Eve

Capítulo 17


— Pode perguntar. — Eve disse, desviando o olhar da tigela de cereais que comia para a expressão surpresa no rosto de Steve.

Depois da conversa que tiveram, e de um curto silêncio seguido pelo audível e faminto som emitido pelo estômago de Eve, entre risos os dois concordaram que já havia passado da hora deles comerem o café-da-manhã. O clima era outro enquanto Steve procurava os ingredientes nas novíssimas prateleiras da cozinha, mantendo uma conversa leve com Eve, que fez questão de implicar com ele assim que ele desastradamente bateu a cabeça em um dos armários.

— O quê? — O Capitão perguntou, voltando seu olhar para a Eve, que levantou uma de suas sobrancelhas com a tentativa falha dele de se fazer de desentendido.

Desde que começaram a comer, a loira havia percebido os olhares que Steve não parava de lançar para suas longas asas brancas, seus olhos azuis cheios de curiosidade.

— Vamos lá, pode perguntar. — Eve insistiu, um sorriso de lado nos lábios rosados. — Não é como se eu já não tivesse te visto me encarando.

Com isso, Steve suspirou e coçou a cabeça, de repente envergonhado.

— É só que... Eu não sabia como- — Ele parou e limpou a garganta. — Eu pensei que poderia ser um assunto delicado pra você, depois da nossa conversa eu não queria-

— Não, não, tudo bem. — Eve o interrompeu, lançando um leve sorriso para o super soldado. — Se você quer saber mais sobre as minhas asas é só perguntar, não é um assunto delicado pra mim, pode deixar.

Steve assentiu e quase suspirou aliviado.

Ele não queria estragar aquele momento, nem o bom humor estampado no sorriso de Eve com perguntas que, na visão dele, poderiam esperar. Ele parecia tê-la distraído do pesadelo, das horríveis memórias que ela havia compartilhado com ele mais cedo, mesmo que às custas do quê para uma pessoa normal seria um grande galo na cabeça.

— Steve, cuidado com- — Eve tentou alertá-lo, mas já era tarde demais.

Ele estava procurando as malditas tigelas de cereal que, depois de quatro gavetas vasculhadas e uma boa olhada na geladeira, aos poucos ele começava a achar que não existiam na nova e tecnológica cozinha que Tony havia preparado para ele.

Para quê quase 10 tipos de talheres diferentes se ele não conseguia achar uma simples tigela?

Steve suspirou derrotado, balançando a cabeça em desaprovação. Até ele se acostumar com tudo naquele apartamento levaria algum tempo, depois ele teria que dar uma boa olhada em todos os cômodos – especialmente na cozinha, pelo jeito. e ver o quê tinha e o quê estava faltando em cada um deles, principalmente para não passar pela situação constrangedora de passar 10 minutos tentando fazer um café-da-manhã tão simples.

Foi assim, frustrado, com fome e com toda a certeza de que Eve o observava por detrás do balcão com uma expressão entretida no rosto que, pela segunda vez no dia, ele esbarrou em um dos móveis da casa.

Um barulho alto foi ouvido por toda a cozinha assim que, se levantando depois de vasculhar os armários de baixo, Steve bateu a cabeça com toda a força no armário embutido logo em cima dele.

— Ouch!

— Ai meu Deus! Steve! — Ele pôde ouvir Eve se aproximando rapidamente, traços de riso evidentes em sua voz. — Você está bem?

O loiro pôs a mão na cabeça imediatamente, esfregando o local dolorido e desviando o olhar para Eve, que rapidamente estava ao seu lado.

— Aqui, me deixe ver.

Steve fez bico, e uma expressão dolorida surgiu em seu rosto assim que Eve esticou a ponta dos pés e passou a mão pelo local atingido, aproveitando para bagunçar de leve o cabelo loiro do Capitão.

— Nah, você vai ficar bem. — Ela se afastou e assentiu, brincalhona. — Mas eu não posso dizer o mesmo da sua dignidade.

Steve assentiu, concordando.

— Essa vai ficar com sequelas para sempre. — Disse ele balançando a cabeça de forma dramática, ganhando em troca uma boa risada de Eve.

— Ah, olha, ali estão as tigelas! Viu, eu disse que você ia achar. — Ela disse assim que abriu as portas do armário em que Steve havia esbarrado.

Steve balançou levemente a cabeça para afastar as memórias, voltando seu olhar para a mulher à sua frente.

— Como você as esconde? — Ele finalmente perguntou sobre as asas, inclinando a cabeça com curiosidade. — É só que parece impossível pra mim, elas são tão...

— Grandes? É, eu não sei com certeza, elas só... Retraem? — Eve respondeu, uma expressão incerta em seu rosto. — Eu só tenho que pensar nelas aos poucos voltando para as minhas costas e depois de alguns minutos o único sinal delas é um par de cicatrizes.

— Parece doloroso. — Steve adivinhou, franzindo as sobrancelhas.

— Um pouco, sim. — Eve assentiu. — Mas não é como se eu pudesse sair por aí com duas asas enormes nas minhas costas. — Terminou ela, dando um sorriso que não chegava totalmente aos seus olhos.

Steve respirou fundo, pensativo.

— Você não precisa mais escondê-las. — Ele disse após alguns segundos, notando o olhar surpreso de Eve. — Não aqui, não por minha causa. Se te machuca retrair suas asas, então eu vou fazer de tudo para que você não tenha que escondê-las de novo.

A fala de Steve soava quase como uma promessa, e para ele era tão importante quanto.

— Tem certeza de que elas não te incomodam? — Eve perguntou, um fraco sorriso de lado no rosto.

O Capitão negou com a cabeça imediatamente.

— Claro que não. — Ele disse, desviando o olhar para as asas de Eve. — Não se lembra do quê eu disse mais cedo?

Eve franziu as sobrancelhas, confusa.

— Elas são lindas. — Steve sorriu, dessa vez olhando para os olhos cor de chocolate de Eve, que visivelmente se iluminaram com o comentário. Logo, os olhos castanhos ganharam um tom brincalhão.

— Depois não reclame quando eu ocupar mais da metade do sofá. — Ela disse, ganhando uma leve risada de Steve.

— Pode deixar.

O resto da manhã passou em um piscar de olhos, a maior parte dela com uma conversa leve entre os dois enquanto Eve explicava mais sobre suas asas e dizia que algum dia desses o levaria para dar uma volta nos céus da cidade. Ele, é claro, rebateu dizendo que ela não aguentaria seu peso, somente para ganhar uma sobrancelha levantada em resposta.