma coisa - ele disse, provavelmente se referindo ao dia em que ele entrou em meu apartamento pra falar essa tal coisa e eu praticamente o expulsei. - Mas vamos pra um lugar coberto primeiro, essa chuva tá muito forte.

Eu não sabia ao certo a razão de eu estar fazendo aquilo. Indo ouvir o que Josh tinha pra me dizer, aceitando o seu "cavalheirismo" de me dar seu casaco. Eu simplesmente deveria mandá-lo ir embora, mas alguma coisa me dizia que eu devia dar uma chance a ele, alguma coisa que eu não podia controlar.

Ele foi andando um pouco na frente na frente, como se tivesse um "lugar coberto" específico pra ir. Chegamos então na frente de um prédio, que parecia mais um condomínio ou coisa assim. Nos sentamos na calçada, que tinha uma frágil cobertura de lona.

- Então... - ele respirou fundo. - Me desculpa. - ele parou por um instante, mas prosseguiu rapidamente. - Me desculpa por tudo o que eu fiz. Eu tava estupidamente errado. Me desculpa por ter abandonado vocês, e pela forma como o fiz. Me desculpa por ter abandonado você. - ele disse, e eu pude sentir que ele se referiu a ter me trocado por Jenna.

Fiquei um tempo em silêncio, encarando o nada. - Você achou mesmo que seria tão fácil assim? - eu disse baixinho, quase como um sussurro. - Vir aqui, simplesmente pedir desculpa e pronto?

Ele balançou a cabeça. - Eu sabia que não ia ser. Mas isso tava me atormentando. Eu sabia que você não queria falar comigo, por isso não te procurei mais vezes. Mas quando eu te vi ali, andando na chuva, eu senti que você me ouviria, não sei por quê. - e ele estava certo. Eu bufei, pensando na ideia de eu e Josh ainda termos essa ligação. Mas que droga.

- Achei que a sua mulher havia até te proibido de falar comigo. – eu disse sarcástica, com uma mágoa mal disfarçada por ele não ter me procurado antes.

- A Jenna? – ele riu, sem humor. – Não, não era pra ser. Eu acho que eu não suportaria ficar ao lado de uma mulher que quase destruiu o meu sonho – ele me olhou no fundo dos olhos. – Quer dizer, depois do que aconteceu, nem meu irmão fala comigo direito.

- Você quer dizer que... ?

- Sim. Eu moro aqui agora. – ele disse, apontando pro prédio atrás de nós.

Ficamos alguns longos minutos em silêncio. Eu estava olhando pro chão, constrangida com aquele momento. Tudo havia se arruinado na vida de Josh, e ele não tinha ninguém com quem contar.

- Sinto sua falta.

Eu o olhei, surpresa com aquela afirmação. Ele me olhava também, com a expressão distante, os olhos fundos. Tudo o que ele estava falando era tão real, tão verdadeiro, e eu não podia lidar com isso. Droga, droga. Tinha que segurar meus sentimentos, agora. Precisava segurar.

- Ah meu Deus, você está chorando – ele disse. Tarde demais. Impulsivamente, eu lhe dei um abraço. Ele me abraçou de volta, e eu havia esquecido a maneira como ele quase me engolia com seus braços.

- Eu também. – disse com a voz trêmula, por mais que fosse horrível admitir.

Ficamos um tempo em silêncio. - Então tô perdoado? – ele agora me olhava, com os olhos brilhantes.

Revirei os olhos. – Tá, né, Joshua. – agora eu sorri pra ele, que me lançava um sorriso de orelha a orelha. Que milagre era esse?

- Tirei um peso tão grande das costas – ele falou baixo, e parecia mais que ele falava consigo mesmo do que comigo.

- Ei, mas não vai pensando que vai ser assim não. Tenho quase 99% de certeza que Taylor e Jeremy ainda tão afim de te dar um corretivo, e você ainda tem que falar com eles. – eu disse rindo, fazendo-o rir de um jeito nervoso.

Senti um pouco de calor, e então percebi que a chuva já havia passado e eu ainda estava com o casaco de Josh. Na verdade já até saíam alguns raios de sol do céu. Tirei o casaco e entreguei a ele.

- Bom, já tá na minha hora de ir pra casa – eu falei, levantando da calçada.

- Posso te acompanhar até lá?

- Aham. – não vi mal algum naquilo, afinal, Josh estava tão sozinho ultimamente. Talvez estivesse necessitando de uma amizade.

Fomos conversando o caminho todo, falando um pro outro de como estava nossa vida ultimamente. Nós conversávamos como se nunca houvéssemos parado de nos falar.

- Então tá, a gente se fala qualquer outro dia – eu disse ao chegarmos na frente do meu prédio.

Ele assentiu com a cabeça. Então, me deu um abraço bem apertado.

- Ainda assim eu sinto sua falta, Hay. – ele falou baixinho. “Hay” era o jeito que ele me chamava logo que nós nos conhecemos, há anos atrás. Eu sorri, mentalizando várias lembranças daquela época.

Ele sorriu timidamente, então foi embora. Eu fiquei observando-o por um tempo, até ele quase desaparecer do meu ponto de vista. Subi as escadas e entrei em meu apartamento, me sentindo mais leve, feliz por finalmente ter feito as pazes com Josh. Everything would work out fine.