Diante dos milhares de túmulos em todo o cemitério, Sean não teve outra opção se não perguntar a Megan onde estava o corpo de sua mãe. Mesmo ele usando aquilo em ultimo caso, já que queria a todo custo evitar o sorrisinho de satisfação que se abriu no rosto de sua irmã, antes dela responder prontamente que Lydia Black estava na ala oeste, perto dos pais de Ryan.

Os outros jovens foram na frente, dizendo a Leah e Sean que esperariam eles no carro para que fossem juntos para a casa de Megan e abrissem as caixas lá.

Sean e Leah andavam sem pressa até o tumulo de Lydia, seus dedos entrelaçados um ao outro, enquanto a loira achava que se soltasse a mão do namorado, ele poderia muito bem virar as costas e sair dali.

Visitar Lydia, não era uma coisa que o moreno queria fazer tão cedo. Sua mãe lembrava sua tia Amélia, já que como eram gêmeas idênticas, tinham proporcionado entre as sombras vários problemas para o garoto.

Amélia costumava convencer Lydia a trocar de lugar com ela algumas vezes, e como Lydia era a mais inocente das duas, normalmente concordava. Só que ela não fazia ideia do que Amélia fazia com seus filhos enquanto estava fora.

Se Sean fechasse os olhos e pensasse naquela época ele ainda podia sentir a dor das pequenas torturas que Amélia fornecia a eles. Ele só podia dizer que as cicatrizes em seu abdômen não eram apenas de missões.

Seu rosto era totalmente vazio, enquanto andava em direção a sepultura. O moreno não podia exprimir em palavras como estava feliz por Leah estar ao seu lado naquele momento, se estivesse sozinho não teria dado nem um único passo em direção aquela cova.

Eles andaram por um tempo, até que chegaram à lápide em que jazia o nome de Lydia. Sean manteve a expressão que tinha em seu rosto, olhando a caligrafia simples que tinha nas datas e no nome de sua mãe. A esquerda da sepultura de sua mãe estava Karen.

Leah estranhou a atitude do namorado, e olhou para seu rosto, vendo a confusão que se passava por sua mente.

- Você esta bem? – ela perguntou docemente, mas para arrancar alguma palavra de seus lábios, do que para saber a resposta de sua pergunta.

- Não sei o que fazer. – ele disse, não olhando em seus olhos e deixando apenas seu olhar recair nas lapides. – Não sei o que dizer a elas. Eu nunca me despedi...

Sua voz sumiu, enfraquecendo com o vazio que se instalava em seu peito. Leah apertou sua mão, como forma de incentivá-lo, ele nunca conseguiria matar Lucius e seguir em frente se não se despedisse.

Ele precisava sentir a paz que Megan parecia ter, precisava vê-las mais uma vez. Mesmo sabendo que isso não seria possível. Isso faria tudo ficar bem. No entanto, não parecia ser muito possível fazer algo além de dizer algumas palavras de despedida.

O moreno se sentia encurralado, com apenas uma opção a seguir. O peso recaiu sobre seus ombros, e ele simplesmente deixou que seus joelhos falhassem, caindo na frente das duas covas, com as mãos apoiando o peso do corpo para que não caísse por inteiro.

Leah se abaixou ao seu lado, vendo a dor no rosto do seu garoto. Sean se recompôs, com alguma dificuldade, e olhou para os túmulos, ali tão silenciosos. Como um tapa em seu rosto, ou uma critica pela sua covardia quanto a protegê-las.

- Vou te dar um tempo. – ela disse, percebendo que ele queria dizer algo, mas que as palavras formavam um nó em sua garganta.

- Fique... – ele disse, sem olhar em seus olhos. – Por favor...

A loira concordou em silêncio, e esperou até que ele estivesse pronto.

Sean respirou fundo, diversas vezes, escolhendo palavras, tomando decisões.

- Mãe, Karen... – o moreno disse em um sussurro. – Eu demorei muito para vir aqui, não é? O fato é que eu simplesmente não conseguia ver vocês aqui. Eu sabia que assim que visse suas lapides, tudo ia parecer tão real, e a dor voltaria. Mesmo assim, eu devo desculpas a vocês. Milhares de desculpas. Primeiro por não ter vindo aqui, por pura fraqueza. A fraqueza que me fez deixar que vocês morressem. Karen era para eu estar em seu lugar, deitado ao lado de minha mãe. A culpa é minha se você morreu, eu não deveria ter deixado você naquela noite. A culpa é minha se você morreu de um jeito tão horrível, se você não teve forças para lutar. E mãe, eu deveria ter estado com você, de algum jeito, mas eu deveria. Não é justo vocês estarem aqui, simplesmente não é.

Sean balançou a cabeça, negando. Tentando continuar, e quando abriu a boca para se atacar ainda mais, uma voz ao seu lado o cortou.

- A culpa não é sua. – Leah disse.

O moreno a encarou com olhos céticos.

- Como? – ele perguntou entre dentes.

- A culpa não foi sua. – ela voltou a dizer o rosto vazio. – Você não poderia ter previsto nada disso, pegaram a todos nós de surpresa. Não há como prever uma coisa dessas Sean, não há como dizer que vai proteger alguém e deixar que ela escape e se machuque. Não havia maneiras de protegê-las 24 horas por dia, se nem você sabia o que iria acontecer.

Sean se levantou, ficando cara a cara com a namorada. Leah naquele instante teve vontade de escapar e contradizer todas as suas palavras. Já que o olhar mortal e raivoso que ele a lançou, foi o suficiente para crer que seu garoto poderia fazer algo para machucá-la.

- Eu poderia ter protegido ela, poderia ter matado aqueles idiotas que machucaram ela! – Sean gritou.

- Você acabou matando eles de qualquer maneira, seja naquele instante em que você estava congelado pelo medo, ou depois quando estava cheio de raiva! E de que isso adiantou?! Você continua se culpando por uma coisa que obviamente não foi sua culpa, isso só fez você se parecer mais com Lucius. Ficar sedento pelo sangue de pessoas que você mal conhecia. – Leah disse, sem pensar.

O moreno a olhou com todo o ódio que tinha dentro do peito, segurando o braço da loira com força, ele aproximou ela de seu corpo, até que seus rostos estivessem perto demais. Só que não era para beijá-la que ele queria essa proximidade, Sean queria acreditar que aquelas palavras tinham saído de sua boca, e de aqueles olhos transbordavam uma perturbação tão grande por sua presença.

- Não me compare com ele. – o moreno disse entre dentes. – Não sou nem um pouco parecido com ele.

- Não?! Quantas pessoas você matou em sua missão para tentar achar o culpado de tudo isso?! Quantas mortes, fora a dos assassinos, foram em vão? Já que você culpa a si mesmo por tudo isso, mesmo que já tenha punido os verdadeiros culpados. – ela disse, magoada.

- Mataria o resto daquela gangue nojenta, e quantos aparecessem na minha frente se fosse para protegê-las. – Sean disse.

- E me machucaria para provar que esta certo? – Leah perguntou, deixando o namorado sem respostas.

Os dois se encararam por longos minutos, até que Leah deu o primeiro passo, puxando seu braço com força para se libertar do aperto ainda forte dele e sair dali tropeçando nas plantas pelo caminho. A lanterna tinha ficado com Sean, mas ela conseguia enxergar as luzes dos carros adiante.