Everytime

Capítulo Único


Olhei as horas no meu celular mais uma vez, batendo um dos pés no chão a cada segundo que passo a mais nessa loja. Rikka entrou no provador há mais de 10 minutos e nenhum sinal de vida tenho.

Deve ter ido pra Nárnia e se perdido lá!

Desgraçada! Por quanto tempo pensa em me deixar esperando? É toda vez a mesma situação!

Ouvi o barulho da cortina sendo aberta e instintivamente me virei em sua direção. Bufando e me preparando para tretar de novo.

— Por que, caralhos, você demora tanto nesse provador? Foi abduzida lá? — comecei, quase a matando em olhares e pra acabar, a encontro com a mesma expressão de sempre nessa situação. Um sorriso sem graça junto com suas mãos para vir me acalmar.

— Calma, Ira. Só estava me vestindo.

— Se vestindo!? Quem demora uma eternidade pra provar a merda de um vestido?

— Aff! Nem deveria ter te chamado! — suas bochechas inflam junto com sua raiva. Apertei-as sabendo que não gostaria, mas quem mandou ser fofa mesmo irritada?

— Não mesmo. Sabe que detesto essas coisas.

Suas reclamações de dor ignorei. Só consigo me focar em suas atitudes infantis que me recompensam com o passar dos segundos.

Fui encarado o que me deixou mais curioso do que antes, já que ela parou de se movimentar como antes.

— Então por que veio?

Respirei fundo.

"Porque você me pediu com tanta fofura que não resisti, idiota!"

Óbvio que não disse a ela. É constrangedor demais admitir o efeito que tem sob mim, principalmente seu dom de me convencer a ir em lugares que detesto.

— Responde logo! — exigiu, ainda frustrada.

Respirei fundo novamente.

Devia ter apertado com mais força para fazê-la se esquecer do assunto.

— Tava entediado, só isso.

Desviei o olhar sabendo que não acreditaria, afinal, é comum minhas mentiras relacionadas a ela para esconder minhas emoções e Rikka sabe disso. Provavelmente já me consegue ler melhor do que a mim mesmo.

— Des- — começou, mas a interrompi por reflexo.

— Como ficou?

Encarei o vestido em suas mãos, o mesmo que foi provar a minutos atrás e quando abriu a boca para me responder, a vendedora voltou repetindo a minha pergunta. No final, a vendedora a frente terminou os seus serviços com final feliz.

Fomos direto a sorveteria do Mc Donalds e fizemos o pedido. Rikka, como sempre, pediu uma casquinha mista e escolhi um Sundae.

— Nada guloso — brincou com um sorriso radiante.

— Você que tem estomago pequeno.

Passei a mão em sua cabeça exibindo meu sorriso convencido de quando a provoco. Esperei sua irritação vir me acertar desejando não ter ouvido minhas palavras. Por algum motivo estranho, nos acostumamos a ficar competindo sendo nosso principal divertimento na maior parte do dia enquanto estamos juntos.

De repente, Rikka foi até a balconista que está a entregar os sorvetes e um silêncio constrangedor se formou.

O que ela está pensando?

Não consegui tirar a minha curiosidade após observá-la tomar o sorvete italiano com a cabeça baixa.

Talvez está refletindo?

Apenas peguei o meu Sundae e segui o rumo com ela.

— Desculpa, Ira.

Oi?

— Por...?

— Por... Sabe, te forçar a fazer compras comigo. Eu...

Tem como ser mais idiota que isso? Não sei se fico com raiva de mim ou dela por não entender a situação ao todo. Rikka realmente não entendeu? Pela primeira vez a dúvida ficou já que constantemente sabe quando estou mentindo ou escondendo algo.

Rapidamente volto a minha atenção para o seu comportamento. A garota que mais amo está toda meiga, algo que é difícil pra caralho de acontecer, e ainda mantém essa expressão de cachorro abandonado por causa da nossa discussão a pouco.

O retardado provavelmente sou eu. Não consegui tirar o sorriso do rosto e ainda estou preso nos encantos dela.

— Não te desculpo nem depois de terminar o Sundae — brinquei, degustando com mais prazer apenas para irritá-la e tirar do clima pesado que a mesma colocou.

— Chato.

A ouvi dizer enquanto joga a raiva no pobre do sorvete, mas não me importei. Até mesmo brava, ela fica bonita e agora, estranhamente estamos nos dando melhor depois de tudo o que aconteceu. Brigávamos tanto que nem sei como terminamos conversando naturalmente. Em comparação com as outras Precure, continuo tendo dificuldades e muitas delas preferem me ignorar mesmo participando do mesmo grupo de amizade.

— Que mudou em mim? — a encarei um pouco surpreso, não esperava por tal pergunta, principalmente quando estava pensando sobre a segundos atrás.

— Como assim?

— Sei lá! Nos conhecemos faz tempo e ainda conversamos. Têm que ter mudado alguma coisa em mim!

— Ah, isso que você quer saber.

O que mudou nela? Realmente sou a melhor pessoa para respondê-la? Quando estava contra as Precures, o que mais fazíamos era brincar constantemente a cada minuto que passamos juntos. O único dia em que isso não aconteceu foi quando Rikka cuidou de mim e eu tinha perdido minhas memórias.

Por algum motivo, meu coração bateu mais forte gradualmente junto com meu rosto. O que mudou? Deveria dizer como me sinto ou dizer a forma como vejo ela? Droga! Mana me disse para não me desesperar! Respirei fundo tentando disfarçar o máximo possível o meu nervosismo.

— Acho que... — pensei um pouco mais. Como dizer sem ser constrangedor ou comentar algo do tipo? — Você... Ficou mais leve, eu diria.

— Está dizendo que eu era gorda?

Por que mulheres sempre levam para esse lado? Talvez insegurança? Mas no caso, pude notar o tom irônico e brincalhão que usou então preferi entrar no clima que ela iniciou.

— Era. Quando pisava lá em casa, achava que ia quebrar o chão — aumentei o tom e deixei mais expresso que estou zombando dela.

Uma cotovelada recebi podendo admirar a irritação mantida no rosto de Rikka.

— Ai — brinquei, o que a fez se queixar um pouco mais, só que nada disso importa agora. Também quero saber! — E você? O que acha de mim?

A encarei esperando minha resposta. Por que tenho que ficar tão ansioso a cada segundo desse silêncio? Não é como se ela fosse me descrever tão bem além do que já fala constantemente. Talvez ainda tenho esperanças dela me olhar com segundas intenções? Se soubesse que teria esses sentimentos, nem teria ficado perto delas.

Engoli em seco e fechei os olhos tentando me concentrar novamente em me acalmar.

— Bom, pra mim, você ficou mais independente, risonho e brincalhão. Antigamente você era muito infantil.

Um sorriso abri. É exatamente como me esforcei pra ser nesses últimos anos. No final, todo o trabalho duro valeu a pena, apesar de ainda não conseguir ter conquistado o coração dessa garota.

Ainda pretendo ser o namorado ideal para Rikka ou, pelo menos, alguém que ela se interesse.

— Mammo não entrou em contato com você?

— Não e duvido que depois de todos esses anos, ela vá me procurar.

Após o Rei Jikochu ter sido destruído, Mammo me deixou sozinho no esconderijo e desapareceu sem dar nenhuma explicação. Nenhuma carta chegou e nem uma visita fez. E como ainda estava no mundo dos humanos, resolvi ir atrás da Rikka já que era a única que sei onde mora. Depois disso, passei a morar com Aguri e sua vó super rígida, que quase me matou nos primeiros meses de tanto estresse. Por sorte, hoje em dia nos aturamos e conseguimos lidar melhor com o outro.

Apesar de Rikka achar que sinto falta de alguém, nada disso me importa mais. Minha vida se tornou muito pacifica e comecei a apreciar isso conforme os dias de estudante foram passando. Descobri que meu estresse constante era por causa do trabalho exaustivo como um Jikochu, lidando o tempo todo com a vida do crime no outro mundo. Mas para Rikka, sempre que o assunto retorna a aparecer, ela fica preocupada querendo saber de todos os detalhes para garantir que estou vivendo bem por aqui.

— Você gostaria-

— Rikka, eu não me importo mais com ela ou com o que ela faz. Está tudo bem. Sério — a interrompi, tentando fugir do assunto e de sua pena desnecessária.

Joguei o copo fora e respirei fundo sabendo o que acontecerá daqui para frente. Depois que digo isso, Rikka vem me pedindo desculpas ou fica calada por um tempo, e se eu perguntar, não irá me responder.

Dessa vez, posso fazer algo diferente? Talvez um abraço? Uma encarada nos olhos dela? Os olhos são a melhor forma de mostrar que não está triste, certo?

Respirei fundo e puxei o pulso dela, a trazendo para mim. Encarei seus olhos azuis com o coração, a cada segundo, batendo a mil.

— Es... Está vendo! Me-us o-olhos não estão tristes!

Tentei permanecer assim por um tempo, mas constantemente me peguei notando o brilho em seu olhar. Exagerei? Provavelmente exagerei!

Me afastei as presas, atingindo meu limite de proximidade com ela. Virei bruscamente tentando esconder o máximo possível o meu rosto que está a queimar. Por que nasci assim!? Só olhei pra ela! Só a encarei... Não é nada demais. Pela minha atitude, não me surpreendo lembrar que ainda estou na friendzone dela todo esse tempo.

— Ah! Eu me odeio! — disse, alto o suficiente para que ela escutasse.

Só a ouvi rir baixo, tentando segurar para não fazê-lo mais alto. Consigo imaginar a expressão que está fazendo o que me faz odiar ainda mais o fato de não conseguir me virar para olha-la diretamente.

Ah! Eu sou um covarde!

— Você está bem? Está todo vermelho.

Notei sua presença ao meu lado me forçando a desviar o rosto.

Essas pragas que me jogaram quando era novo, ainda na fase em que eramos inimigos, é medonho. Tanto quanto o amor que as Precures diziam com orgulho lutar para manter.

— Tô bem. Relaxa.

Do jeito que eu sou, provavelmente ficaremos assim por um bom tempo.

É... Vamos demorar pra avançar essa relação...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.