Eventos Inesperados

1-9 – Um presente inesperado?


Vinte de dezembro, mas ainda parecendo um dia qualquer na pequena cidade de Dewford. O mar já não estava tão turbulento, e provavelmente maresia exagerada não faria parte da viagem.

Duncan Wilbur, treinador envergonhado com uma nova admiradora, até agora apenas conhecida como Pietra, estava apenas esperando dar a hora para zarpar para Slateport. Pietra, por sua vez, não parecia estar com tanta pressa para o momento...

–Algum pokemon preferido?

–Bom... Eu gosto de Cubchoos.

–Alguma música que você não consiga parar de escutar?

–Olha... Você já está fazendo perguntas a mais de duas horas, Pietra...

–Certo, fofinho. Acho que eu já tenho material o bastante...

–E?

–Parece que você foi feito pra mim! –Disse ela, se jogando para um abraço, que derrubou Duncan bem no momento em que duas senhoras passavam por perto.

–Pi-Pietra... –Falou Duncan, enquanto as duas senhoras davam um olhar estranho para os garotos.

–O que? Quer ir para algum lugar para nós ficarmos a sós?

Sem esperar uma resposta, a garota logo foi puxando Duncan para a praia ao norte da cidade, que estava vazia. Enquanto Duncan parecia ainda estar meio atordoado, Pietra logo se virou para ele com um sorriso em seu rosto.

–O que você acha? O mar e apenas nós dois. Sozinhos...

–Erm... É o que parece... Mas...

–Mas agora tem uma coisa que eu queria te dizer, fofinho...

Ficando vermelho de novo, Duncan deu dois passos para trás, sem voz.

–Você já está indo para Slateport, e dos garotos que passaram por aqui, você é o que foi mais compatível comigo...

–Dos... Garotos?

–O passado não importa, fofinho. Onde eu estava mesmo? Ah, claro... Talvez você demore para voltar para cá, e eu não sei se algum outro garoto vai ser melhor que você...

–Então... Você está que-querendo ir comigo pra Slateport? –Falou Duncan, com a garganta já ficando seca.

–Bem que eu queria, mas eu não posso...

Ouvindo aquilo, Duncan deu um suspiro, que Pietra parecia não ter percebido. A garota havia se virado para a cidade e, após passar a mão em seu rabo de cavalo, continuou a falar.

–Eu não estou morando com os meus tios porque quero... Desde que meu pai conseguiu um emprego em Kanto eu tive que vir morar com eles aqui... Ele acha que viajar por ai é muito perigoso para uma menina, e aqui em Dewford, não tinha nenhum lugar para mim ir mesmo...

–Wow... Eu não fazia ideia...

–Mas até que morar aqui não é tão ruim, e ele ainda vive me mandando coisas lá do trabalho dele. Sem contar que eu tenho Ofélia pra me fazer companhia...

–Mas por que você não-

–Foge?

–Eu ia falar "Tentar convencer ele", mas tudo bem...

–E você acha que eu não tento? Mas quem disse que ele é capaz de me escutar? Mas isso não importa, afinal, você vai voltar aqui, não vai?

–Erm... Eu...

–Sem contar que nós vamos poder continuar a se falar sempre!

Colocando a mão em um de seus bolsos, Pietra logo tirou um objeto laranja de lá. Pequeno, dificilmente maior que a palma de sua mão, logo se mostrou maior após ela apertar um botão e fazer com que a parte de cima se levantasse. Após apertar algumas coisas em sua tela, Pietra o fechou e estendeu seu braço, em direção a Duncan.

–Um presente de aniversário para você, fofinho!

–Wow... Obrigado, eu acho... –Falou o garoto, estendendo o seu braço para pegar o tal objeto. –Mas não precisava, Pietra...

–Tudo bem, fofinho! O meu pai vive me mandando novos modelos de Pokegear. E eu ainda consegui achar um na sua cor preferida!

–Pokegear? –Falou o garoto, olhando para o objeto, percebendo que o primeiro -e único- número da agenda era o dela.

–Isso mesmo! Com ele você pode ligar pra mim quando você quiser, e também tem um mapa, rádio e um relógio. E você pode instalar novos softwares usando esse leitor de cartões embaixo dele!

–Eu até sei o que é um Pokegear, mas... Achava que em Hoenn o Pokenav era mais usado...

–Mas o que importa é que agora você vai poder falar comigo onde quer que você estiver! –Falou Pietra, enquanto Duncan continuava a ver o Pokegear. Aparentemente ela tinha colocado um marcador de coração em Dewford.

–Erm... Pietra? O relógio está certo?

–Sim, por quê?

–Então eu acho que já está na hora de ir para Slateport...

Dando um último suspiro, Duncan não sabia bem o que falar para a garota, e simplesmente começou a andar lentamente em direção à cidade, mas logo ela colocou uma de suas mãos em seu ombro e o parou.

–E Duncan... Eu também tenho outro presente pra te dar...

–Olha, Pietra... –Começou o garoto, querendo avisar que não ia ser necessário, mas logo perdeu as palavras quando os lábios dela tocaram a sua boca.

Aquilo apenas havia sido um selinho, mas o coração de Duncan logo começou a bater mais forte. Enquanto o seu sangue começava a correr mais pelo seu corpo, sua cabeça já havia perdido a noção. Antes que pudesse perceber, Pietra já estava correndo em direção da cidade de Dewford, deixando ele sozinho na praia.

–Me liga! –Gritou ela, para o seu aparentemente novo namorado, mas o mesmo simplesmente estava com a sua boca aberta, parado como uma estátua.

Aquele seu primeiro beijo, por mais simples que fosse, havia lhe roubado o ar.