Acordei assustada ainda de madrugada após ter um pesadelo com Draco.

Na verdade não era exatamente um pesadelo, era só um sonho onde eu ficava no escuro procurando por ele desesperadamente, praticamente uma fantasia com o que estava realmente acontecendo na minha vida.

Após a mensagem que Draco tinha me mandado eu demorei a dormir, rolei de um lado a outro por metade da noite angustiada com o que pudesse estar acontecendo.

Eu sabia que era inútil me preocupar desse jeito pois com certeza não havia nada que eu pudesse fazer, mas, mesmo assim, tinha vontade de pelo menos vê-lo e faze-lo me contar o que estava acontecendo.

Tentei voltar a dormir mais um pouco até começar a ver pequenos raios de sol passarem pelas cortinas da janela que ficava atrás do sofá e, sabendo que em nada resultaria a teimosia em ficar deitada, peguei uma troca de roupa e fui tomar um banho quente para relaxar.

Depois do banho vesti uma roupa simples já pensando na hora em que iriamos para a França, uma calça jeans clara com uma blusa de alcinhas branca e minhas sapatilhas vermelhas.

Voltei para a sala para arrumar o sofá onde eu tinha dormido, puxei a coberta que tinha usado e a dobrei enquanto Boris vinha miando da cozinha onde eu tinha colocado dois potinhos - um de água e outro de comida - para ele.

_Você quer sair, não é bebê? - perguntei a ele.

Coloquei a coberta dobrada em cima da mesinha e Boris com sua habilidade felina que eu invejava subiu em cima dela e se sentou me olhando.

_Sinto muito bebê, não sei que horas vamos sair então não posso deixar você passear. - avisei - A não ser que você queira ficar sozinho por Londres até eu voltar, mas não é uma coisa que eu recomende. - brinquei.

Boris miou meio que lamentando e começou a se lamber.

_Banho matinal? - perguntei, puxei o lençol que estava esticado no sofá e vi uma coisa redonda cair no chão com o movimento - Sabe, essa é uma das poucas coisas que eu não invejo em você.

Joguei o lençol de volta no sofá e me abaixei para pegar fosse lá o que tivesse caído.

Tive vontade de me matar quando vi que eu tinha derrubado o falso galeão embaixo do sofá.

Deduzindo que ele tinha caído do bolso da minha calça durante a noite eu deitei de bruços no chão ao lado do sofá e enfiei o braço embaixo dele para pegar.

Sem resultado me estiquei mais ainda e estava quase dando um jeito de fazer o meu corpo - que tinha o dobro do tamanho do espaço entre o chão e o sofá - entra no espacinho onde o galeão tinha caído quando escutei Chris perguntar:

_O que é que você tá fazendo garota?

_O que você acha? - perguntei sarcástica sem nem olha-lo - Tentando ir para o país das maravilhas, juro que vi o Coelho Branco passar correndo por aqui há dez segundos.

Ouvi Chris rir de longe e se aproximar.

_Eu jurava que a Alice caia em um buraco e não embaixo do sofá. - comentou.

Bufei desistindo e me ajoelhei na frente dele.

_Eu estava pensando na porta que ela não conseguia passar por ser grande demais. - olhei para cima para poder ver seu rosto - Será que dá pra levantar? - pedi.

_Já que você está implorando - brincou com o fato de eu estar ajoelhada e tirou a varinha do bolso.

Rolei os olhos.

Chris fez o sofá levantar enquanto eu pegava meu galeão e depois o colocou no lugar.

Levantei rapidamente do chão, peguei a minha varinha e dei uma batidinha no galeão com ela.

“Nada demais, se cuide, boa noite.”

Depois de ter certeza que Draco não tinha mesmo dito mais nada enquanto eu dormia e também que o galeão não tinha sido danificado pelo tombo o guardei junto com a minha varinha no bolso do lado da minha calça que eu mesma tinha feito para ter um lugar para guardar a última.

_Se eu não soubesse que você tem um cofre abarrotado de galeões no Gringotes eu não desconfiaria de nada - Chris disse e se sentou em uma das poltronas da sala - Mas como eu sei que você tem e que não se mataria desse jeito por um reles galeão vou perguntar: O que é isso?

_É um galeão falso - contei enquanto voltava a dobrar o lençol que tinha deixado jogado - Eu uso pra falar com o Draco, se o perdesse não ia ter como falar com ele até o fim das férias.

Chris balançou a cabeça em sinal de entendimento e pegou um dos livros que estava lendo ontem.

_Mas é claro que ele não iria se importa muito com isso. - cometei sarcástica.

_Estou detectando um pouco de magoa misturada com raiva nessa frase? - perguntou Chris sem tirar os olhos do livro.

_Talvez - respondi.

Chris me olhou por cima do livro até que o fechou e o colocou no colo.

_Explique melhor, Evolet.

Bufei, estava pegando um péssimo habito de fazer isso por qualquer coisa, e me sentei no sofá de frente com Chris.

Contei a ele sobre o que estava acontecendo, sobre Draco não ter me respondido por semanas e depois, só ontem, ter dito que o que estava fazendo era para o meu bem.

Disse tudo o que tinha para contar em menos de um minuto e, sabendo que Chris sempre pensava bem antes de comentar sobre assuntos sérios, esperei até que ele tivesse alguma coisa boa para me dizer.

_Esse Draco é filho do comensal que foi preso, não é? - perguntou - Do Lúcio Malfoy?

Assenti com a cabeça, confusa.

_Achei que você sabia quem ele era.

_Você nunca afirmou que ele era mesmo um dos Malfoy - disse - Eu e Laurie só suspeitávamos disso já que nunca tínhamos ouvido falar de outro cara com um nome ruim desses.

Rolei os olhos, eu era a única pessoa que não achava o nome dele tão ruim assim? Tudo bem que não era lá essas coisas, mas não chegava a ser horrível.

_Evolet, você tem certeza que esse cara gosta mesmo de você? - Chris perguntou preocupado.

_Não vai começar com discursinhos do tipo: “Esse Malfoy pode ser perigoso, Evolet” ou “Ele só está brincando com você, Evolet.” - fiz careta ao falar lembrando de Sirius e Harry ao darem praticamente o mesmo aviso.

_Não é isso, está entendendo errado. - Chris explicou - O que eu quero dizer é que se Draco gostar mesmo de você pode ser que ele realmente esteja tentando te proteger, fala sério Evolet, ele deve conviver com milhares de Comensais da Morte por causa do pai, não acha que ele possa só estar preocupado com o que pode acontecer se, por algum acaso, alguém encontrar esse galeão? A tia dele é Bellatrix Lestrange! Ela matou seu padrinho, se lembra?

_É claro que me lembro! - exclamei indignada - Eu nunca vou esquecer o que aquela vaca fez!

_Então, - continuou - se Draco está mesmo te ignorando para o seu bem então você deveria parar de tentar se comunicar com ele e esperar até voltar para Hogwarts. Você tem que ter paciência. - Chris completou.

Ao escutar o pedido de paciência do Chris me lembrei do que Dumbledore tinha me falado ainda na noite anterior, mas que parecia que tinha sido há décadas.

Que eu teria que ter paciência com Draco esse ano.

Não sabia como e nem se era exatamente por isso que Dumbledore tinha dito o que disse mas resolvi aceitar, talvez eu precisasse mesmo ser menos ansiosa do que eu era com todos os assuntos e esperar para ver o que iria acontecer daqui para a frente.

(...)

_Evolet, querida, você está bem? - perguntou a Sr.ª Fournier me ajudando a levantar.

_Estou - respondi depois de me certificar que tinha somente a calça suja de grama - Não estou acostumada à chave de portais, sempre caio.

A Sr.ª Fournier riu discretamente antes de responder.

_Entendo, acho que não existe um só bruxo que nunca levou pelo menos um tombinho usado um portal.

Concordei com a cabeça e limpei a grama da minha calça.

Tínhamos usado a chave de um portal para ir até a França e eu - assim como das outras duas vezes que tinha viajado desse jeito - tinha caído feito um pato no chão.

Diferente, é claro, da Sr.ª Fournier e de Chris que tinham caído divinamente em pé cheios de elegância.

_Onde estamos? - perguntei confusa.

Tínhamos caído no meio de um imenso campo de grama sem árvores que eu não me lembrava de ter visto antes, procurei o pequeno lago que tinha perto da casa da Laurie para ver se me localizada mas não o encontrei.

_Não me lembro da casa da Laurie ser por aqui.

Chris que tinha escutado meu comentário arqueou a sobrancelha e depois de cinco segundos começou a rir abertamente olhando para alguma coisa atrás de mim.

_Como não se lembra, Evolet Potter? - escutei a voz aguda de Laurie atrás de mim - E ainda dizia que era minha amiga, passou todas as férias de verão nessa casa desde que tinha onze anos e não se lembra?

Olhei para trás já preparada para o drama que Laurie fazia e sorri vendo a cara de brava dela.

_E você, Fournier, pare de rir de mim! - mandou.

_Desculpe. - Chris pediu contendo o riso.

_E então, Potter? - Laurie voltou a brigar comigo - Ainda não se lembra?

_Laurie você não está realmente brava, não é? - perguntei indo até ela e a puxando para um abraço.

_Não, mas deveria. - disse com voz de riso quando me soltou.

_Sua mãe enfeitiçou mesmo a casa, eu não acredito nisso. - comentou a Sr.ª Fournier indo cumprimentar Laurie com um beijo no rosto.

_Eu sei, papai quis mata-la quando chegou em casa semana passada do trabalho e encontrou o terreno assim. - Laurie disse - Mas vamos, ela está esperando.

Não deixei de notar que Laurie não tinha falado com Chris após mandar que ele parasse de rir dela, olhei para trás o procurando preocupada e o vi com um olhar triste olhando Laurie dar as mãos para mim e para a Sr.ª Fournier.

_Não vamos ficar te esperando pelo resto do dia, Christian. - Laurie disse secamente sem olha-lo.

Chris não respondeu só foi até ao meu lado e me deu a mão.

Quando viu que estávamos todos de mãos dadas Laurie deu um passo para frente e fizemos o mesmo, então, segundos depois, a antiga casa dos Bernard apareceu a nossa frente.