Capitulo 19

- Pare ai onde você está. –Eu disse da ponta da escada para o Peter que estava com o cabelo molhado e uma roupa justinha, o que definia ainda mais os seus músculos. – Quantos dedos têm aqui?

Ele riu alto. Uma risada gostosa de ouvir, uma risada feliz. Eu não o via rir assim já fazia um bom tempo.

- Quero ter certeza de que você não esta bêbado. – Eu disse sorrindo e sacudindo os quatro dedos levantados da minha mão.

- Hm, deixe-me ver... Cinco? Três? – Ele disse rindo e descendo as escadas. – Deixa de ser babaca.

- É para isso que os amigos servem. – Eu disse sorrindo e o seguindo até a mesa na cozinha.

- Somos amigos agora? – Peter perguntou dando um gole no suco de laranja que eu deixei em cima da mesa. Eu sabia que era o seu favorito.

- Nunca deixamos de ser. Digamos que só tiramos umas férias um do outro, mais já acabou.

- Então você me perdoa por ter agido como um idiota nesses últimos meses?

- Claro que sim. – Eu disse sorrindo e me aproximando dele para dar um empurrãozinho em seu ombro. – É bom te ter de volta.

Ele arrancou um grande pedaço do sanduiche com a boca e o mastigou saboreando.

- Você sabe o quanto eu amo os sanduiches que você faz, não sabe? –Ele disse arrancando mais um pedaço. Sim, eu sabia como ele era apaixonado pelos os meus sanduiches.

- Peter... Você está usando drogas ou alguma coisa assim? – Claramente eu estava preocupada com ele.

- Não se preocupe, eu experimentei, mas não é a minha praia.

Não pude conter o meu suspiro de alivio o que o fez rir.

- Me desculpe mais eu tenho que perguntar... Por que o seu pai me odeia tanto?

Ele deu um longo gole em seu suco e por um breve segundo tudo que nós pudemos ouvir foi o som do liquido descendo pela sua garganta.

- Há uma lenda, quer dizer nem sei se posso chamar assim. É uma antiga historia que envolve a minha família e a sua também. – Percebendo que eu estava prestando atenção totalmente curiosa ele prosseguiu. – O seu tataravó, Dimitri, e a minha tataravô, Rosemary, estavam apaixonados. Um amor puro, lindo de se ver. Porém o pai de Rosemary havia oferecido a mão de sua filha em casamento para uma família de muito poder na época. Essa família era conhecida por provar teorias.

- Teorias? Que tipo de teorias? – Eu perguntei meio confusa.

- Você sabe bruxos, vida após a morte, fantasmas e até vampiros.

- Vampiros? – Eu perguntei incrédula, o que fez com que ele risse.

- Não se preocupe, eles não conseguiram provar isso. De qualquer modo, era uma família maluca e o homem que se casaria com a Rosemary se apaixonou por ela, literalmente, á primeira vista. Ela estava desesperada, implorava ao pai para que desfizesse o negocio, mas nada adiantou. Quando o seu pai foi tentar fazer com que sua amada filha não precisasse se casar... Foi morto.

Eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e a minha boca se abrir aos poucos. Ah meu Deus, que historia terrível.

- Rosemary ficou desesperada, inconsolável, ela não tinha mais ninguém na família. Então ela foi correndo atrás de seu amado conta-lhe e a terrível novidade. Mas, o que ela não sabia é que estava sendo seguida por seu noivo. – Ele fez uma pausa para dar mais uma mordida no sanduiche. –Hm, isso está muito bom. – Ele disse de boca cheia pela terceira vez na noite.

- Peter, continue a historia, por favor. – Eu pedi já impaciente de tanta curiosidade.

Ele engoliu o que estava na sua boca e prosseguiu, finalmente.

- Esqueci de mencionar uma coisa, ela estava gravida. – Ele disse como se fosse normal, mas para mim, era uma catástrofe, pois eu já imaginava como seria o fim da historia.

- O noivo dela matou o neném? E o meu tataravó? E ela? – Eu perguntei aflita gesticulando com as mãos.

- Espere até o fim desse filme para descobrir. Continuando da parte que você me interrompeu... Dimitri consola-la de todas as maneiras possíveis. O noivo dela viu a cena e armou o maior barraco! Disse que a Rosemary era noiva dele e que o que ele faria com o Dimitri seria muito pior do que apenas a morte. Rosemary tentou interferir fazendo a seguinte proposta ao seu noivo: “Eu vou embora com você, me caso e serei a melhor mulher do mundo, eu juro, só, por favor, eu lhe imploro, poupe a vida de meu amado”. – Peter disse afinando a voz para que parecesse uma mulher. – Ele estava apaixonado então, aceitou. Mas não sem antes deixar claro que se ele visse o Dimitri novamente naquela cidade, cumpriria a sua ameaça de transformar a sua vida um inferno. Rosemary se casou com ele e tudo ia bem, até que a barriga de gravidez começou á aparecer. Ela fingiu que esperava um filho do seu noivo, o que o deixou extremamente feliz e ainda mais apaixonado, se é que é possível. Certa noite ele saiu para trabalhar e sua mulher ficou em casa, somente com a empregada que era sua amiga. Na soraria da noite, Dimitri apareceu lá oferecendo um plano de fugo para a sua amada. Tudo teria dado certo, se não fosse pelo o fato de que viram Dimitri e a Rosemary na estação de trem, prontos para partir, e contaram para o marida de Rosemary. Furioso, ele sequestrou Dimitri, mas não conseguiu impedir que sua mulher fugisse no trem, rumo a outro país. Ela ficou com uns parentes na Bulgária onde teve sua linda filha, Samantha. –Ele fez uma breve pausa dramática. -Infelizmente, ela morreu dando a luz.

Percebendo minha expressão, que era uma mistura de tristeza, frustação, dó e espanto Peter concluiu rapidamente:

- Mas tudo isso não passa de uma lenda velha, uma lenda velha extremamente importante para a minha família pelo o visto.

- E o Dimitri? O que aconteceu com ele? – Eu perguntei ignorando o fato de que o olhar do Peter implorava para que nós mudássemos de assunto.

- Essa é a parte bizarra da historia! Ele foi usado como cobaia. O ex-marido da Rosemary estava testando algum tipo de magica misturada com ciências, não sei direito. – Ele disse dando de ombros.

- Que tipo de magia? – Ainda não estava satisfeita com as poucas informações que ele havia me dado. Agora quero saber o fim dessa história!

Peter se aproximou de mim parar sussurrar o que diria em seguir, como se alguém pudesse ouvir, mesmo nós estando sozinhos em casa.

- Dizem que o ex-marido da minha tataravó tentou matar o seu tataravô. Bem, não exatamente matar e sim roubar a sua alma a tornando prisioneira em algum tipo de submundo. O seu corpo continuaria intacto, como se ele apenas tivesse dormido por um longo tempo, e sua alma seria condenada a assistir todos os acontecimentos no mundo a sua volta sem poder interferir ou se comunicar com nada nem ninguém. Feito isso ele voltaria para a sua querida Rosemary e faria com que Dimitri assistisse todo o inferno que ele faria com a vida dela, sem que ele pudesse impedir. Mas não foi bem isso que aconteceu.

O que diabos Peter estava me falando? Seria possível uma alma ser roubada do seu próprio corpo?

- O que aconteceu? –Foi tudo que eu consegui perguntar em meio a um milhão de perguntas que zarpavam na minha cabeça.

- De alguma maneira Dimitri fez com que a alma do cara lá, o ex-marido da Rosemary, fosse sugada no lugar da sua. Porem algo deu errado, pois um tempo depois a alma do Dimitri foi sugada também. Quer dizer, pelo menos foi isso que a empregada do marido da Rosemary que até hoje eu não sei o nome contou para alguém, que contou para alguém que contou para o meu pai. – Peter disse claramente já cansado dessa historia mais meu olhar implorava por mais informação.

- Mas com o passar do tempo outras mortes repentinas foram acontecendo e o corpo das vitimas continuava intacto, não dessecando com o tempo. Algumas pessoas afirmam que já o viram e há rumores de que ele é o único que pode aparecer na terra, só que somente em outro corpo. E dizem que ele não pode fazer isso com frequência, pois muitos o odeiam e gostariam de o matar e enquanto ele estiver na terra pode ser morto de verdade. Mas enfim, tudo isso não passa de uma lenda, nunca conheci ninguém que realmente tivesse conhecido ele. – Peter concluiu levantando-se da cadeira e servindo um copo de água para si mesmo.

- Em que parte eu entro na historia?

Ele deu um longo gole e olhou mais profundamente que conseguia em meus olhos cor de mel.

- Samantha era a sua ancestral mais próxima. Durante anos ele procurou por ela, jurando vingança acusando a pobre órfã de ser a causa da morte de Rosemary. Porem quando ele finalmente a encontrou, já era tarde. Ela era uma idosa e estava á beira da morte. Ele queria mata-la mais algo em seus olhos fez com que ele se apaixonasse por ela. Porem ela acabou morrendo mesmo. – Peter disse de um modo que estava obvio que ele estava tentando me fazer rir. Não conseguiu. – Ele perdeu todas as esperanças imaginando que todos da família Rhodes haviam morrido. Depois de um tempo descobriram que Samantha tinha dado luz á uma linda menina, que já estava crescida. Ele foi atrás dela, em uma caçada incansável, mas não á encontrou. Com o passar dos séculos ele foi obviamente fazendo inimigos, mas nenhum inimigo nunca foi pareô para ele. Muitas pessoas que tinham dividas com ele passaram a caçar qualquer uma que parecesse se da sua linhagem sanguínea. Foi uma caçada interminável pelas Rhodes que ocorre até hoje. E ele passa por cima de tudo e todos para conseguir o que quer, sempre foi assim. Por isso meu pai queria que eu e o Lucas ficássemos longe de você, se ele descobrisse que viemos da família da Rosemary e que você é uma legitima copia da Rosemary, ele te levaria embora e certamente nós mataria.

Peter tirou uma foto velha, amarela nas bordas do bolso e esticou-a até mim.

Nela tinha uma mulher retratada com cabelos perfeitamente castanhos, pele branca e lindos olhos cor de mel. Em baixo estava escrito: Rosemary Benz Rhodes.

Ela era totalmente idêntica á mim, em todos os aspectos. Eu estava horrorizada.

- Você está dizendo que o único e mais perigoso sugador de almas está vindo atrás de mim?