Face do Passado

Capítulo 8 - Eu sou...


Quando foi na quinta-feira, Mikey decidiu passar em casa pra passar um tempo com Alicia e eu aproveitei aquele momento sozinho, pra conferir se eu havia sonhado mesmo ou tudo foi real.

- Emily! Eu preciso de você. – gritei e nada. Cheguei a chamar mais algumas vezes por aquele nome, mas ninguém apareceu. Então lembrei de como ela apareceu da outra vez e resolvi fazer a mesma coisa. Fui ao banheiro e abri o espelho e quando tirava o fundo falso uma voz atrás de mim fez com que eu parasse o que fazia.

- espertinho. Me provocando não é?

- então foi real. – e a olhei de cima abaixo. Mais uma vez ela estava ali na minha frente.

- ainda tem dúvidas?

- eu preciso conversar com você. Preciso que me diga tudo. Por favor. Não me deixe pensar que sou um louco.

- ok. Acho mesmo que precisamos esclarecer muitas coisas, Gee.

- Emy... – Eu acabei deixando um sorriso escapar pra ela quando ela me fez lembrar do nome carinhoso que demos um ao outro.

Emily me deu as costas e se dirigiu à sala. Eu a seguia observando como ela havia mudado desde a última vez que nos conhecemos. Agora era uma mulher, devia ter mais ou menos uns vinte anos. Tinha um corpo escultural apesar da roupa bem comportada que ela usava dava-se pra perceber que tinha um corpo bem torneado. Seu cabelo agora era longo, continuava liso e loiro, estava mais linda do que já era quando criança. Eu não conseguia parar de olhá-la com outros olhos. Ela pareceu ler meus pensamentos, e olhou pra trás nos meus olhos franzindo a testa mostrando-se irritada e eu abaixei a cabeça envergonhado. Foi então que me lembrei quando ela disse que conseguia ler meus pensamentos. Eu me sentei num lado do sofá e ela do outro sendo que sentou-se no braço do sofá e colocou os pés onde deveria estar sentada. Pensei em falar alguma coisa, mas ela me respondeu antes.

- não se preocupe. Não vou sujar seu sofá.

- você pode mesmo ler meus pensamentos? – foi a primeira coisa que eu perguntei.

- bom... – e ela riu sem graça. -...Quase todos.

- como assim?

- é que há alguns que são meio impróprios para meu conhecimento. É melhor ser surda nessas horas.

- ah! – eu disse como num estalo depois de me ligar do que se tratava esse pensamento impróprio. – entendi. – fiquei mais aliviado, já que então ela não deve ter ouvido meus pensamentos maldosos com relação a ela.

- eu posso não ouvir, mas sei do que se trata. Quando não ouço sei que está pensando alguma besteira. – disse fazendo cara de zangada.

- ah...Desculpa. Não foi minha intenção, eu juro que não fiz por mal, eu só estava te admirando, observando como você cresceu e...

- esquece Gerard. – disse me interrompendo com um cara de quem estava bastante sem graça. – bom, o que deseja saber?

- tudo. Desde o que é você até por que está aqui hoje depois de tanto tempo. Mas eu quero a verdade, Emily.

- ta. – e ela olhou pra baixo. – eu... – ela me olhou nos olhos pra responder. - Eu sou seu anjo da guarda. Fui encaminhada pra cuidar de você, e fazer com que nada possa te fazer mal.

- anjo da guarda? Só pode estar de brincadeira, não é? – e ela me olhou dessa vez triste, não tinha nenhum sorriso em seu rosto como na maioria das vezes. – é sério? – e ela balançou a cabeça positivamente. Eu achei tudo aquilo meio louco, mas nada podia ficar mais estranho do que já estava, pois de qualquer maneira eu estava conversando com alguém que só eu mesmo via. – ok...- parei pra pensar nisso um instante e achei tudo surreal. Eu estava falando com meu anjo da guarda, isso só se vê em filmes. - nossa!

- Foi por isso que sumi por todos esses anos. Primeiro eu infringi uma das regras que era não aparecer pra você na minha verdadeira forma e eu apareci quando você ainda era uma criança. Segundo, não revelar minha identidade e eu te disse meu nome verdadeiro e terceiro, não deixar que nenhum mal aconteça à você, mas eu infelizmente acabei causando todo aquele sofrimento na sua vida. Foi por isso Gerard...Eu fui castigada por tudo isso. Na verdade não é um castigo como os daqui da terra, eu não sofri nenhum tipo de tortura, mas...Eu quase perdi minhas asas por causa disso. Fui obrigada a largar meu cargo como seu anjo e proibida de falar com você ou qualquer coisa do tipo. – ela fez uma pausa e depois me olhou constrangida. - Também infringi essa regra, eu não conseguia deixar de ficar do seu lado. Sempre que dava eu aparecia ao seu lado e ouvia seus choros, ouvia suas lamentações e suas chamadas ao meu nome, mas eu não podia...Não podia falar com você. Está me entendendo? Eu nunca deixei de estar ao seu lado, nunca te abandonei, Gee. – disse ela deixando uma lágrima escapar o que a deixou assustada. – ai meu Deus!

- o que foi?

- eu não devia ter te contado essas coisas.

- por que?

- eu vou ser castigada de novo.

- quando? Como? Por que?

- lembra das regras que eu te contei? Eu acabei de infringir mais uma, eu revelei à você quem sou. Provavelmente vão me tirar do cargo e não serei mais seu anjo. Lutei tanto pra que me colocassem de volta pra cuidar de você. – dizia ela começando a chorar mais o que a deixou ainda mais nervosa e a cada lágrima ela insistia em secá-la. – não! Para de cair!

- calma! – disse indo até ela na tentativa de abraçá-la.

- não! – gritou ela ao me ver me aproximando e eu voei longe pro outro lado do sofá como se algo me empurrasse, uma força invisível. – nunca mais faça isso que acabou de pensar em fazer Gerard.

- me desculpa. Eu só queria te consolar.

- mas não tente mais. É uma ordem. Da próxima não me verás mais. Não podemos ter contato físico.

- ok. – respondi nervoso.

- e agora? Eu to chorando. – e ela tentava conter as lágrimas enxugando-as.

- e o que tem isso? É normal. Você está arrependida...

- normal pros humanos, não para mim, Gerard. Isso indica que...

- que?

- acho que vou perder minhas asas, Gerard.

- mas por que?

- anjos não choram e quando choram, não são mais anjos. – disse nervosa.