Exile 3: O Renascer

Capítulo 27: A Resistência...


A aurora estava se impondo diante de nós quando chegamos novamente ao portão da cidade onde outrora residiu a batalha épica entre Zalgo e o Anjo Protetor.

— Acho que não deveria ter feito isso... — Falo. — Concordo — Responde o Guardião que mesmo ferido conseguia andar milagrosamente e isso nos enchia de curiosidade, mas pelo jeito nem ele sabia o que acontecera consigo mesmo. Na vanguarda estava presente Herobrine extremamente nervoso e receoso com o que ocorrera em mim. Ele andava em passos cansados e de cabeça baixa; o anjo que também compartilhava sua exaustão com seu líder, mas o pior era sentir a dor humana que o derrubava; Fritz que se mantinha sério com o acontecido, porém, não me culpava porque sabia que eu ainda era o Alan e não a criatura que o Ancestral plantou em mim. Atrás estava o Guardião já melhorado e firme como sempre foi; Eu extremamente preocupado com o que estava me possuindo aos poucos e o SCP-011 que não aparentava preocupação.

— Não me arrependo. Se não tivesse escolhido esse caminho nunca teríamos chegado onde estamos agora e toda a missão estaria perdida. Mesmo me sacrificando eu fiz essa escolha para uma boa causa — Continuo conversando com o Guardião.

Só peço a você que não exagere no senso de heroísmo, certo? A vida é o nosso bem mais precioso e entregá-lo assim, mesmo que para um bem maior, é como se você estivesse rejeitando o presente que o Criador nos deu — Comenta ele.

— Você tem razão, acho que vou pensar mais na próxima vez...

O caminho pela cidade arruinada era deveras desanimadora. Ao observar o que poderia se tornar o mundo que hoje conhecemos caso todos nós falharmos era de acabar com o mais crédulo dos heróis e alegrar o mais malvado dos vilões.

— Pelo menos ninguém estava aqui na hora do desastre — Falo olhando as casas despedaçadas, os postes caídos, a estrada rachada – que aparentava ter sido asfaltada recentemente – pela batalha e muita destruição em nossa volta. O cheiro de fumaça era predominante e até pequenos focos de incêndio era vistos em alguns prédios. — Mas nenhuma das opções é certa, pois eles com certeza estão possuídos ou pior... — Fala o anjo que ouviu a minha fala.

— Sinto que estamos perto do fim... — De longe era se visto a igreja onde ficava a resistência que tanto foi mencionada. O caminho estava livre e aparentava que nada de ruim iria acontecer, nada mesmo. Estava tão calmo.

O fim é apenas uma palavra, não existe um fim concreto... — Retruca Herobrine que parou de andar e respondeu olhando para meus olhos. Sua face demonstrava uma preocupação grave a cada vez que ele ouvia as palavras fim, Absolen e Ancestral. Mesmo tentando esconder seu medo de nós, eu conseguia enxergá-lo mais que ele próprio, não entendia como, mas parecia que sentia a emoção dos seres próximos a mim. Isso é praticamente impossível. Pode até mesmo ser explicado por eu conseguir decifrar a pessoa sem forças sobrenaturais só que eu podia mais que isso, eu via e quase podia tocar o medo, a preocupação, a dor, de cada um deles... Acho que Ancestral não só me amaldiçoou como também me deu dons. Mas prefiro ser um humano fraco, porém bom do que um humano forte e maligno.

— Eu me sinto estranho... — Falo novamente com o Guardião. — Sinto um peso dentro de mim que cada vez mais aumenta. É como se eu estivesse carregando uma enorme pedra em minhas costas cansadas. Eu sei o que é... Eu só queria saber se existe algo que possa me ajudar a melhorar essa coisa amaldiçoada que resigna em minha alma — Enquanto continuamos a caminhar tranquilamente, ele pensa e responde: — Você precisa é de um bom descanso que relaxe seu corpo e sua alma. Quando chegarmos à igreja teremos um tempo de sobra para descansar para a batalha final, então, aproveite esse tempo e descanse, após isso, medite para purificar sua alma. Faça como James fez antes de sua batalha, ele conseguiu a coragem para seguir em frente através de uma meditação... — Certo, acho que vou fazer isso — Termino a fala enchendo-me de fé para prosseguir o caminho.

O sol resplandecente da manhã estava bem forte e a presença do vento álgido e forte fazia as nuvens dissipar-se do céu e dar mais espaço para os raios solares atingirem o solo. Era um belo dia. Dias como esses me enchiam de alegria, mas agora não sentia nada. O principal elemento que me alegrava sumiu de mim como muitos outros que ainda irão sumir, pelo que pressinto...

De longe se via a base de resistência emergir no horizonte. Finalmente estávamos chegando à igreja da cidade onde, possivelmente, seria nossa última parada antes da batalha final. Não compreendia se na hora estava sentindo felicidade ou ansiedade para o tão esperado fim desse caos, mas posso dizer que muitos não estavam como eu, eles tinham mais medo do que outra sensação prazerosa.

Finalmente... — Fritz toma à dianteira e demostra sua felicidade em voltar para a sua casa. Seu coração palpitava bruscamente em seu peito e sua face que mesmo cansada ainda continha forças para dar um pequeno sorriso ao ver que a porta de madeira da igreja se abriu e alguém estava o esperando na sacada balaustrada. — Vamos logo! — Grita ele entusiasmado, mas ao dar um pequeno passo para frente Herobrine o segura pelo ombro e começa a olhar em volta procurando algo escondido nas sombras. O ser de olhos brancos continuava a olhar sério em todas as direções a procura de algo que possivelmente era uma ameaça e pela sua face, algo bem perigoso.

O que foi Herobrine? — Guardião pergunta meio assustado.

Tem alguém nos observando... — Herobrine responde ainda olhando para o interior das casas destroçadas, para os becos escuros e até mesmo para as pequenas matas atrás das moradias. — Não, esse vulto não está nos observando aqui, não necessariamente na Terra, ele está em outro plano... — O anjo se aproxima — Em outro plano? — Corram até a resistência, não me procurem, eu vou voltar. Vão Logo! — Herobrine puxou sua espada e com o resto das forças que tinha desapareceu indo atrás da coisa que nos espreitava...

Vamos fazer o que ele disse... — O jovem soldado fala. — Não adianta mais nada, ele já sumiu agora a única coisa a fazer é esperar e rezar para que ele consiga voltar — Ele continua.

Depois de decidirmos esperar o líder na resistência, tudo ficou mais escuro que o normal. A preocupação dominou todos como um mar feroz em dias de chuva, a maré avançando contra a praia derrubando os coqueiros e batendo na parede de pedras que protege a cidade. Parecia que mesmo tudo indo bem algo iria acontecer para nos desencorajar e nos amedrontar.

Cada vez mais eu vou diminuindo meu ritmo em relação aos outros. Quando finalmente eu decido levantar minha cabeça e olhar para frente percebo que todos já estavam bem à frente de mim. — Por que eu não sinto nada? Eu estou virando um monstro... — Olho para um pedaço de vidro espatifado no chão e nele consigo ver um pouco meu reflexo amaldiçoado e corrompido.

— Herobrine se foi e não consigo sentir nada... — Eu olhava para aquele monstro e mesmo sabendo que era eu mesmo, sentia que era outra pessoa, outra coisa. E também sabia que eu iria me transformar assim se tudo desse errado. — Por que você me escolheu sabendo que eu iria me transformar em um monstro? Eu entendo que eu, talvez, não me transforme, mas mesmo assim, por que me escolheu? Se é o meu destino pode mudar, então eu ainda tenho chances de virar uma coisa pior que o Ancestral. Havia tantas pessoas melhores que eu, que não carregavam esse fardo em suas almas...

— Ele o escolheu exatamente por isso... — O anjo aparece colocando sua mão em meu ombro. — Posso estar errado, pois é muito difícil compreender as atitudes dele, mas posso dizer com certeza que tinha que ser você Alan. E se ele o escolheu é porque ele confia em você, todos confiamos — Ele dá um sorriso e olha em meus olhos. — Ele sempre disse para acreditar e confiar em si mesmos, então, não acredite no que você vê e sim naquilo que você sente — Ele aponta para o reflexo e depois aponta para meu coração.

— Acho que é melhor seguirmos até a resistência — Falo e ele concorda.

Estávamos bem perto da igreja e por isso não demorou muito para chegar lá. Os outros esperaram eu e o anjo chegar até a sacada para entrarmos todos juntos no local, uma forma de dizer que estamos unidos para o que der e vier.

Aproximei-me da escada de pedra pintada com um amarelo suave - que aparentava estar envelhecida por partes da tinta descascar - e com o pé direito comecei a subi-la até a varanda simples que continha apenas um vaso de planta vazio e uma cadeira de balanço nova por estar ainda bem pintada com uma coloração amarronzada. As paredes, também pintadas com esse amarelo-claro, mostrava que quem decidiu pintar o local fez um péssimo trabalho porque a tinta ficou muito fraca. Também era reparado que eles não conseguiram terminar o trabalho, uma parte da parede estava faltando.

Bem-vindos atrasados! — Jeff The Killer abre a porta de madeira grossa e bruta da igreja e ergue seus braços em forma de saudação. Ele aparentava estar mais descansado, além de que seu casaco branco – que de tão velho ficou amarelo – foi substituído por um novo e bem limpo. Era se visto também que seu cabelo longo estava penteado para trás só que não completamente. Ele não é de muito luxo, deve ter apenas passado o pente para não ficar parecendo um louco (ironia).

Só faltou passar o creme de pele — Zomba Fritz rindo após ver a mudança de visual do assassino.

Nossa, muito engraçado, estou rindo também — Fala ele sério.

— Eu não vou ficar para ver vocês trocarem piadas, tenho que descansar e sugiro que façam o mesmo — O Guardião passa por Jeff e adentra na igreja. Logo, todos também entram e por último, entro eu. A igreja por dentro estava mais conservada que o lado de fora, suas paredes estavam com uma tintura mais preservada e o velho estilo predominante ainda era encontrado nos grandes arcos onde ficavam os vitrais angelicais e santos. O odor de livros e documentos envelhecidos transformava o local mais ainda em uma construção secular e me tranquilizava, o local trazia uma paz incessante. — Que belo... — Digo observando os vitrais multicoloridos que mostrava algumas fases da vida de Jesus Cristo. As cores vivas eram impressionantes e belas.

— Onde estão todos? — Pergunta o anjo. Fritz aponta para as duas portas duplas atrás do altar. As portas levavam ao prédio onde residia o convento e onde estavam as creepypastas.

— Como sabe que os demônios não virão para cá? Ancestral parecia saber muito bem onde ficava a resistência e não mostrou muita dificuldade em mandar alguma criatura nos observar enquanto estávamos vindo para esse lugar — Pergunto.

Acredito que ele sabe sim onde estamos e que sempre soube, mas o que é importante é que ele não pode entrar aqui e nenhum demônio também não... — Fritz responde. — Como ele não pode entrar aqui? — Pergunto outra vez e a porta do convento abre nos surpreendendo com a chegada de um velho amigo... — A igreja foi totalmente selada com uma força que impede as criaturas infernais de entrarem por aquela porta, um poder concebido a mim pelos seres celestiais... — Eis que surge para nós o Detetive James mais uma vez, ajeitando seu chapéu cinza e abotoando os botões do pulso de seu longo sobretudo.

— É bom ver vocês novamente, amigos — Ele fala sorrindo.

Também ficamos felizes em revê-lo, detetive — Guardião termina.

Após aquele reencontro nós finalmente saímos da igreja para adentrar o convento e conhecer as creepypastas ali presentes. Ao entrar já encontramos alguns "velhos amigos", Eyeless Jack e Sonic.exe que estavam voltando à capela para vigiar a entrada. O extenso corredor onde estávamos levava a vários cômodos como a sala de estar, sala de jantar e a cozinha. Fritz chegou até a entrada da saleta, posicionou suas mãos nas maçanetas douradas da grande porta dupla de madeira rústica e a abriu nos apresentando o cômodo e falando para descansarmos um pouco que ele iria chamar alguém para conhecermos. Sentamos nos sofás rústicos bem simples, - alinhados certeiramente no centro da sala - mas com um acolchoado bem macio e depois dessa longa jornada, nós não queríamos nem levantar dali por cansaço. Aquilo já era o paraíso.

Quando finalmente o cansaço já estava sendo dizimado de meu corpo e o relaxamento estava me causando um sono, um barulho baixo, porém ecoante começou a surgir predominando a sala e causando uma preocupação em todos presentes nela.

— O que é isso? — Pergunto procurando a origem do barulho.

O barulho era como um apito tocado bem baixinho, mas mesmo sendo assim, ecoava por toda a sala e por conta disso, aumentava um pouco.

— Sinceramente não sei — Responde o anjo.

O barulho para por um instante e nesse intervalo de tempo surge à nossa frente o líder ajoelhado no chão com a cabeça baixa e com as mãos segurando no cabo de sua espada, como se ele estivesse curvando-se. Dele saia uma fumaça preta que dissipava-se após subir até mais ou menos a altura de sua cabeça, além de que sua roupa estava meio chamuscada. Na primeira instância nos assustamos só que ao reparar que era Herobrine nos acalmamos, no entanto, não baixamos a guarda.

Está tudo bem, senhor?... — Pergunta o soldado já esticando lentamente seu braço em direção a espingarda que estava ao lado do sofá onde ele estava sentado.

Acalmem-se, sou eu... — Herobrine fala erguendo-se e ficando de pé.

Como iremos saber se algo não o possuiu? Explique essa fumaça escura saindo de seu corpo... — O Guardião interrompe o soldado: — Pessoas possuídas não exalam fumaça preta do corpo — Certo, mas explique o que aconteceu — Termina o jovem soldado de granito.

Herobrine passou a mão no rosto mostrando toda sua exasutão e angústia que o estressava demais e sentou-se lentamente em uma poltrona para ver se podia relaxar um pouco.

Quando eu fui até a criatura que nos espreitava descobri que era na verdade Absolen. Tivemos uma conversa breve, ele sempre adora se gabar antes de uma batalha e após isso lutamos fervorosamente até ele me golpear com uma energia flamejante e desaparecer gargalhando. Por isso estou com essa fumaça saindo de mim — Por que Absolen estava nos vigiando se Ancestral sabe o que estamos fazendo e onde estamos? Não faz sentido, só se Absolen estivesse realizando esse feito porque queria batalhar com você, Herobrine — O anjo complementa.

— Seja o que for eles sabem mais que nós que o fim está bem próximo, então, devemos nos apressar para tentar passar a frente deles nessa guerra — Falo.

Está certo, então, vamos por em prática o que temos que fazer para derrotar o Doppelgänger...