Londres, Inglaterra

26 de Março de 1872

O barulho dos talheres raspando no prato começou a incomodar os ouvidos de Elizabeth. A mesa estava em completo silêncio, ninguém se atrevia a dizer uma palavra. Já faziam dois dias que todas refeições da família Clark se passavam desta maneira pouco comunicativa, desde que June e Elizabeth regressaram do Royale. A mais velha até tentou conversar mais uma vez no dia seguinte do incidente, porém a caçula se fechou.

—Não quero ouvir você se vangloriar, Beth. Falar que estava certa sobre o caráter de James- June levantou uma mão, impedindo que a irmã se aproximasse. Ela evitou fazer contato visual, estava visivelmente abalada.

Elizabeth queria dizer tantas coisas naquele momento. Tantas palavras subiram pela sua garganta, loucas para serem ouvidas. Palavras raivosas, palavras magoadas, palavras de reconforto, palavras questionadoras. Mas nada parecia ser o certo a se dizer. Então, ela deixou a situação como estava. Por enquanto, ela escolheu lidar com o outro lado daquele drama todo.

Seu irmão Thomas, afinal, tinha sua parcela de culpa naquele desastre todo. Ele tomou a atitude por si de reprovar o pretendente, sem consultar ninguém mais. Elizabeth entendia parcialmente o lado de sua irmã, Thomas realmente fora super protetor. Mas digamos que o embate entre os dois Clark mais velhos não foi muito bem sucedido também.

—Beth, eu disse para June que James Carter não era um bom pretendente. Frequento o Royale há anos, cada noite tem uma mulher diferente nos aposentos do senhor Carter.- Thomas adotou uma postura defensiva, a qual não agradava em nada Elizabeth.

—Metade dos cavalheiros da nobreza são libertinos, Thomas. Eu não estou tão segura se você também não é- ela analisou seu irmão com desconfiança.

Thomas arregalou os olhos, chocado com a acusação de sua irmã

—Se metade de Londres é lasciva que June se case com alguém da outra metade- o Clark mais velho levantou do sofá, pronto para encerrar aquela discussão.

Aquela frase acordou um pequeno gigante dentro de Elizabeth. Thomas falava como se fosse o responsável por June, quando o papel era do pai deles. Acho que a morte de Mary no parto de June fez com que Elizabeth e Thomas tomassem um pouco da responsabilidade de educar June. E ela percebia o quão errado aquilo fora, os dois eram apenas duas crianças, tentando dar suporte à outra criança. Era óbvio que de alguma maneira toda aquela situação explodiria. E era este o momento. Caos havia se instaurado na mansão Clark.

—Thommy, nós não somos os pais de June. Ela tem a capacidade de decidir por si só para quem ela entrega seu coração. Se nós não tivéssemos interferido tanto na vida dela, talvez June nem estaria na emboscada que está agora- no momento que as palavras saíram da boca de Elizabeth, ela percebeu que falou o que não devia. Thomas não fazia a menor ideia que June continuava se encontrando com o senhor Carter.

—Como assim a emboscada que ela está agora? June ainda se encontra com o senhor Carter?- Thomas fechou as mãos em punhos, seu cenho estava franzido.

Elizabeth permaneceu em silêncio. Franziu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior, estava com receio de falar mais alguma coisa e entregar que ela também foi ao Royale. Seu irmão começou a se encaminhar para a porta, resmungando que daria uma lição em James. Mas ela se colocou em seu caminho.

—Será que você não ouviu o que eu disse? Nós somos os irmãos dela, não os pais. June já está irritada com as nossas intromissões, se nos metermos nessa confusão, eu temo que as coisas fiquem ainda piores aqui em casa.

Aquela fala pareceu acalmar Thomas por um tempo. Mas ele ainda estava desconfiado de June, olhava-a de lado, assistindo suas pequenas reações naquele silêncio interminável da mansão Clark. Elizabeth agradeceu que o pai deles não estava presente naquele almoço, estava ocupado trabalhando.

Phillip não sabia nada do que estava acontecendo entre os três filhos, mas ele estranhou as conversas escassas entre suas crias. Perguntava diversas vezes qual era o problema entre os três. Cada dia alguém elaborava uma desculpa diferente, não queriam que o problema chegasse aos ouvidos do pai, suas duas filhas frequentando cassinos, os três brigando entre si, material o suficiente para levar o senhor Clark à loucura. Mesmo em tempos difíceis, os três irmãos mantinham uma regra estabelecida há anos, problemas entre os três eram resolvidos sem interferência fraterna.

Mas aquela situação estava fugindo do controle. A tensão entre os três não se acalmava. No fundo, Elizabeth estava se sentindo mal por toda aquela confusão armada. Também tinha sua parcela de culpa, Thomas não era o único vilão da história. Sentia em seu coração que deveria se desculpar com todos os atingidos pelas suas atitudes. Por isso, quando no dia seguinte ela se esquivou de seus irmãos e bateu na porta do cassino Royale em plena luz do dia, sabia que estava fazendo a coisa certa. Havia sido rude com os donos daquele local, e se June estava pensando em firmar um compromisso com um daqueles cavalheiros, deveria fazer o possível para ter um bom relacionamento com os três.

Encontrou com o mesmo porteiro de dois atrás. Ele já estava lendo outro romance, o segundo da mesma série. Elizabeth teve que conter um sorriso. Aquele homem gigante de quase dois metros de altura não só lia romances, ele os devorava. Em questão de dois dias, ele já estava na metade do segundo livro. As pessoas realmente nos surpreendem.

—Com licença, eu gostaria de conversar com o senhor Lewis e o Duque?- a frase saiu como uma pergunta porque Elizabeth não sabia o nome verdadeiro do segundo.

O porteiro olhou-a de cima a baixo, e conseguiu parecer um verdadeiro aristocrata com sua pose de desprezo e indiferença.

—Você de novo? Cheia das suas formalidades. Ethan saiu para resolver algumas questões e Duque está ocupado com o pagamento dos funcionários.

—O que acontece com esse lugar que todo mundo tenta me expulsar?!- Elizabeth revirou os olhos e resmungou um pouco alto demais

—Porque talvez a senhorita não seja muito bem-vinda aqui

Aquela conclusão não a agradou em nada. Sentiu uma ponta de irritação começar a crescer dentro dela. Uma vozinha no fundo da sua mente alertou-a que ela fora até o clube para se desculpar, não para causar mais estardalhaço. Porém Elizabeth escolheu ignorar sua consciência. Aquele homem estava zombando dela deliberadamente. Apontou um dedo acusador para o homem e usou seu tom mais ameaçador ao dizer a frase menos ameaçadora possível:

—Ah está certo. Se o senhor não me deixar entrar agora, eu conto o final deste romance que está lendo, e devo alertá-lo que não será um final feliz.

O porteiro tentou fingir indiferença com a fala de Elizabeth, mas ela sabia que, no fundo, ele tinha um pequeno receio dela estragar o final. Os dois permaneceram se encarando calados, o que facilitou para Elizabeth ouvir o som de uma risada ao fundo.

—Deixe que eu cuido disso, Harry. A senhorita Clark fez uma ameaça seríssima. Não quero que arrisque estragar o seu mais novo romance a fim de impedir o inevitável- James era a pessoa que saiu das sombras. Seu tom era brincalhão, no entanto Elizabeth viu em seus olhos azuis safira a incerteza de como lidar com ela. Os dois não dirigiram uma palavra sequer um ao outro no último encontro no Royale.

Elizabeth também não sabia muito bem como lidar com essa situação. Sua irmã nunca teve um pretendente sério até aquele momento. Mas ela nem sabia se James era um pretendente ou um simples libertino. Enfim, dos dois lados havia uma certa estranheza.

—Pelo o que ouvi, a senhorita quer falar com meus sócios. Ethan saiu, mas posso levá-la até Duque. Tenho a impressão que ele não terá problema em recebê-la- havia um certa malícia no tom de James que perturbou Elizabeth. Duque não poderia ter comentado dela com seus sócios, não faz o menor sentido, os dois mal conversaram naquela noite. Tudo bem que Elizabeth teve que se concentrar no que o cavalheiro estava dizendo e não prestar atenção em sua aparência, mas aquela atração fora recíproca? Não era possível.

—Sim, eu gostaria de conversar rapidamente. Somente pedir desculpas pelo meu comportamento no outro dia. Eu tenho gênio forte, mas os dois não mereceram serem alvo da minha raiva- Elizabeth falou sem pensar novamente. Dessa maneira, parecia que James era quem merecia ter sido atacado.

—Eu suponho que mereci essa alfinetada. Afinal, June realmente estava correndo riscos sérios de arruinar sua reputação- o primeiro nome de sua irmã saindo da boca daquele cavalheiro a fez se dar conta da intimidade dos dois. Talvez James realmente propusesse noivado para sua irmã.

—Não! De forma alguma! A pessoa que merecia ser alvo era minha irmã, ela que escondeu tudo que estava acontecendo. Vocês três não deveriam ter ficado no fogo cruzado.

James arqueou uma das suas sobrancelhas. Nem por um segundo ele acreditou no que Elizabeth disse.

—Confesse, senhorita Clark. Pelo menos uma parte sua queria acertar as contas comigo. Não sou o tipo ideal para uma moça como June- ele abriu um sorriso amigável.

Naquele momento, Elizabeth sentiu simpatia pelo cavalheiro. Ele não era o monstro de sete cabeças que Thomas havia pintado. E ela sentia um carinho quando James falava de sua irmã, não sabia explicar exatamente o que era aquele sentimento. De qualquer forma, se sentiu confortável o suficiente para responder:

—Talvez eu quisesse descontar um pouco no senhor- Elizabeth olhou para seus pés, tímida e James começou a rir, positivamente surpreso com a resposta dela- Mas não era muito, um pisão no seu pé teria sido o suficiente para fazer o serviço.

Elizabeth abriu um sorriso e encarou James, os dois felizes de dividirem aquele momento de trégua. Caso se permitisse, poderia realmente gostar do cavalheiro. Justamente por isso que precisava alertá-lo da melhor atitude a ser tomada naquele momento:

—Não sei o que está acontecendo entre vocês dois, mas seja sincero com minha irmã sobre as suas intenções, senhor Carter. Ela realmente gosta do senhor. Não brinque com os sentimentos dela, é somente isso que eu peço.

James ficou sério e assentiu. Elizabeth sentia que uma nuvem negra surgiu e pairava sob a cabeça do libertino. Ela não sabia exatamente o que, porém reconhecia uma feição culpada quando a via.

—Sua irmã é muito especial, senhorita Clark. Nunca foi minha intenção machucá-la. Porém há alguns fantasmas do meu passado que ainda me assombram- Elizabeth inclinou a cabeça, curiosa. Segurou a língua para não fazer perguntas indevidas. Acreditava nos sentimentos de James, agora aquele passado alegadamente sombrio, ela não fazia a menor ideia do que poderia ser.

—Acho melhor eu levá-la até Duque- ele se encaminhou para aquela pequena escada no canto da sala, dúvidas ainda paravam sob a cabeça de Elizabeth. Entretanto, agora era o momento de se concentrar nos mistérios de outro cavalheiro.

Duque suspirou cansado. Já fazia horas que estava sentado em seu escritório lidando estritamente com números. As costas já doíam, e a mente não funcionava da maneira que deveria. Precisava de uma pausa urgente. Por isso, quando James abriu a porta de seu escritório, Duque se levantou imediatamente e estava prestes a pedir para que jogassem alguma coisa quando James anunciou uma visita inesperada:

—Senhorita Elizabeth Clark está aqui para vê-lo- James disse com um sorriso malicioso no rosto. A confusão de duas noites passadas aparentemente não impediu que seus amigos vissem o olhar de deslumbramento que Duque dirigia para Elizabeth quando Ethan, James e June entraram na sala. Na verdade, os dois não só notaram, como faziam questão de zombar Duque o tempo todo. Então, ele não ficou nada surpreso com aquela pequena provocação de James.

Agora, o que o surpreendeu foi a visita desavisada de Elizabeth. Ele achou que nunca veria a moça depois do Pandemonium. Os caminhos dos dois não se cruzavam muito, e mesmo que James realmente criasse coragem e pedisse June em casamento, os dois nunca estariam no mesmo ambiente. No entanto, quando Elizabeth passou pela porta, sentiu uma pequena sensação de euforia no peito.

—Vou deixá-los a sós por uns instantes. Mas se comportem, não quero mais nenhum membro da família Clark entrando raivoso por este clube. - Duque não esperava pela brincadeira por parte de James, e menos ainda pelo sorriso de Elizabeth como resposta.

A porta se fechou e ela dirigiu seu olhar para ele. Aquelas duas pequenas jabuticabas encarando-o. Duque ficou sem reação. Há duas noites atrás esse mesmo olhar continha uma fúria capaz de colocar seu escritório inteiro em chamas. E agora Elizabeth olhava-o com simpatia. Não sabia o que esperar dela.

—Vim até aqui para pedir desculpas- Duque levantou as sobrancelhas, chocado- Não deveria ter sido rude com o senhor, nem com Ethan. Eu estava brava com a minha irmã pelas mentiras e saídas escondidas, não foi certo descontar nos senhores.

Duque ficou sem palavras. Não era muito comum damas virem pedir desculpas pelo seu comportamento com ele. Até aquele momento haviam duas opções: elas simplesmente tentavam ignorar a sua presença devido à sua linhagem impura, ou flertavam com Duque para levá-lo para a cama. Sem meio termo.

—Porque veja bem, Duque- Elizabeth usou seu apelido com uma incerteza. Ele abriu um sorriso, por algum motivo aquele nome soava engraçado nos lábios dela- Eu e June temos uma relação muito próxima. Sempre cuidei dela, qualquer conflito relacionado a garotos ela me procurava para aconselhamento. June manter toda essa situação em segredo me pareceu tão estranha.

Ela franziu o cenho, parecia realmente chateada. Duque desejou que pudesse fazer alguma coisa para tirar aquela tristeza de seu semblante. A única coisa que poderia oferecer era uma conversa amigável

—Sua mãe não se incomoda de June procurar você e não ela quando o assunto é homens?

Duque percebeu que havia tocado em um ponto delicado pela maneira como os olhos de Elizabeth perderam o brilho momentaneamente.

—Minha mãe faleceu no parto de June. Minha irmã nunca conheceu a mãe.

—Você tinha quantos anos quando isso aconteceu? - Duque perguntou, surpreendendo Elizabeth. Quando o assunto era a morte de sua mãe, todos se sensibilizavam pela pequena recém-nascida, ninguém perguntava de Elizabeth ou de seu irmão. Ela já havia aceitado isso, a esconder a dor e concentrar suas energias na caçula.

—Eu tinha 5 anos na época- Duque sentiu dó da pequena menina. Começando a entender o mundo, e já tendo que lidar com uma perda extremamente significativa. Ele entendia a proteção da caçula.

—Imagino que tenha sido difícil lidar com o seu próprio luto, enquanto tentava ajudar seu pai na criação de June- Elizabeth sentiu um pequeno nó na garganta. O que estava acontecendo com ela? Aquele homem praticamente desconhecida conseguira derrubar parte das suas defesas simplesmente perguntando dela.

—Foi muito difícil, mas era necessário naquele momento- Elizabeth respondeu dolorosamente e Duque franziu o cenho, aquela frase era de fato estranha. Escolheu deixar de lado naquele momento de fragilidade da dama. Invés disso, resolveu abrir um pouco de seu passado. Mas só um pouco.

—Eu também tenho as minhas dores. Minha mãe morreu no meu parto- Duque sentiu a atenção de Elizabeth se voltar completamente para ele. Ambos tinham suas cicatrizes. Tiveram que lidar com a adversidade- Meu pai era um nobre e ela era a governanta da casa- Elizabeth finalmente entendeu o tom de pele mais escuro de Duque, a nobreza inglesa era composta por homens e mulheres brancos como a neve- A minha infância também não foi muito fácil, podemos colocar desta maneira.

Elizabeth sentiu um pequeno carinho por aquele cavalheiro. Suas feições sérias e sua postura confiante pareciam esconder no fundo alguém sensível e que já havia sofrido na vida. Ela se viu encantada, encarando aqueles olhos cor de mel com um pequeno sorriso no rosto. A dama se inclinou em direção a ele e falou baixinho:

—Tenho certeza que essas dificuldades tornaram-no mais forte. Pelo menos para mim me fizeram ser uma pessoa muito melhor.

Duque sentiu sua respiração ficar um pouco desregulada e seu pulso acelerar ligeiramente. Para uma solteirona convicta, Elizabeth Clark era extremamente charmosa, com sua postura elegante, olhos encantadores e a uma voz hipnotizadora, dizendo aquelas palavras doces. Ele teve que se segurar para não se inclinar sobre a mesa. O que estava acontecendo? Segunda vez que via a moça e ameaçava perder o controle de seus desejos.

Duque balbuciou que concordava com a fala de Elizabeth, levantou-se e foi para o lado de seu armário cheio das relíquias de suas viagens. Precisava mudar de assunto urgente, algo que não o fizesse ter vontade de pular em cima de uma dama inocente. Ele olhou para Elizabeth, tentando achar algum indício que ela desconfiava das intenções maliciosas dele, porém tudo que viu foi completo fascínio. Não em relação a ele, mas ao seu armário.

—Vejo que a senhorita gostou das minhas adoradas lembranças de viagem- ele observou, analisando as feições do rosto dela sem se preocupar por um mero segundo em ser descoberto.

—São lindas. Todas elas- Elizabeth se levantou, circulou a mesa e se pôs na frente do armário. Olhava de perto cada uma delas- Esse colar é magnífico- ela apontou para uma joia simples, em que dentro do pingente haviam pequenas flores de cerejeira. Achou aquela pequena preciosidade no Oriente. Aparentemente era muito difícil armazenar uma flor daquela maneira sem que ela morresse tão cedo. Duque ficou encantado e pagou uma pequena fortuna.

—Vejo que o senhor já viajou muito pelo nosso pequeno planeta - ela dirigiu seu olhar para ele, abrindo um sorriso exuberante.

—Sim, já visitei muitos lugares. Viajei para muitos lugares antes de abrir o Royale. E ainda arranjo algumas viagens ocasionalmente. Ter dois sócios ajuda bastante para arranjar um tempo de descanso.

—Magnífico. Ainda desejo viajar o mundo como o senhor

Duque franziu o cenho, confuso.

—O que está lhe segurando de partir nesta aventura?

—Minha irmã se casar- ela suspirou cansada- É o maior sonho dela. Quero estar presente para vê-la realizá-lo.

Duque sacudiu a cabeça sorrindo. Elizabeth Clark era uma moça deveras diferente. Fazia de tudo pela sua família, trabalhava, tinha planos muito divergentes do casamento. Todos aqueles desejos e força impressionaram-no. Ela não era um moça qualquer da alta sociedade. Tinha suas vontades e não as deixava de lado somente por serem consideradas escandalosas para uma dama.

—Por que você está sorrindo? - ela também sorria, inclinando a cabeça interessada.

—Só estou impressionado com a senhorita. Só isso- Duque continuou sorrindo para ela, aquela conversa estava o estimulando muito mais do que qualquer outro jogo de cartas, qualquer outra luta, qualquer coisa nos últimos meses.

—Pode me chamar de Elizabeth. Acho que não há necessidades de tanta formalidade.

Os dois estavam se aproximando cada vez mais. Tão próximos que Elizabeth sussurrou as últimas palavras e Duque foi capaz de ouvir perfeitamente cada uma delas. Ele olhou para baixo em direção aos lábios dela e sentiu aquela vontade novamente de beijá-la e dessa vez não havia nenhum obstáculo entre eles que impedia-o de arriscar um beijo. Sentiu uma leve pressão no abdômen e suas calças ficaram de repente um pouco apertadas.

O aroma de jasmim exalava da pele e cabelos dela. Aquilo era definitivamente enlouquecedor. Os lábios estavam quase se tocando quando Elizabeth abriu totalmente os olhos, assustada e disse:

—Acho que estou ouvindo uma moça chorando. E tenho a impressão que é June.

Elizabeth passou pela porta como um relâmpago e Duque seguiu logo atrás, se amaldiçoando por ter deixado seus desejos controlarem-no.