A celebração de casamento de June foi opulenta e vivaz. Uma lista de convidados cheia, um buffet caro, música para todos dançarem até os pés formarem bolhas, e é claro um noivo e noiva extasiados de tão felizes. James havia insistido em pagar a conta da festa e June fez questão de aceitar.

O vestido dela era de uma seda branca finíssima, seu cabelo fora arranjado em um coque repleto de flores e um véu gigantesco de arrastar no chão. Mas o melhor enfeite que a irmã de Elizabeth exibia no rosto era seu sorriso. De um canto ao outro, a caçula olhava para tudo completamente maravilhada. E Elizabeth não poderia estar mais feliz. Afinal, sempre quisera que sua irmã tivesse o tão sonhado casamento de conto de fadas.

June e James estavam dançando ao centro do salão. Os dois agiam como se não houvesse mais ninguém no recinto, olhando fixamente um para o outro, sussurrando bobagens e dando pequenas risadas entre si. Parecia um pouco meloso de se dizer, mas o amor ganhava no final das contas. No caso de sua irmã, é claro. Para Elizabeth a vida batia a porta oferecendo coisas um pouco diferentes do que um casamento com um nobre rico e de bons dotes.

A escolha que ela teria que fazer a assombrava toda vez que colocava a cabeça no travesseiro. Nada conseguia acalmar seu pequeno coração inquieto. Só havia uma última coisa a fazer antes de tomar sua decisão final: precisava conversar com Duque. Abrir seu peito, colocar seus sentimentos na mesa e ver o que o destino lhe reservaria.

A dama olhou pelo salão, procurando pelo moreno. Quando o achou, seu coração deu um pequeno pulo pelo nervosismo. É claro que ele estaria de cair o queixo com aquele terno preto. Seus cabelos, normalmente rebeldes, pareciam bem escovados e caiam em seus ombros. Os olhos mel dele percorriam o salão rapidamente, analisando em volta enquanto conversava com Ethan.

—Alguma coisa em particular lhe preocupa, Beth?- Elizabeth ouviu a voz de Thomas atrás de si e virou-se para encarar um irmão com as feições ligeiramente preocupadas. Pelo jeito ela não estava conseguir suas emoções conflituosas tão bem quanto pensava.

—Nada demais, Thommy. Estava simplesmente pensando em todos os manuscritos que andam atrasados por June ter me ocupado com os preparativos do casamento- Ela se serviu de uma limonada, tentando fugir do assunto.

—Papai me contou da proposta de você ir para França escrever para o The Globe- Thomas inclinou a cabeça e olhou bem no fundo dos olhos da irmã- Achei que a essa altura do campeonato suas malas já estariam feitas e você zarparia no dia seguinte ao casamento de June. Mas não é exatamente isso que eu estou vendo aqui.

Elizabeth segurou um suspiro de cansaço.Ela sabia quão confusa era a sua reação para algumas pessoas que a conheciam bem, mas não tinham conhecimento de sua repentina aproximação com Duque. Desde pequena seu maior sonho era viajar o mundo, conhecer diferentes lugares, pessoas, costumes, tudo! Sua grande dedicação ao estudo de idiomas era parcialmente motivada pela mesmo que pequena oportunidade de sair da Grã-Bretanha.

Não poderia dizer, entretanto, a Thomas o que estava acontecendo. Parecia que no momento que verbalizasse aquela história para alguém que não estava envolvido na confusão do barão e da chantagem, tudo aquilo se tornaria realidade.Uma realidade fria e extremamente irônica. E lidar com ela era muito mais difícil do que um fruto da sua imaginação.

Invés de falar sobre possivelmente estar apaixonada por Duque, Elizabeth disse a desculpa mais convincente que conseguiu pensar num intervalo de cinco segundos:

—Eu sempre falei, Thommy, que gostaria de viajar o mundo. Mas aquilo sempre pareceu algo distante que aconteceria em algum momento da minha vida em que eu me sentisse completamente pronta. Mas eu não me sinto assim. Estou insegura e com muito medo de falhar.

O olhar da moça transbordava incerteza e preocupação. Isso era fato. Por isso, Thomas comprou aquela fala com tanta facilidade. Parecia muito convincente para ser uma mentira. O irmão mais velho não disse nada, simplesmente deu um abraço na irmã e sussurrou para que ninguém mais passando pudesse ouvir:

—Beth, você aprendeu a falar francês quando tinha 13 anos de idade. Constantemente vejo-a lendo algum livro em outro idioma como se fosse nada. A senhorita escreve maravilhosamente bem. Não há motivos para duvidar de seu sucesso. Você é uma dama fora dos padrões, é mais inteligente do que a maioria dos homens desse salão. Confie no seu potencial. Tenho muito orgulho de ser seu irmão

Elizabeth se sentiu muito mal por estar mentindo para o irmão. Principalmente depois daquele pequeno discurso dele. O olhos do mais velho era firmes e encaravam a irmã com uma mistura de orgulho e felicidade. Por um segundo ela se sentiu confortável o suficiente para dizer o que realmente estava acontecendo na sua mente. Mas logo voltou a si e simplesmente concordou com o irmão:

—Você está certo, Thommy. Estou sendo incrivelmente boba por duvidar que conseguirei fazer um bom trabalho- A dama abriu um sorriso levemente forçado, mas amplo o suficiente para enganar qualquer um- Muito obrigada pela sua força, meu querido. É tão bom poder contar com o seu apoio.

Thomas abriu um pequeno sorriso satisfeito. Apertou o ombro de Elizabeth e saiu caminhando pelo salão tranquilamente. A morena se sentiu completamente sufocada por aquele ambiente e decidiu sair dali o mais rápido que podia. Passou apressadamente pelas pessoas ao redor do salão e decidiu subir até a sacada. Precisava de um momento a sós.

O céu estava belo naquela noite. Uma leve brisa soprava, o suficiente para fazer Elizabeth se encolher ligeiramente. O vestido que escolhera era de um lilás delicado, mas decotado, pouca abrigava seus ombros e braços. Ela suspirou, encantada com aquele silêncio acalmador.

A música era ouvida de longe, como somente um barulho de fundo. Elizabeth apoiou-se no balcão e encarou aquela noite estrelada. Pensou em tudo que havia ocorrido, desde o momento em que havia conhecido Duque, aquelas pequenas conversas tão deliciosas, poder dançar envolvida nos braços dele, beijar aquele homem enlouquecedor e lindo. Tudo. Aquela dúvida cruel de se valia a pena ficar na Inglaterra por ele regressava à sua cabeça. Ela sempre ia e voltava na resposta. Nunca conseguia bater o pé definitivamente.

A dama levantou a cabeça, buscando orientação naqueles astros. Tantas pessoas haviam olhado aquelas mesma constelações e pedido desesperadamente por orientação, por algum sinal. E ela realmente não sabia a resposta para seu dilema, começou a pensar que um sinal faria bem… Ai! Um pequeno grampo cutucou seu couro cabeludo no momento que inclinou a cabeça demais.

Já cansada daquele penteado elaborado e dolorido, puxou aquele grampo maldito. Péssima ideia, muitas mechas caíram desordenadamente, fazendo a moça ficar parecida com uma louca. Agora que havia começado, precisava terminar de desmanchar o penteado. Tirou todos os grampos, um a um, cuidadosamente.

Elizabeth estava tão concentrada no desmanchar cauteloso de seu cabelo que não percebeu a aproximação de Duque até a sacada. O moreno observou a dama por alguns segundos antes de anunciar a sua presença. Ela mexia no cabelo com um capricho invejável. Por um segundo desejou que aquelas mãos estivessem sobre ele, acariciando-o.

—Vejo que já está não aguenta mais manter todo esse penteado elaborado incomodando-a- Duque disse em alto e bom tom e Elizabeth virou-se ligeiramente assustada. Não esperava ser encontrada por ninguém tão rapidamente.

—Bem, o senhor sabe que bailes e adornos não são meu ponto forte- ela abriu um sorriso cúmplice e Duque retribuiu se aproximando.

—Eu diria que a senhorita não gostar de bailes é um ponto forte, não o contrário- ele sorriu travesso e Elizabeth riu com aquele comentário. Duque se sentiu satisfeito com aquela risada. Era tão melodiosa e nem sempre tinha o luxo de ouvi-la. Se pudesse, a escutaria todos os dias.

—Fico feliz que pense dessa maneira. Nem todos os cavalheiros tem o mesmo raciocínio.

—Bom, nem todos os cavalheiros são espertos de notar a sua beleza, então o que se esperar deles.

Duque não estava esperando a reação que teve de Elizabeth. Ao dizer aquela frase, tinha a esperança de soar galante, no entanto parecia que ele havia dado um leve soco no estômago da moça, porque ela arregalou ligeiramente os olhos e prendeu a respiração por um segundo. Havia algo de errado.

—Eu disse algo inapropriado? Peço perdão pela minha indelicadeza- achava que depois de beijar uma dama, elogiar sua beleza não seria algo tão chocante assim. Erro bobo, pelo jeito.

—Não, não, Duque. Você não fez nada de errado. Eu é que estou no meio de uma confusão- Elizabeth se sentiu mal por ter reagido daquela maneira ao comentário dele. Mas Duque olhá-la com aqueles olhos cor de mel e dizê-la que ela era bonita não era algo que facilitava seu dilema. Pelo contrário, somente complicava. Tudo bem, precisava dizer ao cavalheiro o que estava acontecendo e só poderia ser agora.

—Eu preciso conversar com você- Beth olhou seriamente para o moreno. Precisava deixar as palavras saírem antes que perdesse a coragem.

Duque franziu o cenho e aproximou-se da moça:

—Diga, Elizabeth. O que está acontecendo?

A morena respirou fundo e afirmou as palavras que estavam lhe perseguindo já faziam um tempo:

—Meu pai me ofereceu um emprego como jornalista no The Globe- ela viu os olhos dele brilharem de felicidade, não passou pela cabeça dele que não poderia ser na Inglaterra esse trabalho- Eu teria que ir para a França e viver por lá permanentemente.Preciso começar imediatamente, caso espere demais meu pai encontrará outra pessoa e sabe-se lá quando surgirá essa oportunidade novamente. - Elizabeth sentiu o coração mais pesado no momento que disse aquelas palavras. As mãos começaram a suar, nervosa pelo o que Duque diria em seguida.

—Mas eu ainda não tomei a minha decisão final- Elizabeth completou a frase, tentando deixar um desejo subentendido de que se ele dissesse algo, ela ficaria.

Tantas coisas passaram pela cabeça do moreno no momento que havia percebido o que aquela frase realmente significava. Caso aceitasse, Elizabeth ficaria longe da Grã-Bretanha por sabe-se lá quantos anos. Ela já havia mencionado ser um sonho dela conhecer o mundo, mas ele não sabia o quão rápido aquele sonho se tornaria realidade.

Com aquela aproximação entre os dois naqueles meses, ele pensou que talvez pudesse… ah quem ele era para pensar algo desse tipo. Pensar que talvez pudesse se apaixonar por Elizabeth, casar-se com ela. Ele só traria o nome dela para a lama. Não havia uma alma viva da alta sociedade que não o conhecesse. Ele era o bastardo de um dos homens mais poderosos da Grã-Bretanha. Vivia em um exílio constante. Não teria coragem de trazer aquela mulher tão poderosa e linda para viver no submundo londrino.

E mais, Duque havia estabelecido suas raízes na Inglaterra com o Royale. Não poderia se ausentar por um período muito longo. Não poderia sair viajando pelo mundo da maneira como Elizabeth gostaria. E não seria justo pedir para que ela desistisse de seus sonhos por ele. Duque havia decidido o que fazer da sua vida e não poderia impor o mesmo para ela Pelo amor de Deus, ele se culparia por isso pelo resto da vida. Não seria justo.

—Duque?- Elizabeth chamou confusa com o silêncio do cavalheiro. Os olhos dele estavam distantes e expressavam uma confusão gigantesca. Começou a se preocupar.

—Acho que você deveria aceitar a proposta do seu pai- Duque acordou de seu pequeno transe e vomitou aquelas palavras, antes que se arrependesse e pedisse com todas as forças para que ela ficasse. Para que lhe desse uma chance de segurá-la nos braços e chamá-la de sua.

Elizabeth arregalou os olhos e abriu a boca em sinal de surpresa. Duque não havia nem exitado em dizer para que ela fosse. Sentiu um vazio naquele momento. O que esperou daquela conversa? Que Duque pediria para ela ficar, que a pediria em casamento e os dois viveriam felizes? Isso poderia ser a realidade de June, mas estava longe de ser a sua. Suas decisões eram muito mais difíceis.

Antes daquele momento, estava pronta para dizer a Duque que estava a disposta a desistir de tudo para ficar com ele. Mas no momento que ouviu a opinião dele, as palavras pareciam ter sumido da boca dela. Ficou ligeiramente sem reação. Da mesma maneira como o moreno havia ficado há alguns segundos atrás.

—Você tem certeza?- a única coisa que ela conseguiu pensar naquele momento saiu da boca dela. Algo completamente impulsivo. Duque pareceu surpreendido por aquela pergunta. Encarou os olhos dela e desviou rapidamente para os lábios de Elizabeth.

Elizabeth não conseguiria prever o que Duque faria em seguida nem em mil anos. O moreno deu o último passo que separava a distância entre os dois, colocou as duas mãos no rosto da moça e colou os lábios aos dela.

O beijo foi lento e suave. Duque sorvia a boca de Elizabeth lentamente e aos poucos a dama foi perdendo o fôlego. Sabia que aquele beijo era de despedida, sentia isso em seus ossos. Por isso, permitiu-se ser completamente livre para aproximar-se ainda mais dele, colocar uma das mãos em seu peito e a outra começar a passear ligeiramente pelos fios do cabelo de Duque. Tão macios ao toque.

Diferente do último beijo, Duque não tinha gosto de conhaque, mas de algo muito mais doce. Provavelmente alguma bebida que serviram no buffet. Ele era quente e cheirava tão bem. O único desejo de Elizabeth era se enrolar naquele homem e nunca mais largá-lo.

Quando as mãos dele foram para a cintura dela e a apertaram contra seu corpo rígido, o beijo começou a ganhar uma profundidade maior. As bocas se devoravam e ela conseguia sentir a respiração entrecortada de Duque. Ela se entregou para aquele cavalheiro tão misterioso e apaixonante.

No momento que Elizabeth segurou o pescoço de Duque com um pouco mais de força, raspando as unhas na nuca dele, parecia que ele havia chegado no seu limite. Desgrudou os lábios e encostou a testa na dela. Respirou fundo algumas vezes, tentando recuperar o fôlego.

—Não tenho certeza se essa é a melhor decisão. Mas é o que o meu coração está me mandando fazer nesse momento. Não posso prendê-la aqui comigo- Elizabeth sentiu seu coração se partir ligeiramente naquele momento. Sabia que era uma besteira sua, mas não podia evitar de se decepcionar com aquela atitude dele. Ficou sem saber o que dizer.

Não precisou pensar em algo, porque Duque se desvencilhou dela e disse simplesmente:

—Vou me retirar antes que isso fique difícil demais para mim. Adeus, Beth. Cuide-se- ele se virou e foi embora calmamente.

Elizabeth ficou por alguns minutos na sacada, tentando se recuperar daquela conversa. Olhou novamente para o céu estrelado e suspirou pesadamente. Parecia que ela iria para Paris, afinal das contas.