"Dizem que, não importa qual seja a verdade, as pessoas veem o que querem ver. Algumas pessoas podem dar um passo para trás e descobrirem que estavam olhando a mesma cena por todo o tempo. Algumas pessoas podem ver que suas mentiras quase acabaram com elas. Algumas pessoas podem ver o que estava na sua frente o tempo todo. E ainda há aquelas pessoas que correm o máximo que podem para não terem que olhar para si mesmas."

Seu telefone vibrava insistentemente, mas Patrícia não deu ouvidos enquanto continuava a beijar Michel, estavam empolgados com a recente reconciliação, eles sempre brigavam, mas sempre faziam as pazes. Patrícia deixa o celular ficar chamando até o último toque, torcendo pra que a pessoa do outro lado da linha desistisse logo o aparelho parou de tocar, o que fez com que o casal desse um sorriso de vitória, mas que não durou muito, pois logo a música “Pretty Girls – Britney Spears” que era toque do seu celular começa a tocar novamente.

— Droga! – Paty sai do colo de Michel, levantando-se pra procurar o celular.

— Alô!

— Paty? Acordei você?

— Não, Niko, fala...

— Preciso falar com você amiga... – Patrícia, um pouco estressada por ser interrompida, não deixa escapar a voz animadinha do amigo no outro lado da linha. – Posso ir à sua casa?

— Pode, mas o que aconteceu Niko? Não me deixa curiosa! Você sabe que eu não gosto de surpresas, nem de segredos e....

Michel e Patrícia escutam o barulho da campainha. E se entreolham assustados achando que os pais dela haviam chegado mais cedo do trabalho. Mas escutam uma voz do outro lado:

— Paty, abre aqui! Sou eu! – Paty reconhece a voz do amigo, e abre a porta no mesmo instante, enquanto Michel dava um suspiro de alívio no sofá.

— Niko! Você nos assustou! Entra e conta logo o que é que você tem pra tá tão animadinho assim?

Patrícia fica encarando Niko, esperando uma resposta do amigo, que fica sem jeito pela presença de Michel.

— Qual é Niko, sou namorado da Paty, não precisa fazer cerimônia comigo!

— É Niko, o Michel é de boa. Hoje até falou algo que me deixou bolada.... Mas eu não me incomodaria de perder meu homem pra minha bicha preferida.

Michel joga um travesseiro em Paty, que abre uma enorme gargalhada, devolvendo o mesmo. Niko fica sem entender, mas ri dos dois, os achavam tão engraçados e felizes juntos. Sentia-se em casa na presença dos dois.

— Vai Niko, conta logo! – Patrícia insiste, sentando-se novamente no colo de Michel.

Nicolas senta no sofá, olha para os cantos, segurando as mãos, mas sem deixar de esconder o sorriso que estava estampado em seu rosto desde que chegou.

— Eu não sou mais virgem!

— O QUE? – Patrícia deu um berro.

— Eu e Félix fizemos amor hoje. – Niko sorria, com o rosto rosado por ter corado ao dizer aquelas palavras. Amor era o que ele estava vivendo.

Patrícia sai do colo de Michel e corre em direção a Niko, o abraçando e rindo ao mesmo tempo, estava feliz pelo amigo.

— Como foi isso? Me conta tudo! Você gostou? Ele foi paciente? Você teve um orgasmo? Ele é tão grande quanto à altura? Ele é bom de cama? – Patrícia dispara Niko de perguntas, que ri da reação dela.

— Eu ainda tô aqui! – Michel protesta.

— Calma, Paty! – Segura a amiga, que para pra respirar. – Ele foi maravilhoso comigo, especial, delicado, e o mais importante: Bom. Patrícia ele me tocou de um jeito único. Eu nunca me senti assim na vida, parecia que eu tava sonhando. E sim, ele é muito bom de cama, se bem que foi no carro...

— No carro? Seu safado! – Patrícia, dá um tapa na bunda do amigo.

— Mi...Mi...Mi... – Michel imita Paty e Niko. – Vocês não percebem que o Félix não é essa pessoa que o Niko acha que é? ELE NÃO É UM CARA BOM NIKO! Ele é um mimadinho de merda! – Michel se exalta, assustando os amigos.

— Michel! – Paty o repreende.

— O que você tem contra o Félix? – Niko se levanta. – Eu não admito que falem mal do Félix na minha frente, ele é meu namorado, espero que você o respeite em consideração a nossa amizade!

— Niko, eu digo isso pro seu bem... Tu és um cara legal, amigo da minha namorada, praticamente um cunhado! Não quero que você se dê mal dessa história.

— Por que diz isso? O que você sabe do Félix?

— O que todos sabem, Niko. Félix é o maior pegador da Way School, e ele não faz o seu tipo!

— Só porque eu não tenho o mesmo corpo dos outros garotos da escola? Por que eu não tenho o mesmo padrão de beleza que os cara da WaySchool tem você diz isso, Michel? – Niko, dispara, quase chorando.

— Não é nada disso, Niko. O tipo do Félix são caras desprezíveis que nem ele, você não, é um cara que veio do interior, não sabe ver a maldade nas pessoas....

— Agora só falta me chamar de caipira também. – Niko dá um sorriso amarelo.

— Gente, por favor, se acalmem. Não vão brigar por causa do Félix. – Paty se mete na frente dos dois.

— Você tá do lado dele, Patrícia?

— Não, Niko. Eu só não quero ver as duas pessoas que eu mais amo brigando na minha frente!

— Niko, desculpa ter falado essas coisas cara... Só queria te dar um alerta!

— Obrigado, mas não preciso me preocupar com o Félix. Ele é meu namorado, e é um cara bom! Vocês não o conhecem como eu. Quando conhecerem, talvez até se tornem amigos.

— Não mesmo.... – Michel ri irônico.

— Michel, vê se colabora! – Paty repreende o namorado mais uma vez, que aceita, estendo a mão a Niko, em um pedido silencioso de desculpas. Niko aceita as desculpas, estendo a mão.

— Venham cá, parem de brigar, seus feios! – Patrícia abraça os dois, gerando um abraço coletivo.

— Mas agora conta aí, Niko. Você que comeu ele né?

— Michel, deixa de ser intrometido!

— Paty, vai dizer que não quer saber também?

Os amigos riem entre si, tirando o clima pesado do local e instaurando a paz novamente entre eles. Nicolas começa a contar toda a história para os amigos, que o escutam atenciosamente como se fosse um filme super interessante, Niko se divertia com as reações de Patrícia.

...

Era mais uma das famosas festas na casa de Jacques, seus pais haviam viajado, e ele como sempre aproveitou o momento pra fazer uma das suas com os caras e sua turma encrenqueira do colégio.

— O que deu nele? – Edith fica estranhando o comportamento do Félix, nunca havia visto o mesmo tão quieto, ainda mais em uma festa na qual costumava a ser o mais animado e chamava atenção de todos.

— Não sei, ele tá parado naquele balcão desde que chegou. – Jacques disse despreocupado, enquanto bebia um líquido azul, a famosa vodka pura.

Edith intrigada se aproxima de Félix, que encarava o copo em suas mãos, rodando o pouco de álcool que continha.

— Morreu alguém? Porque você tá com uma cara...

— Morreu. O seu senso de humor, como sempre, muito engraçada Edith.

— E você muito ácido... – Observava o moreno desconfiada, analisando-o – O que aconteceu, Félix?

Os dois haviam tido um namoro de fachada por um longo tempo, mas que fizeram com que os dois tivessem momentos importantes na vida um do outro. Edith e Félix viviam trocando farpas, desde que a loira, farta de ser traída com todos os meninos da escola por Félix, acabou saindo com o professor de Educação Física na época. Mas ela ainda guardava sentimentos por ele.

— Nada. Só estou... Cansado... – Félix dá um suspiro.

— Brigou com o Anjinho?

— Sim, ele não larga do meu pé. As vezes acho que ele me cobra mais do que você quando estávamos juntos. – Riu irônico.

— Você dá motivos pra isso...

— Pelas contas do rosário, criatura! Vai dançar Edith! Fazer fofoca, ficar com alguém, sei lá, mas me deixa em paz.

— É ele não é? – Dispara Edith, deixando Félix surpreso.

— Do que você tá falando? Já tá louca de tanto álcool e vem com teus delírios pra cá.- Desconversa Félix, tentando mudar de assunto, desconfortável.

— Eu vi vocês dois em frente à biblioteca hoje... – Félix encara Edith, surpreso. – Você... Olha pra ele de um jeito tão estranho, fica tocando ele toda hora, e não é por tesão, é....

— Edith, eu o toco assim porque sou gay! É isso que nós fazemos, tocamos uns aos outros.

— Nunca vi você tocando alguém desse jeito.

— Criatura, onde você quer chegar com esse interrogatório? Posso saber?

— Você tá apaixonado por ele, Félix.

— Há... Há...Há... – Félix abre um riso enorme em tom sarcástico, levantando sua taça em um brinde a Edith que o ignora. - Um brinde a sua imaginação que é muito.... fértil... Mas se você acreditou que eu poderia me apaixonar por você durante tanto tempo, por que não iria acreditar que eu to gostando de um caipira, atrapalhado, que mal sabe se vestir?

— Você tá dizendo isso porque acredita nisso, ou porque quer que eu acredite? Seu discurso pode convencer a todos, Félix. Mas não a mim.

— Por-por-que....Você acredita nisso?

— Vi vocês no corredor, fiquei curiosa pra saber até onde os dois pombinhos iriam com a sua fúria de amor colegial. Então eu segui vocês...

— Você não....

— Sim.... – Riu, colocando a mão no queixo, lembrando-se de horas atrás. - Vi uns barulhos interessantes vindo do estacionamento....

— Vadia.....

— Sabe o que eu achei engraçado, Félix? – Riu, encarando o moreno. – Você transou com o Niko, cumprindo a aposta que fez com Jacques, mas até agora ninguém teve acesso a nenhum vídeo, foto... Estranho não?

Félix fica sem reação diante Edith. Sabia que ela era esperta, mas não tinha como ela saber do plano com Jacques e nem poderia imaginar que alguém estava o vigiando naquele momento.

— O que você quer? Diz logo! – Insistiu, com um o tom de voz estremecido de raiva.

— Eu quero que você apague o backup e os vídeo que tem do Michel e eu na quadra de basquete. – Disparou confiante. – Senão eu conto pro seu protegido que você só transou com ele por uma aposta.

— Vai em frente, eu não me importo com isso! – Fingiu indiferença, mas seu tom de voz o denunciava.

— Se não se importasse, teria gravado um vídeo de vocês transando, mas não o fez. Olha, taí, o Jacques também iria adorar saber disso. – Edith sorri mais uma vez vitoriosa e se virava pra retirar-se dali, mas Félix a puxa com tudo a jogando na parede, segurando com força seu pescoço.

— Me solta, idiota! – Falou com a voz baixa e estremecida pela dor que estava sentindo.

— Se você abrir essa sua boca imunda pra qualquer um dos dois. – Félix falava bem perto do rosto de Edith, olhando-a de um jeito ameaçador. – Eu acabo contigo, Edith. – Félix solta seu pescoço e ela se abaixa, procurando ar, mas volta a encará-lo duramente.

— Apaga os meus vídeos que eu não conto nada.

Wagner, um dos ficantes de Edith, observa de longe o que estava acontecendo e resolve se aproximar, partindo pra cima de Félix.

— Ficou maluco, cara? Eu acabo com você se tocar de novo na minha garota.

— Com o tapete persa, Edith? Sério? – Riu. – Vocês se merecem mesmo, um do nível do outro.

Quando Wagner ia partir pra cima de Félix, o motorista da mansão e segurança da família Maciel, se aproxima puxando-o de perto de Félix e o jogando no chão.

— Vem, Félix! – O segurança fica na frente dele protegendo-o do ficante de Edith, que olhava para os dois furioso.

— Isso não vai ficar assim, Edith. – Félix encara a loira.

— Eu digo o mesmo, Félix. – Edith disse desafiadora.

Maciel vai com Félix pra fora da festa na casa de Jacques.

— Por que veio aqui, Maciel? – Perguntou, com seu típico olhar intimidador, curioso.

— A Paloma sumiu, seus pais estão muito preocupados, eles pediram que eu a procurasse onde você estava.

— Finalmente uma notícia boa hoje! Já procuraram de baixo das asas do papi soberano? Ela sempre está por lá... - Riu. - Não sei onde ela ela está, Maciel. Mas onde estiver, espero que não apareça tão cedo...

....

Depois de ter passado horas fofocando, rindo e se divertindo com as loucuras de Patrícia e seu namorado Michel. Estava ficando tarde e Niko precisava voltar cedo pra casa, pois ainda tinha que terminar de acomodar sua nova companheira de aluguel, Amarilys. Niko andava nas ruas como se soubesse de algum segredo magnífico e só ele tivesse o prazer de vivê-lo, o sorriso estampado em seu rosto, sorrindo para o vento, causava curiosidade nas pessoas em que passavam na frente dele. Como alguém pode sorrir tanto, andando sozinho na rua? Adolescentes, tão sonhadores e apaixonados. Concluíam.

Niko andava tocando em todas as flores que encontrava no caminho, mas numa dessas vezes, sentiu algo estranho. Não era a textura de uma flor que sentiu, mas de uma pele? Niko se aproximou do montinho de flores, ao lado de uma árvore que ficava em frente a um prédio azul, assustando-se com o que encontrou. Era uma pessoa.

— Ei, você está bem? – Perguntou apreensivo.

Sem obter respostas, Niko corre pra socorrer a garota que parecia estar passando mal no chão. Desesperado, ele tenta acordá-la, aparentemente não havia nenhum sinal de marcas ou feridas que pudessem tê-la deixado desacordada. Niko colocou a garota perto de si, checou seu pulso, “ela ainda está viva” deu um suspiro de alívio. A garota começa a turcir e se mexer nos braços do loiro, aos poucos começa a abrir os olhos, que estavam muito vermelhos e assustados, quando percebe onde está e encara Niko, assustasse, começando a se mexer descontroladamente, como se ele tivesse prendendo-a.

— Quem é você? Me solta! – Gritou.

— Eu não vou te machucar, você está bem agora! Vou te ajudar! – Niko tentou acalmar a moça, mas não adiantou.

— Me solta! Já falei! – Tentou se levantar, mas estava tonta e fraca demais para isso, caindo no colo de Niko novamente. - Eu vou chamar meu pai ele vai te colocar na cadeia por ter encostado em mim!

— Moça, calma! Eu não vou te machucar! – Explicou Niko, com a voz calma, mas firme. – Encontrei você desacordada aqui nesse banco, perguntei se você estava bem, você não respondeu e....

Niko foi interrompido, por um abraço desesperado da garota, que agarrou-se nele como se temesse algo, ela começou a chorar.

— Por favor, me ajuda, eles querem me pegar! – A garota falou entre lágrimas, agarrando-se mais ainda nele, aos poucos ela recobrou a consciência lembrando-se do que havia acontecido.

— Eles quem? – Niko perguntou enquanto checava a rua, procurando alguma pista do que ela estava temendo. – Calma, eu vou ajudar você!

— Obrigada. – a garota soltou-se do abraço, olhando para Niko em agradecimento, então ele percebeu que seus olhos estavam vermelhos demais, ela parecia estar... drogada.

— Você sabe voltar pra casa?

— Não.... – Murmurou, envergonhada.

— Vem... – Niko levantou-se oferecendo ajuda para que ela pudesse fazer o mesmo. – Vou te ajudar a chegar lá.

— Sei que o certo é não aceitar ajuda de estranhos, mas você parece ser um parente, perto das pessoas que vi hoje.... – Sorriu sendo acompanhada por Niko. - Obrigada. – Completou.

Niko consegue chamar um táxi e eles entram nele.

— Bom, moço. O destino dessa viagem vai ser um pouco complicado, mas você vai ser recompensado por isso. – A garota disse em um tom divertido, mas seu rosto mostrava o oposto, ainda estava conturbada.

— Obrigada. — Sussurrou dando um sorriso quase vazio, estava cansada demais para qualquer gesto.

— Só me agradeça quando estiver sã e salva em casa, ...? Com tudo isso, nem perguntei seu nome, sou Niko como se chama?

— Paloma.