Eve

Capítulo 9


Preocupado é uma palavra fraca para descrever o que Steve sentiu no momento em que entrou em seu quarto e viu um agente da HYDRA apontando sua pistola diretamente para a cabeça de Eve. Ele estava assustado, aterrorizado até com a possibilidade de o agente puxar o gatilho.

O super soldado não conseguia entender o quê a HYDRA queria dessa vez, eles já não haviam feito o suficiente? A organização já o havia privado de uma vida ao lado de Peggy, e lhe roubado décadas, além de tornar seu melhor amigo em uma arma. O quê diabos mais eles poderiam querer com ele? Com Eve, que em menos de uma semana já fazia parte de sua vida?

Steve absorveu as palavras do agente, e aos poucos começou a entender que dessa vez a HYDRA não queria nada com ele, somente tendo interesse na loira à sua frente. O homem que a segurava falava como se já tivesse a conhecido antes, e isso o assustou.

A situação em que o loiro se encontrava não era nada boa, com Eve presa pelo agente Steve não poderia arriscar um golpe ou uma tentativa de libertá-la, não naquele momento pelo menos. Ele já havia visto como situações como essa geralmente se desenrolavam para a vítima, um passo em falso, um pequeno erro que assustasse o agente e as coisas poderiam tomar um rumo sem volta. O super soldado definitivamente não estava disposto a cometer esse erro.

Mas então como sair dessa situação?

Ele olhou para Eve mais uma vez – ainda surpreso com a calma da moça – em uma tentativa de confortá-la, sem nem imaginar o quê aconteceria a seguir.

Eve não tinha treinamento, pelo menos era isso o quê ele achava durante todo o tempo em que passou ao lado da moça, então ele ficou bem mais do que surpreso quando ela fez o inesperado: Tomou a arma do agente.

Com uma precisão digna de um agente da S.H.I.E.L.D. a loira se desvencilhou rapidamente do agente moreno e lhe deu uma cotovelada no estômago, seguida de uma rasteira. Ainda aproveitando o elemento surpresa que certamente havia causado ao atacar o homem, Eve puxou a pistola das mãos de Fyres e a apontou para a testa do mesmo, no instante seguinte usando-a contra o rosto do agente, não atirando, e sim usando o metal pesado do objeto para lhe atingir com toda a força. Fyres caiu desacordado no mesmo instante.

Steve observou a cena estarrecido, ao mesmo tempo em que Eve olhava para a arma da mesma forma, surpresa com que havia conseguido fazer.

Ela virou-se em direção a Steve e estudou a expressão do loiro, e assim os dois continuaram a se encarar por mais alguns segundos antes de Eve se pronunciar.

— Nós temos que ir, Fyres chamou reforços. — Disse ela se movendo em direção à porta, somente para ser parada por Steve no instante em que passou por ele.

***

A pistola de metal gelado que eu havia tomado de Fyres parecia se encaixar perfeitamente em minha mão, e eu a segurava como se já o houvesse feito muitas vezes antes. Uma sensação de estranha familiaridade preencheu meus pensamentos enquanto eu encarava o objeto. Flashes do sonho que eu havia tido dias atrás me fizeram piscar atordoada antes que eu me virasse em direção a Steve, que ainda estava parado no mesmo lugar onde eu o havia visto antes de atacar.

Estudei sua expressão cuidadosamente, vendo que o loiro estava tão chocado quanto eu sobre o quê havia acabado de acontecer. Talvez por motivos diferentes, mas ainda assim.

Desde que acordei semanas atrás em um prédio em chamas eu soube que não era normal, e minhas asas foram uma comprovação e tanto de tais pensamentos, mas agora isso tudo havia evoluído para um nível totalmente diferente. Eu tinha asas, eu sabia lutar e havia gente atrás de mim, gente cujas intenções eram pra lá de duvidosas. Eu era diferente e perigosa, e o quê quer que eu tenha feito antes de perder minhas memórias havia irritado gente tão perigosa, se não ainda mais, do que eu.

Todas as esperanças que eu havia alimentado durante aquela semana se esvaíram em poucos minutos. Por toda a semana eu imaginei se havia gente procurando por mim, e no final a resposta foi que sim, só que de uma maneira totalmente diferente da que eu esperava. Não era minha família, amigos ou conhecidos, e sim pessoas que haviam me machucado, machucado Steve.

Mesmo com a distância entre nós eu pude ver os claros sinais de luta espalhados não só pela roupa, mas pelo rosto do loiro. Apesar de ter obviamente ganhado as lutas – coisa que eu ainda não sabia como, e que se tivesse a chance com certeza perguntaria mais tarde –, ele provavelmente também havia se machucado, e uma parte da minha mente se encheu de culpa com esse fato.

Balancei a cabeça e comecei a andar em direção à porta.

Não havia tempo para isso, não agora. Os reforços que Fyres chamou provavelmente chegariam em pouquíssimo tempo, e nós tínhamos que sair da casa o mais rápido possível.

— Nós temos que ir, Fyres chamou reforços. — Expliquei no meio do caminho até a saída do quarto, mas assim que passei por Steve fui impedida de continuar pelo loiro, que segurou meu braço.

— Espere. — Ele pediu.

Olhei em seus confusos olhos azuis e levantei uma sobrancelha, questionando-o.

Eu sabia que ele teria muitas perguntas, sobre quem seria Fyres e quem eram os homens que estavam por aqui, também como diabos eu pude desarmar o agente daquela maneira, mas o quê saiu da boca de Steve foi uma questão completamente diferente e que fez minha expressão dura mudar drasticamente.

— Você está bem? — A pergunta que saiu dos lábios de Steve quase me fez rir com a surpresa. Apesar de tudo ele ainda continuava o mesmo homem gentil que havia demonstrado ser durante a semana em que convivemos juntos, e não parecia ter nenhum receio em ficar perto de mim depois que eu demonstrei o quê podia fazer. Por um segundo me perguntei qual seria sua reação se visse minhas asas.

Sorri e assenti, o quê fez Steve soltar meu braço.

— E você? — Perguntei e recebi um aceno de cabeça dele. — Então vamos, temos que sair daqui antes que eles cheguem. — Continuei segundos depois, me apressando em direção à porta e sendo seguida por Steve.

Ao chegarmos ao corredor pude ver o quão diferente ele estava se comparado ao dia anterior, a casa inteira na verdade. Antes era um lugar seguro e confortável, um lugar onde por uma semana eu pude me acostumar e me sentir bem, segura dos males que o mundo lá fora me oferecia, e agora era totalmente o contrário. Vasos espatifados no chão e quadros caídos quase da mesma maneira, vidros e portas arrombadas, tudo por ali exclamava perigo, e eu queria sair dali o mais rápido possível.

Senti Steve parar atrás de mim, e suspirei cansada virando-me em sua direção.

— Olha, eu sei que você tem muitas perguntas e– — Parei na metade da frase, assistindo de cenho franzido Steve ir até o quarto que sempre manteve trancado, mas que agora a porta jazia no chão. Andei rapidamente em sua direção.

— Steve, o quê está fazendo? Nós temos que sair daqui! — Exclamei urgentemente, entrando no quarto pela primeira vez e franzindo o cenho.

Pistolas, facas, submetralhadoras, notebooks, malas de viagem, uniformes e duas grandes asas de metal estavam cuidadosamente posicionadas pelo quarto, que havia visivelmente sido remexido.

Abri a boca pretendendo falar alguma coisa, mas nenhum som saiu enquanto eu olhava para as asas de metal de forma confusa. Steve pareceu notar minha confusão e enquanto pegava algumas malas e notebooks esclareceu:

— São do Sam. — Disse ele, provavelmente achando que eu entenderia a partir dali. Mal sabia ele que eu precisaria de muitas mais explicações para entender tudo aquilo.

— O quê? Por que Sam tem asas? E o quê elas estão fazendo aqui? Aliás, o quê é tudo isso? — Perguntei confusa.

Tudo bem, pelo o quê eu sabia armas eram permitidas nos Estados Unidos, mas aquilo já era demais, e combinado com o fato de Steve ter derrotado dois agentes já adicionou mais dúvidas em minha grande lista de perguntas.

— Longa história, eu prometo que explico tudo mais tarde, vamos sair daqui primeiro. — Disse ele enquanto perambulava pelo quarto pegando o quê precisava para ir embora, assim como as duas asas.

Assenti mesmo que ele não pudesse ver, somente para arregalar os olhos em seguida com o barulho de carro vindo da frente da casa. Steve parou o quê estava fazendo e olhou para a janela, e antes que ele pudesse sequer pensar em ir até ela eu já estava no vidro observando a grande van preta que estacionava bem na porta da casa.

— Tarde demais, os reforços chegaram. — Disse, virando-me para encarar Steve, que largou os itens que carregava no chão e olhou para o pequeno arsenal de armas na parede com uma expressão determinada.

— Então vamos garantir que estejamos preparados para eles.