Geralmente, meu desconforto em ter um motorista é só por que acho isso meio desnecessário, mas hoje eu detestei, mesmo depois de meus amigos tentarem manter uma boa conversa e um clima agradável no carro. Coisa que acabou assim que pisamos na escola.

De uma hora para outra todas as conversas cessaram e todos os olhares foram diretamente para nossa direção. Foi quase como se eu conseguisse ouvir os pensamentos e cochichos pelo caminho até a porta da escola, caminho esse que se transformou em quilômetros.

— "Coitados".

— "Que horror".

— "Deveriam estar felizes agora que a grana é toda deles".

Nesse último comentário eu até parei, mas Jake me empurrou dizendo para continuar e que eu não deveria me preocupar com comentários idiotas como aquele. Uma coisa é certa; eu teria caçado a pessoa que disse aquilo e o machucaria muito. Porém Jake estava certo e apenas continuamos mesmo com os olhares e a atenção.

Não pude evitar chegar perto de Fionna e acompanhá-la. Só nós sabíamos o que estávamos passando e eu deveria ficar junto dela para protegê-la e garantir que ela ficasse bem. Eu devo isso ao papai e a mamãe. E devo isso a mim mesmo.

Como sou mais velho que Fionna, nos separamos na escadaria, já que minha sala ficava no andar de cima e a sala dela ficava no térreo. Antes de subir olhei para Fionna e perguntei se ficaria tudo bem.

— Claro. — Ela me disse com um pequeno sorriso. — Não se preocupe, posso cuidar de mim mesma. Você é só um ano mais velho, sabia? Hehe.

— Ainda sim eu me preocupo. Você é minha única família agora Fi. Você e a Jea.

— Eu que tenho que me preocupar, eu vi que você ia bater no garoto que falou aquilo lá fora.

— Fi, você ouviu o que ele...

— Ouvi, não sou surda Finn. — Ela me interrompeu. — Mas agora você não pode se meter em confusão. A mamãe não gostava quando você se metia em briga e não ia gostar principalmente agora que estamos em luto por eles. — Ela continuou me olhando séria e muito chateada.

Mas ela tinha razão. Eu precisava me controlar. Sempre fui do tipo briguento e idiota, apesar de me rotularem como nerd e mauricinho. Geralmente esses rótulos eram o principal motivo de brigas (e sim, admito, quando alguns manes davam em cima da Fionna e eu não gostava da pessoa).

— Ok, prometo não arrumar briga enquanto estivermos de luto.

— Vou cobrar isso de você se eu ver ou ouvir alguma coisa.

— Tudo bem, boa aula pirralha.

— Boa aula idiota.

Depois de cada um ir paras suas salas, me sentei e fiquei esperando por Jake que estava com a Íris na porta da sala. Enquanto isso percebi que Gumball estava se aproximando de mim.

— Oi. — Disse ele um pouco tímido. — Você é o Finn né? Jujuba me falou o que aconteceu. Sinto muito pelos seus pais. Eu meio que sei o que é perder alguém importante.

— Quem você perdeu? — Perguntei sem rodeios.

— Bem, um amigo. Éramos bem próximos. Eu sinto muito a falta dele, às vezes.

— Certo, sinto muito pelo seu amigo.

— Tudo bem. — Ele sorriu. — A Fionna está bem? Quer dizer, ela deve estar bem triste, óbvio, mas ela veio?

— Sim, veio. Conversamos agora a pouco.

— Ótimo. Espero que tudo fique bem logo.

— Certo alunos, todos se sentem. Jake, você também, e Íris, já para sua classe. — Disse nosso professor de matemática, assustando a mim e ao Chiclete, que não o vimos entrando.

Apesar do esforço para prestar atenção nos planos cartesianos, minha mente sempre ia em direção à Jeane, à Fionna e principalmente, aos nossos pais. Mais memórias e a lembrança da promessa que minha mãe fez a mim e a Fionna de que iríamos ao cinema ver um filme que a Fi estava doida para assistir, depois que ela voltasse de viagem.

De repente sinto alguém me cutucando no ombro e percebo que é um papel rosa que só poderia ser da Jujuba. Abro e dentro vejo escrito:

"Espero que esteja melhor. Essa situação é bem barra pesada."

Pego uma caneta e respondo:

"Você nem tem ideia. Obrigado por não dizer que sente muito ou "meus pêsames pelos seus pais". Juro que se alguém me disser isso mais uma vez eu me mato ou mato alguém.”.

Depois dobro e devolvo para a pessoa que me entregou o bilhete para que devolvesse para Jujuba. Em menos de três minutos sou cutucado novamente. Desta vez ela escreveu:

"Imaginei isso. Mas ainda é verdade, só quero que saiba que me importo, afinal somos amigos.”

Fiquei meditando um pouco na última frase, mas percebendo que deveria me preocupar com isso depois, então apenas escrevo:

“Eu sei que se importa. Obrigado, de verdade."

E devolvo o papelzinho sem ter uma resposta de volta.

Depois das aulas que se seguiram, me juntei aos meus amigos numa parte mais reservada da escola para ficar longe de todos aqueles olhares incômodos que pareciam não acabar nunca. Era simplesmente torturante. Fiz questão de trazer Fionna e Cake para perto da gente, já que eu a queria onde eu pudesse ficar de olho nela e não poderia deixar Cake separada dela. Ela e Cake eram como eu Jake. Sim, Cake e Jake, Finn e Fionna. Essa coisa de dar nomes combinando era uma coisa todos nós concordamos que fosse algum tipo de piada sem graça dos nossos pais.

Apesar de tudo, Jake, íris, Cake e Beemo faziam o possível para que tudo parecesse só mais um dia comum. Não que eles estivessem fingindo ou coisa do gênero, mas eles faziam o máximo para evitar qualquer assunto que tivesse alguma ligação com meus pais. Eles darem risada e contarem piadas enquanto estávamos de luto não era desrespeitoso como muitos pensavam. Pelo contrário. Eles faziam isso porque sabiam que permanecerem calados só aumentaria o desconforto e que nos distraia dessa dor. Faziam isso porque eles são nossos amigos.

Depois de um tempo o intervalo acabou e precisávamos ir para nossas salas. Enquanto caminhamos, vi Gumball andando em nossa direção, ou melhor, em direção á Fionna.

— Oi Fionna. – Ele disse.

— Oi Gum. Como vai?

— B-bem. É, escuta, posso falar com você? Em particular?

Esse cara só podia estar de brincadeira se ele pensasse que um dia depois de sabermos que perdemos nossos pais era uma boa hora para dar em cima dela!

— Olha, eu tenho que ir pra aula. Nos falamos depois ok? – Ela disse, voltando a caminhar.

— É importante! – Ele respondeu, segurando o pulso dela em seguida.

— Ei! – Eu me intrometi. – Solta ela. Não ouviu que ela falava com você depois?

— Desculpa. S-sinto muito. – Gaguejou.

— Finn, para. Lembra do que você me prometeu. – Exclamou Fionna, se voltando para mim. – Foi mal Gum, nos falamos outra hora. Prometo.

Dito isso, Fionna me puxou pelo braço e me levou até a escadaria e me encarou seriamente.

— Pensei que você cumprisse promessas. – Ela falou visivelmente brava.

— Me desculpe ta? Mas aquele babaca tava forçando demais quando te pegou pelo braço.

— Finn... - Ela continuou. – Eu sei que você quer me proteger e tal, mas eu consigo lidar com o Gumball ta bem? Desencana com o garoto. E sim, eu concordo com você, mas se ele teve que me pegar pelo braço então significa que ele tem sim algo importante pra me falar.

— Ta bom, ta bom. Mas se ele tentar alguma coisa...

— Eu acabo com ele. – Ela falou sorrindo e dando um leve soquinho no meu ombro.

— Essa é a minha irmãzinha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.