Eu ainda estava na sala, ajoelhado, perplexo, assustado, confuso e com lagrimas quentes rolando no meu rosto. Como era possível? Meus pais? Morrerem assim? Essa companhia foi a mesma que eles usavam pra viajar desde antes de eu nascer e sempre foi elogiada pela sua segurança.

Será que Fionna sabia? Provavelmente sim, se não ela estaria comigo, chorando na sala. Como eu pude? Eu a deixei sozinha no pior momento de nossas vidas.

– Finn...? – Chegaram Fionna e Jeane.

– Jeane, você ainda não me respondeu. O que o Mitt veio fazer aqui?

– Ele veio avisar da tragédia. – Disse Jeane com a voz fraca. – Veio avisar também que estão preparando o funeral para eles. Eu sinto muito Finn.

Ouvi os soluços de Fionna atrás de mim e a abracei para reconforta-la.

– Eu sei Fi... - Não chore agora Finn. – Vai ficar tudo bem irmãzinha... – Vamos Finn, seja forte pra sua irmã, ela e Jea são a sua única família agora. Precisam que você seja forte.

Fionna começou a chorar mais forte no meu ombro, e Jeane também voltou a chorar.

– Jea...? Fionna já comeu né?

– Sim, já sim.

– Vem Fi, vou te levar no seu quarto tá? Você tem que descansar.

– Finn, não...

– Por favor, não discuta agora.

Ela se calou e eu a deitei e cobri na cama para que ela descansasse. Aproveitei a oportunidade e fui pro meu quarto pegar minhas roupas pra tomar banho.

Cheguei ao meu quarto, larguei minhas coisas e fui direto pro chuveiro. Pensei que um banho poderia me ajudar mas, ao invés disso, tive varias lembranças dos meus pais, o que só me abalou ainda mais. Todas as viagens, cada momento, cada discussão (e com isso o arrependimento), cada presente. Pensei em Fionna e sua adorada touca de coelho, será que ela voltaria a usar a touca de novo? Eu ainda vou usar a minha, em homenagem a eles.

Com a menção de Fionna na minha mente, tive outra lembrança.

Há oito anos,no inverno bem rigoroso, meus pais e eu estávamos preocupados com minha irmãzinha porque ela pegou uma gripe muito forte. Uma noite, ela ficou com muita febre e precisou ser levada até o hospital, onde identificaram um começo de uma pneumonia. Minha mãe mal começou a me explicar o que é uma pneumonia e saí correndo do consultório chorando descontroladamente.

Cheguei a um lugar isolado do hospital e fiquei chorando lá. Minha mãe me achou e me confortou com um abraço.

– A culpa é só minha mamãe. Eu não sabia que ela ia fica assim, eu não devia ter desafiado ela a ficar no lago. – Eu disse soluçando e molhando seu suéter novo. – Agora a Fionna vai morrer!

Antes de ela ficar doente, eu a desafiei a ficar um minuto inteiro num lago gelado. A maior burrice que eu já fiz na minha vida.

– Calma meu filho! A Fionna não vai morrer tá? Eles vão dar remédios e ela vai ficar boa logo. Você vai ver, quanto menos esperar, vocês dois estarão brincando e brigando lá em casa como sempre. – Ela disse num tom calmo e amável.

– Jura?

– Juro. – Ela sorriu e me abraçou.

No final, ela estava certa. Duas semanas depois de muito remédio e tratamentos ela se curou, nessa época, jurei cuidar sempre dela e a proteger de qualquer coisa e de sempre estar com ela.

Agora mais do que nunca, é hora de cumprir essa promessa.

Depois de sair do banho, peguei meu celular e vi que tinha algumas mensagens não lidas de todo mundo, mas principalmente do Jake. Liguei pra casa dele mas quem atendeu foi o pai dele.

– Boa noite Senhor J, o Jake ta em casa?

– Não Finn, pensei que ele...

Antes que o Senhor J pudesse terminar a frase a campainha toca.

– Eu atendo Finn. – Fala a Jeane da cozinha. – É o Jake e o Beemo.

– Ah, já achei ele Senhor J, boa noite.

– Certo Finn, boa noite. E minhas condolências pelos seus pais.

– Obrigado senhor.

Quando olho pra porta, vejo que ele trouxe uma mochila e uma sacola com salgadinhos e refrigerantes e Beemo também com uma mochila e uma pasta, que de longe dava pra ver que eram seus videogames.

– Não sei se é a melhor hora, mas que tal uma noite dos caras pra te animar um pouco antes do funeral amigo? – Diz o Jake.

– É, viemos te dar um apoio.

– Valeu galera.

– Tranquilo.