Exile 3: O Renascer

Capítulo 29: O Mistério do Incêndio: Parte 1...


O alarme indicou que o mau agouro estava acontecendo e nós não percebemos. O barulho estridente que o aparelho soava atingiu a todos como um tiro de um revólver feito por um ótimo atirador porque atingiu-nos com um imenso mar de surpresa.

Logo o som de passos e correria extremos determinou o ápice da angústia de saber e entender o que realmente acontecia ao redor dos seres residentes no edifício sacro. Gritos ásperos de desespero e aflição alcançavam meus ouvidos repletos de prudência e me contava que o opressor não era um simples incêndio, mas sim uma obra realizada por algo, pois é algo muito raro ver e ouvir creepypastas desesperadas e pelo que sei a única coisa que coloca medos nos monstros são monstros piores, no caso, demônios. Ah seres infernais, nenhuma creepypasta pode ser tão maldosa quanto essas criaturas, eles nasceram do mal, morreram com ele e andam lado a lado em seu ciclo imortal após o perecer.

Corri até a imensa janela por onde Purple Man olhou a fumaça sair dos arredores da sala principal e por ela tirei a conclusão imediata de que isto não era normal, era maligno. Em volta do prédio estavam diversos homens parados perfeitamente alinhados um ao lado do outro olhando para o foco do incêndio. Vários homens trajando ternos pretos límpidos e arrumados, cabelos penteados que exalavam vaidade não de suas almas, mas sim de seus possessores...

Era bem claro quem eram esses seres. Falei deles há alguns segundos atrás. Demônios e pela a aparência deles eram de um grau bastante superior aos seres malignos que vimos ao decorrer de nossa aventura dramática. — Eles não podem passar da barreira, então por que aguardam pacientes algo acontecer? — O incêndio não poderia ser feito por alguém de fora, como demônios ou até mesmo Absolen, pois do mesmo jeito que eles não podem entrar sua magia das trevas também não é permitida ultrapassar a barreira. — Será que foi alguém de dentro? — Eis a questão, sábio Alan. Esse prédio está cercado de monstros maléficos e sanguinários que poderiam ser como Slender, facilmente virar a casaca, passar para o lado de Ancestral. — Mas como esse misterioso ser poderia ter entrado se James explicou que aquele que desejava o mal mais impuro não passaria? — A pergunta intercalava com o mistério exuberante que estava no ar e enquanto os residentes lutavam contra as chamas eu ficava encarando da janela os seres inferiores esperarem calmamente alguma coisa acontecer, talvez a quebra da barreira...

Você se pergunta como a criatura entrou aqui?... — Uma voz suave predomina a sala. Uma voz feminina e calma, mas que guarda em seu interior um sentimento de dor e algo como uma falta de fé. A pergunta predominante neste exato momento era como eu consigo agora decifrar vozes...

— Apareça... — A dona da voz continuava a se esconder de mim na sala, mas a sua técnica era como a de Absolen, ela estava presente no local, porém, em outro plano. Era como se ela estivesse dentro de um grande espelho que refletia nosso mundo e enquanto ela observava o mundo normalmente nós não. Essa técnica é muito usada por demônios do grau de Ancestral e Absolen para se esconderem, pois enquanto achamos que não há nada ao nosso redor e que um barulho monótono foi apenas causado por árvores arranhando as janelas, eles estão apenas em um meio entre nossa realidade e um mundo desconhecido prontos para nos atacar na madrugada cinzenta enquanto dormimos...

— Sinto sua presença... — Sabia que ela estava lá e bem provavelmente bem na minha frente, contudo não conseguia ver nada além de um cômodo vazio e empoeirado. Não conseguia seguir a alma cintilante dos seres abstrusos por razão de ainda não ter aprendido essa habilidade que Ancestral deixou em mim ao contrário da metade de sua maldade e raiva incandescente que possuía a cada minuto me implorando para causar alguma maldade.

Por que tanto me deseja ver, Sr. Richard? Não quer saber a resposta? — Estava parado olhando atento para todos os cantos em busca de alguma falha de seu ocultismo indesejado, mas ela era boa, ou eu era ruim em atenção. — Como posso confiar naquilo que não posso ver? Um cliente não pode comprar um produto sem olhar nos olhos do vendedor, como posso acreditar em uma voz ecoante em uma sala vazia de um prédio em chamas onde este está cercado de demônios secos por sangue e morte? — Ela calou-se por longos quatro segundos e meio deixando um silêncio amedrontador na sala e (acidentalmente?) indicou sua presença a mim ao bater a porta do quarto – que estava aberta - de maneira ferozmente.

— Vai me trancafiar aqui e me matar enquanto todos estão ocupados tentando apagar o incêndio? Bem tosco, mas tenho que admitir que funcionaria se você não contasse que eu posso virar a pior coisa que você já viu quando me atacar... — Não fui eu a culpada do inferno no térreo, Sr. Richard, eu estou tentando encontrar a criatura que fez isso e preciso de sua ajuda, por isso estou chamando sua atenção... — Não era mais fácil entrar, me cumprimentar e pedir educadamente? E será que, por favor, pode parar de me chamar de senhor? Faz-me sentir velho, eu só tenho trinta e quatro anos!

O eco estranho que jazia dentro da sala parou e a friagem desapareceu com todo o sinal de presença naquele mórbido interior. Aproximei-me lentamente até a porta dando passos lentos e leves, mas mesmo assim a madeira velha do assoalho da sala rangia até mesmo se uma pena caísse sobre ela. Uma sombra chegou perto da porta e adentrou no cômodo pelo pequeno friso entre a porta e o chão e isso aparentava que ela estava lá... Abaixei-me ao chegar até a entrada e com meus olhos preparados fui em direção à fechadura que por ser antiquada, era mais larga e facilitava a visão ao outro lado.

Tudo que vi era apenas um breu rubro e meio acinzentado que, com certeza, não era a cor do papel de parede do corredor...

— Incrível... — Dou um sorrisinho debochado enquanto minha mente trabalha parando o tempo ao meu redor e fazendo-me adentrar em minhas memórias em busca da pista que ela mesma deu a mim.

Que eu saiba Alan, você não é assim. Está mais debochado que o normal, tem em você um tom seco em cada fala que sai de sua boca e seu olhar arregalado já demonstra que está perdendo suas forças e se rendendo ao ser infernal denominado Doppelgänger — Essa fala mexeu com minha alma de um jeito que eu fiquei extremamente desconfortável. Minha força estava sumindo pausadamente de mim, estava ficando meio tonto, acho que depois de tudo, mesmo que as evidências ao meu redor me mostravam isso eu acabei de descobrir que ele já dominou mais da metade de meu corpo e continua se alastrando como um vírus mortal.

Foi como um tapa dado fortemente em meu rosto. Eu não havia percebido que, agora, não só a maldade de Doppelgänger me dominava, tudo que ele tem também se alastrou em meu corpo, minha personalidade já havia sumido e o que restou era ele próprio.

— Eu estou perdendo... — Lágrimas rasas começaram a escorrer de meus olhos, mas sabendo que eram apenas gotas, para mim, era como se fosse um maremoto derrubando tudo à sua frente. — Eu estava cego esse tempo todo, acho que não era ele que me cegava, acho que era realmente eu que falhei em perceber...

Passou-se uns minutos e a gritaria sessou-se, a ideia de que eles conseguiram parar o incêndio chegou em minha mente e agora respiro aliviado. Ainda estava parado em pé, de olhos fechados e com uma respiração lenta como em um transe na espera de sentir algum ressoar de minha alma boa dentro de mim, eu a sentia, mas era como se fosse um simples homem gritando contra um gigante.

— Não ouça ele Alan... — O anjo aparece na porta misteriosamente e estava completamente ofegante. — Não ouça a maldade dentro de ti... — Seu olhar ainda estava relativamente forte e seguro em comparação ao seu corpo que estava exausto e ferido emocionalmente. Sua aparência estava muito acabada e após essa batalha contra o fogo o cisco de poder que lhes restava estava se desvanecendo lentamente.

— Anjo, eu não consigo mais sentir quem eu sou, eu não sinto mais meu coração e tudo que vejo agora é só mais um mundo cinzento e sem emoções — Ele aproxima-se colocando o braço na barriga e a pressionando para conseguir movimentar as pernas, pois a cada hora que se passava ele ficava mais cansado. — Aerth, meu nome é Aerth, não precisa ficar me chamando de anjo — Anuncia ele. Aerth dá uma pequena pausa e respira fundo continuando em seguida: — Eu senti seu desespero, amigo, não temas. Acho que finalmente descobri a razão do Criador me enviar para a Terra ajudar-te nessa jornada arriscada... — Ele para a dois metros de mim, apoia-se na cabeceira da cama de Fritz quase gemendo de dor e continua: — Eu acreditava que ele me enviou para devolver o livro para vocês, logo depois mudei o meu pensamento que o motivo era eu ajuda-los com meu poder celestial após lutar contra Zalgo, mas agora vejo que estou aqui para recuperar o seu lado bondoso Alan, é essa minha missão verdadeira — Eu continuava sério e com um olhar monstruoso. Minhas expressões faciais desapareceram após a evasão de minhas emoções.

— Eu sei porque está assim... — Lentamente chego até ele. — Seu corpo astral está se rejeitando após a partida de seu poder, em outras palavras, seu corpo não é humano e sim uma projeção de seu poder de como você se vê e como ele se foi, sua forma humanoide está se desafazendo aos poucos — Ele olha em meus olhos com uma face surpresa. — Chame o Guardião e peça a ele o resquício de seu poder que lhe foi dado por ti quando estava morrendo pela tortura de Ancestral — Virei-me e estava saindo do quarto quando ele chamou meu nome novamente: — Se quer saber onde está seu lado humano, eu acabei de vê-lo agora, obrigado amigo. Saiba que sempre poderá contar comigo para tudo...

Tentei agradecer seu apoio com um sorriso só que nenhum músculo se moveu em minha boca e isso resultou a minha saída da sala com uma face séria e rancorosa.

— O que quer que eu faça? — Pergunto ao vazio do corredor.

A criatura que causou o incêndio irá atacar novamente e nosso tempo é pouco, temos que encontrá-la mais rápido possível porque os demônios lá fora são bastante pacientes e não irão sair de lá tão cedo...

— Como sabe de tudo isso?

Eu já vi acontecer antes da chegada de vocês. Porque acha que o Purple Man ficou tão surpreso ao ouvir que novas chamas surgiram no prédio? Eu estou investigando esse caso há um bom tempo e já tentei falar com ele sobre o que estava planejando, mas o púrpura não acreditou em mim, ele estava cego em que estávamos seguros dentro desse lugar e não pensou que o inimigo já estava aqui dentro há séculos apenas aguardando o chamado de seu mestre...

— Há séculos? — Pergunto confuso com a quantidade de tempo que ela mencionou.

Sim, eu irei falar com todos o que descobri, mas preciso que você reúna todos para poder contar de uma vez por todas que o ser que está aqui nesse recinto pode matar todos nós de uma só vez...